26/02/2020 16:52:15 • Atualizado em 10/12/2021 07:44:13
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Ibovespa cai quase 5%; devo comprar?
Coronavirus derruba Bolsa em quase 5%. É hora de comprar?

Esse é o Rico Matinal de hoje, relatório diário escrito pelos analistas da Rico Thiago Salomão, Matheus Soares e Lucas Collazo e disponível a todos os nossos clientes.
Display of stock market quotes
Resumo do dia: Tomou engov? Então se prepara…
(por Matheus Soares & Lucas Collazo)
O Ibovespa abriu nesta quarta-feira às 13h e pelas nossas contas deverá marcar queda de quase 5%, seguindo a mesma linha do recuo na faixa de 6% do EWZ (índice que acompanha ADRs brasileiros) e da alta do dólar vs cesta de moedas emergentes no período.
O movimento acompanha as bolsas mundo afora, que caíram entre 6% e 7% por conta da preocupação com o contágio do coronavírus no mundo, que tem se alastrado rapidamente em países como Coréia do Sul, Irã e Itália. No Brasil, aliás, tivemos o primeiro caso de coronavírus confirmado em um paciente de São Paulo que voltou de viagem recente à Itália.
Ou seja: enquanto aqui no Brasil o Carnaval manteve os investidores ‘desligados’ do mercado, lá fora tivemos uma forte aversão a risco, provocando um movimento que chamamos no mercado de “flight do safety” (ou voar para ativos de qualidade, na tradução livre). Quatro movimentos do mercado deixam claro isso:
- Corrida para títulos do tesouro americano: o rendimento de títulos do tesouro americano de 10 anos caiu para o seu menor nível da história (1,31% ao ano). Investidores compram estes títulos em momentos de maior aversão ao risco, provocando alta nos preços e queda nos juros embutidos. A saber: A curva de juros americana também já precifica novos cortes de juros pelo Federal Reserve nas próximas reuniões, por conta do arrefecimento dos níveis de atividade após o surto.
2. Corrida para o Ouro: o ouro registrou o maior valor em sete anos, próximo da marca de US$ 1.700 por onça-peso. Segundo a Bloomberg, os fundos de ETF ligados ao ouro físico tiveram 25 dias consecutivos de fluxo positivo.
3. Disparada do “índice do medo”: o Índice de volatilidade VIX, também conhecido como “índice do medo”, atingiu 26,6%, seu nível mais alto desde 2018. O VIX mede a volatilidade dos contratos de opções das ações do S&P500 e tendem a aumentar sua pontuação quando os mercados caem.
4. Alta do dólar: Essa fuga por qualidade também envolve o dólar, por se tratar da moeda da maior economia do mundo e aquela mundialmente aceita na maior parte dos países. Uma cesta de moedas de países emergentes desvalorizou-se entre 1% e 2% diante da divisa americana, devemos ver algo parecido com o real por aqui – ou seja, o dólar, que já está na faixa de R$ 4,39, pode subir mais nesta quarta
Insight Rico: Bolsa vai cair uns 5%; devo comprar?
(por Thiago Salomão)
Queridos leitores, prometo ser o mais breve possível: em momentos de grande tensão não adianta falar muito, o cérebro só quer saber o que precisa ser feito para esse sentimento ruim ir embora. E pelo fluxo de novos investidores na bolsa, é capaz de muitos de vocês terem hoje a primeira experiência de um “dia de caos” na Bovespa.
Então, antes da leitura, peço que relaxem: fiquem calmos, respire fundo (conte 1, 2, 3, 4) e solte o ar. Repita o processo umas 3 ou 4 vezes.
Fez isso? Ótimo! Então vamos à leitura.
Sim, o Ibovespa caiu bastante hoje na abertura e algumas ações podem cair bem mais do que os 5% esperados. Daí surge a pergunta que mais recebemos durante o Carnaval: Essa queda é uma oportunidade de compra? Ou vendo tudo e fujo para as colinas?
Eu sei que seu cérebro só quer uma resposta para se sentir aliviado, mas infelizmente devo dizer que isso depende muito do seu perfil de investidor e abaixo explicarei melhor isso. Queria uma resposta mais fácil? Procure em algum influencer de finanças que certamente ele dirá “compre tudo” ou “venda tudo”. Mas eu já estou no mercado um tempo suficiente para saber que não é assim que a banda toca.
