Em reunião no dia 29 de junho, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu em 3,0% a meta de inflação para 2026 – a mesma já estabelecida para 2024. O CMN também anunciou a mudança do horizonte de convergência da meta, que passará a ser uma meta contínua de 24 meses.

Não entendeu nada?? Não se preocupe! A gente te explica tudo o que você precisa saber sobre metas de inflação, CMN e a mudança anunciada no texto abaixo.

Inflação e investimentos

Como detalhamos aqui nesse vídeo, a inflação é um dos indicadores mais importantes do cenário econômico quando pensamos em investimentos. Afinal, o aumento de preços de bens e serviços na economia impacta aquilo que chamamos de poder de compra – ou seja, o valor do nosso dinheiro ao longo do tempo – e, consequentemente, nossos investimentos.

É por isso que indicadores de inflação, como o famoso IPCA (nosso principal índice de inflação ao consumidor), servem de balizadores para diversos tipos de investimento, especialmente na renda fixa.

E é também por isso que o conjunto de regras que determina como o comportamento dos preços será gerenciado em um país é de extrema relevância. Abaixo, destacamos as principais características do atual regime de metas de inflação existente no Brasil, sua importância, e a recente decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre o tema.

O que é o regime de metas de inflação?

O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.

Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,25% ao ano para o ano de 2023 e de 3,0% para 2024. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços ao longo, de modo que ela encerre 2023 na velocidade de 3,25%.

Vale destacar que, além da meta, o modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50pp para cima e para baixo. Essa banda serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.

O modelo de metas de inflação foi criado em 1989 pelo Banco Central da Nova Zelândia, e hoje é o regime monetário mais usado no mundo. No Brasil, o regime foi implementado em 1999 e segue vigente desde então.

Como contamos aqui em detalhes, a principal ferramenta do Banco Central para controlar a variação de preços na economia é a taxa Selic – nossa taxa básica de juros. Quando o objetivo é reduzir a inflação corrente, o Banco Central tende a aumentar a Selic; já reducões da Selic tendem a ser implementadas conforme a inflação se aproxime da meta, ou quando está abaixo da meta.

Para que serve o regime de metas de inflação?

De maneira simplificada, o regime de metas de inflação tem como objetivo dar maior previsibilidade e estabilidade na atuação da política monetária. Isso porque deixar clara uma meta a ser perseguida pelo Banco Central para o controle da alta de preços ajuda a controlar as expectativas dos agentes econômicos (como eu, você e todo mundo) sobre os preços no futuro.

Pensemos em um exemplo fictício: sem uma meta clara de quanto o Banco Central está objetivando alcançar de inflação no ano, como uma manicure ou o dono de um grande empreendimento planejarão o ajuste de seus preços para os próximos anos? Afinal, sem uma meta, pode-se pensar que a inflação no ano pode variar de -1000% até 10000% – ou efetivamente onde a imaginação nos levar.

Expectativas de inflação: o que são?

As expectativas de inflação são muito importantes para o controle da inflação em si.

A dinâmica é simples: basta pensar que se você acredita que os preços não irão parar de subir no futuro, e você é um prestador de serviços ou mesmo o locatário de um imóvel, existe uma grande chance de que você subirá o seu preço, para não “ficar pra trás”, certo?

Eventualmente, esse movimento de agentes na economia acaba impulsionando os preços em cadeia, e a inflação efetivamente sobe (no futuro).

Assim, o objetivo do regime de metas de inflação é gerenciar e manter uma alta sustentável de preços na economia, especialmente por meio da credibilidade do Banco Central e, consequentemente, do controle das expectativas de inflação.

CMN: aquele que define a meta de inflação

No Brasil, quem determina a meta da inflação é o Conselho Monetário Nacional (CMN). O CMN é um órgão parte da estrutura do atual Ministério da Fazenda, sendo composto por três membros: Ministro da Fazenda, Ministro do Planejamento e Presidente do Banco Central.

Vale notar que, diferente do que muitos pensam, o CMN é um órgão diferente do Copom – o nosso Comitê de Política Monetária do Banco Central. A dinâmica se dá da seguinte maneira: enquanto o CMN determina a meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central, o Copom (composto pelos diretores do Banco Central) tem a responsabilidade de perseguir essa meta.

Ou seja, o CMN determina o objetivo final, e o Banco Central (na figura do Copom) determina tudo o que será feito para que esse objetivo seja cumprido. Lembrando que a principal ferramenta utilizada pelo Banco Central para o controle da inflação é a taxa básica de juros, a Selic.

Quer saber mais sobre a taxa Selic e o controle da inflação? Te contamos nesse vídeo!

