Não seja pego de calças curtas!
“Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.
Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor, porque ajudam a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores para os investimentos.
Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. Mas quer dizer que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.
Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. Abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.
Onde estamos? Juros altos, até quando?
No mundo, a pergunta que segue dominando os mercados é: “quando os juros vão começar a cair?”. Depois de um ano de 2023 marcado pelo questionamento sobre o limite de alta de juros em países desenvolvidos, a tônica de 2024 passou a ser o momento de virada na política monetária em grande parte do mundo – ou seja, quando Bancos Centrais passarão a cortar os juros, diante de um comportamento mais benigno da inflação no mundo?
Embora a queda de juros seja bastante provável em algum momento esse ano, não acreditamos que isso acontecerá tão cedo – ou tão rápido. Isso porque, apesar de a inflação ter enfraquecido substancialmente desde os picos observados na pandemia e mesmo em meados do ano passado, a alta de preços continua “teimosa” nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos.
Vale lembrar que juros altos têm o objetivo de controlar a alta de preços, encarecendo o crédito e desincentivando o consumo, desaquecendo a economia e a demanda por bens e serviços.
Para ilustrar, enquanto a inflação ao consumidor (medida por seu núcleo, excetuando preços mais voláteis) cedeu de 6,0% no fim de 2022 para 2,85% nos últimos doze meses até janeiro desse ano. Já na Zona do Euro, a inflação se aproxima da meta (de também 2,0%), com o principal indicador de preços ao consumidor acumulando 2,6% em doze meses até fevereiro de 2024.
Porém, quando olhamos para os preços no setor de serviços, a situação é um pouco diferente. Nos Estados Unidos, por exemplo, a inflação de serviços (sem considerar aluguéis, que tendem a ser mais voláteis) encontra-se ao redor de 6,5%, medindo sua tendência nos últimos três meses.
Em bom português: a inflação de serviços segue alta, apesar de os preços de bens (como carros, roupas e eletrodomésticos) já estarem bem mais comportados, e isso impede que o Banco Central comece a reduzir os juros tão cedo – ou tão rápido.
Vale destacar que os preços de serviços são essenciais para entender comportamento da inflação como um todo, sinalizando tendências adiante. Isso porque os preços no setor não são impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); e sim, pelo comportamento dos salários, além de, claro, o nível de demanda na economia.
Por isso que o mercado de trabalho aquecido tem grande importância nessa dinâmica. Afinal, com mais vagas disponíveis do que trabalhadores em busca de posições, a tendência é que os salários sigam crescendo em ritmo acelerado – aumentando a demanda por bens e serviços na economia.
Além da inflação de serviços preocupante, incertezas adicionais seguem no horizonte. Entre os principais, o conflito militar entre Israel e Hamas, incluindo suas ramificações na região do Mar Vermelho (com atuação do grupo político religioso Houthis frente a embarcações comerciais), pode voltar a pressionar preços de fretes marítimos e do próprio petróleo – e, consequentemente, a inflação global.
Nesse cenário, esperamos que o Fed (Banco Central americano) comece a reduzir os juros – gradualmente em julho, e que a taxa básica de juros americana encerre o ano em 4,50% (dos 5,50% atuais).
Enquanto isso, do outro lado do mundo, a China deve seguir lutando contra um crescimento mais fraco em 2024. O país ainda enfrenta desafios para retomar um ritmo de crescimento robusto, diante de uma crise no setor imobiliário e baixa confiança entre investidores, produtores e consumidores. Nesse cenário, mesmo com esforços do governo em impulsionar setores como de educação e tecnologia e estímulos diretos ao mercado, o crescimento nesse ano (e nos próximos) deve ser mais fraco do que os fortes saltos vistos nos últimos 20 anos.
Vemos o impacto dessa desaceleração, entretanto, como limitado para a economia brasileira. Entendemos que nossas exportações devem seguir fortes para o país asiático em 2024. Essa dinâmica deve seguir contribuindo para a manutenção das nossas contas externas sólidas (ou seja, com vendas para o mundo sólidas, em comparação com nossas importações) e do real relativamente valorizado no ano.
Falaremos mais sobre nossa visão positiva para o real abaixo.
Enquanto isso, no Brasil
Mudam os motores, mas economia deve seguir robusta em 2024
Por aqui, a economia surpreendeu crescendo acima do esperado em 2023. Conforme divulgado no início de março, o PIB brasileiro cresceu 2,9% no ano passado, surpreendendo expectativas da maior parte dos analistas no começo de 2023. A alta veio praticamente na mesma magnitude do observado em 2022, refletindo principalmente o forte crescimento da produção agropecuária na primeira metade do ano, além do consumo das famílias e da extração mineral.
O mercado de trabalho aquecido, programas de benefício fiscal (que viram forte elevação desde meados de 2022) e a queda da inflação também ajudam a explicar a boa performance da economia depois do fim dos impactos da supersafra agrícola da primeira metade de 2023. Para se ter uma ideia, o desemprego encerrou 2023 no patamar mais baixo desde o início de 2015, em 7,5%.