O que nós faremos aqui? Nós, analistas fundamentalistas da Rico, temos uma visão de longo prazo para nossas recomendações de investimentos. E eventos pandêmicos historicamente não costumam alterar a perspectiva de longo prazo da economia, conforme já apresentamos em Ricos Matinais passados com este gráfico da Charles Schwab, mostrando o comportamento do mercado em meio às epidemias que assustaram o mundo nos últimos 50 anos.

Dito isso, sempre que o mercado enfrentar quedas bruscas, vamos às compras das empresas que queremos ter em nosso portfólio pelos próximos anos. Tão simples quanto isso.
Mas para isso, é preciso ter caixa: o investidor que tem dinheiro em caixa pode aproveitar estes momentos de pânico para encarteirar ações mais baratas, desde que o horizonte de investimento dele seja de fato longo prazo.
Não sabemos até quando essa volatilidade no mercado se manterá, só sabemos que no curto prazo viveremos muitos dias de altos e baixos. Mas como já disse o poeta Felipe Pontes em uma de suas participações no Stock Pickers: “compre ações quando tiver sangue nas ruas, mesmo que o sangue seja o seu” (não ouviu essa pérola? Está no ep. 15 do Stock Pickers – link aqui)
Se você ainda está inseguro, sugiro que veja a entrevista que ninguém menos que o Warren Buffett concedeu à CNBC na segunda (24). A entrevista tem duas horas de duração (link do youtube com a entrevista completa), mas a InfoMoney fez um belo resumo deste papo – você pode conferir o resumo aqui. A que mais pode acalmar o investidor que está enfrentando um dia duro pela primeira vez é:
Agora, se o seu horizonte de investimento é mais curto, talvez essa queda não seja necessariamente um “buy opportunity”, pois não sabemos até onde mais o mercado pode cair no curto prazo. Como bem disse Mohamed El-Erian (ex-CEO da Pimco, que é a maior gestora de renda fixa do mundo) neste artigo em inglês publicado na Bloomberg (aos que preferem ler em português, o Brazil Journal fez um resumo aqui), há mais incertezas do que certezas quando se trata dos impactos do coronavirus na economia e, por isso na opinião dele, essa queda não se trata de uma oportunidade de compra.
Conclusões
– Pra você que está há pouco tempo na bolsa e não sabia que dias difíceis existiam, fique calmo: o pânico e o desespero só farão você tomar decisões precipitadas. Hoje a bolsa vai cair, então aceita que dói menos;- Se mesmo assim a queda doer muito em você, então o problema certamente é porque sua carteira de investimentos não está condizente com seu perfil de risco. Todos os 13 leitores fieis deste relatório já estão cansados de ler a frase do Ray Dalio que repetimos enfaticamente aqui: “diversificação é o último grátis do mercado”;
– Sobre diversificação: ter “caixa” (dinheiro líquido ou ativo seguro de altíssima liquidez, como fundo DI pós-fixado de resgate imediato) é excelente para estes momentos, pois te dá a opção de escolher ir às compras ou não nos momentos de pânico. Além disso, ter investimentos expostos a diferentes mercados é essencial: minha carteira pessoal tem atualmente 13% de dinheiro em caixa e uns 15% espalhados em fundos cambiais, fundo de ouro e renda fixa de liquidez diária. Posso dizer que estou ‘tranquilo’.
– Ainda sobre diversificação: por regulação, eu só invisto via fundos de investimentos, que por si só já é um investimento diversificado (cada fundo tem uma carteira diversificada de ativos). Mas é possível sim diversificar dentro das classes de fundos. Fico feliz de ter ainda um pedacinho da minha carteira em cotas dos fundos da Adam Capital: embora ela tenha sido alvo de crítica por alocadores e assessores recentemente, a gestora de Marcio Appel está com uma boa posição comprada em dólar e vendida em S&P500 – ambas certamente terão forte valorização hoje.
Mercado de renda variável é assim mesmo: ele varia. Hoje será um grande aprendizado para muitos investidores, que saberão o que é gestão de risco, diversificação de carteira e como montar uma carteira condizente com seu perfil de investidor. O custo dessa “aula” pode ser alto ou baixo, dependendo do quanto de dinheiro que você tinha mal alocado, mas certamente te fará um investidor melhor para o longo prazo.
Boa volta de Carnaval.
Esse é o Rico Matinal de hoje, relatório diário escrito pelos analistas da Rico Thiago Salomão, Matheus Soares e Lucas Collazo e disponível a todos os nossos clientes.