Não seja pego de calças curtas!

Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.

Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor pelo motivo principal de ajudar a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores.

Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. E sim, que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.

Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. E abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.

Onde estamos? Um mundo de juros altos por mais tempo

A economia no mundo segue mais resiliente do que muitos esperavam. Nos principais países desenvolvidos, em especial nos Estados Unidos e na Europa, vemos a economia seguir crescendo devagar, mas sem sinalizar uma forte desaceleração apesar dos juros seguirem em forte ritmo de alta.

Em outras palavras, os Bancos Centrais seguem no tom duro de combate à inflação elevando os juros, mas o efeito colateral tem sido mais ameno do que previsto anteriormente. Afinal, juros mais altos têm o objetivo de frear a inflação, mas o efeito colateral é um freio na própria economia.

Ao mesmo tempo, o forte crescimento esperado para a Índia e para a China deve ajudar a reverter parte desse baixo crescimento global. Com a flexibilização das medidas contra a covid-19 e políticas expansionistas (de juro baixo, na contramão do mundo), a China deve crescer acima de 5% nesse ano – suavizando a desaceleração de muitos países, especialmente emergentes exportadores de commodities, como o Brasil.

Dito isso, os juros em países desenvolvidos devem seguir em patamar historicamente alto. Isso porque a inflação, apesar de já ter perdido bastante força, continua persistente em diversos países – sinalizando que o trabalho de trazer o ritmo de alta de preços de volta à meta dos Bancos Centrais ainda deve demorar um pouco.

Vale destacar, nesse cenário, o recente evento envolvendo a quebra do banco SVB nos Estados Unidos. Como falamos aqui em mais detalhes, um dos possíveis impactos do ocorrido pode ser justamente na postura do Banco Central americano (o Fed).

Isso porque, caso a incipiente crise bancária se estenda, se tornando um desafio sistêmico na economia americana, o Fed pode se ver obrigado a encerrar o ciclo de alta de juros, ou mesmo começar a reduzir os juros por lá (mesmo com a inflação ainda alta). Afinal, a própria elevação de juros está nas raízes da crise observada no SVB e outros bancos de médio porte no país.

Porém, caso a crise seja contida rapidamente, e não gere maiores efeitos no sistema bancário americano, o Fed deve seguir “firme e forte” na estratégia de juros altos por mais tempo.

Enquanto isso, no Brasil

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra

Aqui no Brasil, 2022 foi um ano de crescimento econômico acima do esperado. Uma mistura de preços de commodities altos, benefícios governamentais e demanda reprimida da pandemia impulsionaram um crescimento do PIB de 2,9% no último ano.

Porém, o ano de 2023 já começou mais desafiador, e deve seguir assim nos próximos meses.

De um lado, o setor de serviços – responsável por quase 70% do nosso PIB – já perde força, e deve deixar de impulsionar a economia como fez ao longo de 2022, na onda da normalização do consumo pós pandemia e da recuperação do emprego.

Ao mesmo tempo, o efeito da manutenção dos juros altos (com Selic em 13,75% ao ano) deve seguir “freando” a economia. O comércio, por exemplo, recuou nos últimos meses, especialmente em bens de consumo duráveis. Afinal, os juros altos pesam sobre o endividamento e – consequentemente – sobre o consumo de itens que exigem maior financiamento, como carros, móveis e eletrodomésticos.

Esse movimento deve seguir forte nos próximos meses, impactando o emprego – que deve recuar após forte recuperação no ano passado – o consumo e a produção industrial do país. A incerteza vinda do cenário político-fiscal doméstico (que contaremos logo abaixo) ajuda a explicar o porquê de a Selic seguir alta em 2023, além de impactar também a confiança de consumidores, empresários e investidores.

Porém, ainda vemos a economia brasileira crescendo 1,0% em 2023. Isso porque setores menos sensíveis à desaceleração da economia doméstica ainda devem ter boa performance, especialmente o agropecuário – impulsionados por safras de grãos que tendem a registrar recordes históricos. Na mesma linha, a retomada da economia chinesa deve contribuir para a manutenção do preço de commodities em nível historicamente alto.

Além disso, os maiores gastos do governo com o programa Bolsa Família (permanente em R$ 600, além de auxílio de R$ 150 para crianças), o aumento do salário-mínimo, e políticas de aumento de crédito e renegociação de dívidas também devem contribuir para impulsionar a demanda das famílias.

Redução do risco fiscal é chave para manter inflação comportada

Como contamos aqui em mais detalhes, o movimento de enfraquecimento da alta de preços observado nos últimos meses começou a perder força, apesar de ainda vermos a inflação relativamente comportada.

