Não seja pego de calças curtas!
“Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.
Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor, porque ajudam a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores para os investimentos.
Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. Mas quer dizer que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.
Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. Abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.
Mundo: (todos) à espera da queda de juros nos Estados Unidos
No cenário internacional, o principal motor dos mercados segue a política monetária – ou seja, o movimento nas taxas de juros ao redor do mundo.
Como já era realidade no mês passado, Bancos Centrais como o do Canadá, Zona do Euro e Reino Unido iniciaram o processo de afrouxamento monetário (ou seja, começaram a cortar os juros) ou sinalizaram que isso deve ocorrer nos próximos meses.
A novidade recente é que (finalmente) consolida-se a visão de que os juros devem começar a cair nos Estados Unidos nesse semestre. Isso porque os últimos meses foram marcados por resultados de inflação bem-comportados – inclusive melhores do que o esperado – ao mesmo tempo em que dados de mercado de trabalho sinalizam reequilíbrio para os níveis vistos no pré-pandemia da Covid-19.
Ou seja: o ritmo de crescimento da maior economia do mundo está finalmente cedendo, e sem que isso sinalize para uma forte ruptura (crise).
Isso não significa que a luta contra a inflação está ganha nos Estados Unidos, especialmente considerando alguns preços subindo ainda em ritmo acima da meta do Banco Central americano (o Fed) – a exemplo do crescimento de aprox. 4,0% de salários no acumulado em doze meses até junho.
Além disso, incertezas geopolíticas seguem no radar, colocando em risco a alta de preços no mundo. Conflitos envolvendo grandes produtores de commodities, como Rússia e Ucrânia, podem voltar a pressionar custos para a produção industrial global, como petróleo e fretes marítimos – por exemplo. Da maneira similar, a disputa comercial entre China e EUA pode pressionar o preço de importados por meio da elevação de tarifas.
Dito isso, o cenário atual permite que o Fed possa – finalmente – ter mais confiança da consolidação do próximo passo da política monetária: no caso, o processo de afrouxamento monetário. Em outras palavras: cria espaço para que os juros comecem a cair em breve no país.
Vale lembrar:
Juros elevados têm o objetivo de controlar a alta de preços, encarecendo o crédito, desincentivando o consumo, e desaquecendo a economia e a demanda por bens e serviços.
Nesse cenário, esperamos que os juros comecem a cair nos EUA em dezembro, encerrando o ano no intervalo entre 5,00% e 5,25% ao ano. Mas reconhecemos que esse primeiro corte pode vir até antes, em setembro, caso os dados continuem mostrando queda na inflação e desaquecimento da economia.
Adiante, vemos os juros básicos no país se estabilizando em 3,5% em 2026.
Vale destacar que o início tardio do começo da queda de juros nos Estados Unidos não deve impedir cortes de juros em outras regiões. Olhando para países emergentes, como os latino-americanos, o ritmo de redução dos juros deve continuar sendo determinado por fatores domésticos, como a inflação corrente e a performance do mercado de trabalho.
Entretanto, com os juros permanecendo altos por mais tempo nos Estados Unidos, a magnitude da queda pode ser limitada – especialmente por conta do impacto nas taxas de câmbio. Afinal, quanto maiores os juros nos EUA (e quanto mais tempo elevados), mais forte tende a ser o dólar, impactando preços mundo afora.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, a China deve seguir lutando contra um crescimento mais fraco. O país ainda enfrenta desafios para retomar um ritmo de crescimento robusto, diante da crise que se arrasta no setor imobiliário e da baixa confiança e demanda entre consumidores, produtores e investidores.
Assim, mesmo com esforços do governo em impulsionar setores, como o mercado imobiliário, a meta de crescimento de 5,0% para esse ano segue desafiadora. Adiante, o país deve crescer menos do que o observado nos últimos anos.
Vemos o impacto dessa desaceleração, entretanto, como limitado para a economia brasileira, além de ser um ponto benéfico para a inflação global (não adicionando mais pressão sobre os preços). Entendemos que nossas exportações devem seguir fortes para o país asiático, contribuindo para a manutenção das nossas contas externas sólidas e, assim, servindo como espécie de “âncora” para nossa moeda.
