O mercado de crédito tem assumido o destaque nesse início de 2023, diante de uma série de eventos que tem impactado investidores em diferentes regiões do mundo.

No exterior, a falência do SVB e a compra do Credit Suisse pelo UBS por intermédio do Banco Central da Suiça acenderam um alerta em relação ao risco de uma nova crise bancária sistêmica como a de 2008.

No Brasil, esse aumento da incerteza encontrou um cenário já volátil no mercado de crédito, desencadeado pela inconsistência contábil da Americanas. Os eventos, aliados a outras empresas que viram suas notas de crédito rebaixadas, levaram a ondas de resgates em fundos de renda fixa, alimentando a volatilidade no mercado doméstico.

O alto nível de incerteza nos traz à pergunta: será que estamos vivendo uma crise de crédito no Brasil? Te contamos abaixo por que entendemos que esse não é o caso – apesar dos riscos e desafios.

O que é uma crise de crédito

De maneira simplificada, uma crise de crédito (ou credit crunch, em inglês) pode ser caracterizada pela escassez de crédito disponível, seja para indivíduos ou para empresas. Isso geralmente ocorre quando instituições financeiras, como bancos, reduzem drasticamente sua oferta de crédito – o que pode acontecer por uma uma variedade de fatores, como incertezas econômicas ou uma crise financeira global ou doméstica.

Quando as instituições financeiras restringem a oferta de crédito, empresas podem ter dificuldades para obter financiamento para suas operações, o que pode prejudicar a produção e o emprego no país. Os consumidores também tender a enfrentar maiores dificuldades para obter empréstimos diante da menor oferta de crédito, o que pode afetar negativamente a economia como um todo.

Além disso, a aversão ao risco que tende a acompanhar períodos de escassez de crédito pode levar a um aumento das taxas de juros de empréstimos, tornando ainda mais difícil para empresas e consumidores obterem crédito a preços acessíveis. Isso, por sua vez, pode levar a uma desaceleração ainda maior da economia, aumentando o risco de uma recessão.

Uma crise de crédito pode ser caracterizada pelos seguintes eventos, que tendem a progredir gradualmente criando um ciclo vicioso, conforme a gravidade da crise:

  1. Excesso de empréstimos: forte aumento nos empréstimos concedidos pelas instituições financeiras, geralmente incentivados por políticas econômicas expansionistas.
  1. Inadimplência: quando os tomadores de empréstimos não conseguem pagar suas dívidas devido a uma combinação de fatores, como aumento das taxas de juros, desemprego, inflação etc.
  1. Queda dos preços dos ativos: a queda dos preços dos ativos (como ações, imóveis, títulos etc.) pode levar tomadores de empréstimos a terem dificuldades em pagar suas dívidas, já que muitas vezes esses ativos são usados como garantia para os empréstimos.
  1. Liquidez reduzida: instituições financeiras podem enfrentar dificuldades em obter financiamento, levando a uma redução de liquidez no mercado.
  1. Falência de instituições financeiras: a quebra de instituições financeiras pode aumentar a incerteza no mercado e aprofundar a crise.
  1. Redução do crédito: a redução da oferta de crédito por instituições financeiras, seja devido à falta de recursos ou à aversão ao risco, pode levar a uma diminuição dos investimentos e da atividade econômica.
  1. Crise cambial: quando a crise de crédito afeta a moeda do país, levando a uma desvalorização significativa e a um aumento dos custos de importação.
  1. Intervenção do governo: em algumas situações, o governo pode se ver forçado a intervir para tentar evitar o colapso do sistema financeiro, por meio de medidas como injeção de liquidez ou nacionalização de instituições financeiras.

É importante notar que nem todas as crises de crédito seguem necessariamente essa sequência de eventos. Além disso, tanto aa sua gravidade quanto a sua duração podem variar de acordo com as circunstâncias específicas de cada país e de cada crise.

Estamos vivendo uma crise de crédito no Brasil?

O mercado de crédito corporativo brasileiro está passando por um momento de prova. A magnitude do caso de inconsistência contábil da varejista Americanas afetou o nosso mercado de maneira relevante.

Nos primeiros 3 meses desse ano, em meio ao cenário conturbado observado no mercado de crédito, o volume de dívidas emitidas por empresas caiu consideravelmente quando comparamos aos últimos anos. A queda demonstra a redução do apetite ao endividamento por parte de empresas.

Além dos acontecimentos relacionados a empresas e bancos, o movimento de redução de oferta de crédito é uma das consequências do ciclo de aumento dos juros.

Diante dos impactos diretos e indiretos da pandemia e da guerra no leste europeu na inflação – que atingiu mais de 12% em meados de 2022 – a taxa Selic foi elevada de 2,0% no início de 2021 para 13,75% ao ano em pouco mais de 1 ano – patamar em que se encontra ainda hoje.

O encarecimento no custo dos empréstimos surge como reflexo desse processo de elevação da taxa básica de juros. O crédito mais caro tende a consumir ainda mais o caixa de empresas com o custo da dívida, podendo comprometer sua situação financeira.

Apesar das semelhanças, existem diferenças

Diante do cenário descrito acima, pode parecer que estamos a alguns passos de uma crise de crédito. Entretanto, algumas diferenças nos trazem certo alívio em relação ao cenário brasileiro de crédito.

Segundo o Banco Central, a maior preocupação de crédito atualmente se refere às pessoas físicas/famílias, e não a empresas, principalmente as de grande porte. Isso não quer dizer que não há impactos do maior nível de endividamento de famílias; porém, como vimos, um cenário de crise de crédito mais aguda tende a se desenrolar diante da piora da saúde financeira de um grande número de empresas em uma espécie de efeito cascata.

