Não seja pego de calças curtas!
De tempos em tempos, economistas mundo afora se debruçam sobre modelos matemáticos, e constroem projeções para o cenário econômico. Conforme o cenário evolui, eventos acontecem, decisões políticas são tomadas, dados econômicos são divulgados, e essas projeções vão sendo refinadas, revisadas.
Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor pelo motivo principal de ajudar a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”.
Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. E sim, que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.
Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções macroeconômicas para este ano e o próximo. E abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.
Onde estamos? Um mundo com menos inflação, mas menos crescimento
Após um ano marcado por inflação recorde ao redor do mundo, a boa notícia é que começamos o ano de 2023 com o pé fora do acelerador de preços. Ou seja, em um processo de desinflação global (lembre-se que desinflação é diferente de deflação! No primeiro caso, os preços ainda sobem, mas mais devagar). Para ilustrar, a inflação ao consumidor nos Estados Unidos, que atingiu a máxima de muitas décadas em quase 10% em junho de 2022, encerrou o ano em 6,5%.
Esse enfraquecimento da alta de preços é explicado por uma série de fatores. Entre os principais, temos a normalização da produção e do escoamento de produtos ao redor do mundo – que chamamos de cadeias de produção. A “volta ao normal” de países pós pandemia permitiu que custos que atingiram máximas históricas no auge da covid-19, como fretes, voltassem ao normal, assim como produtos como microships deixassem de estar escassos, retomando a oferta padrão no mundo.
Ao mesmo tempo, a elevação de juros implementada por Bancos Centrais ao longo de 2022 já começa a ter efeito nos preços – tanto por tornar o crédito mais caro e reduzir a demanda por bens e serviços, quanto por segurar as expectativas dos preços no futuro (se todo mundo acha que os preços não vão parar de subir, aí que eles seguem subindo mesmo!).
Porém, o outro lado da moeda da queda da inflação é o enfraquecimento da economia. Afinal, juros mais altos têm o objetivo de frear a inflação, mas o efeito colateral é um freio na própria economia.
Assim, a economia mundial deve crescer pouco em 2023, e países desenvolvidos como Estados Unidos e europeus devem enfrentar um período de recessão – mesmo que mais branda do que o esperado, especialmente na Europa.
Enquanto isso, a China tentará reverter o baixo crescimento de 2022 com o fim da política do covid-zero, e pode puxar parte da economia global em 2023 – crescendo acima de 5% no ano. Mas problemas ainda relevantes no mercado imobiliário e os riscos atrelados ao fim abrupto das medidas de restrição de mobilidade colocam riscos.Um forte crescimento chinês, por outro lado, pode prejudicar o controle da inflação no mundo, por impulsionar o preço de commodities.
Enquanto isso, no Brasil
Economia perdendo tração
Aqui no Brasil, 2022 foi um ano de crescimento econômico acima do esperado. Uma mistura de preços de commodities altos, com benefícios governamentais e demanda reprimida da pandemia impulsionaram o PIB no ano. O número final do ano será divulgado em março, e esperamos que aponte que o Brasil cresceu 3,0% em 2022.
Porém, o ano de 2023 deve ser mais desafiador, e os dados já sinalizam nessa direção.
O setor de serviços – responsável por 70% do nosso PIB – já perde força, e deve deixar de impulsionar a economia como fez ao longo de 2022, na onda da normalização do consumo pós pandemia e da recuperação do emprego.
Na mesma linha, já vemos sinais de moderação no mercado de trabalho, com a criação de vagas no setor formal e informal perdendo força, apesar de os salários reais – ou seja, descontando a inflação – ainda seguirem em tendência de alta (ainda não retomaram o patamar pré-pandemia).
Ao mesmo tempo, o efeito dos juros altos (com a taxa Selic em 13,75% ao ano) deve seguir “freando” a economia. O comércio, por exemplo, já mostra claros sinais de enfraquecimento, especialmente de bens duráveis. Afinal, os juros altos pesam sobre o endividamento das famílias e – consequentemente – sobre o consumo de itens que exigem maior financiamento, como carros, móveis e eletrodomésticos.
