O ditado “Sell in May and go away, and come back on Saint Leger Day” (venda em maio, vá embora e volte no dia de Saint Leger) é uma máxima antiga que prega que os investidores devem zerar suas posições de maio a outubro.

Abaixo, vamos explorar a origem dessa tradição e avaliar se faz sentido seguir a tal premissa nos dias de hoje.



Origem e Contexto Histórico


A versão completa do ditado seria “Sell in May and go away, and come back on Saint Leger Day” (ou Venda em maio e vá embora, volte no Dia de Saint Leger), uma referência ao período de férias de verão dos operadores de mercado da cidade de Londres.

Os investidores costumavam passar o verão viajando e retornavam em setembro, após uma corrida de cavalos chamada Saint Leger. Literalmente, em muitos casos, essas pessoas vendiam suas ações em maio para não se preocupar com o mercado durante esse período.

A Estratégia no Contexto Brasileiro


Mas isso daria certo? A resposta curta é “Não”.

Usando como base um estudo feito pela consultoria Morningstar olhando para a bolsa americana, adaptando-o para a realidade da bolsa brasileira, podemos observar que usar a estratégia de vender as ações em maio e retornar apenas em outubro não traria vantagem ao investidor brasileiro – pelo menos com base no comportamento dos últimos 20 anos.

Pelo contrário! O investidor que houvesse permanecido fora da bolsa nesse período teria tido uma rentabilidade inferior ao Ibovespa.

Um dos motivos para esse resultado diferente é o comportamento distinto do fluxo em nossa bolsa, quando comparado ao mercado americano. Isso porque, embora o investidor estrangeiro seja responsável por cerca de 54% do fluxo de negociações na B3, a realidade de volume de negociação no Brasil tende a diferir do que vemos nos Estados Unidos.

Analisando o volume de nossa bolsa, percebemos que o período de menor fluxo é aquele marcado pelo recesso e férias escolares no Brasil. Na tabela abaixo, podemos notar o menor volume de negociações em julho, novembro e dezembro.

Dito isso, os meses de novembro e dezembro estão entre os que mais encerraram no campo positivo – mesmo diante do menor fluxo. Além disso, podemos notar que, historicamente, a bolsa brasileiro registrou mais meses positivos no segundo semestre do ano.

Curiosamente, entretanto, maio é o mês com pior retorno médio do Ibovespa nos últimos 30 anos. Esse comportamento pode justificar a frase “Venda em maio” ainda ser debatida atualmente.

Explorando Outras Estratégias

Diante dessas observações, simulamos diferentes estratégias de investimento na bolsa, considerando diferentes períodos do ano.

De acordo com os dados históricos, ficar fora da bolsa de fevereiro até o final de junho seria mais vantajoso, quando comparado à ausência entre maio e outubro. Entretanto, essa estratégia não superaria o retorno de permanecer no Ibovespa durante todo o ano.

E se fosse um pouco diferente?

Com esses dados, podemos dizer que a máxima “Venda em maio” não representa a melhor estratégia para a bolsa brasileira – que historicamente possui um segundo semestre mais rentável do que o primeiro.

Decidimos, então, simular uma nova estratégia – que investe e desinveste na bolsa a cada 6 meses. Essa alternativa difere dos 5 meses fora da bolsa propostos pela estratégia “Venda em maio” , de modo a testar a diferença entre os semestres.

Novamente, não estar investido no primeiro semestre e aplicar na bolsa apenas no segundo semestre se mostrou mais rentável do que o oposto. Porém, ainda não superou o retorno de permanecer investido no Ibovespa durante todo os 20 anos de nossa simulação.

Considerando o CDI

Para aprimorar nosso estudo, resolvemos testar o retorno dessa mesma premissa considerando a rentabilidade obtida caso o investidor investisse no CDI, enquanto aguarda o momento de retornar a bolsa brasileira.

Ou seja, fazendo essa “carteira hipotética” alternar entre meses aplicado no Ibovespa e meses aplicado no CDI.

Nessa simulação, descobrimos que essa estratégia de “Venda em maio”, com a rentabilidade do CDI nos 5 meses (por ano) fora do Ibovespa, traria um retorno consideravelmente maior do que a aplicação no Ibovespa ao longo de 20 anos.

Além disso, simulando novamente a estratégia que alterna 6 meses em bolsa e 6 meses no CDI para comparar o desempenho em diferentes semestres, conseguimos retornos ainda maiores.

Nesse caso, estar na bolsa apenas no segundo semestre, recebendo a rentabilidade do CDI no primeiro semestre, teria rendido cerca de 220% do Ibovespa no período de 20 anos. Ou seja, multiplicando o patrimônio do investidor em mais de 12 vezes.