Além disso, ainda seguindo dados do Banco Central, as provisões de bancos (reserva criada para possíveis inadimplências de seus empréstimos) relacionadas à Americanas não devem impactar o Sistema Financeiro Nacional de maneira relevante, diminuindo a preocupação de uma crise sistêmica a partir do ocorrido.

Vale destacar que as empresas que acessam o mercado de crédito privado apresentam hoje métricas para saúde financeira mais confortáveis do que em 2015 (período da mais recente crise econômica vivenciada pelo Brasil) para passar pelo momento atual mais volátil.  Isto se deve principalmente aos elevados volumes de emissões vistos em 2021 e 2022, que permitiram em boa parte o alongamento das dívidas a taxas mais baixas das empresas.

Outro bom sinal é o nível de pedidos de Recuperação Judicial de empresas ainda próximo da média histórica recente, quando analisado desde 2008.

Desta forma, apesar de vivenciarmos um momento difícil para a economia brasileira, marcado pela volatilidade e maior aversão ao risco, além de uma possível (porém não extrema) redução de liquidez, os dados referentes à saúde financeira de empresas e bancos no país ainda não indicam uma crise de crédito no Brasil.

É nas crises que surgem oportunidades – desde que mantida a cautela

A história tende a mostrar que momentos desafiadores também abrem caminhos para importantes oportunidades. No mundo da renda fixa, isso não é diferente – na realidade, é bastante verdade.

Isso porque, se por um lado um cenário de crédito mais escasso e caro se traduz em desafios de financiamento para empresas e famílias, o mesmo crédito mais caro e escasso é traduzido em oportunidades para investidores na renda fixa.

Os três primeiros meses desse ano ilustram esse argumento.

Como efeito do abalo no preço de títulos observado nos últimos meses, o investidor que aplicava em crédito privado por meio de fundos sentiu uma forte desvalorização em seus investimentos.

Essa queda alimentou um forte movimento de resgate desses investimentos, de modo a criar um efeito em cascata. Nele, fundos eram obrigados a se desfazer de bons títulos líquidos a baixos preços para honrar resgates de cotistas, impactando negativamente o rendimento do fundo, e criando – assim – um ciclo vicioso.

Por outro lado, também como consequência desse movimento de forte volatilidade e aversão ao risco, vimos um forte aumento nos prêmios de risco de crédito no país. Ou seja, melhores taxas de investimento.

Esse aumento de prêmio afetou não somente empresas que passavam por maiores dificuldades (e que, portanto, não representavam boas oportunidades de investimento), mas também para empresas não relacionadas aos casos Americanas ou Light.

Nesse contexto, fica claro que boas oportunidades existem no mercado de renda fixa brasileiro, principalmente em empresas menos alavancadas e de setores mais resilientes ao período de desaceleração econômica esperada pelos mercados adiante.

Vale lembrar, entretanto, que o mercado segue bastante volátil, exigindo cautela e respeito ao perfil de investidor.

Ainda: lembre-se de coordenar o objetivo do seu investimento com o vencimento do título, se for optar por títulos prefixados ou atrelados à inflação – com nossa recomendação de vencimentos de curto prazo (até 2 anos). Isso porque o preço desses títulos poderá variar conforme movimentos de mercado até a data de vencimento.

Para consultar nossas recomendações para investir em renda fixa nesse mês, clique aqui!

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

1) Este relatório de análise foi elaborado pela Rico Investimentos, que é uma marca da XP Investimentos CCTVM S.A. (“Rico”) de acordo com todas as exigências previstas na Resolução CVM nº 20/2021, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer produto. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. A Rico não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório.

2) Este relatório foi elaborado considerando a classificação de risco dos produtos de modo a gerar resultados de alocação para cada perfil de investidor.

3) O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação à Rico e que estão sujeitas a modificações sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado, e que sua(s) remuneração(es) é(são) indiretamente influenciada por receitas provenientes dos negócios e operações financeiras realizadas pela Rico.

4) O analista responsável pelo conteúdo deste relatório e pelo cumprimento da Resolução CVM nº 20/2021 está indicado acima, sendo que, caso constem a indicação de mais um analista no relatório, o responsável será o primeiro analista credenciado a ser mencionado no relatório.

5) Os analistas da Rico estão obrigados ao cumprimento de todas as regras previstas no Código de Conduta da APIMEC para o Analista de Valores Mobiliários e na Política de Conduta dos Analistas de Valores Mobiliários do Grupo XP.

6) Os produtos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor. Este material não sugere qualquer alteração de carteira, mas somente orientação sobre produtos adequados a determinado perfil de investidor.

7) A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço ou valor pode aumentar ou diminuir num curto espaço de tempo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos. As informações presentes neste material são baseadas em simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes.

8) Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da Rico. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da Rico.

9) SAC. 0800 774 0402. A Ouvidoria da Rico tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800-722-3730.

10) O custo da operação e a política de cobrança estão definidos nas tabelas de custos operacionais disponibilizadas no site da Rico: https://www.rico.com.vc/custos. 11) A Rico se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste relatório ou seu conteúdo. 

12) A Avaliação Técnica e a Avaliação de Fundamentos seguem diferentes metodologias de análise. A Análise Técnica é executada seguindo conceitos como tendência, suporte, resistência, candles, volumes, médias móveis entre outros. Já a Análise Fundamentalista utiliza como informação os resultados divulgados pelas companhias emissoras e suas projeções. Desta forma, as opiniões dos Analistas Fundamentalistas, que buscam os melhores retornos dadas as condições de mercado, o cenário macroeconômico e os eventos específicos da empresa e do setor, podem divergir das opiniões dos Analistas Técnicos, que visam identificar os movimentos mais prováveis dos preços dos ativos, com utilização de “stops” para limitar as possíveis perdas. 

13) Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor.