Você compra guarda-chuva em dia de sol ou deixa para o momento de desespero? Investir bem é como se precaver de mudanças bruscas no tempo, sempre de olho na previsão antes de sair de casa ou fazer planos ao ar livre.
Nesse conteúdo, trazemos a “meteorologia” para as principais classes de investimento disponíveis no mercado e a nossa dose recomendada para todas elas de acordo com o cenário atual. Assim, evitamos que uma “frente fria” pegue o seu dinheiro desprevenido.
Para começar, a tabela abaixo traz nossa sugestão atualizada de alocação para cada classe de ativos como proporção do total de uma carteira de investimentos, de acordo com cada perfil de investidor. Ou seja, é nossa sugestão de como cada investidor deve diversificar seus investimentos – lembrando que a diversificação é a melhor amiga dos bons retornos no longo prazo.
Ao final, trazemos uma indicação de produtos sugeridos para cada uma das classes de ativos abaixo, para que você possa investir agora mesmo da sua conta da Rico.
Lembre-se: conhecer seu perfil de investidor, seus objetivos e seu horizonte de investimento são atitudes essenciais na hora de escolher onde e como investir.
Entenda nossas políticas de investimento aqui. E baixe o PDF da carteira: Precavida, Cautelosa, Estrategista, Energética, Destemida.
Cenário Global
Sol entre nuvens
Em janeiro de 2024, indicadores econômicos nos Estados Unidos mostraram que a maior economia do mundo segue forte, mas tem conseguido apresentar um “feito e tanto”: controlar a inflação.
Essa dinâmica trouxe otimismo aos investidores mesmo diante de uma visão mais dura do Banco Central do país, afastando do horizonte (ao menos por ora) as “nuvens de preocupação” de que juros altos por mais tempo poderiam levar a uma recessão.
Nesse contexto, cresce a pergunta: será estamos em um cenário econômico de “Goldilocks” (Cachinhos Dourados)? Para quem não se lembra dessa história infantil, Cachinhos Dourados é um conto sobre uma menina que encontra a casa de três ursos. Nela, a garota encontra três opções de mingau, sendo uma delas em condições perfeitas: nem muito quente, nem muito frio.
Estaria a principal economia do mundo a caminho de um equilíbrio perfeito, impulsionando mercados mundo afora? Ou fatores como um mercado de trabalho superaquecido, inflação ainda preocupante e riscos geopolíticos latentes cedo ou tarde trarão as nuvens de volta para o horizonte?
Confira a seguir nossa visão para cada classe de investimento nesse ano de 2024.
Renda fixa global
Ensolarado
O tempo aberto proporcionado pelos juros altos na renda fixa global ainda brilha — mas talvez não por tanto tempo.
O mês de janeiro se encerrou com a decisão do Banco Central dos Estados Unidos (o Fed), que trouxe tom firme contra a inflação, diante de preços mais comportados, porém ainda “teimosos” em categorias como o setor de serviços.
A piora do conflito no Oriente Médio também adicionou certas nuvens ao céu de preços globais. A atuação do grupo político-religioso Houthis na região do Mar Vermelho levou à necessidade de rotas comerciais alternativas, impulsionando preços de fretes marítimos, ao mesmo tempo em que a escalada das tensões na região pressionou os preços de petróleo nos mercados globais – contribuindo para interromper a tendência de queda nos preços de commodities observada desde o fim de 2023.
Finalmente, a redução do estresse nas taxas dos títulos do governo americano de longo prazo (as famosas Treasuries – sobre a qual contamos tudo nesse vídeo), observada desde o fim do ano passado, também contribuiu para um ambiente menos volátil e “apertado” em termos de condições financeiras.
Nesse cenário, ganhou força a visão de que Fed optará por uma redução gradual das taxas básicas de juros por lá. Em bom português: os juros devem começar a cair nos Estados Unidos, mas não tão cedo, nem tão rápido quanto alguns previam (e esperavam).
E o que isso significa investimentos em renda fixa global?
Mesmo diante da provável queda de juros nos EUA e em outros países desenvolvidos nos próximos meses e da redução das taxas de juros de longo prazo – o que reduz parcialmente a atratividade de títulos de renda fixa – seguimos vendo o “tempo aberto” para o investimento em renda fixa global.
