Não seja pego de calças curtas!
“Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.
Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor pelo motivo principal de ajudar a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores.
Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. E sim, que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.
Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. E abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.
Onde estamos? Recessão deve vir, mas China pode contrapor
Embora os mercados globais tenham ficado praticamente de lado ao longo do último mês, o vai e vem do apetite ao risco entre investidores foi marca desse último abril.
Nos Estados Unidos, as preocupações iniciais de que uma crise bancária se disseminasse pela economia foram dando lugar para uma “segunda derivada” do problema: uma crise sistêmica de crédito, com potencial de impactar empresas, famílias e o mercado como um todo – em um ciclo de escassez de crédito na economia.
Essas preocupações acabaram se unindo aos receios de que uma recessão se aproxima da maior economia do mundo. Nesse cenário, o resultado do PIB mais fraco do que o esperado no primeiro trimestre por lá foi destaque, sinalizando que a economia perde força.
Na tabela abaixo, podemos ver o desempenho dos principais componentes do PIB americano, ficando clara a desaceleração entre os resultados vistos na segunda metade de 2022 e nos primeiros meses desse ano.
O cenário de enfraquecimento da economia, porém, não foi o suficiente para reverter o “plano de vôo” do Banco Central americano. O Fed elevou mais uma vez a taxa básica de juros americana no início de maio – chegando ao intervalo de 5,0%-5,25% ao ano, o maior nível desde agosto de 2007.
Dito isso, entendemos que o Fed encerrou seu processo atual de alta de juros. Ou seja, não vemos mais elevações de juros nos próximos meses nos EUA, projetando uma queda gradual ao longo de 2024.
Por outro lado (e do outro lado do mundo), o PIB da China cresceu acima do esperado no primeiro trimestre do ano. Com a inflação baixa e espaço para estímulos do governo, a reabertura pós pandemia do gigante asiático deve seguir beneficiando o Brasil, mantendo preços de commodities historicamente ainda elevados, apesar da queda recente.
Mas, como nem tudo são rosas, dados recentes da economia chinesa acenderam uma luz amarela. Eles têm sinalizado que o crescimento desse ano pode ser mais fraco do que o esperado e não necessariamente impulsionado pela produção industrial – aquela que tende a “puxar o mundo”, especialmente o preço de commodities.
Enquanto isso, no Brasil
Economia melhor que o esperado, mas enfraquecendo
Aqui no Brasil, o último mês foi marcado por surpresas relativamente positivas na economia.
Essa performance mais positiva é explicada por uma série de fatores. O mercado de trabalho tem se mostrado mais resiliente do que o esperado, impulsionado especialmente pelo setor de serviços e empregos formais. Por trás disso (e se retroalimentando) está um forte consumo das famílias, baseado na recuperação de salários reais (muito por conta da inflação em baixa) e em maiores transferências de renda do governo – com destaque ao aumento do programa Bolsa Família.
Em outras palavras, famílias com renda disponível impulsionam a demanda por serviços e bens, especialmente essenciais, alimentando e sendo alimentada por uma taxa de desemprego ainda historicamente baixa.
Mas o consumo não tem sido o único motor do crescimento recente. Pelo contrário. O setor agropecuário começou o ano com o “pé direito”, diante de safras recorde, contribuindo para os números positivos no ano.
Nesse cenário, projetamos que o PIB do Brasil cresça 1,4% em 2023 – uma visão mais positiva do que os 1,0% previstos no nosso último relatório.
Mas isso não significa que a economia não perderá força adiante.
Afinal, o efeito da manutenção dos juros altos deve seguir “freando” a economia (projetamos que a taxa Selic siga no patamar de dois dígitos, como falaremos abaixo). Lembrando que os juros altos pesam sobre o endividamento e – consequentemente – sobre o consumo de itens que exigem maior financiamento, como carros, móveis e eletrodomésticos. O comércio de bens de consumo duráveis, por exemplo, vem recuando nos últimos meses, refletindo a alta do endividamento e comprometimento da renda das famílias com o pagamento de juros.
Além disso, a incerteza sobre os rumos da economia global também nos impacta por aqui, sinalizando cautela sobre uma visão mais positiva da economia nos próximos anos. Contamos mais sobre como uma recessão nos Estados Unidos pode afetar o Brasil nesse texto.
Redução do risco fiscal é chave para manter inflação comportada
Como contamos aqui em mais detalhes, os últimos meses foram marcados por notícias relativamente positivas no cenário de inflação.
Em março, o IPCA (nosso principal indicador de inflação ao consumidor) registrou queda no acumulado em doze meses, para 4,65% – de 5,60% em fevereiro. O resultado reflete o movimento de enfraquecimento da inflação no mundo, especialmente nos produtos industrializados e em preços no atacado – diante da normalização de desequilíbrios de oferta vindos da pandemia e da guerra.
Mas isso não significa que a inflação está fora do radar dos brasileiros – muito menos do Banco Central, que manteve mais uma vez a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, em sua mais recente reunião.
