O Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) manteve a nossa taxa básica de juros – a taxa Selic – em 10,50% ao ano.
A decisão interrompe o processo de queda dos juros básicos iniciado em agosto de 2023, em uma sequência de sete reduções da Selic.
Acreditamos que o Banco Central deva manter os juros no patamar atual ao longo dos próximos meses, diante do cenário incerto para a inflação tanto no Brasil quanto no mundo.
Quer entender mais sobre como os juros impactam a inflação? Te contamos aqui!
O que disse o Copom?
Após cada reunião, o Copom divulga um comunicado detalhando sua decisão e sinalizando a direção que deve tomar dali em diante em relação à política monetária – ou seja, à taxa de juros.
No documento de hoje, o Comitê destacou que o ambiente externo seguiu incerto, conforme visto na última reunião. Diante de uma inflação que segue “teimosa” em países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos, os juros devem seguir altos ao longo dos próximos meses. Assim, o cenário ainda demanda maior cautela de países emergentes.
Já por aqui, o Copom também reiterou os riscos observados na última reunião. Embora a inflação ao consumidor continue relativamente comportada, a economia tem se mostrado mais forte do que o esperado, com um mercado de trabalho resiliente e demanda aquecida.
Esse cenário tende a pressionar os preços principalmente no setor de serviços – fator essencial para entender comportamento da inflação como um todo, sinalizando tendências adiante. Isso, porque os preços no setor são menos impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity), sendo mais afetados pelo comportamento de salários, além do nível de demanda na economia.
O Copom também manteve o recado forte sobre o risco fiscal e sobre o comportamento das expectativas de inflação. O Comitê destacou a importância da manutenção de uma política fiscal “crível”, e que tenha o objetivo de reduzir o endividamento público no longo prazo – para evitar impactos como a desvalorização da nossa moeda e a própria “desancoragem de expectativas”.
Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante, influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro (lembrando que as expectativas sobre os preços no futuro importam).
Expectativas de inflação: o que são?
As expectativas de inflação são muito importantes para o controle da inflação em si.
A dinâmica é simples: basta pensar que se você acredita que os preços não irão parar de subir no futuro, e você é um prestador de serviços ou mesmo o locatário de um imóvel, existe uma grande chance de que você já subirá o seu preço, para não “ficar pra trás”, certo?
Eventualmente, esse movimento de agentes na economia acaba impulsionando os preços em cadeia, e a inflação efetivamente sobe (no futuro).
Nesse contexto, o Copom optou por manter a Selic em 10,50% ao ano. Ou seja, mantendo a taxa básica no patamar que chamamos de “contracionista” – em que os juros altos encarecem o crédito, desincentivam o consumo e desaquecem a economia como um todo, reduzindo a inflação.
Selic estável para os próximos meses
Acreditamos que o Banco Central deva manter a taxa Selic no patamar atual (de 10,50% ao ano) ao longo dos próximos meses.
Isso significa que os juros básicos não atingirão o patamar neutro (aquele que não estimula nem desestimula a economia) – ao menos por ora. Ou seja, que nossa política monetária seguirá em nível contracionista, conforme falamos acima.
Isso porque, apesar da inflação relativamente bem comportada nos últimos meses – como contamos aqui em detalhes – o cenário para os preços adiante segue incerto.
Do lado internacional, a manutenção dos juros altos por mais tempo nos Estados Unidos (diante de uma inflação ainda resiliente) tende fortalecer o dólar no mundo, especialmente em países considerados mais arriscados, como emergentes. Afinal, quanto mais altos os juros na principal economia do mundo, mais capital tende a ser atraído para lá – valorizando a moeda.
Além disso, conflitos geopolíticos latentes também demandam cautela, uma vez que podem trazer volatilidade a importantes preços internacionais, como petróleo e fretes marítimos.
O cenário doméstico, entretanto, tem se destacado como o principal risco. Nos últimos meses, uma série de fatores desencadearam a piora na percepção de risco fiscal e político por aqui. Esses incluíram dúvidas sobre a efetividade de medidas de elevação de receitas, preocupações crescentes com relação ao cumprimento das metas fiscais, além de ruídos sobre a gestão autônoma do Banco Central, incluindo a falta de unanimidade na decisão do Copom de maio.
Como ilustrado no gráfico abaixo, essa piora na percepção de risco tem impactado nossa taxa de câmbio, alimentando adicionalmente a desvalorização do real – conforme visto em comparação a outras moedas emergentes.
Além disso, o mercado de trabalho aquecido e a economia doméstica resiliente ganharam força no cenário de riscos nos últimos meses. Afinal, embora o desemprego em baixa seja benéfico para a economia em diversos ângulos, um mercado de trabalho aquecido tende a pressionar a inflação – uma vez que contribui para a elevação dos salários.
A manutenção de benefícios fiscais elevados também contribui para a pressão sobre os preços vinda da renda das famílias. Para ilustrar, projetamos que a massa de renda disponível das famílias cresça 5% acima da inflação nesse ano.
Assim, entendemos que o cenário atual não permite que o Banco Central retire o pé do “freio” na economia, após quase um ano de redução gradual.
Projetamos que a Selic siga em 10,50% até, no mínimo, o fim desse ano.
