Com a normalização pós pandemia da Covid-19, a economia global enfrenta hoje as principais consequências dos desequilíbrios causados tanto pelo vírus quanto por políticas para enfrentá-lo: a inflação alta e, consequentemente, a alta dos juros.
Assim, a alta dos juros em resposta à alta de preços se tornou o principal motor por trás da volatilidade observada nos últimos meses em bolsas, moedas e ativos de renda fixa não somente nos Estados Unidos, mas no mundo todo.
Juros nos EUA: a maior inflação dos últimos tempos
Como contamos neste texto em mais detalhes, há vários motivos por trás da alta acelerada de preços que vimos ao redor do mundo no último ano. Os principais incluem:
- Os estímulos fiscais e monetários maciços implementados para enfrentar a pandemia da Covid-19 (como juros a quase zero e cheques de auxílio para famílias) especialmente entre 2020 e 2021, que impulsionaram a demanda fortemente;
- A invasão da Rússia na Ucrânia, dois importantes produtores e exportadores commodities, o que ajudou a impulsionar o preço desses insumos básicos no mundo, especialmente agrícolas e energéticos – principalmente o petróleo; e
- A política de Covid-zero do governo chinês, que prolongou os gargalos na produção e no escoamento de todo tipo de produto ao redor do mundo causados pela pandemia, pressionando preços como fretes e insumos industriais por quase três anos.
Como resultado, o ano de 2022 registrou recorde atrás de recorde nos números de inflação ao redor do mundo, com países como Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos convivendo com preços subindo à velocidade de 10% ao ano.
Já ao final de 2022 e início de 2023, o enfraquecimento dos desequilíbrios relacionados à pandemia, como a normalização das cadeias de produção globais e a retomada da oferta de insumos industriais como semicondutores, contribuiu para que a inflação começasse a ceder.
A normalização do consumo após o primeiro “boom” pós pandemia, a atuação de governos europeus na questão energética e o fim de benefícios fiscais em muitos países também foram cruciais para o desaquecimento dos preços.
Dito isso, a inflação segue alta para padrões históricos e muito longe das metas dos Bancos Centrais em economias desenvolvidas. E assim, um desafio para o crescimento e estabilidade econômica globais.
O remédio amargo contra inflação alta: juros
Diante do desafio de inflação historicamente alta , Bancos Centrais ao redor do mundo pisaram no acelerador dos juros, de modo a reverter a rota vista no imediato pós eclosão da pandemia da Covid-19. Ou seja, passaram a reduzir os estímulos à economia com o objetivo de esfriar a atividade econômica, e assim, tirar pressão dos preços de bens e serviços.
Em bom português: o dinheiro abundante e crédito barato para “bombar” a economia deram lugar ao dinheiro mais escasso e ao crédito mais caro para “frear” a economia.
Quer entender mais sobre a relação entre juros e inflação? Acesse o nosso podcast Fala, Rico!
Nos Estados Unidos, esse processo ganhou força no começo de 2022, quando a economia americana mostrava sinais de superaquecimento, com famílias registrando altos níveis de poupança e consumo, além de um mercado de trabalho caracterizado por mais vagas do que trabalhadores em busca de emprego.
E quanto mais aquecida a economia, maior é a pressão sobre os preços.
O Banco Central americano – o famoso Fed – elevou, então, os Fed funds (taxa básica de juros americana) rapidamente, que subiram do patamar de 0% – 0,25% ao ano em dezembro de 2021 para 4,75% – 5,00% ao ano em março de 2023.
Nesse cenário, diante da desaceleração recente da inflação e a economia mostrando os sinais de enfraquecimento esperamos que os juros básicos nos EUA subam até atingirem entre 5,25% e 5,5% ao ano. Adiante, vemos os juros caindo por lá apenas no ano que vem.
Dito isso, vale destacar que a recente turbulência no sistema bancário americano (e, em menor parte, europeu) também tende a influenciar a decisão do Fed adiante. Isso porque, como contamos aqui em detalhes, a elevação dos juros está no centro da incipiente crise bancária – e na má gestão de balanços financeiros diante da mudança das condições de mercado (para um ambiente de menor liquidez e maior aversão ao risco).
