Poucas coisas são certas nessa vida. A morte é uma das certezas universais e os flamenguistas costumavam dizer que gol do Gabigol é outra (não sou flamenguista e não vou comentar o desempenho recente de nenhum jogador). Da minha parte, uma das certezas que carrego é que eventualmente vou trombar com uma nova defesa da poupança como reserva de emergência. Na semana passada, fomos impactados com o seguinte texto:

A reportagem vai atrás de especialistas muito bem-intencionados para calcular que, para um investimento de R$ 1.000 ao longo de um ano, com a Selic atual e a expectativa inflacionária do Boletim Focus, um investimento na caderneta teria um resultado “muito próximo” ao Tesouro Selic, “não compensando o trabalho de mudar” a reserva de emergência.

Perder pouco é melhor que perder muito

Sim, é verdade, tanto a Poupança quanto a LFT devem perder para a inflação em rentabilidade no próximo ano. A conta feita pela matéria em questão é que, para um investimento de R$ 1.000, em um ano, a inflação deve corroer R$ 30, a poupança vai render R$ 14 e o Tesouro, R$ 16,50, descontando o imposto de renda.

Mas e se você não precisar desse dinheiro em um ano e acabar deixando mais tempo? E se você quiser aportar mais na sua reserva de emergência (algo que você deveria fazer, diga-se de passagem, já que a reserva deve corresponder a pelo menos 6 meses dos seus gastos fixos)?

Considerando um cenário em que a Selic se mantivesse em 2% ao ano por muito tempo (improvável, mas em prol do exemplo), em 2 anos um investimento na poupança teria rendido 2,82%, contra 3,43% do Tesouro Selic, já descontando os impostos.

E a tendência é que essa diferença aumente, claro, já que, no Brasil, a renda fixa paga juros compostos: em 5 anos, o Tesouro Selic rendeu 8,8% e a poupança, 7,2%; em 10 anos, 18,6% e 14,9%, e assim sucessivamente, sempre descontando o IR.

(Observação sobre a simulação de 10 anos: os papéis do Tesouro Selic comprados diretamente via Tesouro Direto têm vencimento em 3 ou 5 anos – o que significa que não dá para “esquecer” lá por uma década. Mas investimentos em fundos DI taxa zero rendem a mesma coisa, também têm liquidez imediata e podem ser carregados indefinidamente.)

Operações suspensas? Não mais!

Em março, momento de maior estresse do mercado por conta do coronavírus, muitos investidores se viram impossibilitados de sacar seus investimentos em LFT nos momentos em que a plataforma do Tesouro Direto ficou indisponível (o que pode ocorrer quando há oscilações muito bruscas e nas taxas e preços). Ficou muito claro que fazer a reserva pelo TD poderia se tornar um problema para quem realmente tivesse urgência.

Ficou tão claro, aliás, que o Tesouro mudou as regras. No dia 13 de março, foi publicado um comunicado informando que, a partir daquele momento, os investidores podem negociar seus fundos no Tesouro Selic a qualquer momento, mesmo que as negociações dos outros títulos estejam suspensas. Menos um problema! E vale lembrar que o Trend DI Simples também não para.

Poupança antiga

Existe um único cenário em que a poupança realmente está ganhando de lavada da maioria dos investimentos – a já mítica poupança antiga.

Caso você não saiba, as regras da poupança até 3 de maio de 2012 eram outras. Quem fez investimentos em uma conta poupança antes disso* continua recebendo rentabilidade de 0,5% ao mês mais TR, o que significa 6% ao ano. Se você é um desses felizardos, não mexa nesse dinheiro agora! Está aí uma poupança que eu vou defender, mas só até que voltem a existir investimentos tão seguros quanto e mais rentáveis. 

*Infelizmente, só vale para aportes feitos até essa data mesmo, então não adianta tentar colocar mais dinheiro na sua poupança antiga agora.