Vou sentir a interrupção da queda de juros?
Para o mercado, a decisão deve impactar títulos de renda fixa, especialmente de vencimentos médios. Isso porque, apesar deter sido uma decisão já esperada por analistas, a unanimidade entre diretores na votação deve trazer alívio na percepção de risco entre investidores.
O relativo alívio tende a se traduzir em uma leve queda da expectativa de juros no futuro – ou seja, em um prêmio um pouco menor exigido por investidores para financiar o governo brasileiro no médio prazo.
Esse movimento – que chamamos de abertura na curva de juros – tende a valorizar títulos pré-fixados e híbridos (IPCA +) já existentes (com vencimento entre 2024 e 2026), enquanto reduz as taxas de novos títulos emitidos.
Para o dia a dia do brasileiro, entretanto, pouca coisa muda, especialmente no curto prazo. Isso porque mudanças na taxa básica de juros demoram a ser sentidas na economia – chamamos esse efeito de “defasagem da política monetária”. No Brasil, o intervalo para que alterações na Selic sejam refletidas nas taxas para empresas e pessoas física varia de 3 a 12 meses.
Além disso, o impacto também varia de acordo com a modalidade do crédito. Por exemplo, a variação de 1p.p. na taxa Selic leva a uma variação quatro vezes maior nos juros médios do cheque especial ao longo de doze meses (conforme estudo recente do Banco Central). Já outros tipos de crédito, como o imobiliário e para veículos, são impactados em um período de 6 e 3 meses em média, respectivamente.
Assim, apesar da interrupção da queda da Selic, o movimento de melhora no ambiente de crédito deve seguir ao longo dos próximos meses. Como podemos ver no gráfico abaixo, a queda de taxas de juros a consumidores finais e de níveis de inadimplência refletem (entre outros fatores) o ciclo de queda da taxa básica de juros observado ao longo dos últimos dez meses.
Dito isso, a sensação de aperto das condições financeiras deve voltar a ganhar força gradualmente na segunda metade do ano, contribuindo para o leve enfraquecimento da economia.
Renda Fixa segue atrativa
Diante da manutenção da taxa de juros no patamar contracionista, a renda fixa brasileira segue atrativa – garantindo retornos elevados para investimentos pós fixados de prazos mais curtos (até três anos) e reserva de emergência.
Dito isso, o momento segue propício por um bom equilíbrio entre os diferentes indexadores na carteira do investidor.
Além disso, diante de um cenário onde a inflação segue um risco no longo prazo, títulos de renda fixa atrelados à índices de preço seguem uma excelente proteção para seus investimentos – dando espaço para vencimentos mais longos, com prazo médio de cinco anos.
Para os pré-fixados, os últimos meses foram marcados pela elevação das taxas observadas. Mas esse tipo de alocação ainda requer atenção! A incerteza sobre os rumos da inflação no Brasil e no mundo voltaram a impactar as expectativas sobre os juros de longo prazo, desvalorizando títulos existentes e adicionando risco adiante.
Por isso, mantemos nossa recomendação para pré-fixados reduzida e cautelosa, priorizando vencimentos de curto prazo (2 a 3 anos) e oportunidades pontuais em títulos privados. Confira nossas recomendações de renda fixa aqui.
Selic estável pede cautela, mas não o fim da diversificação na bolsa.
Independente da manutenção da taxa Selic em patamar elevado, a diversificação dos investimentos segue a melhor amiga de bons retornos no longo prazo. Além disso, vale destacar que seguimos vendo a bolsa brasileira como barata (comparada ao histórico recente e a pares emergentes), e uma frente de oportunidades para investidores com horizonte de longo prazo.
Dito isso, o cenário de juros altos por mais tempo contribui para um ambiente mais desafiador para empresas – e assim, investimentos na bolsa.
Essa dinâmica é sentida principalmente por ações mais sensíveis aos movimentos dos juros, como as cíclicas (ou seja, de empresas que atuam em setores que refletem de maneira mais clara o “sobe e desce” da economia) e com maior nível de alavancagem – em bom português, com maiores dívidas.
Nesse cenário, destacamos nossa recomendação para ações de empresas com perspectivas sólidas de crescimento, boas pagadoras de dividendos e com perfil mais defensivo, que podem oferecer resiliência em meio ao cenário global e doméstico desafiador.
Recomendações completas
Confira todas as nossas recomendações, de acordo com cada perfil de investir, no Onde Investir da Rico. E abaixo, separamos algumas sugestões de investimentos recomendados nas principais classes de ativos para o cenário atual.
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | CRI Cyrela -04/2028 – 98% CDI* isento | Selection RF Light FIC Renda Fixa Crédito Privado LP | R$ 100,00 |
Inflação | NTN-B – ago/28 – IPCA+5,86% | CRA Marfrig 03/2034 – IPCA+ 6,65% *isento | R$ 50,00 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado jan/2026 – 10,71% | R$ 100,00 | |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | Kinea Atlas II | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$ 100,00 |
Renda variável internacional | Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 | M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | Trend Bolsas Globais | Trend Bolsas Emergentes | R$ 100,00 |
Alternativos/ Fundos Imobiliários | Carteira de FIIs Rico | R$ 100,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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