Esse movimento deve ganhar força em 2023, impactando também o emprego, o consumo de serviços e a produção industrial do país. A incerteza vinda do cenário político-fiscal doméstico (que contaremos logo abaixo) ajudam a explicar o porquê de a Selic seguir alta em 2023, assim como o mundo crescendo menos também deve prejudicar nosso crescimento por aqui.
Porém, ainda vemos a economia brasileira crescendo 1,0% em 2023, puxada em parte pelo crescimento da agropecuária e da indústria extrativa – na esteira do crescimento esperado para a economia da China no ano.
Inflação traz alívio, mas fiscal atrapalha
Como contamos aqui em mais detalhes, a inflação terminou o ano de 2022 em 5,8%. O número ficou acima da meta do Banco Central (de 3,5%), mas muito abaixo do pico de mais de 12% registrado em abril do ano passado.
Os mesmos movimentos que tem ajudado os preços a perderam fôlego no mundo (que mencionamos acima) ajudaram o controle da inflação por aqui, assim como os juros altos.
Porém, a incerteza sobre o futuro das contas públicas ganhou força com as primeiras sinalizações do governo Lula, prejudicando a perspectiva sobre o controle de preços daqui em diante. Afinal, maiores gastos públicos não apenas pressionam a inflação por meio do aumento da renda e do consumo hoje, mas também precisam ser pagos no futuro – com mais dívida, maiores impostos ou mais emissão de “dinheiro” (no caso, inflação).
Além disso, investidores passam a enxergar maiores riscos de financiar o Brasil, compensando na desvalorização de ativos brasileiros, como a nossa própria moeda – que quanto menos vale, mais pressiona a inflação (dado que importamos muitos bens finais e intermediários consumidos aqui, como a farinha do pãozinho francês).
Se tudo isso de risco fiscal ainda não ficou claro, clica aqui que te contamos!
Deste modo, seguimos cautelosos com o cenário de inflação no Brasil. Mas isso não significa que vemos um cenário de inflação espiral ganhando força nos próximos anos, projetando alta de 5,4% no IPCA para 2023 e 4,0% em 2024.
Já para o câmbio, projetamos o dólar em R$ 5,30 esse ano, e R$ 5,40 em 2024.
Saiba mais sobre o que esperar para o dólar em 2023 aqui!
Selic não deve cair em 2023
O risco fiscal também segue o principal fator por trás do movimento dos juros em 2023.
Como contamos aqui,após uma série de altas ao longo de 2021 e 2022, o Copom (nosso comitê de política monetária) manteve a taxa Selic inalterada em 13,75% a.a. em sua última reunião, em dezembro de 2022.
Porém, se antes acreditávamos que haveria espaço para que o Banco Central começasse a reduzir novamente os juros em 2023, o aumento do risco fiscal fez descartarmos essa possibilidade – ao menos, por ora.
Assim, com um mundo que segue lutando contra a alta de preços, e uma inflação ainda acima na meta em meio ao aumento do risco fiscal por aqui, a Selic deve se manter em 13,75% a.a. ao longo desse ano.
Nesse contexto, o cenário desafiador para 2023 se fecha, com juros altos por mais tempo impactando a economia (desaquecendo a atividade, o consumo e a produção para conter a alta de preços), e a incerteza vinda do cenário político reduzindo a confiança e aumentando a aversão ao risco em diferentes setores da economia.
Deste modo, fica “fácil” entender por que o futuro das contas públicas deve seguir o principal desafio da economia brasileira, ao menos no curto prazo.
Como investir nesse cenário?
Diante do cenário desafiador para a economia no Brasil e no mundo no ano que se inicia, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio se torna ainda mais essencial.
Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas, de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de ativos recomendados para cada classe indicada.
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!
Classe | Opção de investimento | Aplicação mínima |
Renda fixa pós-fixada | Trend Pós-Fixado FIC FIRF | R$100,00 |
Inflação | Tesouro IPCA 2026 | R$31,27 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado 2025 | R$31,56 |
Renda Fixa Global | Trend Crédito Global FIM | R$100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | R$100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | N/A |
Renda variável Internacional | Trend Bolsa Americana Dólar FIA | R$100,00 |
Renda variável internacional com hedge | Trend Bolsa Americana FIA | R$100,00 |
Alternativos | Trend Commodities FIM | R$100,00 |
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Confira também: E-book – Como investir para realizar suas metas em 2023.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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