O ano de 2023 começou agitado para os investidores de renda fixa. O mais significativo desses eventos foi a divulgação da inconsistência contábil da Americanas, que relembrou aos investidores os riscos de investir em renda fixa, especialmente em crédito privado.
Porém, para a surpresa de muitos, não foram só as ações e títulos de renda fixa emitidos pela Americanas(AMER3) que sofreram com o ocorrido. O último mês foi marcado pela queda de diversos fundos de investimento em renda fixa (inclusive em alguns usados, de forma errada, como reserva de emergência por investidores desavisados).
Com essa queda, muitos têm se questionado sobre o que fazer com seus investimentos em fundos de renda fixa com aplicações em crédito privado. Pergunta que pretendemos responder a seguir.
O que está acontecendo com os fundos de crédito?
O mercado de crédito privado atraiu a atenção de muitos investidores com a alta da Selic, e consequentemente, o aumento do retorno nos investimentos em renda fixa. Porém, quem investe em crédito privado tem percebido os riscos desses investimentos com os recentes casos que trouxeram maior volatilidade.
Como se não bastasse o caso da Americanas, outra empresa entrou no radar do mercado: a Light (LIGT3), fazendo o investidor se perguntar se não seria esse um efeito em cascata que impactaria toda indústria de crédito — o que não achamos!
Diferente da Americanas, que surpreendeu ao revelar uma dívida gigantesca de forma inesperada, a Light vem de um cenário de deterioração ao longo do tempo com diversos problemas. Porém, o gatilho que acendeu um alerta ao mercado no caso Light foi a contratação de uma assessoria financeira, aumentando a percepção de risco da empresa para uma possível piora de sua saúde financeira.
Apesar de motivações distintas, o resultado foi parecido nos títulos de dívidas dessas empresas: a desvalorização dos papeis pelo aumento do risco.
Como efeito desse abalo no preço dos títulos, o investidor que aplicava nesse tipo de investimento por meio de fundos sentiu a desvalorização nos últimos dias. O que, por sua vez, iniciou um movimento de resgate desses investimentos.
Crédito Privado tem risco? Sim!
Algo importante a se destacar é que esses são riscos inerentes ao investimento em crédito de empresas privadas. Períodos de volatilidade nesses títulos já foram vistos algumas vezes nos últimos anos.
O IDEX-DI criado pela JGP considera debêntures remuneradas ao CDI que possuam mais de 70% de frequência nas negociações diárias nos últimos dois meses, considerando emissões maiores que R$ 100 milhões, além de outros critérios de seleção.
No gráfico acima, que mostra a variação do Índice Idex CDI Geral, índice relacionado ao mercado de crédito privado, podemos notar o impacto dos seguintes eventos na rentabilidade desse tipo de fundos:
Em 2020: com a chegada da pandemia, houve um movimento de resgate no mercado de crédito, levando a um forte fluxo vendedor de ativos em um ambiente de extrema iliquidez para o mercado – consequentemente, houve queda nos fundos de renda fixa mais conservadores.
Em 2023: a reprecificação dos títulos de dívida das Americanas junto ao fluxo de resgate dos fundos mais conservadores, levando a uma forte queda nos preços debêntures mais liquidas e com boas notas de crédito dado a pressão de venda desses títulos para cobrir os pedidos de resgates (efeito da aversão a risco gerado pelo caso Americanas).
Em geral, os fundos de renda fixa têm menor volatilidade, se comparados às outras classes, de forma que esses fundos costumam estar presentes de maneira relevante na carteira do investidor conservador.
Vale notar que, apesar das quedas muitas vezes inesperadas para um investidor que busca a renda fixa como investimento conservador, ambos os índices superaram a rentabilidade do CDI no período analisado.
Por outro lado, é importante reforçar que a renda fixa não é sinônimo de garantia de rentabilidade – as taxas e preços dos títulos variam diariamente até a data de vencimento e isso pode acontecer por diferentes motivos, de forma que caso o investidor decida resgatar (vender) o ativo antes do vencimento, deverá consultar o valor do ativo de acordo com o valor presente (atualmente negociado) – através da marcação a mercado.
