18/07/2024 08:00:00
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Recuperação judicial: o que é e como funciona?
Recuperação judicial é sinônimo de falência? Na verdade, em períodos de crise, a recuperação judicial visa proteger o funcionamento da empresa. Dessa forma, o processo é um meio de as empresas “colocarem a casa em ordem”, renegociando dívidas e evitando ações impactantes como demissões em massa.
Logo no primeiro semestre de 2024 houve um aumento de 73,4% nos pedidos de recuperação judicial, com o agronegócio e o comércio na frente.
Mas o que isso significa exatamente? O que acontece com a empresa? Se você é investidor, é fundamental entender sobre o assunto, afinal, nunca se sabe quando uma das companhias da sua carteira pode passar por isso. Continue a leitura para entender mais sobre recuperação judicial e quais os impactos no seu investimento.
O que é recuperação judicial e como funciona?
A recuperação judicial é um procedimento legal que funciona como uma alternativa para as empresas em situação financeira complicada, antes que tenham que solicitar a falência, evitando demissões em massa e o não pagamento de dívidas.
Ao entrar em recuperação judicial, a empresa fica protegida de ações de cobranças, mas precisa apresentar um plano de reestruturação, aprovado pelos credores e homologado pelo juiz responsável pelo caso.
Além disso, a companhia pode renegociar suas dívidas de forma mais fácil, reduzir despesas, vender ativos, entre outras estratégias necessárias para facilitar o pagamento desses débitos e permitir sua recuperação financeira.
Quanto tempo dura a recuperação judicial de uma empresa?
O primeiro passo da empresa que deseja entrar em recuperação judicial é constituir um advogado especializado nesse procedimento para fazer o pedido judicialmente, demonstrando a necessidade da companhia por meio de documentos contábeis.
Após o protocolo desse pedido, a empresa deverá apresentar um plano de recuperação em até 60 dias, o qual deve ser elaborado por um administrador judicial.
Esse plano será apresentado em assembleia-geral, em que todos os credores poderão participar e votar se aprovam ou não as condições sugeridas.
Em caso de aprovação da recuperação judicial, a empresa terá um prazo de até dois anos para resolver suas pendências financeiras. Contudo, é possível solicitar a prorrogação desse prazo judicialmente.
Quando a recuperação judicial vira falência?
Se o plano de recuperação judicial for reprovado pelos credores, o juiz declara a falência da empresa e os bens são leiloados para pagamento das dívidas, conforme ordem de referência e de valor.
Não há dados recentes sobre quantas empresas que entraram no processo saíram recuperadas, mas sabe-se que com um planejamento assertivo, há chances de uma empresa em recuperação judicial sobreviver.
O que diz a Lei 11.101 de 2005 (Lei de falências e recuperação judicial)?
A Lei 11.101 de 2005 foi responsável por regulamentar a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária.
Em mais de 200 artigos, o texto normativo apresenta as principais normas e procedimentos envolvidos nesse pedido, incluindo:
- Obrigações e despesas que não podem ser exigidas do devedor na recuperação judicial;
- Processo de verificação e habilitação dos créditos a serem pagos pelo plano;
- Como funciona as conciliações e mediações durante esse procedimento, inclusive, sendo esses acordos incentivados;
- Requisitos de escolha do administrador judicial, do comitê dos credores e suas respectivas obrigações e deveres;
- Como funciona a assembleia-geral dos credores;
- Pedido, processamento e procedimento da recuperação judicial;
- Requisitos e prazos para a apresentação do plano de recuperação judicial.
O que mudou com a Lei 14.112 de 2020 (Nova Lei de falências e recuperação judicial)?
No início de 2021, a nova Lei de Falências e Recuperação Judicial entrou em vigor, alterando e atualizando algumas normas da antiga legislação, que havia sido criada em 2005 e precisava se adequar ao novo cenário comercial enfrentado pelas empresas.
Dentre as mudanças trazidas por esta nova lei, as principais são:
- Inclusão dos produtores rurais como habilitados ao processo de recuperação judicial;
- Proibição de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial dos bens do devedor;
- Incentivo às tentativas de conciliação e mediação em qualquer grau de jurisdição, inclusive no câmbio de recursos em segundo grau;
- Possibilidade dos credores apresentar um plano de recuperação próprio;
- Novos prazos para parcelamento de dívidas tributárias;
- Criminalização da distribuição de lucros e dividendos entre os sócios antes da aprovação efetiva do plano de recuperação judicial.
Quais as vantagens e desvantagens da recuperação judicial?
As vantagens de uma empresa entrar com um pedido de recuperação judicial são:
- Suspensão das execuções e a inviabilidade da retirada de bens fundamentais à realização de atividades da empresa;
- Possibilidade de propor meios de pagamento, concessão de prazos, alienação de ativos e até dação em pagamento para cumprimento das dívidas;
- Evita o prosseguimento do pedido de falência e, em alguns casos, pode até mesmo evitar que a empresa feche as portas.