E essas forças devem continuar ajudando a impulsionar o crescimento ao longo de 2024. Como já é possível observar nos dados referentes a janeiro desse ano, os principais motores de crescimento econômico nesse ano devem incluir:
i) mercado de trabalho sólido: especialmente no setor de serviços, impulsionando salários (acima da inflação);
ii) ciclo de queda de juros: embora o Banco Central tenha começado a reduzir a taxa Selic em 2023, os efeitos demoram a ser sentidos na economia – movimento que devemos ver com mais força esse ano. Dados recentes já apontam para uma melhora em fatores como inadimplência de famílias e empresas, e maiores concessões de crédito;
iii) impulso fiscal adicional de precatórios: a decisão do governo de antecipar para 2023 o pagamento de precatórios até então adiados para 2027 injetou uma quantia relevante na economia (elevando a renda daqueles que tinham valores a receber de processos judiciais contra o governo); e
iv) as exportações nas máximas históricas (quantidade exportada), apesar do recuo nos preços de commodities agrícolas e metálicas.
Dito isso, como nem tudo são rosas, esse cenário benigno também possui riscos. Primeiro, o baixo nível de investimento produtivo observado nos últimos anos e esperado para esse ano, como em máquinas e equipamentos, é uma fonte de preocupação. Ao mesmo tempo, o menor crescimento esperado para o setor agrícola diante de safras menos benignas pode prejudicar atividades relacionadas ao agro, especialmente no interior do país, como transporte de cargas e logística.
Finalmente, o mercado de trabalho bastante aquecido pode colocar em risco a inflação atualmente comportada. Falaremos disso na seção adiante.
Já para 2025, os efeitos dos juros em queda ainda sendo sentidos por aqui, adicionados aos impactos do ciclo de redução dos juros no mundo desenvolvido, devem impulsionar uma alta de 2,0% do PIB.
Inflação segue comportada, sustentando queda nos juros
Como contamos em detalhes aqui, o IPCA (nosso principal índice de inflação ao consumidor) registrou alta de 0,83% em fevereiro. Após encerrar o ano de 2023 dentro do intervalo de tolerância da meta do Banco Central, o indicador seguiu sua trajetória de queda no acumulado em doze meses, com elevação de 4,50% até fevereiro (frente 4,51% em janeiro, e 4,63% no número fechado do ano passado).
Quer saber mais sobre a política de metas de inflação? Te contamos aqui!
O resultado de fevereiro foi impulsionado especialmente por preços da gasolina, educação e dos combos de telefone e internet, refletindo efeitos sazonais (ou seja, que ocorrem anualmente) e a mudança na cobrança de ICMS sobre combustíveis prevista desde outubro do ano passado. Os preços dos alimentos também seguiram em destaque, ainda na esteira de impactos do fenômeno climático El Niño.
Olhando para frente, o processo de desinflação deve continuar em 2024, mantendo os preços comportados. No mundo, os preços de bens industriais – como carros, eletrodomésticos e máquinas – devem seguir subindo lentamente ou mesmo em queda. O enfraquecimento do preço de commodities industriais, como borracha e algodão, também contribui para esse movimento.
Na mesma linha, os preços de alimentos devem desacelerar a partir do segundo trimestre desse ano, refletindo a dissipação dos efeitos do El Niño e de uma produção ainda forte de grãos – que impacta diretamente o preço de proteínas.
Vale destacar que um processo de desinflação é diferente de um período deflacionário – em que os preços efetivamente caem. Dito isso, os resultados recentes foram marcados pela queda de alguns preços, em especial de alimentos, em um movimento explicado por fatores climáticos, técnicos e pela forte produção agrícola no país.
É claro, entretanto, que ainda existem riscos para esse cenário benigno para os preços. No ambiente global, o ainda incerto cenário geopolítico global – como falamos acima – coloca em risco a tendência de queda nos preços de commodities e, consequentemente, de bens industriais.
Já por aqui, a inflação de serviços é uma das maiores preocupações. Para ilustrar, conforme o resultado do IPCA de fevereiro, a métrica chamada “serviços subjacentes” (que exclui serviços com preços mais voláteis, como passagem aérea) registrou alta de 6,0% na média dos últimos três meses – o dobro da meta do Banco Central (de 3,0%).
Vale destacar que os preços de serviços são essenciais para entender comportamento da inflação como um todo, sinalizando tendências adiante. Isso porque os preços no setor não são impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); e sim, pelo comportamento dos salários, além de, claro, o nível de demanda na economia.
Assim, com um mercado de trabalho aquecido e políticas de aumento de gastos por parte do governo (o que impulsiona a demanda), a luz amarela para esses preços segue acesa.
Nesse cenário, projetamos que o IPCA encerre 2024 em 3,5% e em 4,0% em 2025 – ambos acima da meta do Banco Central, mas dentro do seu limite superior.
