Não seja pego de calças curtas!

“Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked” — Warren Buffett.

Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor pelo motivo principal de ajudar a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores.

Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. E sim, que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.

Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. E abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.

Onde estamos? Juros altos vieram para ficar, mesmo com melhor da inflação

Seis meses se passaram de 2023, e os temas centrais da economia global seguem sendo inflação e juros. Mas tudo indica que a luz no fim do túnel se aproxima: os dados recentes de ritmo de alta de preços sinalizam que a inflação perde força ao redor do mundo, mesmo que gradualmente.

A volta ao normal das cadeias de produção no mundo com o fim da pandemia e a adaptação do mercado diante da guerra na Ucrânia; o reequilíbrio entre oferta e demanda por insumos básicos, como alimentos e commodities minerais (ex: petróleo e gás natural); além dos juros subindo no mundo todo ajudam a reduzir a pressão sobre os preços — especialmente em bens industriais e alimentos.

Vale lembrar que os juros altos encarecem o crédito, desestimulam o consumo, e desaquecem a economia com o objetivo de reduzir a pressão sobre os preços.

Nesse cenário, Bancos Centrais em países desenvolvidos começam a apontar para o fim do ciclo de alta de juros.

Nos Estados Unidos, acreditamos que o FED (Banco Central americano) deve elevar os juros básicos mais uma vez em sua reunião de julho, atingindo intervalo de 5,25% – 5,50%, e encerrar o atual ciclo de elevações. Enquanto isso, o Banco Central Europeu deve implementar mais algumas altas antes de sinalizar igual parada no “trem dos juros em alta”.

Mas isso não significa que os juros devam começar a cair tão cedo. Isso porque, embora a inflação tenha caído de suas máximas recentes (em níveis próximos de 10% ao ano), os preços seguem subindo acima das metas de inflação, especialmente no setor de serviços.

Assim, o cenário global deve seguir de política monetária contracionista. Em bom português: o crédito seguirá mais caro e o dinheiro mais escasso, até pelo menos meados do ano que vem.

E a China nisso tudo? Do outro lado do mundo, a segundo maior economia global segue relativamente na contramão, com inflação muito baixa e preocupações sobre a retomada pós pandemia ser bem mais fraca do que o imaginado. O governo voltou a estimular a economia, mas as medidas anunciadas devam ser insuficientes para compensar a fraqueza recente, especialmente nos setores industriais e de exportação.

Uma China que cresce menos tende a impactar negativamente países exportadores de commodities, como o Brasil. Porém, acreditamos que esse impacto deve ser limitado, uma vez que o país seguirá crescendo, e países como a Índia tendem a compensar parte da desaceleração no gigante asiático.

Enquanto isso, no Brasil…

Economia melhor que o esperado, mas enfraquecendo

Aqui no Brasil, o primeiro semestre de 2023 foi marcado por um crescimento melhor do que o esperado. 

Essa performance mais positiva é explicada por uma série de fatores. O mercado de trabalho tem se mostrado mais resiliente do que o esperado, especialmente no setor de serviços. Por trás disso (e se retroalimentando) está um consumo ainda forte das famílias, impulsionado pela queda da inflação e pelos efeitos ainda presentes de transferências de renda do governo — com destaque ao aumento do programa Bolsa Família. Mas o consumo não tem sido o único propulsor de crescimento nos últimos meses. Pelo contrário. O PIB agropecuário deve seguir o ano de 2023 com o “pé na porta”, sendo o principal motor do crescimento da nossa economia no ano impulsionado por safras recorde — com destaque para os grãos.

Nesse cenário, projetamos que o PIB do Brasil cresça 2,2% em 2023 — uma visão mais positiva do que os 1,4% previstos no nosso último relatório.

Mas isso não significa que a economia não perderá força adiante.

Afinal, o efeito da manutenção dos juros altos deve seguir “freando” a economia (projetamos que a taxa Selic seguirá no patamar de dois dígitos, como falaremos abaixo). Lembrando que os juros altos pesam sobre o endividamento e — consequentemente — sobre o consumo de itens que exigem maior financiamento, como carros, móveis e eletrodomésticos.

