Projeções Rico: fique atento!
“Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.
Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor, porque ajudam a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores para os investimentos.
Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. Mas quer dizer que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.
Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. Abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.
Onde estamos? Risco fiscal cresce como preocupação nos Estados Unidos, mundo cresce menos, mas inflação cede
Como visto nos últimos meses, a inflação continua sua tendência de enfraquecimento no mundo, mesmo que gradualmente. Uma série de fatores tem ajudado a reduzir a pressão sobre os preços, com destaque para o reequilíbrio da guerra e da pandemia, além de – claro – juros subindo ou seguindo altos no mundo.
Mas isso não significa que os juros devem começar a cair tão cedo. Isso porque os preços seguem em ritmo acima das metas de inflação, especialmente no setor de serviços – menos relacionado com reequilíbrios de custos.
Assim, os juros no mundo seguem no “tom contracionista”, com o objetivo de desaquecer a economia. Afinal, não podemos esquecer que as altas e baixas na taxa de juros são sentidas aos poucos na economia real, ou seja, no dia a dia das empresas e pessoas.
Nesse cenário, o mês de agosto trouxe um agravante adicional para o palco dos juros: a forte alta dos títulos da dívida de longo prazo americanos – levando as famosas Treasuries ao seu maior patamar em 16 anos.
O movimento foi alimentado por preocupações de que a economia americana está enfraquecendo, mas muito gradualmente, e pela inflação ainda persistente – o que pode exigir juros altos por mais tempo.
Mas o aumento do gasto público é provavelmente a principal razão. Para se ter uma ideia, o déficit fiscal este ano deve ser o mais elevado da história (tirando momentos extraordinários, como a crise financeira de 2008 e a pandemia). E a situação não deve se reverter tão cedo, principalmente porque as eleições presidenciais se aproximam – e dificilmente vemos menores gastos durante disputas eleitorais.
Movimentos nos juros de longo prazo americanos balançam mercados no mundo todo, dado que servem de base como “a taxa livre de risco”, impactando a análise de preço de todos os ativos – desde ações até a renda fixa. Por isso, devem seguir uma fonte de cautela entre investidores. Falamos mais sobre isso no Onde Investir desse mês.
E a China nisso tudo? A segundo maior economia global segue na contramão, lutando contra a deflação, uma crise no setor imobiliário e baixa confiança entre investidores, produtores e consumidores. Nesse cenário, o país deve crescer bem menos do que o esperado para o pós-pandemia (lembrando que o país reabriu apenas no início desse ano), abaixo da meta de 5,0% do governo asiático.
Uma China que cresce menos tende prejudicar preços de commodities, impactando o Brasil. Mas esse impacto deve ser limitado. Embora não vejamos a China atingindo a meta de crescimento no ano, o governo chinês vem acelerando medidas de estímulo econômico.
Além disso, movimentos geopolíticos e de oferta tem levado o preço de commodities a voltar a subir no mercado global. Apesar de a alta poder prejudicar o processo de desinflação mundial, ela ajuda a contrabalançar o enfraquecimento chinês – do ponto de vista de exportadores de matérias primas, como o Brasil.
Enquanto isso, no Brasil
Economia cresce acima do esperado, mas aponta para perda de fôlego adiante
Por aqui, o PIB cresceu acima do esperado no segundo trimestre. O crescimento de 0,9% frente ao primeiro trimestre de 2023 refletiu uma economia mais resiliente do que o previsto, impulsionada especialmente por commodities, mas também com um setor de serviços ainda pujante.
Para ilustrar, o setor agropecuário cresceu impressionantes 17% em relação ao mesmo período do ano passado, após alta ainda mais forte no 1º trimestre. O motivo por trás da força tem sido safras recorde no campo, com destaque para grãos, que impulsionaram a produção do setor na primeira metade do ano.
Também relacionado ao mundo das commodities está a indústria extrativa, que respondeu por boa parte do crescimento do setor industrial nos últimos meses.
Assim, vemos que boa parte da surpresa positiva do crescimento observado na primeira metade desse ano foi impulsionado por setores menos sensíveis ao chamado “ciclo econômico”; ou seja, que tendem a crescer/cair de maneira relativamente independente do que acontece com o restante da economia.
Dito isso, o setor de serviços também continua como um importante motor da nossa economia. A queda da inflação e o mercado de trabalho ainda resiliente tem sustentado o consumo de serviços, que também refletem a “última gota” do impulso pós pandemia. Vale lembrar que o setor de serviços é o principal responsável pela composição do nosso PIB, respondendo por 70% da nossa produção por meio de serviços que vão desde transporte até manicures, restaurantes e grandes eventos.
