Não seja pego de calças curtas!
“Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.
Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor pelo motivo principal de ajudar a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores.
Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. E sim, que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.
Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. E abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.
Onde estamos? Crise bancária perde força mas Bancos Centrais seguem aperto
O mês de março foi marcado por uma crise de confiança em relação ao setor bancário global, especialmente em países desenvolvidos.
Tudo começou com a intervenção de reguladores no banco americano Silicon Valley Bank por problemas de liquidez relacionados à má gestão do balanço entre ativos e passivos da instituição, que foi seguido pelo também americano Signature Bank. Dias depois, na Europa, o gigante Credit Suisse foi vendido às pressas ao UBS com o apoio do Banco Central da Suíça.
A turbulência aumentou a aversão ao risco entre investidores, impactando não somente os países envolvidos, mas o mundo todo.
Porém, a rápida atuação de reguladores capitaneados por Bancos Centrais acabou acalmando os ânimos. Assim, pelo menor por ora, a célere resposta tem se mostrado suficiente para conter os receios de que a crise se alastre pelo setor bancário ao redor do mundo de modo a se tornar uma crise sistêmica global.
Nesse cenário, Bancos Centrais de países desenvolvidos sentiram-se confortáveis em seguir seus “planos de vôo” de aperto monetário, destacando também que quaisquer desdobramentos da crise bancária seriam tratados por outras ferramentas disponíveis (além dos juros), as chamadas macroprudenciais. Ou seja, as turbulências observadas nos bancos não foram o suficiente para reverter o processo de alta de juros em regiões como os Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.
Dito isso, esperamos que o Banco Central americano (FED) encerre seu processo de alta de juros em breve. Diante de dados que sinalizam cada vez mais que a maior economia do mundo está esfriando, e a inflação finalmente enfraquecendo mais rápido (com o acumulado em doze meses do índice de preços ao consumidor atingido a marca abaixo dos 5,00% em março), o FED passou a indicar que o fim da alta dos juros está próximo. Assim, esperamos que a taxa básica por lá atinja 5,25% ao ano em maio, e permaneça nesse nível até o início de 2024 – quando devemos ver um início de queda nos juros nos EUA.
Já outro lado do mundo, o crescimento chinês ganhou tração no último mês, indicando que o país deve passar por uma forte retomada ao longo de 2023. Assim, com a inflação ainda bastante baixa permitindo políticas expansionistas (de juro baixo e expansão fiscal, na contramão do mundo), a China deve crescer acima de 5% nesse ano. Esse crescimento deve suavizar a desaceleração de muitos países, especialmente emergentes exportadores de commodities, como o Brasil.
Enquanto isso, no Brasil
Economia em rota de desaceleração
Aqui no Brasil, o primeiro trimestre se encerrou indicando um cenário econômico mais desafiador.
De um lado, o setor de serviços – responsável por quase 70% do nosso PIB – já perde força, e deve deixar de impulsionar a economia como fez ao longo de 2022, na onda da normalização do consumo pós pandemia e da recuperação do emprego.
Ao mesmo tempo, o efeito da manutenção dos juros altos (com Selic em 13,75% ao ano) deve seguir “freando” a economia. O comércio, por exemplo, recuou nos últimos meses, especialmente em bens de consumo duráveis. Afinal, os juros altos pesam sobre o endividamento e – consequentemente – sobre o consumo de itens que exigem maior financiamento, como carros, móveis e eletrodomésticos.
Esse movimento de condições financeiras mais apertadas ganhou força com os últimos acontecimentos no mercado de crédito no Brasil e no sistema bancário global. O recente caso envolvendo a varejista Americanas e outros eventos no setor de crédito corporativo por aqui alimentaram a aversão ao risco de instituições financeiras em um ambiente mais desafiador para empresas e de juros altos. Reflexo disso é a contração de concessão de crédito para empresas observada nos últimos meses.
Dito isso, ainda vemos a economia brasileira crescendo 1,0% em 2023. Isso porque setores menos sensíveis à desaceleração da economia doméstica ainda devem ter boa performance, especialmente o agropecuário – impulsionados por safras de grãos que tendem a registrar recordes históricos. Na mesma linha, a retomada da economia chinesa deve contribuir para a manutenção do preço de commodities em nível historicamente alto.
Além disso, os maiores gastos do governo com o programa Bolsa Família (permanente em R$ 600, além de auxílio de R$ 150 para crianças), o aumento do salário-mínimo, e políticas de aumento de crédito e renegociação de dívidas também devem contribuir para impulsionar a renda, e consequente, a demanda das famílias.
Redução do risco fiscal é chave para manter inflação comportada
Como contamos aqui em mais detalhes, março trouxe surpresas positivas para o cenário de inflação, atingindo o menor patamar desde janeiro de 2021. No mês, o IPCA (nosso principal indicador de inflação ao consumidor) registrou queda no acumulado em doze meses, para 4,65% – de 5,60% em fevereiro. O resultado reflete a retomada do movimento de enfraquecimento da inflação, agora também começando a ser observado gradualmente no setor de serviços – apesar de este seguir bastante pressionado.
Entretanto, isso não significa que a inflação está fora do radar dos brasileiros – muito menos do Banco Central, que terá reunião do seu conselho de política monetária (o Copom) no dia 22 ainda nesse mês.