O comércio de bens de consumo duráveis e até certos serviços já mostra claros sinais de enfraquecimento, refletindo a alta do endividamento e comprometimento da renda das famílias com o pagamento de juros. Com juros altos e demanda mais fraca, a indústria e a construção civil seguem nessa linha, enfrentando perspectivas não muito animadores adiante.

Além disso, a incerteza sobre os rumos da economia global também nos impacta por aqui, sinalizando cautela sobre uma visão mais positiva da economia nos próximos anos.

Contamos mais sobre como uma recessão nos Estados Unidos pode afetar o Brasil nesse texto.

Inflação dá trégua e melhora de risco fiscal colabora

Como falamos aqui em detalhes, os últimos meses foram marcados pela melhora do cenário de inflação no Brasil e no mundo.

Em junho, o IPCA (nosso principal indicador de inflação ao consumidor) registrou queda de 0,08%, levando o acumulado em doze meses para 3,16% – abaixo da meta do Banco Central de 3,25% para o ano.

A efetiva queda dos preços deve ser pontual, tendo sido levada pela redução no preço de automóveis como reflexo do programa de incentivos do governo federal, pela queda no preço dos combustíveis implementada no mês pela Petrobras e por menores preços de alimentos.

Dito isso, o enfraquecimento da inflação é uma realidade e reflete movimentos globais e domésticos, especialmente a normalização e reequilíbrio de choques recentes (pandemia, guerra) e o processo em curso de alta de juros em países desenvolvidos

A queda dos preços de alimentos no mundo também tem contribuído para a inflação mais moderada, na esteira de questões climáticas e forte produção — como observado no Brasil.

Mas isso não significa que a inflação está fora do radar dos brasileiros — muito menos do Banco Central, que manteve mais uma vez a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, em sua mais recente reunião.

Isso porque, apesar da melhora recente, os preços no setor de serviços seguem bastante pressionados — como ilustrado no gráfico abaixo. Além disso, as perspectivas de longo prazo trazem preocupação ao cenário doméstico, diante do ainda presente risco fiscal, que impacta o controle da alta de preços pelo Banco Central para o longo prazo, podendo colocar em xeque o cenário de alívio nos preços.

Afinal, maiores gastos públicos pressionam a inflação por meio do aumento da renda e do consumo hoje. Além disso, precisam ser pagos no futuro — com mais dívida, maiores impostos ou mais emissão de “dinheiro” (no caso, inflação).

A aprovação na Câmara dos Deputados da proposta de nova regra fiscal pelo governo ajudou a reduzir a percepção de risco fiscal. Na mesma linha, a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a meta de inflação em 3,0% até 2026 contribuiu para aliviar perspectivas de um fortalecimento da inflação nos próximos anos.

Entretanto, sinalizações de que a política de expansão de gastos públicos deve seguir vigente, além da falta de detalhamento sobre fontes de arrecadação para atingir o equilíbrio das contas públicas nos próximos anos mantém a incerteza no ar.

Por isso, seguimos cautelosos com o cenário de inflação no Brasil para os próximos anos — projetando alta de 4,7% no IPCA para esse ano e 4,1% para o ano que vem.

Selic deve cair em 2023, mas seguir em dois dígitos

Como contamos aqui,o Copom (nosso comitê de política monetária) manteve novamente a taxa Selic em 13,75% ao ano em sua última reunião, em junho — reiterando o patamar contracionista dos juros por aqui, ou seja, de desaquecimento da economia.

Apesar da mensagem mais leve em relação ao comunicado de maio, o Banco Central continuou destacando sua preocupação em relação à “desancoragem das expectativas” — ou seja, acima da meta de inflação.