Desafios



Embora pareça a estratégia acima possa parecer promissora, com base em dados históricos, é importante destacar algumas dificuldades em sua aplicação.

Essas incluem: i) a necessidade de realizar aplicações e resgates de forma sistemática; ii) evitar vieses comportamentais na decisão de investimento; iii) custos com impostos; e finalmente, iv) a dificuldade em seguir a estratégia mesmo em anos de resultados negativos.

Comparando a rentabilidade ano a ano do Ibovespa, CDI e a estratégia mais lucrativa (Venda em janeiro e compre em julho) podemos notar que a estratégia nem sempre é o investimento mais rentável do ano.

AnoIBOVCDISell in Jan
200417,81%16,17%33,24%
200533,14%20,76%51,65%
200639,34%16,71%37,14%
200733,77%12,85%25,66%
2008-41,22%12,38%-39,13%
200982,66%9,88%40,37%
20101,04%9,75%18,61%
2011-18,11%11,60%-4,03%
20127,40%8,40%17,29%
2013-13,81%7,43%11,60%
2014-2,91%10,81%-1,27%
2015-13,31%13,24%-13,50%
201638,94%14,00%24,74%
201726,86%9,93%28,33%
201815,03%6,42%24,62%
201931,58%5,96%18,06%
20202,92%2,76%27,40%
2021-11,93%4,42%-16,28%
20224,69%12,39%17,39%
202322,28%13,04%21,02%

Além disso, quando analisamos o resultado nos últimos 3 anos de alternar entre CDI e Ibovespa a cada 6 meses, a estratégia perderia para o retorno do CDI no período, mostrando como essa estratégia poderia ser ineficiente também em algumas janelas de tempo.

Por fim, é importante lembrar que este é um backtest e resultados passados não garantem retornos futuros.


A melhor estratégia de investimento


Em nossa opinião, a diversificação continua sendo a melhor estratégia para alcançar bons resultados no longo prazo. Seguindo uma estratégia de alocação bem fundamentada, podemos equilibrar corretamente a volatilidade da carteira ao apetite a risco do investidor, trazendo retornos de forma consistente ao longo dos anos.


Confira nosso “Onde Investir” para acessar nossas recomendações de alocação para cada perfil de investidor.

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

1) Este relatório de análise foi elaborado pela Rico Investimentos, que é uma marca da XP Investimentos CCTVM S.A. (“Rico”) de acordo com todas as exigências previstas na Resolução CVM nº 20/2021, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer produto. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. A Rico não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório.

2) Este relatório foi elaborado considerando a classificação de risco dos produtos de modo a gerar resultados de alocação para cada perfil de investidor.

3) O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação à Rico e que estão sujeitas a modificações sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado, e que sua(s) remuneração(es) é(são) indiretamente influenciada por receitas provenientes dos negócios e operações financeiras realizadas pela Rico.

4) O analista responsável pelo conteúdo deste relatório e pelo cumprimento da Resolução CVM nº 20/2021 está indicado acima, sendo que, caso constem a indicação de mais um analista no relatório, o responsável será o primeiro analista credenciado a ser mencionado no relatório.

5) Os analistas da Rico estão obrigados ao cumprimento de todas as regras previstas no Código de Conduta da APIMEC para o Analista de Valores Mobiliários e na Política de Conduta dos Analistas de Valores Mobiliários do Grupo XP.

6) Os produtos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor. Este material não sugere qualquer alteração de carteira, mas somente orientação sobre produtos adequados a determinado perfil de investidor.

7) A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço ou valor pode aumentar ou diminuir num curto espaço de tempo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos. As informações presentes neste material são baseadas em simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes.

8) Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da Rico. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da Rico.

9) SAC. 0800 774 0402. A Ouvidoria da Rico tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800-722-3730.

10) O custo da operação e a política de cobrança estão definidos nas tabelas de custos operacionais disponibilizadas no site da Rico: https://www.rico.com.vc/custos. 11) A Rico se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste relatório ou seu conteúdo. 

12) A Avaliação Técnica e a Avaliação de Fundamentos seguem diferentes metodologias de análise. A Análise Técnica é executada seguindo conceitos como tendência, suporte, resistência, candles, volumes, médias móveis entre outros. Já a Análise Fundamentalista utiliza como informação os resultados divulgados pelas companhias emissoras e suas projeções. Desta forma, as opiniões dos Analistas Fundamentalistas, que buscam os melhores retornos dadas as condições de mercado, o cenário macroeconômico e os eventos específicos da empresa e do setor, podem divergir das opiniões dos Analistas Técnicos, que visam identificar os movimentos mais prováveis dos preços dos ativos, com utilização de “stops” para limitar as possíveis perdas. 

13) Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor.