- Acabou janeiro, acabou a farra? Ou será que cabe mais um esquentinha pré carnaval?
- No nosso esquenta para a reunião do Copom, teremos open bar de taxa Selic em dois dígitos, com elevação para 10,75% ao ano amanhã.
- Recado duro do Copom deve reforçar política contracionista, com taxa básica de juros chegando em 11,50% em março.
- Fantasia desse ano para seus investimentos? Pós fixados para acompanhar juros em alta, proteção contra a alta de preços com renda fixa e ativos reais, oportunidades seletivas na bolsa e diversificação.
- Vem esquentar, que te contamos tudo!
Hoje é 01 de fevereiro. Acabou o segundo mês mais longo do ano (o primeiro é agosto, claro)! E com ele, acabou a farra. Ou será que ainda tem espaço pra um esquentinha? Para animar o carnaval que se aproxima, quando seguiremos sem bloquinhos e desfiles (mas, ao menos, vacinados)!
Então bora! Preparem-se para o esquenta mais esperado dos últimos 45 dias: o esquenta para o Copom.
Isso porque hoje começa a reunião do nosso Comitê de Política Monetária do Banco Central (que termina amanhã). Como vocês já leram aqui há exatos 45 dias, a cada reunião dos diretores do Banco Central do Brasil, o esquenta fica por nossa conta, para que você saia muito bem informada(o) sobre o que esperar da decisão que afetará a nossa taxa básica de juros, a Selic, e os seus investimentos.
Heatmap do Copom: o drink da casa
Tudo começa com nossa visão 360° da economia desde a última reunião do Copom. O que aconteceu de importante na economia do Brasil e do mundo, que impactou, está impactando, e esperamos que impactará a inflação por aqui?
Quem leu nossos últimos esquentas, já sabe que tudo isso está ilustrado na tabela abaixo: o famoso heatmap do Copom. Esse mapa de calor, em bom português, serve para ilustrar o que achamos que os diretores do Banco Central estarão olhando enquanto discutem o que fazer com a taxa Selic. Lembrando: sempre com o objetivo principal de controlar o comportamento dos preços.
Quanto mais vermelho (azul), mais a variável está atuando para piorar (melhorar) a perspectiva da inflação.
Já os curiosos pássaros estampados no alto indicam uma nomenclatura também curiosa sobre política monetária no mundo: os Hawks (falcões) e os Doves (pombas). Quanto mais vermelho, mais o comportamento do indicador aponta para uma decisão do Banco Central para o lado hawkish; já quanto mais azul, mais o indicador aponta uma decisão para o lado dovish.
Falcões X Pombas
Hawkish – Aparentemente relacionado ao comportamento de soldados na Guerra da Independência dos EUA, a figura de um falcão está associada à coragem, força, rigidez. Em política monetária, faz referência ao comportamento de banqueiros centrais mais preocupados com o controle da inflação, menos lenientes com a alta de preços e o potencial distanciamento de sua meta.
Dovish – Já as pombas são relacionadas a… acho que apenas pombas mesmo, na tranquilidade, de boa esperando seu pãozinho no parque! Em política monetária, as pombas então são associadas a autoridades monetárias mais lenientes com a inflação. Para os quais “um pouquinho de alta de preços não faz mal a ninguém”, mesmo que se distancie da meta almejada.
O mapa são paulino (?): inflação corrente preocupa Copom
Para entender melhor os números da tabela acima, vale separá-los entre os azuis ou brancos (ou seja, aqueles que reduzem as pressões sobre os preços, ou são neutros) e os vermelhos – aqueles que estão dando um empurrãozinho para os preços seguirem subindo com força.
Como podemos ver, o heatmap desse mês está quase a arquibancada da torcida do São Paulo, não fossem por alguns azuis ali no meio. Ou seja, entre o neutro e os inequívocos vermelhos, com alguns elementos que contribuem para um processo de desinflação adiante, mas com outros (importantes) reforçando a preocupação do Banco Central sobre a alta de preços a frente.
Começando por movimentos que devem ajudar o BC no desafio de controle de preços, temos: i) a economia vem perdendo força nos últimos meses, apesar de alguns dados positivos em novembro (atividade fraca à menor demanda por bens e serviços à menor pressão sobre os preços); ii) a valorização da nossa moeda, puxada principalmente pelo preço elevado de commodities, apesar da alta de juros esperada nos EUA (que te contamos melhor aqui); e iii) a melhora do cenário de chuvas no país, consolidando perspectivas de queda nos preços da energia elétrica nesse ano.
Apesar destes fatores positivos, a inflação não perdeu força nos últimos 45 dias, influenciando as expectativas sobre os preços no futuro – até o final desse ano, e no próximo. O resultado mais recente da prévia da inflação ao consumidor (o IPCA-15) revela que a forte alta de preços está disseminada na economia (entre bens e serviços), e indicadores de inflação ao produtor indicam que mais altas devem ser repassados aos consumidores nos próximos meses.