Ao mesmo tempo, os impactos da incerteza no mercado bancário pode impactar a oferta de crédito para famílias e empresas, diante da menor abundância de capital e do menor apetite ao risco.
Assim, se por um lado o Fed segue vigilante à alta de preços, por outro lado, os impactos da crise podem contribuir para o esforço de aperto monetário, e juros ainda mais altos podem acabar colocando “mais lenha na fogueira” dessa turbulência.
Como juros mais altos nos EUA impactam o Brasil?
Como falamos, a alta de juros nos Estados Unidos tem trazido bastante volatilidade para os mercados no mundo todo.
Primeiro, porque juros mais altos significam maiores custos de financiamento no longo prazo para as empresas, além da redução do preço considerado justo para ações, especialmente de empresas com grande parte do seu crescimento esperado no futuro.
Além disso, o receio de que o processo de alta de juros acabe levando a maior economia do mundo para uma recessão segue presente. Afinal, juros mais altos têm o objetivo de frear a inflação, mas o efeito colateral é um freio na própria economia.
Nesse contexto incerto, investidores ficam mais avessos ao risco, se afastando de investimentos mais arriscados, como em países emergentes – e afetando moedas como o real, que perdem valor com a saída de capital estrangeiro (como mostraremos abaixo)
Descubra o que esperar e como se proteger da Recessão nos Estados Unidos.
Assim, o Brasil é impactado direta e indiretamente por esses movimentos. Porém, além disso, temos também outros impactos da alta de juros nos Estados Unidos que podem ser sentidos por aqui.
Menor liquidez
A começar, juros em alta significam menor liquidez para o mercado. Isso significa menos dinheiro em busca de retornos no mundo; menos “abundância de capital”.
Para um país onde mais de 50% dos investidores na bolsa são estrangeiros, você deve imaginar que a situação fica mais desafiadora.
Menor diferencial de juros
Maiores juros nos EUA reduzem a atratividade relativa de ativos em países mais arriscados, como o Brasil. Ou seja, menos investidores dispostos a tomar maiores riscos em busca de maiores retornos.
Isso ocorre devido a redução do chamado diferencial de juros. Esse diferencial é uma comparação de quanto um investidor ganharia investindo aqui no Brasil – considerando a nossa taxa básica de juros como base para retornos – e quanto ganharia dado a taxa básica de juros dos EUA, onde o risco é considerado um dos menores do mundo.
Em bom português: com juros maiores lá, investidores pensam um pouco mais sobre investir aqui ou outros países emergentes, onde o risco é maior.
Desvalorização cambial e inflação
Assim, quanto maiores os juros por lá (aliado a maior aversão ao risco de investidores, que falamos acima), maior a atração de capital. Logo, contribuindo para a desvalorização de outras moedas no mundo.
O gráfico abaixo ilustra bem essa dinâmica, destacando a valorização do dólar após sinalizações do FED de que os juros seguiriam subindo, com destaque para países emergentes – que sofrem também com a recente perda de força das commodities, e são considerados mais arriscados, ampliando o efeito.
A desvalorização da nossa moeda, por sua vez, impacta a inflação por aqui (já que precisamos de “mais reais” para comprar produtos em dólares, como farinha de trigo). Deste modo, o rumo dos juros nos EUA também impacta o rumo dos nossos juros aqui.
Como investir com juros mais altos nos Estados Unidos?
Como falamos, o processo de alta de juros e incerteza bancária nos Estados Unidos tem impactado os mercados não somente por lá, mas também ao redor do mundo. Afinal, estamos falando da maior economia do mundo e do centro financeiro global.
Assim, o momento atual pede cautela. Atitudes como manter um caixa fortalecido para boas oportunidades e imprevistos, sua carteira diversificada e protegida contra a inflação e o foco em retornos de longo prazo serão seus maiores aliados.
Dito isso, vale lembrar que juros altos significam também maior rentabilidade para investimentos em renda fixa, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Além disso, oportunidades em outras classes de ativos seguem presentes, desde que feitas com diligência e de acordo com seus objetivos e perfil de investidor.
Por isso, destacamos aqui onde investir com a alta dos juros nos EUA de acordo com seus objetivos e perfil de investidor.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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