2024 na bolsa: expectativas frustradas e novos desafios enfrentados

O ano de 2024 foi de clima misto na bolsa brasileira – mas com a prevalência de dias mais nublados.

Após um rali de fim de ano em 2023, começamos 2024 com boas perspectivas para o mercado acionário: a nossa taxa básica de juros, a Selic, estava em movimento de queda e havia expectativas de um início de ciclo de corte de juros nos Estados Unidos já no primeiro semestre. Ambos seriam movimentos favoráveis para ativos de risco.

Contudo, já em janeiro, tivemos um spoiler do que estaria por vir ao longo do ano: as ações foram penalizadas pela alta das taxas de juros locais, principalmente na ponta mais longa da curva, pressionadas por ruídos relacionados a política fiscal. Esse aumento nos juros também foi observado no exterior, após dados econômicos americanos frustrarem a possibilidade de um corte de juros já em março nos Estados Unidos.

No fim, os juros americanos só começaram o ciclo de queda em setembro, o que não atrapalhou o desempenho das bolsas nos Estados Unidos, que subiram ancoradas pelos fortes resultados das empresas e pelas próprias expectativas (seguidas da concretização) do ciclo de queda de juros. A eleição de Donald Trump também animou os mercados acionários nos EUA, que avançaram de olho nas propostas pró-negócios do republicano, com programas de desregulamentação e redução de impostos.

Por aqui, a força da economia não foi suficiente para impulsionar o Ibovespa. Apesar de termos surpresas positivas relacionadas ao crescimento do PIB, diversas empresas entregando bons resultados, gerando caixa, fazendo recompra de ações e distribuindo dividendos, as preocupações com o panorama fiscal, inflação e juros falaram mais alto. O próprio resultado eleitoral nos Estados Unidos adicionou incertezas por aqui, visto que a vitória em larga escala do partido Republicano nos Estados Unidos (incluindo a presidência e as duas Casas Legislativas) vem sendo associada por analistas – e investidores – a um período de inflação pressionada, juros altos e dólar forte. Esse cenário tende a ser menos positivo para países emergentes, como o Brasil, e ativos de maior risco – ao pressionar o câmbio, os preços e os juros, como consequência.

Chegamos a ter um breve rali no Ibovespa entre junho e agosto de 2024, os investidores até já haviam começado a se preocupar com a possibilidade de juros mais altos no Brasil, já que já havia sinais de pressão inflacionária, mas a expectativa inicial é que seria um ciclo curto de alta na Selic.

Outro fator que contribuiu para a alta na bolsa brasileira nesse período foi a entrada dos investidores estrangeiros. Os “gringos” foram compradores líquidos da nossa bolsa em julho e agosto deste ano (ou seja, compraram mais do que venderam ações brasileiras) e ajudaram a sustentar a alta do Ibovespa. Nesse sentido, outro fator que contribuiu par a alta das ações da bolsa brasileira (mesmo com a alta os juros por aqui) é que o Ibovespa costuma ser um grande beneficiário de ciclos de queda de juros nos Estados Unidos, e o Fed (banco central americano) iniciou o ciclo de corte de juros na mesma reunião em que o Copom subiu a taxa Selic (em setembro). Para ilustrar esse efeito positivo para a bolsa brasileira em ciclos de cortes dos juros americanos, nos últimos seis ciclos, as ações brasileiras apresentaram uma valorização média de 30% (em dólares) um ano após o primeiro corte, superando tanto emergentes quanto desenvolvidos.

Contudo, o rali no Ibovespa foi breve, e as elevadas preocupações com cenário macroeconômico e fiscal penalizaram as ações. Assim, o ano terminou com nuvens de incerteza global somando-se a um cenário doméstico de elevação de risco, com alta de juros e preocupações com o as contas públicas brasileiras. O resultado? Ao longo de 2024 tivemos oito meses de queda no Ibovespa, em contraste com apenas quatro meses de alta.

Abaixo temos o gráfico de performance do principal índice de ações da bolsa brasileira em 2024, onde cada barra dessa representa um mês do índice, que recuou cerca de 10% em 2024:

Apesar do ano desafiador e da fraca performance do Ibovespa em 2024, algumas ações foram destaque positivo. Afinal, quem não gostaria de ter investido em Embraer (EMBR3) no início de 2024 e ter tido mais de 150% de ganho em sua aplicação? Já a Marfrig (MRFG3) e a BRF (BRFS3), segunda e terceira maiores altas do Ibovespa no ano, subiram mais de 100% e 80%, respectivamente. E ainda, Santos Brasil (STBP3) avançou quase 70%.

