- Pode parecer fake news, mas o real é a moeda que mais valorizou frente ao dólar nesse ano, entre os principais emergentes.
- Como tudo em economia, não há apenas uma explicação. Mas a alta no preço das commodities impulsionada pela guerra russa está entre as principais.
- Até onde vai essa queda, e como investir nesse cenário?
- A resposta passa pela incerteza global e doméstica e pela máxima “não invista no dólar, invista em dólar”.
- Confira na íntegra!
Se você é um aficionado pela pergunta que intitula desse artigo, ou alguém que segue o noticiário de economia e mercados (especialmente por aqui na Riconnect), deve ter notado que o dólar caiu bastante nesse início de ano.
Pois é. Pode parecer fake news, mas o real já valorizou mais de 15% desde janeiro desse ano frente ao dólar* – nos colocando em primeiro lugar entre os principais países emergentes. Ou seja, o bom e velho “o dólar caiu”!
Dólar: qual a relação entre a taxa de câmbio e o real?
A taxa de câmbio é a relação entre o valor da nossa moeda (o real) e outras moedas. Quando a taxa de câmbio está valorizada, o real está comprando mais moeda estrangeira. Já quando ela está desvalorizada, o real compra menos moeda estrangeira.
Por que o dólar caiu?
Abaixo, te contamos os principais motivos por trás da recente queda do dólar por aqui (no caso, da valorização do real).
A alta das commodities
O valor negociado internacionalmente de insumos básicos, como alimentos, metais como minério de ferro, gasolina e gás natural, já vinha acelerando no começo do ano, puxados pela demanda de economias normalizando da pandemia da Covid-19.
Com a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, esse movimento de alta de preços só se fortaleceu. Isso porque ambos os países envolvidos são grandes produtores de commodities; com a guerra impossibilitando transporte e plantio, e as sanções implementadas contra a Rússia afetando as exportações do país, a oferta desses insumos no mundo caiu. Resultado? O preço subiu mais.
E o dólar com isso? De maneira simplificada, como o Brasil é um grande produtor e exportador de diversas commodities (que são negociadas em dólares, no mercado global), quando o preço dessas sobe, mais dólares entram no país, valorizando nossa moeda.
Isso acontece tanto diretamente, via exportações e entrada de moeda estrangeira, quanto indiretamente – por meio de investimentos em nossas empresas do setor. Afinal, o Brasil é a casa de diversas gigantes do agronegócio e da indústria mineral, muitas delas com ações negociadas na bolsa. Já que os investidores vivem de antecipar resultados, a expectativa de bons retornos em dólares atrai investimentos para cá.
Quanto mais dólar entrando, menos ele “custa”.
A alta dos juros
Com a nossa taxa básica de juros subindo por aqui, fica relativamente mais atraente para investidores colocar dinheiro aqui. Isso ocorre, pois a taxa Selic é base de todas as outras taxas de juros da economia; assim, quando ela sobe, vemos os retornos de diferentes ativos no país também subirem, como títulos de renda fixa. Maiores retornos atraem mais capital estrangeiro.
O movimento de alta dos juros nos Estados Unidos pode prejudicar esse fluxo adiante, mas por ora, a diferença entre os nossos 11,75% de Selic e o nível de 0,25% – 0,50% de juro básico nos Estados Unidos segue bastante significativa, mesmo considerando o nível de inflação nos dois países (o que chamamos de juro real).
“Liquida tudo Brasil”
Por conta principalmente do cenário macroeconômico e político conturbado do final do ano passado, especialmente a alta do risco fiscal, os ativos brasileiros passaram por um período forte de desvalorização. Ou seja, ficaram bastante descontados.
O Ibovespa, para se ter uma ideia, se encontra no maior patamar de desconto dos últimos 15 anos em relação à Bolsa americana – como podemos ver no gráfico abaixo. Assim, para parte dos investidores estrangeiros, os preços baixos passam a compensar o risco de se investir por aqui, mesmo com os mesmos desafios domésticos observados no ano passado.
Rotação de investimentos
Como contamos no “Onde Investir” de fevereiro, o processo em andamento de alta de juros nos Estados Unidos vem impulsionando um movimento nas bolsas globais que chamamos de rotação.
Esse fenômeno se refere à migração de investidores de ações de empresas consideradas de Crescimento – que tem maior parte do seu lucro projetado no futuro, e assim, sofrem mais com a alta dos juros e encarecimento do crédito – para ações consideradas de Valor, que geram valor hoje, sendo menos sensíveis a alta de juros.