Em fevereiro, o IPCA (nosso principal indicador de inflação ao consumidor) registrou queda no acumulado em doze meses, para 5,6% – de 5,77% em janeiro. Porém, o resultado também sinalizou que o alívio vindo da normalização pós pandemia (como visto nos preços de produtos industriais e alimentos) começa a não ser o suficiente para trazer a inflação de volta ao equilíbrio e à meta do Banco Central – de 3,25% para esse ano.

A inflação de serviços, por exemplo, segue com alta de 7,8% nos últimos doze meses, enquanto o índice de difusão mostra que a alta de preços continua na economia.

Nesse cenário, as perspectivas de mais longo prazo para a inflação preocupam, especialmente por conta da crescente incerteza política e fiscal. Após a aprovação da PEC de Transição ainda no fim do ano passado (que elevou substancialmente os gastos públicos), discussões sobre a independência do Banco Central, o maior uso de bancos públicos, novos programas de benefício fiscal, renegociação de dívidas, entre outros, acabam impactando expectativas de inflação para os próximos anos.

Afinal, maiores gastos públicos não apenas pressionam a inflação por meio do aumento da renda e do consumo hoje, mas também precisam ser pagos no futuro – com mais dívida, maiores impostos ou mais emissão de “dinheiro” (no caso, inflação).

Assim, investidores passam a enxergar maiores riscos de financiar o Brasil, compensando na desvalorização de ativos brasileiros, como títulos do governo (que passam a pagar mais, encarecendo a dívida) e nossa própria moeda – que desvaloriza, pressionando a inflação.

Deste modo, seguimos cautelosos com o cenário de inflação no Brasil para os próximos anos – projetando alta de 5,5% no IPCA para esse ano e 4,5% para o ano que vem.

Mas se tudo isso de risco fiscal ainda não ficou claro, clica aqui que te contamos!

Selic não deve cair em 2023

Como contamos aqui,o Copom (nosso comitê de política monetária) começou o ano mantendo a taxa Selic em 13,75% a.a., em sua reunião em janeiro.

O cenário de relativa estabilidade na inflação (mesmo que ainda acima da meta do Banco Central), poderia eventualmente abrir espaço para um corte dos juros básicos por aqui. Porém, entendemos que risco fiscal e a crescente pressão política sobre o Banco Central seguem na contramão desse movimento.

Afinal, quanto maior a pressão inflacionária vinda de maiores gastos – como falamos logo acima – maior a pressão sobre os juros; e quanto maior a pressão política sobre o Banco Central, menor a credibilidade de suas ações.

Assim, apesar das incertezas adicionais geradas pelo cenário de crédito no Brasil (impulsionados pelo evento da Americanas) e pelas recentes turbulências no setor bancário americano – capitaneadas pela quebra do banco SVB – entendemos que a Selic deve se manter em 13,75% a.a. Ao menos, por ora.

E o dólar, vai pra onde?

Como contamos em detalhes nesse texto, o real se destacou ao longo de 2022 como uma das moedas com melhor performance em relação ao dólar no mundo.

Mas esse movimento perdeu força nesse ano, especialmente por conta das incertezas no campo político-fiscal – mesmo diante de contas externas robustas por aqui (ou seja, dólares entrando no país) e ventos externos positivos, como o crescimento forte esperado para a China.

investidores em relação ao Brasil, e a moeda tende a sofrer como precificação de um maior risco de investir por aqui.

Deste modo, esperamos que o dólar encerre 2023 em R$ 5,30, e 2024 em R$ 5,40.

Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.

Como investir nesse cenário?

Diante da continuidade de um cenário desafiador para a economia no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio se torna ainda mais essencial.

Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas, de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de ativos recomendados para cada classe indicada.  

Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.

Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!

Classe Opção de investimento Opção de investimento2 Mínimo da opção mais acessível
Renda fixa pós-fixada Tesouro Selic 2029 CDB C6 CDI+1,90% fev/25 R$ 100,00
Inflação Tesouro IPCA+/NTN-B Maio/2025 IPCA+5,36% XP Debentures incentivadas R$ 31,27
Renda Fixa Prefixada Tesouro Prefixado/LTN Jan/25 12,7% CDB C6 Fev/25 14,45% R$ 31,56
Renda Fixa Global Trend High Yield Americano FIM Trend Crédito Global FIM R$ 100,00
Multimercado Selection Multimercado FIC FIM XP Macro FIM R$ 100,00
Renda variável Brasil Carteira Rico11 Selection Ações FIC Ações R$100,00
Renda variável internacional Carteira de ETFs Rico Wellington US BDR Advisory Dólar  Nível R$ 500,00
Renda variável internacional hedgeada M Global BDR Advisory FIC FIA BDR Nível I Wellington US BDR Advisory  BDR Nível I R$ 100,00
Alternativos Trend Commodities FIM RBR Reits US Em Reais FIC FIA BDR R$ 100,00

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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