• Como esperado, o Copom aumentou a taxa Selic para 4,25% ao ano na reunião de junho;
  • Nossa expectativa é que a taxa básica de juros feche o ano em 6,5% a.a. para ajudar a controlar a inflação.
  • Parece muito, mas isso ainda significa juro real (acima da inflação) muito próximo de zero, mostrando que ainda é preciso correr um certo risco para ganhar dinheiro investindo;
  • Saiba quem ganha e quem perde nos investimentos com o movimento.

Conforme esperado, o Copom subiu novamente a Selic-meta, a taxa básica de juros da economia, na reunião de junho, dessa vez para 4,25% ao ano — e sinalizou outra alta nesse patamar para a próxima reunião. Nossa expectativa é que a taxa já atinja 6,5% a.a., patamar considerado neutro, neste ano.

Como não poderia deixar de ser, essa alta na taxa de juros que permeia toda a economia também tem impactos nos seus investimentos. Hoje é dia de lembrar quem ganha e quem perde para ajudar nossos(as) 13 leitores(as) a tomar as melhores decisões de investimento nesse cenário.

Renda fixa: olho nas taxas

A primeira classe de investimentos que vem à mente quando falamos em mudanças na Selic é a renda fixa pós-fixada, aquela que paga um percentual da própria Selic ou do CDI (taxa interbancária que acompanha a Selic e é usada em títulos privados). Sim: intuitivamente, um CDB 100% do CDI pagava o equivalente a 3,5% a.a. e agora passa a remunerar em 4,25% a.a.

Além da reserva de emergência, que necessariamente deve estar em um pós-fixado de liquidez diária, nossas carteiras recomendadas para perfis conservadoresmoderados e agressivos incluem fundos e ativos com esse tipo de remuneração e prazos mais longos para capturar esse movimento.

Os outros tipos de renda fixa (prefixada e indexada à inflação) também se movimentam com a alta dos juros — já vinham se movimentando, aliás.

Lá atrás, entre janeiro e fevereiro, a reação ao anúncio de que a Selic poderia começar a subir em breve foi de alta dos juros dos investimentos sem liquidez de curto prazo (para responder à expectativa de uma Selic mais alta ainda em 2021) e queda nos de longo prazo. É o que vemos no gráfico abaixo, que mostra preços e taxas do Tesouro prefixado 2022 (indisponível hoje na plataforma do Tesouro Direto) entre o dia seguinte à reunião do Copom de janeiro e 15 de março. 

preços e taxas tesouro prefixado 2022
Fonte: Tesouro Direto

Quando há mudanças na Selic ou no tom do comunicado divulgado pelo BC junto com a decisão de juros, as taxas de prefixados e indexados à inflação reagem, com os preços se movimentando em sentido oposto (alta nas taxas -> desvalorização do título e vice-versa), como explicamos no vídeo abaixo:

E só para não esquecer: essas variações nos preços só afetam efetivamente quem optar por sair da posição em renda fixa antes do vencimento. É possível vender seus títulos com ganhos “turbinados” amanhã, a depender da reação do mercado, ou até ter prejuízo, mas, se você mantiver o investimento até o vencimento, a rentabilidade prometida no dia da contratação vai ser cumprida.

No momento atual, em que a inflação segue pressionada, consideramos importante ter em carteira investimentos em renda fixa indexados à inflação, principalmente para proteger as suas finanças do ainda pouco previsível aumento nos preços no curto prazo.

Renda variável: ainda importante

A lógica mais comum repetida no mercado quando a Selic começa a subir é de uma queda na popularidade dos investimentos mais arriscados. Com isso, já tem gente com medo de baixas na bolsa de valores.

Mas esse temor não deveria pautar suas decisões, ao menos por enquanto, porque ainda não dá para realmente ganhar dinheiro sem risco.

Explico. não podemos esquecer que, mesmo subindo, a taxa de juros brasileira não está alta: a visão ainda é de juros reais (ou seja, subtraindo a inflação) próximos de zero. Como mencionamos, a expectativa do nosso time de macroeconomia é de Selic em 6,5% a.a. em 2021. Já o IPCA (a inflação oficial do país) deve fechar o ano em 6,2% em 12 meses. Com isso, quem ficar no CDI tem juros reais (acima da inflação) muito próximos de zero — principalmente considerando o desconto do imposto de renda.

Conclusão: quem quer realmente ver seu patrimônio crescer com investimentos ainda não pode deixar de tomar riscos. Mantemos a nossa visão de que a Bolsa tem, sim, espaço para subir neste ano, com a eventual recuperação da economia, a vacinação, o repasse da inflação nos preços de seus produtos e tudo mais que estamos falando nos últimos meses. Conheça uma lista de ações e BDRs que tendem a se beneficiar de períodos de inflação em alta.

Mas e os setores?

Claro que empresas diferentes reagem de maneiras diferentes às mudanças na Selic. As ações que se beneficiam diretamente da alta nos juros tendem a ser as de bancos e seguradoras, que podem aumentar seus spreads (o quanto ganham com o que cobram de juros menos o que pagam) e potencializar sua receita.

Por outro lado, empresas de varejo e de construção civil tendem a ser negativamente afetadas por juros mais altos. Para entender isso, é só pensar que o parcelamento passa a doer mais no bolso dos clientes, que passam a evitar gastar quando possível. Apesar disso, o ritmo de crescimento da economia pode fazer muita diferença nessa dinâmica, e o nível dos juros ainda está longe de deixar de ser estimulativo. Para saber quais as ações que gestores e analistas do mercado mais gostam, não deixe de conhecer as nossas Estrelas da Bolsa.

Aliás, falando em imobiliário, os FIIs (fundos de investimento imobiliários) têm uma relação bem forte com a taxa Selic. Quando os juros caem, eles compõem uma das classes favoritas para investidores(as) em busca de mais rentabilidade com volatilidade intermediária (não tão alta quanto a da bolsa). Mas vale reforçar aqui o ponto que já dissemos antes sobre juros reais: continuamos bem distantes de ter retornos vantajosos sem riscos. Saiba mais sobre isso neste texto.

Elaborado por:

Betina Roxo, CNPI 1493
Paula Zogbi, CNPI 2545

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