 Mas essas empresas, têm algo em comum? Em partes, sim! Embraer e Santos Brasil, por exemplo, pertencem ao setor de Bens Industriais. Um setor que tem se mostrado resiliente este ano. Mas também tivemos fatores específicos de cada companhia colaborando para o movimento de forte alta de cada uma dessas ações.

Embraer, por exemplo, tem voado alto com o aumento da demanda por seus produtos e sua capacidade de entrega. Como exemplo, a soma da carteira de pedidos da companhia é a maior em nove anos, e a demanda está em diversas frentes de atuação: aviação executiva, comercial, defesa e manutenção de linha de motores.

Já a Santos Brasil anunciou em setembro um acordo para a venda da participação de 48% empresa para o Grupo CMA CGM (líder global em soluções marítimas, terrestres, aéreas e logísticas) que impulsionou ainda mais as ações, que já vinham se destacando no ano, após a companhia entregar resultados robustos.

Enquanto isso, BRF e Marfrig estão surfando o bom momento para o setor de proteínas. Outras companhias do segmento também são destaques positivos no ano, como JBS (JBSS3), e estão aproveitando o momento de tendência setorial positiva para rentabilidade, margens e custos. Além disso, iniciativas estratégicas implementadas pela nova gestão da BRF impulsionaram os ventos favoráveis do setor.

Por outro lado, algumas empresas estão enfrentando dificuldades ainda maiores do que a média do Ibovespa. As ações da Azul (AZUL4) caíram mais de 70%, Magazine Luiza (MGLU3) E Cogna (COGN3) também não estão em uma boa fase, com queda superior a 65%.

Mas o que essas empresas têm em comum? Todas estão em setores cíclicos, como turismo, varejo e educação, que costumam ser diretamente afetados pelas condições econômicas. Ou seja, suas performances estão muito ligadas ao que está acontecendo na economia do país. Além disso, a Azul, por exemplo, também está enfrentando seus próprios desafios, como a renegociação de uma dívida bilionária.

No fim, temos alguns ativos mais resilientes, outros que sofreram mais em 2024, e o Ibovespa está fechando o ano com queda de 10% aos 120 mil pontos.

Mas e agora, o que esperar para 2025?

O ano que se inicia deverá ser marcado pela continuidade da alta da taxa Selic. E juros altos tendem a impactar negativamente o investimento em ações por diferentes fatores, como a possível revisão de lucros das empresas para baixo. Falamos mais sobre esses impactos aqui.

Além disso, a piora da percepção de risco fiscal doméstico e as incertezas relacionadas ao novo governo Trump adicionam ao sentimento de cautela entre investidores, devido à possibilidade de um período de inflação pressionada, juros altos e dólar forte.

Olhando adiante, essas questões devem seguir “nublando o horizonte” para a alocação em Renda Variável brasileira. Mas isso não significa que não há oportunidades – considerando investidores com perfil de risco e objetivos de longo prazo.

Nesse sentido, vale destacar o ambiente “micro” das empresas como elemento positivo – ou seja, fatores mais relacionados aos fundamentos das companhias. Como exemplo, temos os altos rendimentos de dividendos e recompras de ações vistos ao longo de 2024.

Além disso, alguns múltiplos, como o “preço sobre Lucro” de diversas companhias e do próprio Ibovespa, permanecem abaixo da média histórica, como podemos ver nesse gráfico aqui:  

Isso significa que muitos ativos estão sendo negociados a preços atrativos. Sendo assim, considerando toda essa balança de riscos, mantemos a recomendação de uma alocação de caráter mais defensivo na bolsa brasileira, com destaque para empresas que tenham balanços sólidos, maior qualidade em seus negócios, menores dívidas e comprovada resiliência em meio a um cenário macroeconômico mais desafiador.

Dentre os setores, destacamos elétricas e saneamento, telecomunicações, financeiro e construtoras de baixa renda. Vale lembrar que essa abordagem mais seletiva e cautelosa também se aplica à escolha “intrasetorial”, ou seja, dentro de um mesmo setor – buscando empresas com características de maior resiliência dentro de cada segmento.

Dessa forma, a alocação na bolsa permanece uma alternativa interessante para a composição do portfólio, especialmente para investidores com perfil de risco e objetivos de longo prazo. É fundamental, no entanto, que a estratégia esteja alinhada com o cenário atual e faça sentido dentro do contexto financeiro, perfil de risco e objetivos de cada investidor.

Para te ajudar na escolha dos melhores investimentos para o próximo ano, preparamos um relatório completo sobre “Onde Investir em 2025”, confira aqui.

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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