O estresse financeiro é um estado de tensão e preocupação persistente, frequentemente causado por dificuldades relacionadas ao dinheiro. Contudo, ao contrário do que muitos põem acreditar, ele não se limita apenas à falta de renda.   

O conceito e causas de estresse financeiro abrange também o peso das dívidas, a insegurança no trabalho, o impacto de despesas inesperadas e até mesmo a pressão para manter um determinado padrão de vida. Em uma realidade marcada por juros elevados, inflação persistente e, muitas vezes, uma precária educação financeira, esse tipo de estresse torna-se um companheiro constante para milhões de brasileiros. 

A seguir, vamos analisar os principais dados de uma recente pesquisa da ANBIMA e, mais importante, indicar caminhos possíveis para transformar sua relação com o dinheiro e ajudar a aliviar a sensação de estresse financeiro. 

O termômetro do estresse financeiro no Brasil 

Para entender com profundidade como o estresse financeiro afeta a população brasileira, é importante começar com um retrato de quem são essas pessoas. A 8ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, realizada em 2024 pela ANBIMA, ouviu cidadãos com 16 anos ou mais em todas as regiões do país, um universo que representa mais de 160 milhões de pessoas.  

Com esse perfil em mente, a ANBIMA desenvolveu o Índice de Estresse Financeiro, uma ferramenta inédita baseada em 12 perguntas que investigaram situações e sentimentos ligados ao dinheiro. As questões abordaram desde preocupações diárias como “Vivo constantemente apertado(a) financeiramente” até impactos emocionais mais profundos, como “Não consigo dormir direito porque fico preocupado(a) com minha vida financeira”. Assim, a proposta foi captar não só a realidade objetiva das finanças, mas também como as pessoas se sentem em relação a ela.  

O que chama atenção é o descompasso entre o que as pessoas sentem e o que vivem de fato. Embora 22% acreditem ter baixo estresse financeiro, apenas 5% realmente se enquadram nessa categoria. Já no grupo de alto estresse, há maior alinhamento: 49% foram classificados assim e 51% se percebem nesse nível. A maior divergência está no grupo com estresse médio, como mostra o gráfico a seguir:     

Essa diferença revela um ponto crítico: muitos brasileiros estão tão acostumados à pressão financeira que não conseguem mais reconhecê-la como um problema. Isso dificulta o enfrentamento do estresse, tornando essencial não só o diagnóstico correto, mas também ações educativas e estruturais que ajudem a população a retomar o controle sobre sua saúde financeira.   

Quem sofre mais com o estresse financeiro?

O estresse financeiro atinge perfis variados, mas nem todos sofrem da mesma forma ou na mesma intensidade. Os dados da ANBIMA mostram, por exemplo, que as gerações Millennials (indivíduos com idade entre 29 e 43 anos) e X (com idade entre 44 e 63 anos) lideram os índices de estresse financeiro elevado – com 57% e 53% respectivamente. Isso se deve, em grande parte, ao peso das responsabilidades dessa fase da vida: é quando muitos estão consolidando suas carreiras, criando filhos e tentando conquistar estabilidade patrimonial.    

As mulheres também aparecem como um dos grupos mais afetados pelo estresse financeiro: 60% delas relataram estresse financeiro alto, frente 41% dos homens. Essa diferença expressiva pode ser explicada por fatores como desigualdades salariais históricas, o acúmulo de funções dentro e fora do lar e uma carga emocional frequentemente mais intensa associada ao cuidado com a família, conforme abordamos nesse outro texto aqui. 

A renda familiar é, inegavelmente, outro fator determinante no estresse financeiro. Quanto menor o rendimento, maior a incidência de estresse financeiro. Além disso, famílias numerosas, especialmente aquelas com três ou mais filhos, enfrentam maiores dificuldades para poupar, o que, por sua vez, contribui para a sensação constante de insegurança financeira.    

Ademais, os hábitos de consumo e poupança revelam um padrão que vale a pena ser mencionado. Entre os que gastam mais do que ganham, 71% apresentam altos níveis de estresse financeiro. Já entre os que não possuem qualquer reserva financeira (que representam 52% da população), 59% estão em situação crítica de estresse financeiro. Mesmo os que conseguem guardar dinheiro, mas não investem (12% da população), ainda enfrentam altos níveis de tensão.  

De forma similar, investidores que aplicam apenas na caderneta de poupança (20% da população) também relatam estresse financeiro elevado (46%), mostrando que a baixa rentabilidade pode não proporcionar o alívio emocional esperado. Por outro lado, aqueles que diversificam seus investimentos (17% da população) são os que apresentam os menores índices de estresse financeiro, indicando que a diversificação pode ser uma ferramenta poderosa para construir não só estabilidade financeira, mas também tranquilidade mental.   

Esses dados reforçam que o estresse financeiro não nasce apenas da falta de dinheiro, mas da forma como cada pessoa lida com sua realidade econômica. Portanto, compreender esse padrão é essencial para transformar hábitos e buscar soluções mais eficazes. 

As principais causas do estresse financeiro 

Os dados da ANBIMA evidenciam o que especialistas já alertam há anos: a falta de educação financeira e a instabilidade econômica formam o terreno ideal para o estresse financeiro florescer. 

Entre os fatores que mais alimentam essa pressão, destaca-se a ausência de uma reserva de emergência, condição que atinge muitos brasileiros. Segundo a pesquisa, 52% da população não consegue poupar nem investir, justamente o grupo com maior estresse financeiro (59%). Isso revela não só fragilidade orçamentária, mas também uma oportunidade para promover educação financeira focada na criação de hábitos mais saudáveis e sustentáveis.  

Conforme podemos observar no gráfico a seguir, mais da metade da população não tem nenhuma reserva financeira, o que reforça a vulnerabilidade diante de imprevistos. Por outro lado, apenas 17% diversificam seus investimentos, o que mostra como ainda há muito espaço para amadurecimento financeiro no país, especialmente em um cenário de juros elevados, inflação persistente e instabilidade no emprego. 

Outro agravante significativo para o estresse financeiro é o cenário de endividamento e inadimplência. Com a Selic tendo atingido 15,00% ao ano em junho de 2025, a tendência é que o custo do crédito siga em elevação. Isso, por sua vez, pode dificultar a quitação de dívidas e contribuir para a inadimplência. De fato, dados da Serasa indicam um aumento no número de brasileiros inadimplentes no início de 2025, chegando a 76,6 milhões em abril.  

Paralelamente, o nível de endividamento das famílias também é uma preocupação: segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC, mais de 77% dos lares brasileiros reportaram possuir dívidas em março de 2025. As famílias estão se endividando mesmo com juros mais altos.  

Esse contexto de crédito caro e alto endividamento também impacta a capacidade de poupar e investir. Embora 33% da população tenha conseguido poupar em 2024, menos da metade direcionou esses recursos para produtos financeiros, resultando em um potencial de 32 milhões de novos investidores que não ingressaram no mercado.   

Esse descompasso entre poupança e investimento é um sinal claro da insegurança financeira generalizada, que compromete o planejamento de longo prazo. 

Entenda a diferença: 

Endividamento: Refere-se à situação de ter dívidas ou obrigações financeiras a pagar, como empréstimos, financiamentos ou parcelas de cartão de crédito. Uma pessoa ou família pode estar endividada e, ainda assim, estar com seus pagamentos em dia. 

Inadimplência: Ocorre quando uma pessoa ou família deixa de pagar suas dívidas nos prazos estabelecidos, ou seja, possui contas em atraso. Estar inadimplente significa que uma dívida existente não foi honrada conforme o combinado. 

Além disso, a incerteza com a aposentadoria agrava a ansiedade. Embora 49% dos trabalhadores não contem com o INSS como principal fonte de renda no futuro, 88% dos aposentados dependem da previdência pública. Essa insegurança dificulta o planejamento e aumenta o estresse. 

Por fim, há a pressão social para manter um padrão de vida superior ao que o orçamento permite. Cerca de 84% dos brasileiros se sentem pressionados a aumentar a renda, e metade trabalha apenas para pagar contas. Isso afeta diretamente o bem-estar: 37% relatam problemas com sono e 56% têm receio de depender de ajuda de terceiros. 

Em resumo, a combinação entre renda limitada, dívidas crescentes, incerteza no futuro, pressão social e ausência de planejamento forma um ambiente fértil para a ansiedade e o desgaste emocional. Esses fatores comprometem diretamente a clareza na tomada de decisões financeiras e mostram que enfrentar o estresse financeiro exige uma abordagem integrada, que leve em conta não apenas números, mas também comportamentos e realidades diversas. 

Caminhos práticos para reduzir o estresse financeiro 

Apesar dos desafios, existem formas de melhorar a relação com o dinheiro, o que pode ajudar a reduzir o estresse financeiro. Embora o processo demande tempo e dedicação, é possível construir uma jornada mais leve e consciente com base em cinco pilares fundamentais: 

Educação financeira: Aprender a lidar com o dinheiro de forma mais estratégica é um passo essencial. Não se trata apenas de fazer contas, mas de compreender como nossas escolhas diárias afetam o presente e o futuro financeiro. Informação de qualidade ajuda a transformar insegurança em autonomia. 

Planejamento e orçamento: Ter clareza sobre quanto se ganha, quanto se gasta e onde é possível ajustar o orçamento é libertador. Esse controle traz mais segurança, alivia a ansiedade e permite tomar decisões com mais confiança, mesmo em tempos de incerteza.  

Buscar apoio: Falar sobre dinheiro ainda é um tabu, mas pedir ajuda é um sinal de força, não de fraqueza. Contar com o suporte de um profissional de finanças, um psicólogo para lidar com os aspectos emocionais do estresse financeiro, ou até mesmo de pessoas de confiança pode fazer toda a diferença no processo de mudança. 

Mudar hábitos: Adicionalmente, pequenas mudanças no dia a dia ajudam a aliviar a pressão. Adotar uma rotina mais equilibrada, com alimentação saudável, exercícios físicos e corte de gastos desnecessários, pode contribuir para o bem-estar emocional e financeiro. Buscar fontes alternativas de renda também é uma estratégia valiosa. 

Reavaliar prioridades: Por fim, muitas vezes, o estresse financeiro vem da busca constante por um padrão de vida que não reflete nossas reais necessidades. Refletir sobre o que realmente importa pode levar a escolhas mais conscientes e viver com um orçamento eficaz pode ser mais libertador do que se imagina. 

Combater o estresse financeiro não é um processo imediato, mas uma jornada contínua de autoconhecimento, disciplina e informação. Ao reconhecer os sinais, entender as causas e buscar estratégias adequadas, é possível reduzir a ansiedade e retomar o controle da vida financeira. A transformação começa com o primeiro passo e ele pode ser dado agora. 

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