Resumo do dia: O que vem depois da ressaca?

Após 30 pregões sem chegar a cair 1%, as bolsas americanas tiveram ontem um dia de ressaca, ou melhor, de sell-off, com quedas entre 2,78% e 4,96% – destaque para as empresas de tecnologia, que despencaram e são tema do nosso insight de hoje (leia a seguir). Hoje, os movimentos são mistos: altas de até 0,5% para S&P e Dow, mas Nasdaq em queda. Na Europa, o Stoxx 600 sobe 0,5%.

A expectativa recai sobre os dados de folha de pagamentos (payroll) nos EUA, que serão divulgados 9:30. Economistas estimam que o país tenha criado mais de 1 milhão de empregos ao longo de agosto e que a taxa de desemprego fique abaixo de 10%.

No Brasil

Ontem, o Ibovespa fechou em queda de 1,2% seguindo o mau humor mundial. A proposta de reforma administrativa do governo foi enviada em um escopo mais enxuto do que era almejado pelo ministro Paulo Guedes e não apresentou nenhum número concreto de potencial de economia de recursos. Mesmo assim, a entrega trouxe uma sinalização positiva.

À noite se destacaram notícias do desgaste no relacionamento entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia e Paulo Guedes. Maia declarou que passará a se comunicar sobre votações importantes com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, porque Guedes teria proibido o diálogo com secretários da área econômica.

A lembrar: na segunda-feira, 07 de setembro, as bolsas no Brasil e EUA não terão negociações devido a feriados nacionais (não, os gringos não comemoram a independência do Brasil – por lá, o feriado é o Labor Day, sempre na primeira segunda-feira de setembro). Voltamos a nos “ver” na terça!  

Insight Rico: Afinal, estamos numa bolha?

(por Betina Roxo) 

No geral, planejamos as pautas dos Insights dos Rico Matinais com antecedência e por isso, o de hoje sobre tech (este que vos apresento), já estava previsto. Mas assim, que timing heim?

Ontem, as ações de tecnologia – as mesmas que fizeram as bolsas americanas renovarem máximas no último mês – levaram a Nasdaq à sua maior queda desde junho, despencando quase 5%.

As ações da Apple cairam 8% – perdendo mais de US$ 180 bilhões do valor de mercado (tipo assim, um pouco mais do valor de Vale, Ambev, Magazine Luiza, Weg e B3 juntas) – enquanto Amazon, Alphabet (Google) e Microsoft caíram mais de 4% e outras superstars do momento como Tesla e Zoom tiveram quedas ainda maiores (9-10%).

Vocês, caros 13 leitores, já sabem que as ações de tecnologia se beneficiaram da crescente demanda dos investidores nos últimos meses, mas vale lembrar que já têm dividido as opiniões sobre a sustentabilidade dessa alta.

Além disso, as muitas apostas nos mercados de derivativos aumentaram as expectativas de grandes oscilações de preço por vir e estimularam o que alguns traders identificam como “Feedback Loop”, ou seja, um círculo virtuoso (ou vicioso, dependendo do seu ponto de vista) em que as apostas de opções de alta provocam novos aumentos nos preços das ações.

“O Cículo Virtuoso ou O Círculo Vicioso? “

Basicamente, quando um investidor compra uma opção de compra acima do preço atual da ação – uma aposta no aumento do preço, que possui o direito de comprar as ações a um preço fixo no futuro – o vendedor da opção de compra muitas vezes protege essa posição comprando as próprias ações, pressionando para cima o preço.

Isso gera esse “círculo virtuoso/vicioso” de pressão para cima, já que o aumento do preço das ações leva a novas compras para cobrir posições, o que também aumenta a volatilidade do papel.

Nota: círculo vicioso = sequência de acontecimentos ruins que desencadeiam outros ruins. Círculo virtuoso = círculo de acontecimentos positivos. Deixo para você escolher em qual círculo estamos. Voltemos…

E, de fato, as expectativas de volatilidade futura na Nasdaq 100, índice que reúne as 100 maiores empresas, dominado pela Apple e outros gigantes da tecnologia, dispararam para a maior alta de 16 anos em relação ao resto do mercado esta semana.

Opções da ação Apple, a mais popular, responderam por 4,7% das negociações de opções de uma ação individual em agosto, 50% acima da média. A Tesla respondeu por 2,6% de toda a atividade de negociação no mês passado.

Outro catalisador que impulsiona a volatilidade implícita para cima é um aumento dos investidores que compram opções de venda – que bloqueiam um preço pelo qual podem vender no futuro – para proteger seus ganhos substanciais para o ano corrente.

No entanto, o volume negociado de opções de compra tem sido muito maior do que o volume negociado de opções de venda (gráfico abaixo), o que leva a um movimento de alta no preço das ações e alta da volatilidade implícita, algo que não é usual, dado que, quando o mercado está indo bem, a demanda por opções (que nada mais é que uma proteção), em geral é menor, levando a uma queda da volatilidade implícita.

Estamos em uma bolha?

Ok, entendemos a pressão de alta para além dos estímulos econômicos e do positivismo quanto aos resultados das empresas de tech (talvez de um jeito técnico demais para uma sexta-feira, perdoem-me). Mas, afinal, estamos numa bolha?

Ou melhor, uma pergunta anterior a essa: Quais são os fatores comuns nos excessos, que levam à formação de bolhas de preços?

  1. Excesso de liquidez – cenário que já existe no mundo, dada toda a injeção recorde de dinheiro;
  2. Excesso de otimismo – de fato, mais forte no setor de tech, mas não na bolsa inteira;
  3. Premissas exageradas sobre o futuro – o que não acontece atualmente a respeito do todo e sim, em alguns casos específicos, que são realmente mais difíceis de justificar o valor.

Dito isso, as ações de tecnologia podem ser candidatas a entrarem em um cenário de bolha de preços, em que os preços se descolam dos fundamentos e um frenesi para comprar as ações acontece (de novo, sem base em fundamento).

A Tesla, com seus quase 400% de performance no ano, deve ter vindo à sua cabeça. Porém, para o setor de tecnologia como um todo, é difícil justificar que já estamos em uma bolha de preços atualmente.

Isso porque o setor de tecnologia está disruptando uma série de indústrias no mundo (mídia, financeiro, varejo, transportes, dentre outros). Além disso, o setor foi o maior vencedor no mundo pós pandemia, com a aceleração significativa das tendências de tecnologia e digitalização.

Por isso, as tech viraram superstars e têm crescido rapidamente. Os resultados do 2º trimestre, durante a pandemia, comprovaram isso, dado que as empresas de tecnologia foram as que mais surpreenderam positivamente.

Porém, todavia, contudo, entretanto… se essa alta meteórica de preços das ações do setor no mundo continuar a se espalhar além de apenas alguns nomes específicos e se tornar uma tendência mais ampla de preços se desvinculando completamente dos fundamentos, com os investidores comprando apenas na euforia e na aposta, então, assim poderemos viver uma nova bolha de preços de ativos no mundo.

Obs: por ora, o preço/lucro de 2021 da Nasdaq parece estar em um patamar “saudável”. Ainda mais se levarmos em consideração o ambiente de juros baixíssimos (no caso dos EUA, próximo de zero).

Bom, sei que já disse isso, mas não custa lembrar: quer saber como se posicionar em setembro? Clique aqui para acessar o nosso De Olho no Mercado. 

Agenda da Semana
Sexta-feira, 04
09h30: EUA – Relatório de emprego (Payroll)
09h30: Canadá – Variação no emprego mensal