Não seja pego de calças curtas!

Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.

Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor, porque ajudam a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores para os investimentos.

Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. Mas quer dizer que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.

Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. Abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.

Onde estamos? Juros devem parar de subir, mas ainda longe de cair no mundo desenvolvido

Passada mais da metade do ano de 2023, os temas centrais da economia global seguem inflação e juros. Mas tudo indica que a luz no fim do túnel se aproxima: os dados recentes de ritmo de alta de preços sinalizam que a inflação perde força ao redor do mundo, mesmo que gradualmente.

Uma série de fatores tem ajudado a reduzir a pressão sobre os preços. Esses incluem: a volta ao normal das cadeias de produção no mundo, agora já distantes da pandemia; o reequilíbrio do mercado diante da guerra na Ucrânia (especialmente de petróleo e alimentos); o reequilíbrio do padrão de consumo entre bens e serviços, apesar de a balança agora pesar mais sobre o consumo de serviços; além de, claro, juros subindo ou sendo mantidos em elevado patamar no mundo.

Assim, dizemos que a “primeira fase” do processo de desinflação está praticamente concluída. Fase essa marcada pela desaceleração do ritmo de alta de preços de produtos como alimentos, roupas, carros e outros bens industriais – embora preços de commodities como petróleo e alguns grãos tenham subido nos últimos meses (seguindo, porém, ainda longe dos recordes registrados entre 2021-2022).

Com a inflação perdendo força, Bancos Centrais sinalizam o fim do ciclo de alta de juros – que começaram a subir nos países desenvolvidos quase um ano depois do que começamos por aqui.Vale lembrar que os juros altos encarecem o crédito, desestimulam o consumo, e desaquecem a economia com o objetivo de reduzir a pressão sobre os preços.

Nos Estados Unidos, após a decisão de elevar os juros básicos para 5,50% no final de julho, entendemos que o Banco Central (Fed) deve encerrar o processo de altas – a não ser diante de surpresas muito fortes do lado da inflação. Enquanto isso, o Banco Central Europeu deve implementar mais uma elevação antes de sinalizar igual parada do “trem dos juros em alta”.

Mas isso não significa que os juros devem começar a cair tão cedo. Isso porque, embora a inflação tenha caído de suas máximas recentes (em níveis próximos de 10%), os preços seguem subindo acima das metas de inflação, especialmente no setor de serviços – menos relacionado com a normalização da economia pós pandemia.

Assim, a economia no mundo deve seguir no “tom contracionista”. Em bom português: o crédito seguirá caro e o dinheiro relativamente mais escasso, até pelo menos meados do ano que vem. Afinal, não podemos esquecer que a política monetária opera com defasagem; ou seja, altas e baixas na taxa de juros são sentidas aos poucos na economia real e efetivamente no dia a dia das pessoas.

E a China nisso tudo? Do outro lado do mundo, a segundo maior economia global segue relativamente na contramão, com inflação muito baixa e preocupações sobre a retomada pós pandemia – tendo crescido apenas 0,8% no segundo trimestre do ano. O governo voltou a estimular a economia. O governo prometeu aumentar o apoio político para atingir sua meta de crescimento de 5% para 2023, o que deve sustentar a economia no curto prazo.

Uma China que cresce menos tende a impactar negativamente os preços de commodities – e, consequentemente, países que as exportam, como o Brasil. Mas acreditamos que esse impacto deve ser limitado, uma vez que o governo deve acelerar medidas de estímulo e o crescimento de países como a Índia também deve ajudar a compensar uma China mais lenta.

Enquanto isso, no Brasil

Economia desacelera lentamente

Aqui no Brasil, a economia seguiu praticamente “de lado” no segundo trimestre do ano. O enfraquecimento reflete principalmente o aperto trazido pelos juros altos e o fim do impulso pós pandemia – tanto com o consumo das famílias voltando ao normal (mais equilibrado entre bens e serviços), quanto na esteira de relativamente menores estímulos fiscais por parte do governo. A desaceleração da economia global também contribui para nossa perda de fôlego desse lado do Atlântico.

Para ilustrar, a produção industrial contraiu nos últimos meses, enquanto o comércio varejista seguiu “andando de lado”, mesmo diante do impulso nas vendas de automóveis vindo de incentivos do governo federal e de categorias beneficiadas pela queda da inflação, como alimentos e bebidas. Já o setor de serviços – que responde por aproximadamente 70% do nosso PIB – também já se mostra mais fraco, crescendo mais devagar do que víamos no começo do ano.