Isso porque, apesar da melhora recente, os preços ainda sobem acima da atual meta do Banco Central (de 3,25%), especialmente no setor de serviços – como ilustrado no gráfico abaixo. Além disso, as perspectivas de longo prazo trazem preocupação ao cenário doméstico, diante do ainda presente risco fiscal, que impacta o controle da alta de preços pelo Banco Central, podendo colocar em xeque o cenário de alívio nos preços.
Afinal, maiores gastos públicos pressionam a inflação por meio do aumento da renda e do consumo hoje. Além disso, precisam ser pagos no futuro – com mais dívida, maiores impostos ou mais emissão de “dinheiro” (no caso, inflação).
A recente formalização ao Congresso da proposta de nova regra fiscal pelo governo ajudou a reduzir a percepção de risco fiscal. Mas a falta de detalhamento sobre as fontes de receita para atingir o equilíbrio das contas públicas nos próximos anos mantiveram a incerteza no ar.
Por isso, seguimos cautelosos com o cenário de inflação no Brasil para os próximos anos – projetando alta de 6,2% no IPCA para esse ano e 5,0% para o ano que vem.
Mas se tudo isso de risco fiscal ainda não ficou claro, clica aqui que te contamos!
Selic deve cair em 2023, mas seguir em dois dígitos
Como contamos aqui,o Copom (nosso comitê de política monetária) manteve novamente a taxa Selic em 13,75% ao ano em sua última reunião, no início de maio.
Em mais um comunicado duro contra a inflação, o Banco Central reconheceu que a inflação tem perdido força, mas segue acima de sua meta de 3,25% para o ano. Além disso, as expectativas sobre a inflação no futuro continuam desancoradas – ou seja, fora da meta estabelecida para os próximos anos.
Vale lembrar que expectativas são essenciais no controle da inflação. Afinal, se todos acreditam que os preços não pararão de subir rapidamente, a maioria se antecipará à alta de preços no futuro, já subindo aquilo que consegue definir – seja seu salário, o aluguel cobrado de um imóvel, ou um serviço de manicure.
Por outro lado, a formalização da proposta de arcabouço fiscal, a valorização recente da nossa moeda, além de riscos de uma desaceleração global mais forte devem a abrir espaço para certa flexibilização do que chamamos de aperto monetário.
Assim, vemos a Selic caindo para 12,00% até o final deste ano, em um processo gradual de redução de juros a partir de agosto. Adiante, vemos o Banco Central reduzindo a Selic apenas um pouco mais – até atingir 11,00% ao ano em 2024.
E o dólar, vai pra onde?
Como contamos em nossa última atualização mensal, 2023 começou marcado pela desvalorização do real, especialmente por conta das incertezas no campo político-fiscal. Porém, para a alegria de muitos, o segundo trimestre do ano se iniciou com melhores notícias para a nossa moeda, como podemos ver no gráfico abaixo.
A apreciação da nossa moeda é explicada por uma série de fatores, dos quais podemos destacar:
- A sinalização de que os juros não irão mais subir nos Estados Unidos – isso reduz a atratividade de ativos na maior economia do mundo, atraindo menos capital para o país;
- Boas perspectivas de crescimento na China e Índia – o que aumenta a demanda por commodities que exportamos, mantendo seus preços em níveis altos (ou seja, “mais dólares” entrando aqui);
- A redução de preocupações de uma crise bancária sistêmica no mundo, que vinha atraindo investidores para “portos seguros”, como dólares e títulos do Tesouro americano;
- A redução da percepção de risco fiscal doméstico, com a formalização da proposta de nova regra fiscal; e
- A expectativa de manutenção de uma taxa Selic alta, mesmo diante da queda esperada, mantendo os juros reais (juros descontados da inflação) elevados por aqui.
Dito isso, as incertezas sobre todos os fatores acima seguem altas, especialmente relacionadas aos riscos fiscais por aqui. Assim, esperamos que o dólar encerre 2023 em R$ 5,30, e 2024 em R$ 5,40.
Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.
Quer entender mais sobre a taxa de câmbio? Confira aqui!
Como investir nesse cenário?
Diante da continuidade de um cenário desafiador para a economia no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio se torna ainda mais essencial.
Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas, de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de ativos recomendados para cada classe indicada.
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2029 | CDB Pan 115% CDI 2025 | R$ 100,00 |
Inflação | Tesouro IPCA+/NTN-B Maio/2025 IPCA+5,36% | CRA Minerva AAA IPCA + 6,95% 07/2029 | R$ 31,27 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado/LTN Jul/25 11,31% | CBD Pan 13,8% 2026 | R$ 31,56 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | XP Macro FIM | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$100,00 |
Renda variável internacional | Carteira de ETFs Rico | M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | Trend Bolsas Globais | Trend Bolsas Emergentes | R$ 100,00 |
Alternativos | Trend Commodities FIM | RBR Reits US Em Reais FIC FIA BDR | R$ 100,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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