Olhando para frente, entretanto, a nossa economia deve perder força gradualmente – como já vemos nos dados mais recentes. O enfraquecimento reflete principalmente o aperto trazido pelos juros altos, que encarecem o crédito e desestimulam o consumo e o investimento produtivo.
Isso porque, embora o Banco Central já tenha começado a reduzir a taxa Selic, continuaremos a sentir os efeitos dos juros no patamar contracionista – ou seja, “freando” a economia.Lembrando que juros altos pesam sobre o endividamento e o comprometimento da renda de empresas e famílias, impactando investimentos e o consumo, especialmente de itens que requerem maior financiamento, como carros, eletrodomésticos ou mesmo imóveis.
Para ilustrar, a produção industrial caiu nos últimos meses, enquanto o comércio varejista seguiu “andando de lado”, mesmo diante do impulso nas vendas de automóveis vindo de incentivos do governo federal e de categorias beneficiadas pela queda da inflação, como alimentos e bebidas. Já o setor de serviços, apesar de ainda seguir resiliente, também já se mostra mais fraco, crescendo mais devagar do que vimos na primeira metade do ano.
Além disso, a incerteza sobre os rumos da economia global também nos impacta por aqui, sinalizando cautela sobre uma visão mais positiva da economia nos próximos anos.
Assim, projetamos que o PIB do Brasil cresça 2,8% em 2023, e desacelere o crescimento para 1,5% em 2024.
Inflação segue mais comportada, mas risco fiscal volta a nublar horizonte de preços
A primeira metade desse ano foi marcada pela melhora do cenário de inflação no Brasil e no mundo.
Já em julho, conforme detalhamos aqui, o IPCA (nosso principal índice de inflação ao consumidor) registrou alta de 0,12%, levando o acumulado em doze meses para 3,99%. Apesar do resultado representar uma reaceleração após a deflação observada em junho (quando o índice registrou 3,16% no acumulado em doze meses), ele não reverteu a tendência de desinflação em curso.
Em bom português: mesmo que a inflação tenha subido em julho, o cenário de fôlego na alta de preços se mantém. A melhora no cenário de preços nessa primeira metade do ano é explicada especialmente pela normalização e reequilíbrio de choques recentes (pandemia, guerra) e pela alta de juros em países desenvolvidos – como falamos no início do texto.
Além disso, os últimos dados indicam que a inflação no setor de serviços continua apresentando queda – mesmo que gradual. Esse movimento é importante, porque os preços de serviços tendem a ser mais “teimosos” e mais difíceis de serem controlados, por não terem relação com choques específicos, como o clima ou uma guerra, e estarem bastante conectados com expectativas sobre os preços no futuro.
Dito isso, acreditamos que a “primeira fase” desse processo de desinflação esteja próxima ao fim. Primeiro, porque muito da queda nos custos de produção já foi repassada para o consumidor. Segundo, porque os preços de grãos – que passaram por uma forte queda nos últimos meses – devem se estabilizar em breve, enquanto os efeitos do petróleo mais alto devem impactar os custos de produção de industrializados (afinal, a economia global ainda é muito dependente de energia fóssil).
Além disso, a recente desvalorização do real deve impactar os preços por aqui – tanto de petróleo quanto de bens finais importados – mesmo que apenas no curto prazo.
Nesse cenário, esperamos que a inflação encerre esse ano em 4,8%.
Olhando para frente, o maior risco que vemos para a inflação vem do campo fiscal. Isso porque, apesar da melhora da percepção de riscos fiscal observada nos últimos meses (com a aprovação do arcabouço fiscal e a manutenção da meta de inflação em 3,0%), o tema voltou a ganhar força como motor de cautela em agosto.
Entenda tudo sobre risco fiscal aqui!
Como falamos aqui, o orçamento para os gastos públicos apresentado pelo governo não deixa claro como o governo encontrará novas fontes de arrecadação para “levar as contas para o azul” (déficit primário zero) já em 2024 – como defendido pelo governo.
Por isso, seguimos cautelosos com o cenário de inflação no Brasil para os próximos anos –projetando alta de 3,9% para o IPCA no ano que vem (acima da meta do Banco Central de 3,0%).
Afinal, maiores gastos públicos pressionam a inflação por meio do aumento da renda e do consumo hoje, e precisam ser pagos no futuro – com mais dívida, maiores impostos ou mais emissão de “dinheiro” (no caso, inflação).