A normalização das economias da pandemia também fortalece esse movimento, já que setores mais tradicionais como commodities e bancos, costumam acompanhar mais o crescimento econômico global.
Com uma bolsa composta por 40% de empresas de commodities e 24% do setor financeiro, o Brasil acaba se tornando um destino dessa “dinheirama da gringa”.
O real está desvalorizado?
E agora? Devemos esperar que o dólar siga caindo? Qual o limite dessa queda? Para responder a essa pergunta, pedimos ajuda aos universitários. Ou melhor, aos modelos matemáticos!
Para entender o limite da queda do dólar hoje, precisamos entender se o real está desvalorizado, valorizado ou em linha com seu valor estrutural. Em outras palavras, nossa moeda está valendo mais, menos ou o que deveria valer – em relação ao comportamento histórico, e a tudo aquilo que esperamos que explique o valor da nossa taxa de câmbio?
Em relação ao padrão histórico, a resposta é simples: sim, o real ainda está desvalorizado. Como vemos no gráfico, que mostra a taxa de câmbio corrigida pela inflação desde 1995 (ano da implementação do real), contra uma cesta de 16 moedas, o real em meados de janeiro estava 20,9% acima (mais desvalorizado) do que a média pós-Plano Real.
Mas a história não é suficiente para uma análise acurada. Assim, recorremos a modelos mais sofisticados, que levam em consideração variáveis econômicas que influenciam a valorização e desvalorização da nossa moeda. Entre as principais, podemos destacar:
- Saldo das contas externas: grosso modo, o que transacionamos com o mundo em bens e serviços, e investimentos;
- Nosso diferencial de produtividade: quanto produzimos por trabalhador no Brasil, comparado a outros países;
- O risco fiscal: qual a percepção de risco de investidores em relação à sustentabilidade das nossas contas públicas;
- Diferencial de taxa de juros: qual o nível relativo da nossa taxa básica de juros, comparado a outros países.
Além desses elementos, que chamamos de “estruturais” por mudarem menos no curto prazo, alguns modelos também incluem fatores de curto prazo – que também impactam o valor da nossa moeda, por conta dos movimentos de compra e venda no mercado.
Esses incluem: o risco país (medido pelo famoso CDS), o preço de uma cesta de commodities, o valor do dólar contra outras moedas, e a diferença entre nossos juros básicos e o dos EUA (considerado como de menor risco do mundo).
Então, finalmente, o que indicam os modelos que usam todos esses dados estatísticos? Os modelos indicam que o real está desvalorizado.
Quanto o real está desvalorizado?
Considerando o modelo que usa variáveis de mercado de curto prazo, nossa moeda estaria próxima a 4,35 reais por dólar, ainda abaixo dos 4,80 cotados no momento quando escrevemos esse relatório.
O gráfico abaixo mostra a dinâmica observada hoje na nossa moeda (que chamamos de “real”, em laranja), e aquela que seria a dinâmica indicada pelo modelo (que chamamos de “ajustado”, em azul).
A mesma conclusão é tirada quando olhamos para modelos que utilizam variáveis estruturais (conforme falamos acima) por um período mais longo: o real está desvalorizado. Porém, já vemos que a cotação atual se aproxima mais do indicado pelo modelo.
Os resultados apontam um intervalo de “câmbio justo” entre 4,2 e 4,75 reais por dólar.
Vale destacar que esses modelos também consideram o efeito da inflação no período – por isso, são modelos de câmbio real. À taxa de câmbio corrigida pela inflação, dá-se o nome de taxa de câmbio real.
Assim, apesar de os modelos indicarem que o real segue desvalorizado, já estamos nos aproximando de um valor “justo” ou “estrutural” da nossa moeda.
Para onde vai o dólar? O risco que não medimos
Certo, concluímos que o real segue um pouco desvalorizado em relação ao histórico, e aos modelos estatísticos. Nossos exercícios sugerem que o real poderia estar entre 4,2 e 4,75 reais por dólar.
Então, isso significa que devemos esperar o que real siga caindo mais, convergindo para os valores “justos” no curto prazo? Ou seja, devo esperar o dólar cair muito mais, ou se mantenha por mais tempo em tendência de queda?
Não, necessariamente…
Mantemos nossa visão de que o câmbio oscilará bastante ao longo do ano.
Isso porque não são somente os fatores “quantificáveis” que impulsionam a valorização ou a desvalorização da nossa moeda. Como contamos em detalhes aqui, apesar de a taxa de câmbio ser uma variável macroeconômica, que em teoria se move de acordo com todos os fatores que falamos no texto, ele também é um instrumento financeiro.