Falaremos mais sobre nossa visão para a taxa de câmbio abaixo.
Enquanto isso, no Brasil
Mercado de trabalho forte impulsiona economia
Por aqui, depois de um forte resultado do PIB no primeiro trimestre do ano, a demanda interna segue firme como principal motor da economia brasileira. Conforme detalhamos aqui, o consumo das famílias foi um dos principais fatores de crescimento da economia nos primeiros meses do ano- registrando crescimento de 4,4% quando comparado ao mesmo trimestre do ano passado..
A elevação do consumo é explicada, primordialmente, pelo crescimento da “massa de renda disponível” das famílias – grosso modo, a renda após o pagamento de impostos. Para se ter uma ideia, esse indicador cresceu nada menos do que 4,5% acima da inflação nos primeiros três meses de 2024, e projetamos que alcance crescimento de 6,0% no ano.
A alta da renda das famílias, por sua vez, reflete uma série de fatores, dentre os quais:
- Um mercado de trabalho aquecido – a taxa de desemprego alcançou o menor patamar em dez anos, com destaque para a criação de empregos formais e para a elevação dos salários (que acumulam alta de 4% no terceiro trimestre do ano);
- Maiores programas de transferência de renda, com destaque para o aumento da concessão de benefícios ligados ao INSS;
- A antecipação de benefícios como o 13° salário e a nova política de reajuste do salário-mínimo (conforme a inflação e o crescimento do PIB).
Em bom português: famílias viram crescer sua renda no período, e se utilizaram desse impulso para consumir mais bens e serviços.
Por outro lado, a tragédia climática no Rio Grande do Sul deve impactar o crescimento nesse ano – embora de maneira mais branda do que inicialmente projetado. Divulgações recentes mostraram o impacto das enchentes, como, por exemplo, na produção industrial, que mostrou forte queda em maio. Estimamos que o PIB tenha aumentado cerca de 0,5% no 2º trimestre em comparação ao trimestre anterior. Não fosse o impacto das enchentes, o ritmo de crescimento registrado no 1º trimestre (0,8%) poderia ser mantido ou até mesmo superado.
Nesse cenário, projetamos que o PIB cresça 2,2% em 2024.
Olhando para frente, esperamos que a economia perca ímpeto gradualmente, embora deva seguir em terreno positivo. O enfraquecimento esperado é explicado por dois principais fatores:
- O efeito do fim da queda dos juros: diante de incertezas tanto globais quanto domésticas, entendemos que o Banco Central encerrou o atual ciclo de redução da taxa Selic, devendo manter a taxa em 10,50% até o fim do ano que vem.
- Ou seja, os juros seguirão em patamar contracionista, impactando principalmente investimentos produtivos e o consumo especialmente de bens duráveis (como eletrodomésticos, carros e imóveis).
- Maior percepção de risco em relação ao cenário doméstico: nos últimos meses, ruídos políticos e o aumento da incerteza fiscal (como, por exemplo, intervenções do governo em empresas listadas, questionamentos sobre a independência do Banco Central e falta de clareza na gestão das contas públicas) elevaram a percepção de risco de investidores em relação ao Brasil.
- Essa incerteza tende a impactar ativos brasileiros (como já pode ser visto), incluindo a nossa moeda e os juros de longo prazo, além do nível de investimento e da confiança por aqui – prejudicando o crescimento econômico.
Assim, vemos a economia desacelerando gradualmente entre o fim desse ano e o ano que vem, com o PIB subindo 1,7% em 2025.
Inflação deve seguir comportada, mas riscos adiante exigem cautela
Como contamos em detalhes aqui, o IPCA (nosso principal índice de inflação ao consumidor) registrou alta de 0,21% em junho. O resultado mensal levou o índice para 4,23% no acumulado em doze meses, reacelerando em relação aos 3,93% registrados em maio – mas permanecendo dentro do limite superior da meta do Banco Central.
