A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,38% em julho de 2024. O resultado mensal levou o índice para 4,50% no acumulado em doze meses, acelerando em relação aos 4,23% registrados em junho.
Vale destacar que o nível da inflação corrente (ou seja, o ritmo da alta de preços hoje) segue dentro do limite de tolerância da meta de inflação de 3,0% perseguida pelo Banco Central – porém, bastante próximo de ultrapassar o “teto” de 4,50%.
Meta de inflação: o que é?
O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.
Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,0%. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços ao longo, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,00%.
O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50 pontos percentuais para cima e para baixo. Essa “banda” serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.
Reajuste em combustíveis e bandeira amarela na conta de luz puxam inflação em julho, mas alimentos caem
O resultado de julho veio um pouco acima das expectativas, com a principal surpresa (ou seja, o que levou à diferença entre o que projetamos e o resultado) vindo de gasolina. Analistas esperavam uma transmissão um pouco mais gradual do que o observado para o consumidor final do reajuste nos preços de combustíveis implementado pela Petrobras. De fato, os preços de combustíveis registraram alta de 3,31% no mês.
Vale lembrar que a estatal anunciou alta nos preços de gasolina para as distribuidoras no início de julho, diante da elevação dos preços internacionais de petróleo e seguindo a política de preços estabelecida em maio do ano passado. Grosso modo, a política tenta equilibrar variações nos preços globais com fatores domésticos e particulares da empresa, como o custo alternativo do cliente.
Outro destaque no resultado da inflação em julho foram os preços de energia elétrica, que refletiram a mudança de bandeira tarifária no mês. A categoria “energia elétrica residencial” registrou alta de 1,93% em julho – movimento explicado pelo acionamento da bandeira amarela nas contas de luz. A mudança na tarifa é explicada pelo baixo nível de chuvas no período, que inferem em custos mais altos na geração de energia no país (afinal, mais de 60% da energia no Brasil é gerada em usinas hidrelétricas).
Assim como os combustíveis, os preços de energia são chamados “administrados” – ou seja, seguem regulação/regra específica, ao invés de variarem “livremente” de acordo com a oferta e demanda no mercado.
Por outro lado, os preços dos alimentos seguiram em queda. Em julho, seguimos a tendência de queda nos preços de alimentos observada no mês anterior, em parte ainda refletindo a reversão de desequilíbrios causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul em maio. Para ilustrar, a categoria“alimentos no domicílio” registrou queda de 1,51% no mês, com destaque para alimentos in natura, como legumes, verduras e frutas, que viram os preços caindo mais de 8% no período.
Vale mencionar que esta foi a primeira leitura de preços normalizada no Rio Grande do Sul após as inundações. O estado registrou a maior queda nos preços dos alimentos em julho: -1,6% em relação ao mês anterior.
Inflação de serviços e preços industriais mantém “luz amarela” acesa
Depois de um longo período em baixa, preços de produtos industriais retomam força diante de dólar forte e demanda aquecida. Os preços dos bens industriais – como carros, roupas e eletrodomésticos – avançaram 0,33% em relação ao mês anterior, acima da nossa estimativa. Veículos novos, por exemplo, subiram 0,5% no mês, depois de verem os preços estáveis em junho. Artigos de residência apresentaram alta similar, impulsionados por eletrônicos, como televisores e videogames.
Parte da explicação para a alta recente vem da desvalorização recente da nossa moeda.
Para se ter uma ideia, moeda brasileira enfraqueceu em torno de 15% nesse ano, ficando bem atrás da maioria de seus pares emergentes.
Vale destacar que uma série de produtos consumidos e utilizados em nossa produção doméstica (como alimentos e insumos industriais) são negociados em dólares e/ou importados de outros países.
Deste modo, a desvalorização do real tem impacto importante no comportamento dos preços domésticos – em economia, chamamos esse efeito de pass throug.
A forte demanda de consumidores diante do mercado de trabalho aquecido e da renda disponível em alta também contribui para a elevação dos preços de produtos industriais. Em bom português: famílias seguem com espaço para consumir, ajudando a manter a demanda por bens e serviços aquecida.
Na mesma linha, a inflação de serviços voltou a trazer sinais de cautela em julho. Conforme o resultado, a métrica chamada “serviços subjacentes” (que exclui serviços com preços mais voláteis, como passagem aérea) acelerou para 6,0% na média dos últimos três meses em julho, de para 4,6% no mês anterior.
É importante dizer que parte dessa alta é explicada pela forte elevação dos preços de seguros de veículos, que subiram muito no mês por conta do efeito das enchentes no sul do país – ou seja, um movimento que não deve se repetir. Mas esse fator, sozinho, não muda o quadro de cautela.
Isso porque os preços de serviços são essenciais para entender comportamento da inflação como um todo e do nível de aquecimento da economia. Isso porque os preços no setor são menos impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); sendo mais afetados pelo comportamento de salários, além de, claro, o nível de demanda na economia.