Isso porque, apesar da melhora recente, os preços ainda sobem acima da atual meta do Banco Central (de 3,25%). Além disso, as perspectivas de mais longo prazo trazem preocupação ao cenário doméstico, diante do ainda presente e elevado risco fiscal – que impacta o controle da alta de preços pelo Banco Central, podendo colocar em xeque o cenário de alívio nos preços.
Afinal, maiores gastos públicos não apenas pressionam a inflação por meio do aumento da renda e do consumo hoje, mas também precisam ser pagos no futuro – com mais dívida, maiores impostos ou mais emissão de “dinheiro” (no caso, inflação).
A recente apresentação da proposta de uma nova regra fiscal pelo Ministério da Fazenda trouxe certo alívio para a percepção de risco fiscal. Porém, a falta de detalhamento sobre como atingir as metas ambiciosas propostas rumo ao equilíbrio das contas públicas nos próximos anos mantiveram a incerteza no ar.
Por isso, seguimos cautelosos com o cenário de inflação no Brasil para os próximos anos – projetando alta de 6,2% no IPCA para esse ano e 4,5% para o ano que vem.
Mas se tudo isso de risco fiscal ainda não ficou claro, clica aqui que te contamos!
Selic deve cair em 2023, mas seguir em dois dígitos
Como contamos aqui,o Copom (nosso comitê de política monetária) manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano em sua última reunião, em março.
Em um comunicado duro contra a inflação, o Banco Central reconheceu que a economia perde fôlego no país, mas que a inflação segue acima de sua meta de 3,25% para o ano, e que os riscos fiscais continuam impactando as expectativas sobre a inflação no futuro – que se distanciam gradualmente das metas para os próximos anos.
Vale lembrar que expectativas são essenciais no controle da inflação. Afinal, se todos acreditam que os preços não pararão de subir rapidamente, a maioria se antecipará à alta de preços no futuro, já subindo aquilo que consegue definir – seja seu salário, o aluguel cobrado de um imóvel, ou um serviço de manicure.
Por outro lado, o Banco Central também destacou o cenário de crédito mais desafiador no país, com a economia sob o efeito de juros altos já há algum tempo. Assim, diante do cenário de relativa estabilidade na inflação (mesmo que ainda acima da meta do Banco Central) e dos desafios no cenário de crédito no Brasil e no mundo, entendemos que o Banco Central deve começar a reduzir os juros na segunda metade desse ano.
Ou seja, vemos a Selic caindo para 12,00% até o final deste ano, em um processo gradual de redução de juros a partir de agosto. Adiante, vemos o Banco Central reduzindo a Selic apenas um pouco mais – até atingir 11,00% ao ano em 2024.
E o dólar, vai pra onde?
Como contamos em detalhes nesse texto, o real se destacou ao longo de 2022 como uma das moedas com melhor performance em relação ao dólar no mundo. O ano de 2023 começou com esse movimento perdendo força, especialmente por conta das incertezas no campo político-fiscal.
Porém, para a alegria de muitos, o segundo trimestre do ano aponta para um fortalecimento da nossa moeda – como podemos ver no gráfico abaixo.
A apreciação da nossa moeda é explicada por uma série de fatores, dos quais podemos destacar:
- A expectativa de que os juros parem de subir nos Estados Unidos – reduzindo a atratividade de retornos em ativos “sem risco” na maior economia do mundo;
- Crescentes sinais de retomada da economia chinesa – que mantém o preço de commodities que exportamos historicamente elevadas (ou seja, “mais dólares” entrando aqui);
- A redução de preocupações de uma crise bancária sistêmica no mundo, que vinha atraindo investidores para “portos seguros”, como dólares e títulos do Tesouro americano;
- A redução da percepção de risco fiscal doméstico, com a apresentação da proposta de nova regra fiscal; e
- A expectativa de manutenção de uma taxa Selic alta, mesmo diante da queda esperada, mantendo os juros reais (juros descontados da inflação) elevados por aqui.
Dito isso, as incertezas sobre todos os fatores acima seguem altas, especialmente relacionadas aos riscos fiscais por aqui. Assim, esperamos que o dólar encerre 2023 em R$ 5,30, e 2024 em R$ 5,40.
Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.
Como investir nesse cenário?
Diante da continuidade de um cenário desafiador para a economia no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio se torna ainda mais essencial.
Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas, de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de ativos recomendados para cada classe indicada.
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2029 | Banco Pan 2025 CDI +114% | R$ 100,00 |
Inflação | Tesouro IPCA+/NTN-B Maio/2025 IPCA+5,36% | CRA Minerva AAA IPCA + 7,05% 07/2029 | R$ 31,27 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado/LTN Jun/25 12,7% | Banco Pan 2026 CDI + 1,85% | R$ 31,56 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | XP Macro FIM | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$100,00 |
Renda variável internacional | Carteira de ETFs Rico | Wellington US BDR Advisory Dólar Nível | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | M Global BDR Advisory FIC FIA BDR Nível I | Wellington US BDR Advisory BDR Nível I | R$ 100,00 |
Alternativos | Trend Commodities FIM | RBR Reits US Em Reais FIC FIA BDR | R$ 100,0 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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