Não seja pego de calças curtas!

Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.

Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor pelo motivo principal de ajudar a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores.

Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. E sim, que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.

Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. E abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.

Onde estamos no mundo? Suspiro do início do ano não deve se sustentar

Após um ano marcado pela preocupação com a inflação, a boa notícia é que começamos o ano de 2023 com o pé fora do acelerador de preços. Ou seja, em um processo de desinflação global (lembre-se que desinflação é diferente de deflação! No primeiro caso, os preços ainda sobem, mas mais devagar).

Essa perda de fôlego nos preços é explicada por uma série de fatores. Primeiro, por conta da normalização da produção e do escoamento de produtos ao redor do mundo – que chamamos de cadeias de produção. Com países “de volta ao normal”, vimos a produção voltando ao normal, custos logísticos caindo, como fretes, e o fim da escassez de produtos como microchips.

Ao mesmo tempo, os preços de commodities pararam de subir e devem seguir relativamente estáveis ao longo desse ano (mesmo que ainda altos para padrões históricos), segurando o custo de alimentos e insumos para produção de diversos bens.

Finalmente, o processo de alta de juros implementado por Bancos Centrais ao longo de 2022 está finalmente fazendo efeito – trazendo alívio aos preços, tanto por tornar o crédito mais caro, quanto por segurar as expectativas dos preços no futuro (se todo mundo acha que os preços não vão parar de subir, aí que eles seguem subindo mesmo!).

Porém, o outro lado da moeda de uma inflação mais controlada é a queda do crescimento econômico. Afinal, juros mais altos têm o objetivo de frear a inflação, mas o efeito colateral é um freio na própria economia.

Assim, apesar de termos visto um desempenho melhor do que o esperado nos últimos meses, a economia mundial deve desacelerar bastante esse ano, e países como Estados Unidos e Zona do Euro ainda não estão fora da “zona de perigo” de enfrentarem uma recessão – mesmo que mais leve.

Do outro lado do mundo, a China deve ajudar a reverter parte desse baixo crescimento global. Com a flexibilização das medidas contra a covid-19 e políticas expansionistas (de juro baixo, na contramão do mundo), o gigante asiático deve crescer acima de 5% nesse ano – suavizando a desaceleração de muitos países, especialmente emergentes exportadores de commodities, como o Brasil.

Enquanto isso, no Brasil

Economia vai perdendo tração

Aqui no Brasil, 2022 foi um ano de crescimento econômico acima do esperado. Uma mistura de preços de commodities altos, benefícios governamentais e demanda reprimida da pandemia impulsionaram o PIB no ano passado – que deve crescer 3,0%, conforme dado a ser divulgado em março.

Porém, o ano de 2023 já começou mais desafiador, e deve seguir assim nos próximos meses.

De um lado, o setor de serviços – responsável por 60% do nosso PIB – já perde força, e deve deixar de impulsionar a economia como fez ao longo de 2022, na onda da normalização do consumo pós pandemia e da recuperação do emprego. 

Ao mesmo tempo, o efeito da manutenção dos juros altos (com Selic em 13,75% ao ano) deve seguir “freando” a economia. O comércio, por exemplo, já mostra claros sinais de enfraquecimento, especialmente em bens de consumo duráveis. Afinal, os juros altos pesam sobre o endividamento e – consequentemente – sobre o consumo de itens que exigem maior financiamento, como carros, móveis e eletrodomésticos.

Esse movimento deve seguir forte em 2023, impactando o emprego, o consumo e a produção industrial do país. A incerteza vinda do cenário político-fiscal doméstico (que contaremos logo abaixo) ajudam a explicar o porquê de a Selic seguir alta em 2023, além de impactar também a confiança de consumidores, empresários e investidores.

Porém, ainda vemos a economia brasileira crescendo 1,0% em 2023, puxada pelo bom desempenho de setores menos sensíveis à desaceleração da economia doméstica, como o agropecuário e de exploração mineral. As transferências de renda do governo com o programa Bolsa Família (permanente em R$ 600, além de auxílio para crianças), além do crescimento chinês também devem ajudar a manter nossa economia a crescer levemente no ano.

Inflação começa o ano estável, mas fiscal é principal risco

Como contamos aqui em mais detalhes, a inflação começou o ano praticamente estável.

Após um ano em que o IPCA (nosso principal indicador de inflação ao consumidor) atingiu mais de 12% no acumulado em doze meses, devemos terminar o ano com inflação em 5,7% – ainda acima da meta do nosso Banco Central, mas já trazendo substancial alívio para o orçamento das famílias e empresas.

Os mesmos movimentos que tem ajudado os preços a perderam fôlego no mundo (que mencionamos acima) ajudaram o controle da inflação por aqui, assim como os juros altos.