Assim, ela é precificada como os outros ativos financeiros: de acordo com a percepção de risco (em ter aquele ativo) investidores. No caso, o risco de se comprar reais e ativos que são precificados em reais.
E é aí que entram Brasília, os ruídos políticos e, em especial, o risco fiscal. Como contamos aqui, o risco fiscal engloba todo o risco que agentes de mercado precificam para emprestar dinheiro ao Brasil. Seja por meio de títulos públicos, títulos privados, ações, ou voilá, nossa moeda.
Assim, sabemos que os riscos fiscais e políticos (muito mais difíceis de serem “calculados” em modelos) devem ganhar força sobre os ativos brasileiros conforme nos aproximarmos das eleições de outubro.
Projetamos uma taxa de câmbio de R$/US$ 5,20 para o final desse ano. Para o final de 2023, esperamos alguma depreciação com o fim do choque de preço de commodities que vemos hoje, chegando a R$/US$ 5,30.
Não compre dólar, invista em dólar
Como vimos, há muitos fatores por trás dos movimentos do dólar – e nem os próprios modelos matemáticos conseguem projetar ou explicar claramente o vai e vem das moedas.
Assim, quando se trata dos seus investimentos, o importante é saber diferenciar entre “investir no dólar” e “investir em dólar”.
Quando falamos do primeiro, a volatilidade e falta de previsibilidade não tendem a combinar com uma carteira equilibrada e de longo prazo – a não ser, é claro, que o objetivo seja garantir o valor do seu dinheiro para uma viagem específica para fora do país, como falamos aqui.
Já quando falamos de “investir em dólar”, normalmente estamos nos referindo ao investimento internacional, em ativos dolarizados – como ações de empresas estrangeiras e fundos internacionais.
Aí sim, esse investimento seguirá tendo um papel importantíssimo na sua carteira, para diversificação de riscos entre geografias, além de trazer oportunidades em setores que não necessariamente temos por aqui, como de alta tecnologia.
Entenda mais sobre investimentos internacionais, e todas as nossas recomendações de investimento para esse mês aqui em nosso Onde Investir!
*Cotação US$ / R$ utilizada do dia 25 de março de 2022.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
1) Este relatório de análise foi elaborado pela Rico Investimentos, que é uma marca da XP Investimentos CCTVM S.A. (“Rico”) de acordo com todas as exigências previstas na Resolução CVM nº 20/2021, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer produto. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. A Rico não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório.
2) Este relatório foi elaborado considerando a classificação de risco dos produtos de modo a gerar resultados de alocação para cada perfil de investidor.
3) O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação à Rico e que estão sujeitas a modificações sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado, e que sua(s) remuneração(es) é(são) indiretamente influenciada por receitas provenientes dos negócios e operações financeiras realizadas pela Rico.
4) O analista responsável pelo conteúdo deste relatório e pelo cumprimento da Resolução CVM nº 20/2021 está indicado acima, sendo que, caso constem a indicação de mais um analista no relatório, o responsável será o primeiro analista credenciado a ser mencionado no relatório.
5) Os analistas da Rico estão obrigados ao cumprimento de todas as regras previstas no Código de Conduta da APIMEC para o Analista de Valores Mobiliários e na Política de Conduta dos Analistas de Valores Mobiliários do Grupo XP.
6) Os produtos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor. Este material não sugere qualquer alteração de carteira, mas somente orientação sobre produtos adequados a determinado perfil de investidor.
7) A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço ou valor pode aumentar ou diminuir num curto espaço de tempo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos. As informações presentes neste material são baseadas em simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes.
8) Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da Rico. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da Rico.
9) SAC. 0800 774 0402. A Ouvidoria da Rico tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800-722-3730.
10) O custo da operação e a política de cobrança estão definidos nas tabelas de custos operacionais disponibilizadas no site da Rico: https://www.rico.com.vc/custos. 11) A Rico se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste relatório ou seu conteúdo.
12) A Avaliação Técnica e a Avaliação de Fundamentos seguem diferentes metodologias de análise. A Análise Técnica é executada seguindo conceitos como tendência, suporte, resistência, candles, volumes, médias móveis entre outros. Já a Análise Fundamentalista utiliza como informação os resultados divulgados pelas companhias emissoras e suas projeções. Desta forma, as opiniões dos Analistas Fundamentalistas, que buscam os melhores retornos dadas as condições de mercado, o cenário macroeconômico e os eventos específicos da empresa e do setor, podem divergir das opiniões dos Analistas Técnicos, que visam identificar os movimentos mais prováveis dos preços dos ativos, com utilização de “stops” para limitar as possíveis perdas.
13) Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor.