Você compra guarda-chuva em dia de sol ou deixa para o momento de desespero? Investir bem é como se precaver de mudanças bruscas no tempo, sempre de olho na previsão antes de sair de casa ou fazer planos ao ar livre.
Nesse conteúdo, trazemos a meteorologia para as principais classes de investimento disponíveis no mercado e a nossa dose recomendada para todas elas de acordo com o cenário atual. Assim, evitamos que uma frente fria pegue a sua carteira desprevenida.
Para começar, a tabela abaixo traz nossa sugestão atualizada de alocação para cada classe de ativos como proporção do total de uma carteira de investimentos, de acordo com cada perfil de investidor. Ou seja, nossa sugestão de como cada tipo de investidor deve diversificar seus investimentos – lembrando que a diversificação é a melhor amiga dos bons retornos no longo prazo.
Ao final, trazemos uma sugestão de produtos sugeridos para cada uma das classes abaixo, para que você possa investir agora mesmo da sua conta da Rico.
Lembre-se: conhecer seu perfil de investidor, seus objetivos e seu horizonte de investimento são atitudes essenciais na hora de escolher onde e como investir.
Entenda nossas políticas de investimento aqui.
Mundo
Céu encoberto
O mês de março foi marcado por bastante volatilidade tanto no cenário global quanto no doméstico. Lá fora, uma nova crise de confiança em relação ao setor bancário pressionou os mercados, que se iniciou com a intervenção de reguladores no banco americano Silicon Valley Bank, e depois o Signature Bank. Poucos dias depois, na Europa, o gigante Credit Suisse foi vendido às pressas ao UBS com o apoio do Banco Central da Suíça.
No Brasil, os riscos fiscais e políticos permaneceram no radar, com investidores no aguardo do anúncio do arcabouço fiscal, que foi finalmente divulgado no fim do mês – como te contamos aqui em detalhes.
Nesse cenário ainda altamente incerto, seguimos recomendando cautela, ativos de boa qualidade e defensivos para sua carteira e investimentos, além de – claro – a diversificação.
Confira os detalhes de cada classe de ativos abaixo.
Renda Fixa Local
Ensolarado
O clima de sol segue na renda fixa local, embora nuvens apareçam nas redondezas. Com os problemas recentes dos bancos no exterior e reflexos dos eventos de crédito no Brasil (alimentados pelo o caso da Americanas), o mercado de renda fixa local ainda sentiu algumas variações ao longo do mês de março.
Entretanto, outro fator promete ser protagonista no mês de abril – o arcabouço fiscal. No final de março, o governo anunciou sua proposta para a nova regra fiscal em substituição da regra do teto de gastos. O anúncio da proposta deve reduzir parte da incerteza recente, mas a falta de um melhor detalhamento da proposta inicial mantém o cenário incerto e o risco fiscal ainda nos holofotes.
Como contamos aqui em detalhes, a gestão das contas públicas e do endividamento do país no longo prazo é um fator essencial para a percepção de risco em relação a investimentos por aqui, impactando desde os mercados de renda fixa e ações, até a nossa moeda e – de modo geral – todos os ativos brasileiros e a economia como um todo.
No mês passado, também tivemos a reunião do nosso Comitê de Política Monetária (o Copom), que decidiu manter a taxa básica de juros por aqui em 13,75% ao ano – diante do cenário ainda incerto para a inflação tanto no Brasil quanto no mundo.
A taxa segue, assim, no patamar que chamamos de “contracionista” – em que os juros altos encarecem o crédito, desincentivam o consumo e desaquecem a economia como um todo, buscando reduzir a inflação.
Vale destacar que vemos espaço para o Banco Central começar a baixar os juros gradualmente na segunda metade do ano, mas a Selic deve seguir historicamente alta – com projeção de 11,00% para o fim de 2024, com os juros altos mantendo elevado os retornos esperados ao investidor.
Nesse cenário, reforçamos a importância de uma carteira diversificada que se beneficie tantos dos juros altos, quanto proteja seu patrimônio de uma inflação ainda incerta.