Entenda a marcação a mercado aqui.
Aceitar riscos tem suas recompensas
No evento de 2020, passado o pior momento, os investidores que não efetuaram resgates, ou que enxergaram a oportunidade em meio as incertezas e aplicaram naquele momento, conseguiram obter um retorno relevante no período.
E depois da tempestade veio a bonança. Assim, com uma variação de 738% do CDI a partir do pior momento da queda, os investidores que se mantiveram resilientes receberam retornos acima de dois dígitos em poucos meses dentro do crédito privado — sim, na renda fixa!
Para muitos gestores, a queda ocorrida em 2020 foi a pior crise do século do mercado de crédito – impulsionada por uma crise de liquidez, sendo que os fundamentos das empresas não foram impactados nesse cenário.
Vale reforçar que em 2020, o evento foi diferente do que estamos acompanhando atualmente no mercado, mas o exemplo deixa claro que resgatar em momentos de incertezas nem sempre é a melhor escolha. Desta forma, reforçamos a importância de se manter investido, com estratégia e diversificação. E uma das melhores formas de fazer isso é por meio de fundos de investimento.
Como escolher um fundo de crédito?
Escolher um fundo ou uma gestora específica demanda um certo nível de pesquisa e dedicação, o suficiente para criar uma relação de confiança justamente visando permanecer investido em momentos de maior turbulência. Para isso, é importante entender diversos pontos da gestão, mas aqui destacaremos algumas perguntas que você deve ser capaz de responder:
– Quais as principais áreas da gestora e seus pontos fortes? A estrutura atual é robusta e diferenciada?
– Qual a senioridade da equipe de gestão? Há quanto tempo trabalham juntos?
– Como funciona o processo de escolha dos ativos de crédito? O fundo tem uma ampla diversificação de papeis e setores?
– Como ele atua ou atuaria em momentos macroeconômicos mais desafiadores para as empresas investidas? E caso uma companhia precise reestruturar a sua dívida? Ou em um evento judicial?
Caso você seja um grande interessado em fundos de investimento, conheça nossa minissérie sobre os fundos disponível no Youtube.
Naturalmente, são muitas perguntas para se fazer em uma infinidade de fundos disponíveis no mercado. Por isso, nós publicamos todos os meses um material com as recomendações, que consideram esses critérios, para cada perfil de investidor.
Devo sair do meu fundo de crédito?
Agora, caso você já esteja investido em um fundo que sofreu com a queda recente, você deve estar se perguntando o que fazer. Diferente da compra direta dos títulos de renda fixa em que, caso seja do interesse do investidor manter o investimento até o prazo final, as oscilações no meio do caminho (entre a compra e o vencimento) não trazem impactos no retorno contratado, nos fundos de investimentos, fica sob a responsabilidade do gestor tomar decisões para reverter os prejuízos aliviando os efeitos negativos relacionado a eventos de crédito dos ativos que estão na carteira.
Assim, mais importante que procurar saber quais investimentos estão alocados no fundo que você investe é analisar a capacidade do time de gestão do fundo para enfrentar momentos adversos em seu mercado de atuação.
Dessa forma, reforçamos a importância de avaliar com extrema cautela a real necessidade de resgatar os recursos investidos em fundos de crédito. Afinal, antes de tomar qualquer decisão de investimento, é sempre importante tentar entender o que está acontecendo com o seu investimento.
No caso dos fundos de crédito privado, esse não é um problema estrutural dos investimentos em crédito e ainda pode ser um bom investimento se alinhados ao seu perfil de investidor e horizonte de investimento (acima de 3 anos).
Para te ajudar na decisão de saída (ou não) de um investimento, gostamos de relembrar a seguinte árvore de decisão que publicamos em nossa análise sobre quando resgatar um investimento:
Vale reforçar que não recomendamos que você tenha investimentos em crédito privado para sua reserva de emergência, como detalhamos nesse texto.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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