Porém, a crescente incerteza política prejudicou a perspectiva sobre o controle de preços daqui em diante. Após a aprovação da PEC de Transição (que elevou substancialmente os gastos públicos), discussões sobre mudanças na gestão da política monetária e controle de preços por parte do Banco Central colocaram mais incertezas no cenário para os próximos anos.

Afinal, maiores gastos públicos não apenas pressionam a inflação por meio do aumento da renda e do consumo hoje, mas também precisam ser pagos no futuro – com mais dívida, maiores impostos ou mais emissão de “dinheiro” (no caso, inflação).

Assim, investidores passam a enxergar maiores riscos de financiar o Brasil, compensando na desvalorização de ativos brasileiros, como títulos do governo (que passam a pagar mais, encarecendo a dívida) e nossa própria moeda – que desvaloriza, pressionando a inflação.

Deste modo, seguimos cautelosos com o cenário de inflação no Brasil para os próximos anos – projetando alta de 5,7% no IPCA para esse ano e 4,5% para o ano que vem.

Mas se tudo isso de risco fiscal ainda não ficou claro, clica aqui que te contamos!

Taxa Selic não deve cair em 2023

O risco fiscal também segue o principal fator por trás do rumo dos juros nesse ano.

Como contamos aqui,o Copom (nosso comitê de política monetária) começou o ano mantendo a taxa Selic em 13,75% a.a., em sua reunião em janeiro.

Porém, se antes acreditávamos que haveria espaço para que o Banco Central começasse a reduzir novamente os juros em 2023, o aumento do risco fiscal fez descartarmos essa possibilidade – ao menos, por ora.

Assim, com um mundo que segue lutando contra a alta de preços, e uma inflação ainda acima na meta em meio ao aumento do risco fiscal por aqui, a Selic deve se manter em 13,75% a.a. ao longo do ano.

Assim, fica “fácil” entender por que o tema das contas públicas deve seguir central nesse mês. Investidores seguirão atentos – e reagindo, conforme veremos nos preços dos ativos por aqui – nas próximas sinalizações do governo. Em especial, nas discussões sobre a meta de inflação e no envio de uma proposta de regra fiscal para substituir o atual teto de gastos (que limita as despesas do governo ao crescimento da inflação do ano anterior).

Caso tensões diminuam no campo político, e a proposta seja considerada como tendo credibilidade, podemos ver um alívio nas expectativas de inflação para o futuro, nos juros de longo prazo, na nossa moeda – e, consequentemente, na aversão ao risco.

E o dólar, vai pra onde?

Como contamos em detalhes nesse texto, o real se destacou ao longo de 2022 como uma das moedas com melhor performance em relação ao dólar no mundo.

Mas esse movimento foi perdendo força nos últimos meses, por conta das incertezas no campo político-fiscal – mesmo diante de contas externas robustas por aqui (ou seja, dólares entrando no país) e ventos externos positivos, como a redução do ritmo de alta de juros nos Estados Unidos e o crescimento esperado para a China.

Afinal, conforme falamos acima, eventos no cenário político impactam a percepção de risco de investidores em relação ao Brasil, e a moeda tende a sofrer como precificação de um maior risco de investir por aqui.

Deste modo, esperamos que o dólar encerre 2023 em R$ 5,30, e 2024 em R$ 5,40.

Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.

Como investir nesse cenário?

Diante da continuidade de um cenário desafiador para a economia no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio se torna ainda mais essencial.

Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas, de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de ativos recomendados para cada classe indicada.  

Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.

Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!

Classe Opção de investimento Opção de investimento2 Mínimo da opção mais acessível
Renda fixa pós-fixada Tesouro Selic 2029 CRI Mitre Set/2027 CDI + 1 R$ 100,00
Inflação Tesouro IPCA+/NTN-B Maio/2025 IPCA+5,65% Xp Debentures incentivadas R$ 31,27
Renda Fixa Prefixada Tesouro Prefixado/LTN Jan/25 12,7% Trend Pré-fixado FIRF LP R$ 31,56
Renda Fixa Global Trend High Yield Americano FIM Trend Crédito Global FIM R$ 100,00
Multimercado Selection Multimercado FIC FIM XP Macro FIM R$ 100,00
Renda variável Brasil Carteira Rico11 Selection Ações FIC Ações R$100,00
Renda variável internacional Morgan Stanley Global Opportunities  Advisory Wellington US BDR Advisory Dólar  Nível R$ 500,00
Renda variável internacional hedgeada Trend Bolsas Emergentes FIM Wellington US BDR Advisory  BDR Nível I R$ 100,00
Alternativos Trend Commodities FIM RBR Reits US Em Reais FIC FIA BDR R$ 100,00

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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