Uma nova rodada de altas das comodities explica boa parte dessas pressões. O petróleo superou 90 dólares o barril, e minério de ferro subiu 24,7% desde o último Copom. Além disso, o clima prejudicou a produção de grãos no sul do país.
Resumo da ópera? Os diretores do BC devem estar mais preocupados com o processo de queda da inflação ao longo dos próximos meses, se comparado à última reunião do Copom.
Selic 10,75% amanhã e 11,50% em março
Com tudo isso junto e misturado, esperamos que o Banco Central anuncie amanhã mais uma elevação de 1,5 ponto percentual na Selic – levando a taxa para 10,75% ao ano, de 9,25% atualmente.
E daqui para frente? Já que as commodities parecem ter colocado ainda mais lenha na fogueira inflacionária desde o último Copom, esperamos que o BC passe um recado bastante “falcônico” em sua comunicação.
Ou seja, um comunicado destacando que fará tudo o que tiver no alcance para que a inflação alcance a meta (de 3,5% ano que vem) no horizonte relevante de política monetária (oi? Te contamos no box abaixo!).
Em nossa visão, isso significa que o Copom deverá continuar a subir a Selic até março, levando a taxa para 11,50% ao ano.
Horizonte Relevante de Política Monetária
Você já ouviu falar do tal do “horizonte relevante de política monetária? Esse conceito se refere ao período entre o aumento/queda na taxa de juros determinado pelo Banco Central, e o efeito disso na economia real – por meio do crédito, do câmbio e das expectativas.
Esse período pode variar entre 6-9 meses, a depender do país, e da metodologia usada.
Mas o importante a destacar é que, conforme nos aproximamos do final do ano, os esforços do Copom se dirigem ao ano seguinte, dado que a elevação de juros hoje não impacta a inflação sentida hoje.
Assim, uma eventual alta de juros será sentida gradualmente ao longo dos seis-nove meses (aproximadamente) subsequentes.
Após isso, vemos o processo de desinflação – quando os preços passam a subir mais devagar (e não necessariamente caem) – ganhando força. O crédito mais caro com a Selic mais alta ajudará a reduzir a pressão sobre os preços. Além disso, os Bancos Centrais de países desenvolvidos subindo também os juros devem ajudar a segurar o preço de insumos no mundo, incluindo as commodities.
Mas esse processo não será rápido, especialmente considerando que a alta do juro básico demora por volta de 9 meses a um ano para ser sentida na economia como um todo. Tampouco não terá riscos – com o bom e velho risco fiscal ameaçando desvalorizar nossa moeda novamente (afetando a inflação).
Como investir com a Selic em dois dígitos?
Independente de acertamos em cheio o patamar da Selic ou o ritmo de altas definido pelo Copom, a taxa deve seguir alta bom tempo. Aquilo que chamamos de “política monetária contracionista”, em que a taxa Selic desestimula a economia para conter a alta de preços.
Acreditamos que esse patamar será o suficiente para trazer a inflação para mais próximo à meta do Banco Central no final do ano que vem. Quão mais perto? Vemos IPCA em 5,2% até o final de 2022.
Nesse cenário de juros em elevação, a Renda Fixa volta a ganhar bastante relevância e atratividade (não que não cansemos de contar para vocês por aqui sobre a importância da diversificação em qualquer período, e de uma boa e segura reserva de emergência). Títulos de renda fixa indexados à inflação te ajudarão a proteger seu patrimônio de toda essa incerteza de preços, enquanto títulos pós fixados acompanharão a elevação da taxa Selic – elevando o retorno dos investimentos. Contamos muito mais sobre oportunidades nessa classe de ativos aqui.
Mas, se era verdade que a Renda Fixa não tinha morrido no período de juros baixos, também é verdade que outros investimentos seguem trazendo oportunidades nesse período de juros em elevação e inflação pressionada.
Enquanto isso, a classe de ativos conhecida como alternativos também ganha relevância, especialmente os ativos reais – que costumam ter baixa correlação com ciclos econômicos e inflação, como commodities minerais e agrícolas, metais preciosos e criptoativos. Uma alternativa simples para acessar esses investimentos é por meio do eTrend Ativos reais.
Finalmente, mas não menos importante, investimentos internacionais podem trazer tanto diversificação geográfica, quanto de risco. Isso porque ativos dolarizados podem servir de proteção contra uma eventual desvalorização (ainda maior) da nossa moeda, impulsionado por incertezas domésticas.
Fundos internacionais, BDRs (recibos de ações estrangeiras negociados na B3) e ETFs (fundos negociados na bolsa) são alternativas simples para você acessar investimentos fora do país.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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