- Grandes empresas estão realizando processos de recompra de ações, mas você sabe o que isso significa?
- A recompra de ações acontece quando as companhias utilizam parte do dinheiro que têm em caixa para recomprar os próprios papéis em circulação no mercado.
- Mas, como a recompra funciona? Quais os motivos de uma empresa optar por ela?
- Nesse artigo, nós vamos explicar isso, e como essa operação afeta o acionista minoritário.
(Por: Vanessa Naissinger – CNPI: 3191)
Incerteza em relação às eleições, inflação em níveis altos ao redor do mundo, governos aumentando as taxas de juros de forma sem precedentes. Todas essas variáveis podem afetar a bolsa de valores (e afetam), levando a quedas nos preços de diversas ações, como explicamos aqui.
Beleza, mas por que estamos comentando sobre isso de novo? Bom, porque, com a queda no preço, algumas empresas acreditam que o preço de mercado está abaixo do valor justo de suas ações. Com isso, aproveitam a oportunidade para comprar esses papéis de volta em um processo chamado de “recompra de ações” — e isso tem acontecido com uma frequência alta em 2022.
Se você vem acompanhando as notícias relacionadas a empresas de capital aberto, deve saber que alguns nomes como Vale, JBS, Santander, Lojas Renner ou MRV enviaram à CVM projetos de recompra de ações em 2022.
Mas o que levaria empresas a diminuir o número de ações disponíveis no mercado?
O que leva uma empresa a recomprar suas ações em circulação?
Como comentado, muitas ações tiveram uma queda grande nas suas cotações, e algumas empresas acreditam que esses preços estão muito abaixo do que deveriam valer. Assim, elas aproveitam a oportunidade para recomprar suas próprias ações. Essa operação tem dois objetivos principais. O primeiro deles é retornar valor ao acionista, tendo em vista que a definição do preço de mercado de uma ação é afetada pela sua demanda.
O segundo objetivo de uma empresa ao lançar um programa de recompra é sinalizar ao mercado que os representantes da própria empresa acreditam que as ações estão baratas (afinal, quem melhor que a própria administração para saber como o negócio está andando e quanto ele deveria estar valendo, não é mesmo?). Nesse sentido, a empresa compra os papéis e pode revendê-los no futuro com lucro, considerando que, com o tempo, o mercado volte a precificar corretamente o ativo.
E o que a empresa faz com as ações recompradas?
A empresa tem três opções após realizar a recompra:
- Fazer o cancelamento das ações, diminuindo o número total de papéis disponível no mercado;
- Utilizar as ações como pagamento de bônus aos executivos;
- Manter na tesouraria para vender novamente no futuro, ou utilizar em operações de M&A.
Geralmente, é realizado o cancelamento dessas ações, e com isso, o acionista que mantém os papéis aumenta sua participação na empresa sem ter que realizar novos aportes. Isso pode ser benéfico ao acionista caso a empresa mantenha o nível de payout (parte do lucro distribuído aos acionistas em forma de dividendos e JCPs).
Pense dessa forma: a empresa distribui 1 milhão de reais em proventos, e esse valor, antes da recompra, era dividido em 100 mil ações que estavam em circulação, cada ação teria direito a receber 10 reais em proventos. Então, a empresa lança um programa de recompra de 50% de suas ações. Após finalizar o processo, só 50 mil ações estarão no mercado, mas a empresa vai continuar distribuindo 1 milhão em proventos aos seus acionistas. Nessa situação, cada ação teria direito a receber 20 reais em proventos (números meramente ilustrativos para facilitar o entendimento do exemplo).
Valor total distribuído em proventos | Número de ações no mercado | Valor de dividendo por ação |
R$1.000.000,00 | 100.000 ações | R$10,00 |
R$1.000.000,00 | 50.000 ações | R$20,00 |
E existe alguma desvantagem para o investidor pessoa física e minoritário nesse processo?
Há quem critique os planos de recompras, pois acredita que o caixa gerado pela empresa poderia ser melhor utilizado em projetos de expansão ou pesquisa e desenvolvimento.
Além disso, muitos especialistas veem os processos de recompra que ocorreram nos últimos meses como um mecanismo para segurar os preços das ações. Diversas empresas anunciaram seus planos de recompra após fortes quedas em suas cotações, e os analistas entendem o movimento como uma forma de trazer o preço da ação para cima novamente – esse fenômeno ocorreu em outros momentos de crise, como o crash da bolsa americana em 1987, onde mais de 700 empresas anunciaram programas de recompra nos dias seguintes à queda.
Outra questão importante – e que pode ser vista como uma desvantagem no ponto de vista do investidor – é a diminuição da liquidez dos papéis no mercado secundário, pois o número de ações disponíveis para negociação será menor. Entretanto, essa não é uma verdade absoluta: há diversos estudos a respeito do impacto da recompra de ações em sua liquidez, e os efeitos podem ser variados.
Muito dinheiro em caixa 💲
Com essas informações, é possível tirar uma conclusão: não é porque as cotações das ações estão caindo na bolsa de valores que, necessariamente, a empresa está indo mal em seus negócios. Atualmente, o que se vê em alguns casos é bem diferente: os preços caindo, mas a empresa divulgando resultados positivos – e um dos indicadores mais observador por analistas e investidores é a geração de caixa da empresa (lembre-se: o lucro não é o único valor a ser observado ao escolher uma empresa para investir).
Diversas empresas que estão realizando processos de recompra de ação o fazem por conta da sua alta geração de caixa. Nesse caso, os diretores consideram que investir o valor na compra das ações está mais atrativo do que investir em outros projetos ou distribuir dividendos.
Virou tendência?
Como mencionamos, o assunto veio à tona por conta do grande número de empresas aderindo a esse procedimento. Entre 2020 e 2021, foi constatado um aumento de 27,38% nos pedidos de recompra enviados à CVM. Já no ano de 2022, até o início de outubro, foram divulgados 84 processos iniciados.
Se os últimos dois meses do ano forem no mesmo ritmo que os demais, chegaremos ao número de 100 pedidos de recompra de ações em 2022, o que demonstra uma leve diminuição em comparação com o ano anterior, mas ainda maior que a quantidade iniciada em 2020, onde tínhamos um cenário de grande incerteza na economia.
As empresas que fazem parte desse grupo de recompras também estão divididas em diversos setores da economia, demonstrando que o bom momento não é algo particular de poucas categorias. Analisando a lista de empresas que enviaram pedidos à CVM, é possível encontrar empresas dos ramos:
- Farmacêutico;
- Commodities;
- Alimentício;
- Varejo;
- Energia;
- Construção;
- Financeiro, e outros.
Próximos passos
Apesar dos processos de recompras serem indicativos para oportunidades de investimento, é importante ficar de olho nas próximas ações das empresas. As companhias precisam arquivar a documentação solicitando a recompra para a CVM e indicando a quantidade de interesse, mas não é obrigatório que elas levem o plano para a frente – elas podem realizar a recompra integral de ações informada, adquirir somente uma parte do solicitado, e até mesmo mudar de ideia e não realizar movimentação alguma.
Por conta disso, é sempre importante relembrarmos: não invista olhando somente um indicador isolado. O investidor precisa analisar a empresa como um todo para tomar as decisões corretas e que trarão os melhores rendimentos no longo prazo.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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