Quem “carregou” nossa economia na primeira metade do ano foram os setores de agropecuária e indústria extrativa. De fato, o PIB agropecuário deve seguir o ano de 2023 com o “pé na porta”, sendo o principal motor do crescimento no ano impulsionado por safras recorde – com destaque para os grãos.

Assim, projetamos que o PIB do Brasil cresça 2,2% em 2023. Mas isso não significa que a economia não deve continuar perdendo força.

Pelo contrário. Isso porque, embora o Banco Central já tenha começado a reduzir a taxa Selic, continuaremos a sentir os efeitos dos juros no patamar contracionista – ou seja, “freando” a economia.Lembrando que juros altos pesam sobre o endividamento e o comprometimento da renda de empresas e famílias, impactando investimentos e o consumo, especialmente de itens que requerem maior financiamento, como carros, eletrodomésticos ou mesmo imóveis.

Além disso, a incerteza sobre os rumos da economia global também nos impacta por aqui, sinalizando cautela sobre uma visão mais positiva da economia nos próximos anos. Contamos mais sobre como uma recessão nos Estados Unidos pode afetar o Brasil nesse texto.

Nesse cenário, projetamos um crescimento mais modesto para o ano que vem, de 1,0% do PIB.

Inflação dá trégua e melhora de risco fiscal colabora  

Como falamos aqui em detalhes, os últimos meses foram marcados pela melhora do cenário de inflação no Brasil e no mundo.

Em julho, o IPCA-15 (uma espécie de prévia do nosso principal indicador de inflação ao consumidor) registrou queda de 0,07%, levando o acumulado em doze meses para 3,19% – de 3,40% em junho e abaixo da meta do Banco Central de 3,25% para o ano.

A efetiva queda dos preços deve ser pontual, tendo sido levada pela redução no preço de automóveis como reflexo principalmente do programa de incentivos do governo federal e pela queda nos preços de alimentos.

Dito isso, o enfraquecimento da inflação é uma realidade e reflete movimentos globais e domésticos, especialmente a normalização e reequilíbrio de choques recentes (pandemia, guerra) e a alta de juros em países desenvolvidos – como falamos no início do texto.

A queda dos preços de alimentos no mundo também tem ajudado a vermos uma inflação mais comportada, explicada por questões climáticas e por uma forte produção (como observado no Brasil).

Mas isso não significa que a inflação está fora do radar dos brasileiros – muito menos do Banco Central, embora esse tenha dado início ao que esperamos ser um processo gradual de redução dos juros por aqui.

Primeiro, porque o ritmo de preços no setor de serviços segue acima da meta do Banco Central, apesar da melhora recente. Preços de serviços são menos sensíveis a questões chamadas de “oferta”, como o clima ou desequilíbrios pontuais; assim, costumam representar um desafio no controle da inflação por Bancos Centrais.

Além disso, a recente elevação dos preços de algumas commodities pode trazer uma volta da alta de preços de insumos no mundo– e deve ser monitorada com atenção.

Por fim, o risco fiscal ligado ao forte gasto público continua presente como um “fantasma” a ser monitorado, embora o avanço do arcabouço fiscal no Congresso e a manutenção da meta de inflação em 3,0% tenham ajudado a melhorar a percepção de risco e as expectativas sobre o comportamento da inflação no futuro.

Afinal, maiores gastos públicos pressionam a inflação por meio do aumento da renda e do consumo hoje, e precisam ser pagos no futuro – com mais dívida, maiores impostos ou mais emissão de “dinheiro” (no caso, inflação).

Por isso, seguimos cautelosos com o cenário de inflação no Brasil para os próximos anos – projetando alta de 4,6% para o IPCA para esse ano e 3,9% para o ano que vem.

Banco Central começa a reduzir os juros, e Selic deve terminar o ano em 11,75%

Como contamos aqui,o Copom (nosso comitê de política monetária) optou por reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual em sua reunião mais recente, no começo de agosto. Depois de um ano no patamar de 13,75%, a decisão marca o início do que acreditamos que será um processo gradual de redução dos juros no país – que deve levar nossa taxa básica de juros para 10,00% até o início de 2024.

