A inflação medida pelo índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) registrou alta de 0,44% em outubro.
O resultado de outubro veio um pouco abaixo das expectativas de analistas de mercado e levou o acumulado em doze meses para 7,7% – uma desaceleração pelo quarto mês consecutivo, desde as máximas atingidas em junho deste ano.
Apesar de ainda bastante alta, especialmente considerando padrões históricos de inflação no país e a meta de inflação do Banco Central americano (de 2,0%), a inflação começa a finalmente dar certo fôlego.
O preço de carros usados, por exemplo, caiu de 7,2% em doze meses até setembro para 2,0% em outubro. Na mesma linha, embora de maneira mais suave e ainda pressionado, o preço dos alimentos desacelerou para 10,9% (de 11,2% no mês anterior).
Assim, embora a inflação siga no centro das preocupações dos americanos e ainda vermos preços subindo com força especialmente no setor de serviços, crescem os sinais de que a alta de juros implementada pelo Banco Central americano (o FED) começa a fazer efeito em desaquecer a demanda por bens e serviços.

Além disso, a reversão de desequilíbrios causados pela pandemia – como a normalização das cadeias de produção globais – também favorece o processo de desinflação (ou seja, de redução do ritmo de alta de preços).
Inflação importada, importa
Para o dia a dia do brasileiro, a notícia pode parecer distante, mas é importante.
Primeiro, porque também “importamos” parte da inflação de bens e serviços americanos. Os Estados Unidos são nosso segundo principal parceiro comercial, de quem importamos diversos produtos e serviços, como máquinas e equipamentos e serviços de tecnologia e comunicação. Assim, quanto maior a inflação por lá, maior a inflação dos produtos que importamos por aqui – impactando nossa inflação.
Segundo, porque o comportamento da inflação nos Estados Unidos sinaliza movimentos de preços que também sentimos por aqui. Por exemplo, o resultado de outubro indicou o enfraquecimento no preço de certos produtos industriais, como máquinas e tecidos, que refletem uma melhora substancial das cadeias de produção globais.

Assim, apesar da persistência de pressões inflacionárias especialmente no setor de serviços americano (por conta do mercado de trabalho bastante fortalecido), a perda de força de movimentos de caráter mais global é boa notícia também por aqui.
Juros subindo nos Estados Unidos
Além da aceleração dos preços em si, o cenário inflacionário nos Estados Unidos é ainda mais importante para nós deste lado do atlântico por conta dos impactos na política monetária do país. Ou seja, no rumo dos juros americanos, que afeta muito além da maior economia do mundo, em especial o cenário de investimentos global.
Desde o início deste ano, o rumo dos juros americanos tem sido um dos principais propulsores de mercados financeiros ao redor do mundo, alimentando a aversão ao risco entre investidores.
Afinal, juros mais altos impactam negativamente as ações, por encareceram o custo de capital das empresas no longo prazo, além de reduzirem o valor justo de ações avaliado por investimentos. Ainda, juros altos também desaquecem a economia, prejudicando a operação e o lucro de diversas empresas.
Além disso, juros em alta nos Estados Unidos significam menor liquidez para mercados e dólar mais forte – ou seja, menos dinheiro em busca de retornos no mundo, além de reduzirem a atratividade relativa de ativos em países mais arriscados, como o Brasil. Em bom português: com juros maiores lá, investidores pensam um pouco mais sobre investir aqui, onde o risco é maior.

Deste modo, o rumo dos juros nos Estados Unidos também impacta os nossos juros por aqui, especialmente aqueles determinados pela relação entre percepção de risco e demanda no mercado – os juros de longo prazo, que tanto impactam a vida de empresas e famílias no país.
Confira aqui mais sobre o cenário de juros em alta nos Estados Unidos e os impactos nos seus investimentos nesse texto.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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