O Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) manteve nossa taxa básica de juros (a taxa Selic) em 13,75% ao ano, em sua última reunião do ano de 2022. Em outubro, os diretores do Banco Central já haviam decidido pela manutenção da taxa – encerrando o ciclo de altas iniciado em março de 2021.
Naquele momento, a taxa Selic saiu de 2,0% para 2,75%, na primeira alta após o início da pandemia da Covid-19 – período no qual o Banco Central reduziu os juros para estimular a economia, com o objetivo de minimizar os impactos da pandemia sobre a economia do país.
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O que disse o Copom?
Após cada reunião, o Copom divulga um comunicado detalhando sua decisão e sinalizando a direção que deve tomar dali em diante em relação à política monetária – ou seja, à taxa de juros.
No comunicado de hoje, o comitê voltou a reforçar os riscos do cenário econômico e financeiro global associados à inflação persistente, juros em alta, e menores perspectivas de crescimento adiante. Em outras palavras: um mundo com preços altos, dinheiro mais caro, mercados financeiros instáveis e baixo crescimento econômico.
Sobre o cenário aqui no Brasil, os diretores lembraram que a redução de impostos ajudou na redução da inflação nos últimos meses, mas destacaram que os preços ainda seguem pressionados, especialmente no setor de serviços. Por outro lado, o Copom já vê sinais de desaceleração da economia, conforme esperado em uma política de alta de juros – o que tende a reduzir a pressão sobre a alta de preços.
Piora das contas públicas pode impactar a inflação e o rumo dos juros
Mas o grande destaque do comunicado ficou para a referência à incerteza sobre o futuro das contas públicas do país. Conforme o Copom, a “elevada incerteza” sobre o futuro das regras fiscais pode impactar tanto os preços de ativos (incluindo os títulos do governo e a nossa moeda, que quanto mais desvalorizada, mais pressiona a inflação), como as expectativas de inflação no futuro. E isso pode impactar o rumo dos juros.
Expectativas de inflação: o que são?
As expectativas de inflação são muito importantes para o controle da inflação em si.
A dinâmica é simples: basta pensar que se você acredita que os preços não irão parar de subir no futuro, e você é um prestador de serviços ou mesmo o locatário de um imóvel, existe uma grande chance de que você já subirá o seu preço, para não “ficar pra trás”, certo?
Eventualmente, esse movimento de agentes na economia acaba impulsionando os preços em cadeia, e a inflação efetivamente sobe (no futuro).
A piora na percepção de risco fiscal observada no último mês pode ser observada tanto no aumento das taxas cobradas por investidores para emprestar ao governo (em títulos do Tesouro), quanto nas projeções de inflação da pesquisa Focus do Banco Central – que reúne projeções das principais instituições financeiras do país.
Esse movimento é explicado, principalmente, pelo aumento da incerteza sobre o futuro das contas públicas do país diante de discussões políticas sobre maiores gastos nos próximos anos – como contamos aqui nesse vídeo sobre a PEC da Transição.
Afinal, quanto maior o gasto público, maior a demanda por bens e serviços, maior a tendência de desvalorização da moeda, maiores as expectativas de inflação no futuro, e maior a pressão sobre os preços na economia.
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E depois, o que vai acontecer com a taxa Selic?
Acreditamos que o Banco Central manterá a Selic em 13,75% ao ano ao menos até os primeiros meses de 2023. Isso porque, se por um lado juros 13,75% ao ano já tem forte poder de contração na economia, por outro o cenário está repleto de riscos e incertezas.
Lá fora, as economias de países desenvolvidos perdem força e a inflação parece ter atingido um pico. Ao mesmo tempo, os juros seguem em alta, especialmente nos Estados Unidos, o que pode impactar a nossa moeda por aqui, pressionando a inflação. Afinal, juros mais altos tendem a atrair investimentos, fortalecendo o dólar contra outras moedas.
Já por aqui, como vimos, o risco fiscal é o protagonista. Com maiores incertezas sobre o controle da inflação no médio prazo, o Banco Central poderá precisar manter os juros altos por mais tempo do que o anteriormente previsto, ou mesmo voltar a subir a taxa Selic.
Quais os impactos da decisão?
Para o mercado, especialmente no cenário de renda fixa, não esperamos mudanças relevantes nos preços dos ativos. Isso porque a expectativa do mercado para as próximas reuniões está próxima a um consenso pela manutenção da taxa de juros.
Para o dia a dia do brasileiro, a manutenção da Selic também não tem grande impacto imediato. Isso porque a redução ou elevação de juros por parte do Banco Central demora um tempo significativo (por volta de 6 a 9 meses) para começar a ser sentida na economia – e, assim, nos preços.
Isso significa que continuaremos a sentir os efeitos das altas recentes, mesmo com a Selic agora inalterada. Por exemplo, já podemos sentir o encarecimento de diferentes modalidades de crédito, com juros médios de novos empréstimos em alta, consumindo uma proporção maior da renda da população e desestimulando o consumo. E esse movimento tende a seguir ganhando força.
Como investir com juros altos?
Independente de acertarmos “em cheio” o patamar da Selic ou os exatos próximos passos do Copom, a taxa deve seguir alta por um bom tempo. No patamar que chamamos de contracionista, em que a taxa Selic desestimula a economia para conter a alta de preços.
Mas além de crédito mais caro, juros altos também significam oportunidades de investimento. Ou seja, mais uma chance para largar de vez a “boa e velha” poupança.
Os juros altos aumentam a relevância e atratividade da Renda Fixa. Títulos pós fixados, como o Tesouro Selic, continuam oferecendo retorno elevado (de 13,75% ao ano), por seguirem a rentabilidade da taxa Selic.
Já títulos de renda fixa indexados à inflação ajudarão a proteger o patrimônio da ainda presente incerteza da elevação dos preços, assim como fundos de investimento de renda fixa.
Bolsa e Fundos Imobiliários
Mas, se era verdade que a Renda Fixa não tinha morrido no período de juros baixos (sempre sendo importante para investimentos como reserva de emergência), também é verdade que outros investimentos seguem trazendo oportunidades nesse período de juros em elevação e inflação pressionada.
Na bolsa, destacamos a RICO11, a carteira recomendada da Rico. Ela é composta por BDRs (ações de empresas estrangeiras no Brasil) e ações listados na bolsa brasileira, a partir da análise do cenário econômico, reunindo as principais estratégias de ações publicadas pelo time de análise da Rico — todas quantitativas, ou seja, baseadas em dados e modelos estatísticos e com processo de decisão automatizado.
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Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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