Assim, com um mercado de trabalho aquecido e elevados benefícios fiscais (o que impulsiona a demanda por bens e serviços), o comportamento desses preços tem seguido nos holofotes. O forte crescimento esperado para a renda disponível das famílias nesse ano – de 6% acima da inflação – ilustra essa cautela.
Um mercado de trabalho aquecido pressiona salários, com destaque para o setor de serviços, que é o que mais emprega na economia do país – em um movimento que se retroalimenta.
Nesse cenário, a desaceleração da inflação de serviços intensivos em mão de obra no mês traz certo alívio – com a média dos últimos três meses registrando sua quinta queda consecutiva, para 5,1%, de quase 7% observado em seu pico recente em fevereiro.
Inflação deve encerrar o ano em 4,1%
Esperamos que a inflação siga relativamente bem-comportada nos próximos meses, mas encerre o ano acima da meta do Banco Central (embora dentro do limite superior de tolerância).
Por um lado, os preços de alimentos devem continuar fracos (mesmo que não mais caindo), assim como a tendência de enfraquecimento gradual da inflação no setor de serviços deve seguir presente – apesar de salários ainda pressionados por um mercado de trabalho aquecido.
Além disso, vale lembrar dos efeitos da taxa de juros restritiva. Como detalhamos abaixo, entendemos que o Banco Central deve manter a taxa Selic em 10,50% nos próximos meses. Assim, os juros em patamar contracionista devem manter o freio na economia (mesmo que em menor magnitude do que estavam antes do recente processo de quedas na Selic) – e, consequentemente, nos preços.
Por outro lado, a recente desvalorização da nossa moeda e o comportamento de preços industriais no mundo deve pressionar a inflação ao longo dos próximos meses.
Nesse cenário, projetamos que o IPCA encerre 2024 em 4,1%. Para 2025, esperamos uma inflação em patamar mais elevado, embora ainda dentro do limite superior da meta do Banco Central (de 3,00%) – encerrando o ano em 4,3%.
Apesar de inflação corrente bem-comportada, riscos adiante limitam Selic aos “dois dígitos”
Para o dia a dia dos brasileiros, o processo de moderação da inflação observado desde 2023 contribuiu para a melhora da sensação de perda do poder de compra. De fato, a queda da inflação no ano tem contribuído para a elevação do rendimento médio real efetivo dos trabalhadores – que cresceu em torno de 6% em 2023.
Dito isso, além dos riscos mencionados acima (preços de serviços e mercado de trabalho aquecido), outros fatores domésticos e internacionais contribuem para limitar uma queda nos juros para além do patamar de dois dígitos.
No âmbito internacional, conflitos ainda latentes no Oriente Médio e leste europeu tem trazido forte volatilidade aos preços de petróleo, além de fretes marítimos e outras commodities, colocando em risco a inflação global – embora as preocupações recentes sobre o crescimento econômico no mundo venham compensando parte dessa pressão.
Ainda lá fora, incertezas sobre o controle da inflação, uma potencial recessão e o palco político-eleitoral nos EUA podem contribuir para o aumento da aversão ao risco global, impactando moedas como o real (e consequentemente, a inflação).
Já no cenário doméstico, a recente piora nas perspectivas das contas públicas e elevação da incerteza política são o principal destaque. Nos últimos meses, uma série de fatores deterioraram a percepção de risco por aqui, incluindo: i) ruídos entre Executivo e Banco Central sobre a gestão da política monetária; ii) incertezas sobre a sustentabilidade das regras fiscais atuais, diante de despesas que seguem crescendo muito acima das receitas do governo; iii) intervenções do Executivo em empresas listadas na bolsa; iv) incertezas entre Governo e Congresso sobre a gestão das contas públicas.
Esse quadro de piora da percepção de risco não somente pressiona ainda mais a nossa moeda, como também impacta as expectativas de inflação no futuro. Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante – influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro.
Em resumo, embora a inflação siga relativamente bem-comportada no curto prazo, os riscos olhando adiante limitam a continuidade da queda da taxa Selic – que deve seguir em 10,50% ao ano até o ano que vem (ou mesmo subir, caso o cenário deteriore).
Como se proteger da alta de preços?
Como falamos, embora não vejamos um cenário de forte reaceleração dos preços, a inflação segue motivo de cautela – no Brasil e no mundo. Assim, proteger os investimentos contra a alta de preços segue essencial.
Títulos indexados à inflação (como NTN-B 2030), emissões bancárias de instituições sólidas e com boa classificação de risco e debêntures incentivadas (sem cobrança de Imposto de Renda ao investidor) são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.
Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários. Por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação, os FIIs podem ser excelentes aliados do investidor em um cenário ainda cauteloso com a alta de preços.
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Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, confira o detalhe das nossas recomendações de investimento atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor no “Onde Investir”.