Banco Central começa a reduzir os juros, e Selic deve terminar o ano em 11,75%
Como contamos aqui, o Copom (nosso comitê de política monetária) optou por reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual em sua reunião mais recente, no começo de agosto. Depois de um ano no patamar de 13,75%, a decisão marca o início do que acreditamos que será um processo gradual de redução dos juros no país – que deve levar nossa taxa básica de juros para 10,00% até o início de 2024.
Em um recado que tentou manter um tom duro contra a inflação, o Copom destacou que a melhora das expectativas de inflação e o processo os bons resultados de inflação recente passaram a permitir uma redução da taxa Selic.
Vale lembrar que expectativas são essenciais no controle da inflação. Afinal, se todos acreditam que os preços não pararão de subir rapidamente, a maioria se antecipará à alta de preços no futuro, já subindo aquilo que consegue definir – seja seu salário, o aluguel cobrado de um imóvel, ou um serviço de manicure.
Por outro lado, como falamos, vemos riscos tanto no ambiente global – com sinalizações claras de que os juros devem seguir altos por um bom tempo em economias desenvolvidas – quanto no cenário doméstico, especialmente diante do “fantasma” do risco fiscal. Além disso, como vimos no resultado do PIB do segundo trimestre, a economia brasileira segue relativamente aquecida, o que ajuda no “jogo contra” cortes maiores na taxa básica de juros – afinal, quanto mais aquecida a economia, maior pressão sobre os preços.
Assim, vemos a Selic caindo para 11,75% até o final deste ano, no que acreditamos que será um processo gradual de redução de juros – atingindo 10,00% no início de 2024. Isso significa que os juros devem cair, mas continuar no território contracionista – ainda com certo “freio” na economia para controlar a alta de preços.
E o dólar, vai para onde?
Para a alegria de muitos, a primeira metade desse ano foi marcada por uma forte valorização do real, como podemos ver no gráfico abaixo.
Porém, como nem tudo são rosas, assistimos ao real se desvalorizar mais recentemente, subindo de aproximadamente R$/US$ 4,75 no início de agosto para R$/US$ 4,95 no início de setembro.
Acreditamos o enfraquecimento da nossa moeda refletiu tanto movimentos globais quanto domésticos.
Lá fora, destacamos:
- a forte alta das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, que tende a fortalecer o dólar frente a outras moedas, por atrair capital em busca de maiores retornos; e
- preocupações com o fraco crescimento econômico na China – que tende a impactar o preço de commodities e países que as exportam, como o Brasil (que teria o fluxo de capital estrangeiro reduzido diante de preços mais baixos de matérias primas).
Já no cenário local, o aumento das incertezas com relação à dinâmica das contas públicas foi um importante alimento para nossa moeda perder força. Afinal, como contamos nesse texto em detalhes, incertezas políticas tendem a levar a um aumento da precificação de risco de investir por aqui – o que é “descontado” na nossa moeda.
Dito isso, nossas contas externas continuam sólidas, o que tende a sustentar uma moeda relativamente valorizada. Ou seja, seguimos atraindo forte fluxo de capital estrangeiro tanto pela via comercial quanto de investimentos, impulsionados – entre outras coisas – pela supersafra agrícola e pela posição relativamente positiva quando comparado a outros emergentes (muitos expostos a elevados riscos geopolíticos, como Rússia e Turquia). E quanto mais dinheiro estrangeiro por aqui, mais valorizada nossa moeda.
Além disso, parte dos riscos globais destacados acima devem perder força ao longo dos próximos meses.
Assim, esperamos que o dólar encerre 2023 em R$ 4,70 e 2024 em R$ 4,85.
Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.
Como investir nesse cenário?
Com tantos eventos e mudanças no cenário econômico no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio é essencial.
Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de onde investir em cada classe de ativo (como ações, renda fixa e fundos de investimento).
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2029 | CDB Banco C6; set/25; 118% do CDI | R$ 140,00 |
Inflação | Tesouro IPCA+ 2032 com juros semestrais | XP Debentures Incentivadas FIM | R$ 43,86 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado (LTN) Jan/2026 10,13% | CBD Banco C6; 3 anos; 12,0% | R$ 31,56 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | XP Macro FIM | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$ 100,00 |
Renda variável internacional | Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 | M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | Trend Bolsas Globais | Trend Bolsas Emergentes | R$ 100,00 |
Alternativos | Trend Ouro Dólar FIM | PVBI11 | R$ 100,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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