Em um recado que tentou manter um tom duro contra a inflação, o Copom destacou que a melhora das expectativas de inflação e o processo os bons resultados de inflação recente passaram a permitir uma redução da taxa Selic.

Vale lembrar que expectativas são essenciais no controle da inflação. Afinal, se todos acreditam que os preços não pararão de subir rapidamente, a maioria se antecipará à alta de preços no futuro, já subindo aquilo que consegue definir – seja seu salário, o aluguel cobrado de um imóvel, ou um serviço de manicure.

Por outro lado, ainda vemos riscos tanto no ambiente global – com inflação no mundo ainda bastante “teimosa” – quanto no cenário doméstico, diante de preços no setor de serviços ainda pressionados e o “fantasma” do risco fiscal.

Assim, vemos a Selic caindo para 11,75% até o final deste ano, no que acreditamos que será um processo gradual de redução de juros – atingindo 10,00% no início de 2024. Isso significa que os juros devem cair, mas continuar no território contracionista – ainda com certo “freio” na economia para controlar a alta de preços.

E o dólar, vai pra onde?

Após praticamente um ano de performance positiva, o real passou por um movimento de enfraquecimento entre fim de 2022 e início de 2023 – explicado especialmente por incertezas políticas e fiscais.

Como contamos nesse texto em detalhes, eventos no cenário político impactam a percepção de risco de investidores em relação ao Brasil, e a moeda tende a sofrer como precificação de um maior risco de investir por aqui. Assim, preocupações sobre a condução de política econômica sob o então recém-eleito governo levaram a nossa moeda a figurar entre as mais fracas entre pares emergentes.

Porém, para a alegria de muitos, os últimos meses foram marcados por melhores notícias para a nossa moeda, como podemos ver no gráfico abaixo.

A valorização da nossa moeda é explicada por uma série de fatores, dos quais podemos destacar:

  1. A sinalização de que os juros devem parar de subir nos Estados Unidos – isso reduz a atratividade de ativos na maior economia do mundo, atraindo menos capital para o país;
  2. A recente retomada dos preços de algumas commodities, em especial petróleo e soja, que elevam o valor de nossas exportações e o fluxo de dólares para cá;
  3. A supersafra agrícola, que impulsionou exportações de commodities agrícolas e a entrada de moeda estrangeira aqui;
  4. A expectativa de manutenção de uma taxa Selic alta, mesmo diante da queda esperada, mantendo os juros reais (juros descontados da inflação) altos por aqui;
  5. A redução da percepção de risco fiscal domésticocom a consolidação de um novo marco fiscal e a manutenção da meta de inflação pelo CMN;

Com a valorização recente, entendemos que o patamar da nossa taxa de câmbio se aproximou do nível tido como “justo” – ou seja, aquele indicado por modelos econômicos como o qual nossa moeda deveria estar, não fosse a percepção de risco político do país.

Além disso, acreditamos que o cenário internacional seguirá benigno para o Brasil – com movimentos mencionados acima – ganhando mais peso na valorização da nossa moeda do que uma eventual piora no cenário político-fiscal.

Assim, esperamos que o dólar encerre 2023 em R$ 4,70 e 2024 em R$ 4,85.

Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.

Como investir nesse cenário?

Com tantos eventos e mudanças no cenário econômico no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio é essencial.

Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de onde investir em cada classe de ativo (como ações, renda fixa e fundos de investimento).  

Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.

Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!

Classe Opção de investimento Opção de investimento2 Mínimo da opção mais acessível
Renda fixa pós-fixada Tesouro Selic 2029 CDB Banco C6; ago/25; 118,6% do CDI R$ 140,00
Inflação Tesouro IPCA+ 2032 IPCA+5,33% CRA FS Bio; Dez/29; IPCA + 5,75% R$ 31,27
Renda Fixa Prefixada Tesouro Prefixado 2026 10,39% CBD Banco C6; 2 anos; 12,16% R$ 31,56
Renda Fixa Global Trend High Yield Americano FIM Trend Crédito Global FIM R$ 100,00
Multimercado Selection Multimercado FIC FIM XP Macro FIM R$ 100,00
Renda variável Brasil Carteira Rico11 Selection Ações FIC Ações R$ 100,00
Renda variável internacional Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I R$ 500,00
Renda variável internacional hedgeada Trend Bolsas Globais Trend Bolsas Emergentes R$ 100,00
Alternativos Trend Commodities Agrícolas FIM PVBI11 R$ 100,00

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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