Selic deve continuar caindo até 9,00% ao ano, mas há riscos no radar
Como contamos aqui,o Copom (nosso comitê de política monetária) optou por reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual em sua primeira reunião de 2023, em 31 de janeiro. A decisão deu continuidade ao processo de queda de juros iniciado em agosto, levando a taxa para 11,25% ao ano.
Em um recado que não trouxe muitas mudanças de tom, o Copom reforçou que o cenário segue consistente com a continuação dos cortes da taxa Selic. Em bom português: eles seguirão cortando os juros, a não ser que algo mude o cenário doméstico e global esperado.
No cenário internacional, os diretores do Banco Central destacaram que o ambiente segue volátil, mas que a queda recente no preço de commodities ajudam no controle da inflação – no Brasil e no mundo. Dentre os riscos, o Copom destacou a situação no Oriente Médio e o potencial repique de preços impulsionados por fretes marítimos.
Já por aqui, o Copom reconheceu os avanços no processo de enfraquecimento da inflação. Mas o “jogo contra a alta de preços ainda não está ganho e requer cautela. Como riscos adiante, o Banco Central destacou a forte alta dos salários observada em 2023 e esperada para esse ano, e o comportamento dos preços no setor de serviços.
Vale lembrar que o mercado de trabalho aquecido tem pressionado os salários, e que o setor de serviços é o que mais emprega na economia. Ou seja, um movimento impulsiona o outro.
Além disso, não podemos esquecer do risco fiscal. Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante – influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro.
A deterioração do risco fiscal também tende a impactar a nossa moeda, uma vez que essa é percebida como mais arriscada. Um real mais desvalorizado adiciona pressão sobre a inflação, uma vez que boa parte do que consumimos e produzimos inclui insumos negociados em dólares ou mesmo produtos importados.
Nesse sentido, vale destacar o esforço do governo para aprovar medidas que aumentem a arrecadação. O movimento vem sendo bem-sucedido, mas não deve ser o suficiente para atingir a meta de “contas no azul” (no caso, déficit primário zero) nesse ano, mantendo a dinâmica da dívida pública em elevação.
Assim, vemos a Selic caindo para 9,00% até o final deste ano, no que acreditamos que será um processo gradual de redução de juros. Isso significa que os juros devem cair até o patamar considerado como neutro – ou seja, tirando o pé do freio da economia, mas ainda sem acelerar.
E o dólar, vai para onde?
Nos últimos meses, temos assistido a relativamente mais fraca volatilidade do dólar por aqui. Depois de fechar o ano de 2023 abaixo de R$/US$ 4,90, a nossa taxa de câmbio começou o ano pressionada e segue flertando com a barreira dos R$/US$ 5,00.
Acreditamos que a recente pressão sobre a nossa moeda refletiu principalmente movimentos globais, dos quais destacamos:
- A forte volatilidade observada nas taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos (as famosas Treasuries), diante da sinalização de que os juros básicos devem seguir historicamente altos, mesmo após o início de cortes graduais – esse movimento tende a fortalecer o dólar frente a outras moedas, por atrair capital em busca de maiores retornos; e
- A queda recente nos preços de commodities agrícolas e metálicas, como minério de ferro e soja – a redução do preço dos produtos que exportamos tende a aumentar a pressão sobre a nossa moeda, uma vez que – de maneira simplificada – investidores precificam menores entradas de moeda estrangeira.
Dito isso, o ano de 2024 deve contar com um real relativamente fortalecido – especialmente graças a robustez das nossas contas externas. Isso porque seguimos atraindo forte fluxo de capital estrangeiro tanto pela via comercial quanto de investimentos, impulsionados – entre outras coisas – pela forte extração mineral (petróleo e minério de ferro) e produção agrícola, e pela posição relativamente positiva quando comparado a outros emergentes mais expostos a elevados riscos geopolíticos, como Rússia, China e Turquia.
Assim, embora o preço de grande parte do que exportamos tenha caído nos últimos meses, a quantidade exportada mantém o fluxo de dólares elevado. E quanto mais dinheiro estrangeiro por aqui, mais valorizada nossa moeda.
Nesse cenário, projetamos uma taxa de câmbio em R$/US$ 4,70 para o final desse ano, com média anual ao redor de R$/US$ 4,75 e de R$/US$ 4,90 para o final de 2025.
Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.
Como investir nesse cenário?
Com tantos eventos e mudanças no cenário econômico no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio é essencial.
Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de onde investir em cada classe de ativo (como ações, renda fixa e fundos de investimento).
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2029 | CRA Unidas Dez/2028 CDI+2,9%** | R$ 100,00 |
Inflação | Tesouro IPCA+ mai/2029 | CRA Atacadão jan/2029IPCA+7,5** | R$ 50,00 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado 2026 | NTN-F jan/29 | R$ 100,00 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | Kinea Atlas II | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$ 100,00 |
Renda variável internacional | Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 | M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | Trend Bolsas Globais | Trend Bolsas Emergentes | R$ 100,00 |
Alternativos | LVBI11 | PVBI11 *restrito | R$ 100,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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