Vale lembrar que expectativas são essenciais no controle da inflação. Afinal, se todos acreditam que os preços não pararão de subir rapidamente, a maioria se antecipará à alta de preços no futuro, já subindo aquilo que consegue definir — seja seu salário, o aluguel cobrado de um imóvel, ou um serviço de manicure.

Por outro lado, o avanço da nova regra fiscal no Congresso, a manutenção da meta de inflação pelo CMN, a valorização recente da nossa moeda, além da própria desaceleração da inflação no Brasil e no mundo abrem espaço para que o Banco Central comece a reduzir a Selic em sua próxima reunião (em agosto).

Assim, vemos a Selic caindo para 12,00% até o final deste ano, em um processo gradual de redução de juros a partir de agosto. Adiante, vemos o Banco Central reduzindo a Selic apenas um pouco mais — até atingir 10,50% ao ano em 2024.

E o dólar, vai pra onde?

Após praticamente um ano de performance positiva, o real passou por um movimento de enfraquecimento entre fim de 2022 e início de 2023 —explicado especialmente por incertezas políticas e fiscais.

Como contamos nesse texto em detalhes, eventos no cenário político impactam a percepção de risco de investidores em relação ao Brasil, e a moeda tende a sofrer como precificação de um maior risco de investir por aqui. Assim, preocupações sobre a condução de política econômica sob o então recém-eleito governo levaram a nossa moeda a figurar entre as mais fracas entre pares emergentes.

Porém, para a alegria de muitos, o segundo trimestre desse ano foi marcado por melhores notícias para a nossa moeda, como podemos ver no gráfico ao lado.

A apreciação da nossa moeda é explicada por uma série de fatores, dos quais podemos destacar:

  1. A sinalização de que os juros devem parar de subir nos Estados Unidos — isso reduz a atratividade de ativos na maior economia do mundo, atraindo menos capital para o país;
  2. A redução da percepção de risco fiscal domésticocom a consolidação de um novo marco fiscal e a manutenção da meta de inflação pelo CMN;
  3. A expectativa de manutenção de uma taxa Selic alta, mesmo diante da queda esperada, mantendo os juros reais (juros descontados da inflação) elevados por aqui;
  4. A supersafra agrícola, que impulsionou exportações de commodities e a entrada de moeda estrangeira aqui;
  5. O avanço da Reforma Tributária no Congresso, que deve trazer impactos positivos para a economia brasileira no longo prazo, simplificando o sistema tributário e impulsionando a produtividade no país.

Diante da valorização recente, entendemos que o patamar atual da nossa taxa de câmbio se aproximou do nível tido como “justo” — ou seja, aquele indicado por fundamentos econômicos, afora riscos como cenário político.

Assim, esperamos que o dólar encerre 2023 em R$ 5,00, e 2024 em R$ 5,15.

Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.

Como investir nesse cenário?

Diante da continuidade de um cenário desafiador para a economia no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio se torna ainda mais essencial.

Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas, de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de ativos recomendados para cada classe indicada.  

Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.

Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” — acesse aqui!

ClasseOpção de investimentoOpção de investimento2Mínimo da opção mais acessível
Renda fixa pós-fixadaTesouro Selic 2029Banco BMG 2025 CDI+1,6%R$ 100,00
InflaçãoTesouro IPCA+ 2032 IPCA+5,33%CRA Minerva AAA IPCA + 6,35% 07/2029R$ 31,27
Renda Fixa PrefixadaTesouro Prefixado 2026 10,39%Banco BMG. 2 anos; 12,55%R$ 31,56
Renda Fixa GlobalTrend High Yield Americano FIMTrend Crédito Global FIMR$ 100,00
MultimercadoSelection Multimercado FIC FIMXP Macro FIMR$ 100,00
Renda variável BrasilCarteira Rico11Selection Ações FIC AçõesR$100,00
Renda variável internacionalWellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível IR$ 500,00
Renda variável internacional hedgeadaTrend Bolsas GlobaisTrend Bolsas EmergentesR$ 100,00
AlternativosTrend Commodities FIMPVBI11R$ 100,00

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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