Quer saber mais sobre a política de metas de inflação? Te contamos aqui!
O número de junho trouxe surpresas positivas a analistas, especialmente por conta da desaceleração registrada nos preços de alimentos. A desaceleração na inflação de alimentos é explicada pela “devolução” da forte alta vista em maio no Rio Grande do Sul, diante das enchentes que impactaram a região no período. Para ilustrar, a categoria “alimentação no domicílio” registrou queda de 0,88% em junho, revertendo a forte elevação de 3,64% observada em maio.
Ou seja, os impactos da tragédia climática no RS sobre os preços de alimentos estão se dissipando mais rápido do que o esperado, trazendo alívio para a inflação de curto prazo.
Além disso, após alguns meses de “luz amarela”, a inflação de serviços voltou a trazer sinais de alívio. Conforme o resultado de junho, a métrica chamada “serviços subjacentes” (que exclui preços mais voláteis, como passagens aéreas) caiu para 4,6% na média dos últimos três meses em junho, de 5,0% no mês anterior.
Vale destacar que os preços de serviços são essenciais para entender comportamento da inflação como um todo, sinalizando tendências adiante. Isso porque eles tendem a ser menos impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); tendo seu movimento mais relacionado ao comportamento da atividade econômica.
Na mesma direção, a recente desaceleração da inflação de serviços intensivos em mão de obra representa boas notícias – especialmente em meio a um mercado de trabalho aquecido.
Olhando adiante, esperamos que a inflação siga relativamente bem-comportada. No entanto, riscos de médio-longo prazo seguem no radar, e limitam a continuidade da queda dos juros.
Além de um mercado de trabalho aquecido e salários em alta, a desvalorização recente do real adicionou mais cautela ao cenário. Os impactos de uma moeda mais fraca sobre a inflação não são imediatos, mas já devem ser percebidos nos preços de alimentos nesse ano (como em derivados do trigo e leite). Já em produtos industrializados (como eletrodomésticos, carros e roupas), esperamos reação nos preços a partir do último trimestre deste ano, mas com maior impacto no ano que vem.
Finalmente, vale também destacar riscos ainda latentes no cenário internacional. Esses incluem, principalmente, potenciais impactos de conflitos que seguem vigentes no palco geopolítico, podendo ser sentidos em preços como de combustíveis, alimentos e fretes. De fato, por esses e outros fatores, vimos os preços internacionais de commodities em alta nos últimos meses (conforme ilustrado no gráfico acima).
Projetamos que o IPCA encerre 2024 em 4,3% e em 4,0% em 2025 – ambos acima da meta do Banco Central, mas dentro do intervalo de tolerância.
E o dólar, vai para onde?
Os últimos meses foram marcados por forte volatilidade da nossa taxa de câmbio. Depois de um começo de ano relativamente favorável, o segundo trimestre trouxe substancial depreciação do real, com o dólar atingindo os patamares mais elevados desde o final de 2021. Para ilustrar, nossa taxa de câmbio chegou a alcançar 5,70 reais por dólar no início de julho, antes de retomar certa estabilidade próximo de 5,40 reais (no momento da produção desse relatório).
A depreciação recente da nossa moeda refletiu movimentos principalmente domésticos, dos quais destacamos a piora da percepção de risco fiscal e ruídos no cenário político. Crescente incerteza sobre a capacidade do governo de elevar as receitas de modo a cumprir as regras fiscais existentes, além de intervenções do governo em empresas listas e ruídos entre o Executivo e o Banco Central têm impactado a percepção de risco sobre ativos brasileiros, incluindo a nossa moeda.
A forte saída de capital estrangeiro vista em nossos mercados (especialmente na bolsa) recentemente também tem refletido essa piora de percepção de risco, além de impactar o fluxo de moeda em nossa direção – e, consequentemente, a nossa taxa de câmbio de maneira mais direta.
Vale destacar, ainda, o impacto dos juros altos nos Estados Unidos. Embora os juros na maior economia do mundo devam começar a cair nesse semestre, esse movimento deverá ser gradual – mantendo um dólar relativamente forte frente a outras moedas, por atrair capital em busca de maiores retornos.