Primeiro, porque os juros seguem altos para patamares históricos, permitindo ao investidor aplicar seu patrimônio em um investimento de retorno elevado, com risco relativamente baixo. Afinal, títulos do governo americano são considerados os investimentos de menor risco no mundo.
Além disso, vale lembrar que a maior parte dos ativos de renda fixa global são prefixados, tornando essa uma janela interessante para o investidor, além da possibilidade de dolarização de parte do seu patrimônio em um momento mais estável de nossa moeda.
Uma das alternativas mais simples e seguras para investir em renda fixa global é por meio de fundos de investimento, que oferecem diversificação para um mercado que também possui seus riscos.
Hedgeados X Não Hedgeados
Quando investimentos em renda fixa global são realizados via fundos, podem ser feitos na modalidade com ou sem hedge (proteção) da moeda. Isso significa que, caso você escolha investir em renda fixa internacional sem hedge, estará exposto tanto às oscilações dos preços dos ativos de renda fixa internacional quanto à oscilação do dólar em relação ao real.
Renda fixa Brasil
Ensolarado
O tempo aberto que brilhou na renda fixa brasileira nos últimos anos tem diminuído sua intensidade, conforme nossa taxa básica de juros vai sendo reduzida.
O mês de janeiro se encerrou com o Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) reduzindo a taxa Selic para 11,25% ao ano, conforme amplamente esperado.
A primeira decisão do Copom de 2024 dá continuidade ao processo de queda de juros iniciado em agosto de 2023, após um ano de taxa Selic no patamar de 13,75%.
Para os próximos meses, acreditamos que o Banco Central deve continuar reduzindo a Selic até setembro, quando ela atingir 9,00% ao ano.
No entanto, riscos seguem no radar do Copom tanto à nível doméstico quanto internacional. Enquanto o mundo enfrenta o desafio de um potencial repique de custos fruto de conflitos geopolíticos (como falamos acima), o aumento do gasto público e o mercado de trabalho aquecido aqui no Brasil adicionam riscos ao controle de preços domesticamente.
Assim, diante de um cenário ainda marcado por incertezas, não vemos a necessidade de reduzir excessivamente a alocação em renda fixa em 2024 – especialmente nas carteiras conservadoras e moderadas. Pelo contrário, vemos essa situação como uma oportunidade de diversificação dentro da classe.
O que isso significa para investimentos em renda fixa?
Mesmo diante da queda da Selic, títulos pós-fixados atrelados ao CDI ou a Selic devem continuar apresentando retornos elevados, acima dos níveis de inflação no curto prazo.
Ao longo do ano, para investidores que desejam maiores retornos nesse tipo de investimento, pode ser necessário assumir um pouco mais de risco em títulos privado (dívidas de empresas ou via fundos de crédito privado).
Lembrando que para sua reserva de emergência — independente do patamar da taxa Selic — recomendamos investimentos pós-fixados de baixo risco e resgate rápido.
Além disso, títulos de renda fixa atrelados a índices de preço (IPCA) seguem uma excelente proteção para seus investimentos contra a inflação – permitindo vencimentos mais longos, acima de 2030.
Mas atenção: o cenário fica um pouco mais incerto quando falamos de títulos pré-fixados. Primeiro, porque não esperamos grandes movimentos de queda sobre as expectativas de juros no futuro para os próximos meses (dinâmica que valoriza esses títulos, vista em parte de 2023). Segundo, porque a incerteza sobre os rumos da inflação no mundo e do cenário fiscal doméstico voltaram a impactar as expectativas sobre os juros, desvalorizando títulos existentes e adicionando risco adiante.
Por isso, mantemos nossa recomendação para pré-fixados reduzida e cautelosa, priorizando vencimentos de curto prazo (até 4 anos) e oportunidades pontuais em títulos privados.
Bolsa Brasil
Sol entre nuvens
Depois de terminar 2023 à frente das bolsas globais, as ações brasileiras começaram 2024 ficando para trás: o Ibovespa caiu 4,8% em janeiro, desempenho pior que o dos principais mercados internacionais. Em dólares, o índice acumulou perdas de 6,3%:
Parte dessa queda pode ser atribuída à saída de dinheiro de investidores estrangeiros da Bolsa, que acumularam retiradas de R$ 6,9 bilhões no mês.
Além dos fatores externos e locais afetando o cenário macroeconômico, como falamos acima, temas domésticos também pesaram contra as ações brasileiras no campo microeconômico – ou seja, aquele que afeta o negócio das empresas diretamente.
A Vale (VALE3), por exemplo, acumulou perdas de 12,2% na esteira de discussões sobre potencial ingerência política na indicação do novo CEO da companhia, além do possível novo acordo de reparação da Samarco (referente ao desastre de Mariana). Como a ação é a de maior peso no Ibovespa, nosso principal índice de ações foi bastante afetado pela desvalorização das ações da empresa.
Para fevereiro, seguimos monitorando fatores que podem impactar na percepção do risco fiscal doméstico (como debates sobre o orçamento desse ano) e na expectativa de cortes de juros lá fora — como evolução de dados de inflação, emprego e atividade econômica.
Outro evento que deve mexer com os preços das ações é o começo da temporada de resultados, com empresas divulgado seus números referentes ao 4º trimestre de 2023 — o que acontece até o final de março. A expectativa é de que a temporada seja mista, com setores de consumo doméstico ainda pressionados pelos juros altos (apesar de já vermos melhoras), enquanto os setores de Bancos, Elétricas & Saneamento, Agro, Alimentos & Bebidas, Commodities (metálicas e petróleo) e Shoppings devem ser destaques positivos.
E o que isso significa para investimentos em ações brasileiras?
Apesar dos desafios domésticos e impactos do cenário internacional, seguimos vendo a bolsa brasileira de maneira construtiva no longo prazo.
A bolsa brasileira segue barata, com empresas brasileiras gerando mais valor, mas sem que isso esteja refletido no preço de suas ações. Esse desconto segue verdadeiro mesmo quando comparamos as ações brasileiras com as estrangeiras. Além disso, enquanto nas economias desenvolvidas a discussão ainda é sobre quando os juros começarão a cair, no Brasil o ciclo de cortes da Selic segue a todo vapor — o que, historicamente, tende a ser positivo para a Bolsa brasileira.
Bolsa Global
Chuvoso
O tempo deve seguir fechado para a bolsa global no início de 2024, com juros ainda elevados no mundo, incertezas quanto aos resultados das empresas e um cenário econômico ainda incerto.
Olhando para os Estados Unidos, apesar da forte alta vista em 2023 nas principais bolsas, acreditamos que empresas ainda sentirão o efeito das taxas de juros altas por um período mais longo.
Além disso, o ano eleitoral tende aumentar a volatilidade na bolsa americana e a pressão por maiores gastos públicos – o que tende a pressionar as taxas de juros dos títulos públicos, retroalimentando a dinâmica acima.
Juros altos, por sua vez, tendem a penalizar os ativos de risco, como as ações, além de “sugar” a liquidez dos mercados transferindo investimentos para ativos de renda fixa.
E o que isso significa para investimentos em bolsa americana?
Em resumo: investir no mercado de ações americano continua apresentando riscos elevados, especialmente para quem não tem horizonte de longo prazo ou perfil para esse tipo de investimento.
Por isso, mantemos nossa recomendação de bastante cautela para investimentos em renda variável internacional. Sugerimos alocações leves, inclusive nos perfis mais agressivos, além de buscarmos outros mercados além dos EUA.
“Leva o casaco”: sugestões de ativos em cada classe
Agora que você já sabe nossa alocação recomendada (o peso de cada classe de ativos ideal para cada perfil investidor nesse momento) e nossa previsão do tempo, separamos algumas sugestões de investimentos recomendados em cada um desses tipos de ativos.
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2029 | XP TOP FI Renda Fixa Crédito Privado LP | R$ 100,00 |
Inflação | Tesouro IPCA+ 5,18% mai/2029 | CRA Minerva set/30 IPCA+8,41%** | R$ 50,00 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado 2026 | NTN-F jan/31 10,16% | R$ 100,00 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | Kinea Atlas II | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$ 100,00 |
Renda variável internacional | Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 | M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | Trend Bolsas Globais | Trend Bolsas Emergentes | R$ 100,00 |
Alternativos | LVBI11 | PVBI11 *restrito | R$ 100,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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