- Projeções econômicas são essenciais para investidores estarem prepararmos para o que vem adiante.
- Um mundo marcado pela incerteza da inflação e dos juros em alta, e um Brasil que cresce mais do que o esperado, mas é sofre os impactos do crescimento do risco fiscal vindo de Brasília.
- Confira na íntegra o que esperar para a economia em julho e não seja pego de “calças curtas”.
Não seja pego de calças curtas!
Para quem não segue o mercado tão de perto, pode parecer estranho, mas de tempos em tempos, economistas mundo afora se debruçam sobre modelos matemáticos e constroem projeções para o cenário econômico. Conforme o cenário evolui, eventos acontecem, decisões políticas são tomadase dados econômicos são divulgados, essas projeções vão sendo refinadas e revisadas.
Os juros seguirão nessa trajetória? A inflação precisa ser revisada — para cima, para baixo? E o PIB: o país vai crescer como esperávamos há um mês ou dados e acontecimentos mudaram a nossa visão para a atividade econômica? E, claro, a clássica: e o dólar?
Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor pelo motivo principal de ajudar a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”.
Isso não significa que, olhando as projeções, você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair para entrar em um fundo internacional ou comprar todo o dinheiro para aquela viagem ao exterior”. As projeções servem para que você entenda melhor as tendências da economia, que é o principal pano de fundo do cenário financeiro.
Assim, poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil de risco e objetivos.
Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções macroeconômicas para este ano e o próximo.
Onde estamos? O cenário no mundo
Como te contamos em detalhes no Onde Investir desse mês, os principais temas por trás dos movimentos de mercados ao redor do mundo seguem dois velhos conhecidos nossos, brasileiros, mas nem tanto do mundo desenvolvido: inflação e juros altos.
Com o ritmo de preços atingindo patamares recordes ou há muito não vistos em países como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, e juros começando a subir agora, cresce a preocupação de uma forte desaceleração da economia global – ou até mesmo uma recessão.
Afinal, juros mais altos têm o objetivo de frear a inflação, mas o efeito colateral é um freio na própria economia.
Por aqui, a economia cresce mais do que o esperado
Para a surpresa de muitos, a atividade econômica aqui no Brasil tem se mostrado mais forte do que o esperado. Ou seja, nosso PIB (o fluxo de tudo o que produzimos de bens e serviços no país) vem crescendo mais do que o previsto na primeira metade do ano.
Por trás da surpresa positiva estão uma série de fatores, incluindo a força da reabertura da economia – com atividades voltando ao normal, especialmente no setor de serviços – e a recuperação do emprego, também impulsionada pelo fim das restrições de mobilidade. Lembrando que mais de 70% da nossa economia é composta por serviços, que é também o setor que mais emprega no país.
A alta no preço das commodities, intensificada pela guerra na Ucrânia, também contribuiu bastante. Isso porque impulsionou setores exportadores, e gerou o que chamamos de “efeitos de transbordamento de renda” – quando a atividade forte em um setor puxa a de outros relacionados (como serviços de transporte para levar grãos que serão exportados).
Além disso, o aumento das transferências governamentais de recursos para famílias de baixa renda fortalece o consumo privado. Vale lembrar que o governo liberou saques emergenciais do FGTS e adiantou o 13º salário de aposentados, e o Congresso deve, em breve, aprovar a mudança legislativa que inclui aumentos ao Auxílio Brasil e outros benefícios, como vale gás e auxílio para caminhoneiros – com duração até o fim deste ano.
Assim, esperamos um crescimento de 2,2% do PIB nesse ano.
Mas tudo o que é bom dura pouco
Inflação alta que não vai, e risco fiscal que volta
Como contamos aqui em mais detalhes, a inflação deu pouco fôlego nos últimos meses, acumulando 11,73% nos doze meses até maio. Ou seja, apesar da leve desaceleração recente, a inflação de dois dígitos segue o principal desafio dos brasileiros atualmente.
Como em tudo em economia, o porquê da inflação alta é encontrado em um conjunto de fatores – que, desta vez, parecem ter vindos quase todos ao mesmo tempo.
Entre os principais: i) a reabertura da economia por aqui, com serviços retomando margens perdidas durante a pandemia; ii) a política de covid-zero na China, que prejudica o escoamento de todo tipo de produto, elevando os preços de fretes e insumos industriais ao redor do mundo; e iii) a guerra russa, que impulsionou o preço das commodities, especialmente agrícolas e energéticas – como o bom e velho petróleo.
Por outro lado, com expectativas de que o mundo cresça menos (como falamos acima), algumas commodities começam finalmente a perder força no mercado global, enquanto medidas de redução de impostos devem ajudar a segurar os preços até o fim do ano.
Dito isso, o recente “vai e vem” em Brasília sobre exceções às regras fiscais para acomodar maiores gastos neste ano reacenderam a luz amarela sobre as nossas contas públicas, principalmente pela possiblidade de parte desses gastos se tornarem permanentes, marcando a volta do conhecido risco fiscal. Afinal, gastos adicionais precisam ser pagos – com mais dívida, impostos ou mais dinheiro.
Esse aumento da percepção de risco piora as expectativas sobre a inflação no futuro, e enfraquece nossa moeda, que por sua vez bate novamente na inflação. Quanto mais desvalorizada a moeda, “mais dinheiro preciso para importações”, e maior a inflação.
Assim, esperamos que a inflação encerre esse ano em 7,0%, e em 5,0% no ano que vem – abaixo dos dois dígitos, mas ainda acima da meta do Banco Central de 3,5% para 2022 e 3,25% para 2023.
Como sempre, vale destacar: inflação caindo não significa que os preços irão cair, e sim que eles passarão a subir mais devagar.
Os juros respondem
Para combater a alta de preços, o Banco Central deve seguir sua política de juros altos. Como contamos aqui em mais detalhes, esperamos que o Copom (nosso comitê de política monetária) suba a taxa Selic mais uma vez em agosto, para 13,75% ao ano, onde ela deve ficar até meados do ano que vem.
Nesse cenário, voltamos para o PIB. Como resultado dos juros mais altos, um mundo que cresce menos e o fim dos estímulos fiscais vistos neste ano, a economia deve perder fôlego a partir do fim de 2022. Lembrando que juros elevados encarecem o crédito e impactam o endividamento das famílias e empresas, desestimulando o consumo e a economia como um todo.
Falamos mais sobre essa relação entre juros e inflação nesse podcast e nesse texto.
Assim, vemos o PIB crescendo apenas 0,5% em 2023.
Como investir nesse cenário?
Agora que você já está atualizado da nossa visão para a economia nos próximos meses, confira no gráfico abaixo nossas recomendações de investimento atualizadas, de acordo com o seu perfil de investidor, e em detalhes no nosso “Onde Investir” – acesse aqui o desse mês!
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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