Olhando adiante, esperamos alguma redução na percepção de risco até o final do ano, com o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos e a melhora (mesmo que parcial) de ruídos políticos.
Mas não vemos o real se valorizando de maneira sustentada para o valor apontado por modelos estruturais (de aproximadamente 5,25 reais por dólar) – ou seja, refletindo fundamentos econômicos, como a nossa taxa de juros e o preço e quantidade do que vendemos/compramos em relação ao resto do mundo.
Projetamos a taxa de câmbio em R$/US$ 5,40 para o final de 2024 e para 2025, reconhecendo maior incerteza do que o usual no cenário.
Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.
Incertezas no Brasil e no mundo limitam queda da Selic – que deve seguir em 10,50%
Como contamos aqui, o Copom (nosso comitê de política monetária) optou por manter a taxa Selic em 10,50% ao ano em sua última reunião, em 19 de junho. A decisão interrompeu o processo de queda dos juros básicos iniciado em agosto de 2023, em uma sequência de sete reduções da Selic.
Em uma decisão unânime (que diminuiu a percepção de risco em relação à gestão dos juros, após a falta de consenso da reunião anterior), o Comitê destacou os motivos por trás da pausa no ciclo de cortes na Selic: ambiente externo ainda incerto, e aumento dos riscos no palco doméstico.
Lá fora, os juros devem seguir altos no Estados Unidos. Isso porque, apesar de um provável primeiro corte nesse semestre, a queda de juros deve seguir gradual na maior economia do mundo.
Juros ainda altos lá fora adicionam riscos à nossa inflação, principalmente por contribuir para o fortalecimento do dólar em relação a outras moedas, especialmente as emergentes – consideradas mais arriscadas e que, portanto, passam a atrair menos capital estrangeiro diante dos altos retornos nos EUA.
Já no campo doméstico, a combinação de um mercado de trabalho forte e aumento de incertezas fiscais e políticas se traduzem em maiores riscos olhando para o controle dos preços adiante.
Um mercado de trabalho aquecido tende a pressionar os salários, dado o maior poder de barganha de trabalhadores. Com maiores salários, aumenta-se a demanda por bens e serviços na economia – e o movimento de alta de preços se retroalimenta.
Já a piora da percepção de risco fiscal impacta a inflação tanto por deteriorar as expectativas sobre a alta de preços no futuro, quanto por pressionar o câmbio.
Afinal, quanto mais o governo gasta, maior a expectativa de que a demanda aquecida por bens e serviços impulsionará os preços no futuro, desancorando as expectativas sobre a inflação futura. E quanto mais esse gasto cresce além da arrecadação do governo, maior o risco “precificado” por investidores em ativos brasileiros, como a nossa moeda – desvalorizando-a, e pressionando a inflação também por esse lado. .
Diante do cenário mais incerto, entendemos que o Banco Central encerrou o ciclo de quedas de juros em junho – e a Selic deverá seguir em 10,50% até o ano que vem. Isso significa que os juros devem seguir acima patamar considerado como neutro.
Ou seja, seguiremos com certo “pé no freio” na economia, embora já em menor magnitude do que no último ano.
Como investir nesse cenário?
Com tantos eventos e mudanças no cenário econômico no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio é essencial.
Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de onde investir em cada classe de ativo (como ações, renda fixa e fundos de investimento).
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | CRI Cyrela -04/2031 – 104% CDI* isento | Selection RF Light FIC Renda Fixa Crédito Privado LP | R$ 100,00 |
Inflação | NTN-B – ago/28 – IPCA+6,01% | Debenture Energisa set/33 – IPCA+ 6,20% *isento | R$ 50,00 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado jan/2026 – 11,01% | R$ 100,00 | |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | Kinea Atlas II | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$ 100,00 |
Renda variável internacional | Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 | M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | Trend Bolsas Globais | Trend Bolsas Emergentes | R$ 100,00 |
Alternativos/ Fundos Imobiliários | Carteira de FIIs Rico | R$ 100,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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