Por outro lado, esse procedimento também possui algumas desvantagens que você deve ficar atento. São elas:
- O processo de recuperação judicial custa caro, por incluir despesas como custos judiciais, publicações de editais, remuneração de até 5% sobre o valor do passivo aos envolvidos no processo (administrador judicial, seus advogados e advisors financeiros);
- Nem todos os créditos, como produtos bancários e dívidas trabalhistas, por exemplo, estão sujeitos à recuperação judicial;
- Coobrigados da devedora, como os sócios, por exemplo, não se beneficiam da suspensão de ações e execuções.
Quais são os efeitos da recuperação judicial?
Ao entrar nesse processo, a empresa passa a enfrentar os seguintes efeitos:
- Novação condicional, que mantém garantias de créditos desde que o plano seja cumprido;
- Alteração das garantias;
- Criação de um título executivo judicial, que pode ser exigido;
- Vinculação de todos os credores habilitados as obrigações do plano;
- Tratamento diferenciado aos credores que tiveram uma relação com a empresa nesse processo;
- Submissão da alienação de filiais ou unidades produtivas às regras da lei.
Como a recuperação judicial pode afetar os investidores de uma empresa em dificuldades financeiras?
Após grandes empresas de capital entrarem com esse pedido, surgiu uma preocupação entre os investidores: será que é seguro investir em companhias em recuperação judicial?
A resposta dependerá do resultado desse processo, pois, se for bem-sucedido, os investidores podem garantir uma margem de lucro bem alta — com 100% a 500% de aumento. Além disso, o valor dessas ações costuma estar bem baixo devido ao alto endividamento das empresas e baixa liquidez.
No entanto, você deve analisar o potencial de recuperação que a empresa possui, estudando as estratégias propostas, assim como o conhecimento de mercado que aquela companhia apresenta.
E claro: sempre considere o risco de falência, pois, nesses casos, provavelmente você não receberá nenhuma remuneração por sua aplicação — segundo especialistas, as chances de perda são de 90%.
Empresas em recuperação judicial: exemplos de casos
Nos últimos meses, grandes empresas do mercado, como Americanas, Starbucks e Oi, entraram com pedido de recuperação judicial. Saiba mais sobre esses casos a seguir.
Como está a recuperação judicial da Americanas?
A Americanas entrou com o pedido em R$ 43 bilhões devidos a mais de 16 mil credores após identificar inconsistências contábeis. Além disso, a companhia requereu:
- tutela cautelar;
- rebaixamento do rating de crédito da empresa;
- divulgação do caixa da companhia, que estava em apenas R$ 800 milhões.
Saiba mais sobre esses termos e o processo enfrentado pela empresa de varejo no conteúdo que nossa especialista Julia Aquino preparou sobre o assunto: A de Americanas, R de Recuperação Judicial: um glossário para entender o caso da varejista.
Por que Starbucks pediu recuperação judicial?
A SouthRock Capital entrou com o pedido de recuperação judicial no final de outubro de 2023, impactando as marcas operadas pela empresa, incluindo a Starbucks, Eataly e Starbucks no Brasil.
O processo foi necessário após a empresa enfrentou dificuldades durante a pandemia, devido à redução do fluxo de clientes nas lojas e desvalorização do real em relação ao dólar.
Saiba mais sobre esse caso e quais os impactos da recuperação judicial em FIIs no especial também produzido por Julia, especialista da Rico: Starbucks vai fechar? Como recuperação judicial da SouthRock impacta os FIIs.
Como foi a recuperação judicial da Oi?
A Oi finalizou judicialmente esse processo em dezembro de 2022, mas entrou com um novo pedido em março de 2023, cujo plano apenas foi aprovado em abril de 2024 pela assembleia-geral de credores, prevendo a venda de R$ 15 bilhões em ativos.
Dentre eles, haverá a venda da unidade de banda larga da empresa ClientCo, por R$ 7,3 bilhões, e a venda de participação na V por R$ 8 bilhões em 2026.
Além disso, é previsto a entrada de recursos de US$ 655 milhões, incluindo um empréstimo-ponte de US$ 135,8 milhões para financiamento de curto prazo.
Onde consultar empresa em recuperação judicial?
Quer saber quais outras empresas estão enfrentando esse processo? Para isso, basta consultar o Banco de Falências e Recuperações Judiciais, do Tribunal Superior do Trabalho.
Além disso, você pode ir ao Fórum Cível do seu estado e solicitar a consulta através do banco de dados do CNPJ.
Conclusão
Entender como funciona a recuperação judicial é importante, inclusive para os investidores. Portanto, antes de aplicar seu capital em uma companhia, faça uma pesquisa de mercado e entenda sua situação atual, descobrindo todos os riscos envolvidos na operação.
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