Horizonte de convergência

Como falamos, o regime de metas de inflação determina uma meta para o ritmo de variação de preços em determinada economia, a ser perseguido pelo Banco Central por meio do uso de suas ferramentas do que chamamos de política monetária – em particular, a taxa básica de juros.

Porém, determinar um patamar para a inflação não é o suficiente, uma vez que a variação de preços pode acontecer em diversos períodos. Por exemplo, podemos observar que o preço de um bem ou serviço subiu 10% em um ano, 2% em um mês ou mesmo 8% se olharmos para um período de 16 meses, por exemplo.

Deste modo, todo regime de metas de inflação também possui o que chamamos de “horizonte de convergência”, que se refere ao período no qual o Banco Central se compromete a levar a inflação vigente na economia para a meta – seja isso uma redução ou elevação do ritmo da variação de preços (afinal, nem sempre o problema é inflação alta demais, certo?).

A determinação desse horizonte é particularmente importante para a gestão do Banco Central, porque a política monetária atua com defasagem. Em outras palavras, as ferramentas usadas pelo BC para controlar a alta de preços – principalmente a taxa de juros – demoram um tempo para fazerem efeito na economia. No Brasil, estimativas apontam que um aumento/queda de juros demoram aproximadamente 6 meses para começar a ser sentido na economia.

Para ilustrar a defasagem da política monetária, podemos pensar como o comércio de produtos que demandam maior financiamento demoram um tempo depois do início de um processo de alta de juros pelo Banco Central para começar a reduzir.

Isso acontece, pois todos os juros praticados na economia vão gradualmente subindo após alta na taxa Selic – desaquecendo, assim, a demanda por bens e serviços e, consequentemente, retirando pressão sobre a alta de preços.

O inverso (no caso, quedas na taxa Selic) também acontece da mesma maneira.

O que o CMN decidiu?

Desde a implementação do regime de metas no Brasil, o horizonte de convergência implementado é o do ano calendário – ou seja, um ano fechado (acumulado de janeiro a dezembro). Porém, essa regra mudou desde a mais recente reunião do CMN.

De acordo com anúncio feito em 29 de junho de 2023, o horizonte de convergência passará a ser contínuo (a partir de 2025). De maneira simplificada, isso significa que o Banco Central terá um período relativamente maior para “trazer” a inflação para a meta estabelecida. E esse período não será mais medido em anos fechados; e sim, de maneira contínua todos os meses. O período exato desse horizonte ainda será definido nas próximas semanas.

Vale destacar que o CMN também determinou que a meta de inflação seguirá sendo de 3,0% a partir de 2026, mantendo a meta já estabelecida para 2024.

Ou seja, o Banco Central terá como objetivo que o IPCA permaneça em 3,0% (medida no acumulado em doze meses) mensalmente, sem necessariamente ter a obrigação que a inflação encerre o ano calendário nesse patamar, em dezembro. 

No mercado financeiro, a decisão de manter a meta em 3,0% tende a ter certo impacto positivo, uma vez que o risco de que a meta de inflação fosse elevada acabou por influenciar as expectativas de muitos analistas sobre o ritmo da inflação no futuro. E, como falamos, expectativas sobre os preços no futuro são de extrema importância para decisões do Banco Central – e efetivamente para onde a inflação irá.

Além disso, o CMN também optou por manter a banda de variação da meta em 1,50pp, o que foi visto com bons olhos, dado que o risco de se elevar esse intervalo de tolerância poderia abrir mais espaço para um ambiente de mais inflação no país adiante.

Já a mudança do horizonte de convergência não traz surpresas. A decisão vai em linha com a experiência internacional, sendo o regime implementado em países como Estados Unidos e Reino Unido. Ademais, a decisão já era esperada por grande parte dos analistas.

Finalmente, para o dia a dia dos brasileiros, a mudança não deve trazer impactos significativos. Isso porque o Banco Central – nesse momento – deve seguir implementando uma política monetária com o objetivo de trazer a inflação de volta para a meta de 3,0%, mesmo que agora com mais tempo para que isso se concretize.

A mudança pode significar que o Banco Central tenha eventualmente espaço para afrouxar um pouco mais sua política monetária – ou seja, reduzir um pouco mais a taxa Selic – do que teria se a meta precisasse ser cumprida no período de doze meses.

Entretanto, isso não muda nossa visão de que os juros deverão cair gradualmente nos próximos meses, sem que caiam de maneira vertiginosa. Ou seja, mantemos nossa visão de que a taxa Selic deve começar a ser reduzida em agosto, e encerrar esse ano em 12,00%.

Quer saber onde investir nesse cenário? Te contamos tudo aqui!

Elaborado por:

Júlia Aquino, CNPI 3607

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