Os títulos atrelados ao IPCA (os famosos IPCA+) ajudam a proteger o seu patrimônio dessa “frente fria”, por acompanharem a alta de preços.
Já os títulos atrelados ao CDI ou à Selic (os chamados “pós fixados”), permitem uma boa rentabilidade da sua reserva de emergência e do seu “caixa” – aquela quantia que você pode usar para fazer frente a gastos inesperados ou aproveitar oportunidades de investimento.
Finalmente, vale lembrar que até mesmo o clima “ensolarado” requer os seus cuidados, como um bom protetor solar: lembre-se de coordenar o prazo do seu investimento com o vencimento do título, se for optar por títulos prefixados ou atrelados à inflação. Além disso, sugerimos ainda limitar os prefixados a objetivos de curto prazo (até 2 anos). Isso porque o preço desses títulos poderá variar conforme movimentos de mercado até a data de vencimento.
Explicamos essa dinâmica nesse vídeo.
Bolsa Brasileira
Tempo nublado
O clima dos investimentos na bolsa brasileira no mês que se inicia deve continuar sendo impactado por fatores observados no mês de março, especialmente ,: (i) a aversão a risco de investidores estrangeiros, agravada por problemas bancários no exterior; (ii)o risco fiscal doméstico; e (iii)os juros ainda altos para controle da Inflação – que impactam tanto a performance esperada para empresas em uma economia mais fraca, quanto a avaliação do preço justo de empresas na bolsa (valuation) – como contamos em detalhes nesse texto.
Dito isso, outros importantes fatores ainda justificam a exposição a bolsa brasileira para investidores de perfil mais arrojado e com perspectivas de longo prazo. Sendo eles:
- A economia brasileira se beneficia da reabertura chinesa, impulsionando principalmente empresas do setor de commodities;
- O país segue relativamente isolado de eventos geopolíticos, como a guerra do leste europeu e a tensão entre China e EUA; e
- Ativos brasileiros continuam descontados em relação ao seu histórico, apesar da piora recente que aproximou as ações da sua média histórica.
Além disso, o prêmio de risco, que compara rendimento de renda variável com as taxas de juros reais, mostra que as ações brasileiras estão baratas mesmo considerando o alto nível das taxas de juros. O nível atual de prêmio de risco está em 8,7%, superando sua média histórica. Vale destacar que as taxas de longo prazo se estabilizaram e começaram a cair com uma melhora marginal do cenário interno, reduzindo essa pressão negativa a nossa bolsa brasileira.
Assim, seguimos recomendando posições defensivas para a bolsa brasileira em abril. Empresas que tenham receita dolarizada, como exportadoras de commodities, assim como empresas sólidas e de qualidade (a um preço razoável) são boas alternativas para o momento, assim como empresas boas pagadoras de dividendos.
Do outro lado, evitamos empresas que possuam indicadores de valor altos no mercado, por conta do risco de novas revisões de lucros diante de uma desaceleração na economia.
Também não indicamos exposição a empresas com maior exposição política, especialmente estatais, frente ao quadro político incerto.
Renda Fixa Global
Sol entre nuvens
Diante da recente turbulência no setor bancário americano e europeu – como falamos acima – e de dados mais comportados no campo da inflação, o Banco Central Americano (Fed) pode estar se aproximando do fim do ciclo de altas de juros. Esse movimento reduziria a volatilidade observada nos últimos meses na renda fixa global. Nesse cenário, a renda fixa global deverá seguir oferecendo bons prêmios aos investidores que tenham perfil para assumir o risco desse tipo de investimento, respeitando sempre o percentual de alocação recomendado no início desse texto.
Além disso, existe uma diversidade maior de subclasses de ativos soberanos, bancários e corporativos que permite aos gestores de fundos de investimento dessa categoria diversificar seus portfólios com estratégias bastante distintas do que vemos nos fundos de renda fixa por aqui no Brasil.
Por outro lado, o mercado de trabalho aquecido nos Estados Unidos, a inflação ainda acima da meta do Banco Central, além da incerteza sobre o desenrolar da crise bancária, colocam dúvidas sobre o início do afrouxamento dos juros na maior economia do mundo. Assim, investimentos nessa classe de ativos seguem exigindo bastante cautela. Isso porque o vai e vem de expectativas sobre o rumo dos juros tende a impactar os próprios prêmios oferecidos em dívidas corporativas, especialmente as mais arriscadas – mantendo o preço de títulos dessa natureza bastante voláteis.
Quando investimentos em renda fixa global são realizados realizado via fundos de renda fixa internacional, podem ser feitos na modalidade com ou sem hedge (proteção) da moeda. Isso significa que, caso você escolha investir em renda fixa internacional sem hedge, estará exposto tanto às oscilações dos preços dos ativos de renda fixa internacional quanto à oscilação do dólar em relação ao real.
Te contamos mais sobre o que esperar para o dólar aqui.
Investimentos internacionais dão acesso a setores que muitas vezes não existem por aqui, além de proteger seu patrimônio de eventos puramente domésticos, como incertezas políticas. Além disso, se realizados em moeda estrangeira – como o dólar, que é considerado um “porto seguro” global – ajudam a proteger sua carteira em momentos de grande incerteza global.
Bolsa Internacional
Chuvas fracas e localizadas
Diante do aumento da aversão ao risco e investidores prevendo uma recessão afrente enfraquecendo a demanda, uma fraca chuva começa a ganhar força nas principais bolsas do mundo.
Nos Estados Unidos, além de um cenário marcado por juros historicamente altos e inflação ainda acima da meta, empresas listadas na bolsa negociam em múltiplos de valor acima de sua média histórica.
Por lá, a temporada de resultados confirmou uma queda na lucratividade das empresas listadas. Além disso, a expectativa de lucros ainda segue elevada – o que parece não condizer com o cenário macroeconômico desafiador pela frente. Assim, destacamos o risco de novas revisões de lucros diante de uma desaceleração na economia.
Em bom português: as bolsas americanas ainda podem cair.
Enquanto isso, a Europa e a China têm crescido como destaque. A melhora de dados de inflação e perspectiva de crescimento no velho continente, e dados animadores da reabertura pós-covid-19 no gigante oriental alimentam visões cautelosamente otimistas com as regiões.
Entretanto, apesar da incerteza de curto prazo, diversificar seus investimentos em outras geografias se torna ainda mais importante nesses momentos de incerteza.
Desta forma, seguimos recomendando a exposição à renda variável internacional (mesmo que atualmente com baixos percentuais) para nossos perfis de investidores mais arrojados, com maior diversificação entre países e regiões além de Estados Unidos, e geralmente em moeda estrangeira.
Finalmente, lembre-se sempre de respeitar o percentual indicado para seu perfil de investidor e horizonte de investimento. Confira nossa tabela de alocação para saber qual a mais indicada para o seu perfil de investidor.
“Leva o casaco”: sugestões de ativos em cada classe
Agora que você já sabe nossa alocação recomendada (o peso de cada classe de ativos ideal para cada perfil investidor nesse momento) e nossa previsão do tempo, separamos algumas sugestões de investimentos recomendados em cada um desses tipos de ativos.
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2029 | Banco Pan 2025 CDI +114% | R$ 100,00 |
Inflação | Tesouro IPCA+/NTN-B Maio/2025 IPCA+5,36% | CRA Minerva AAA IPCA + 7,05% 07/2029 | R$ 31,27 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado/LTN Jun/25 12,7% | Banco Pan 2026 CDI + 1,85% | R$ 31,56 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | XP Macro FIM | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$100,00 |
Renda variável internacional | Carteira de ETFs Rico | Wellington US BDR Advisory Dólar Nível | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | M Global BDR Advisory FIC FIA BDR Nível I | Wellington US BDR Advisory BDR Nível I | R$ 100,00 |
Alternativos | Trend Commodities FIM | RBR Reits US Em Reais FIC FIA BDR | R$ 100,00 |