• Apesar de muito “vai e vem”, os principais fatores que afetam o câmbio seguiram e seguirão os mesmos: o que compramos e vendemos ao mundo, a diferença entre as taxas de juros no Brasil e no mundo, o “seguro Brasil” para investidores.
  • Mas nem sempre tudo corre conforme a teoria, e o dólar segue muito acima do que preveem os modelos.
  • Incertezas políticas e o famoso risco fiscal (ele, de novo) são o motivo por trás disso.
  • Para frente? Esperamos um arrefecimento do clima de Brasília, que leve a percepção de risco junto, e o real para cima. Mas o cenário de risco existe, podendo manter o dólar em patamares elevados.
  • O que fazer? Há oportunidades e proteção em momentos como esse, inclusive em ativos internacionais – uma parcela essencial para diversificar sua carteira diante de movimentos inesperados no câmbio, por exemplo.

Para os nossos queridos leitores assíduos, o tema desse artigo não é grande novidade: o câmbio. Afinal, já falei sobre o movimento do dólar pra vocês aqui há alguns meses, e também lá no ano passado – por aqui.

“Mas já faz muito tempo que você escreveu esses dois artigos, não vale mais nada”, você pode estar pensando. Na realidade, mais ou menos. É claro que muito aconteceu no Brasil e no mundo de lá para cá, especialmente desde novembro do ano passado. Isso fica claro no próprio movimento do real, como podemos ver no gráfico abaixo.

Mas os principais fatores que afetam o câmbio (ou seja, o valor do real em relação a outras moedas) invariavelmente seguiram e seguirão os mesmos.  

Por que (e como) o dólar varia?

Como assim os fatores que afetam o valor do dólar são os mesmos, ele valendo R$ 6,00 ou R$ 3,00? Isso ocorre porque o valor da nossa moeda se movimenta seguindo uma série de variáveis macroeconômicas, e é isso que fará a nossa moeda valer mais ou menos em relação a outras.

Esse movimento de sobe e desce no câmbio só é possível por vivermos em um regime de câmbio flutuante e de livre fluxo de capitais. Ou seja, o nosso câmbio aprecia e deprecia e o dinheiro é praticamente livre para entrar e sair do país. Do contrário, em um regime de câmbio fixo, o valor do real em relação ao dólar seria sempre o mesmo, mas acabaríamos tendo outros enormes desafios, como a necessidade de manter uma taxa de juros muito elevada.

Mas que variáveis são essas, que empurram o câmbio pra lá e pra cá? Como o valor de uma moeda em relação a outra é uma questão primordial de oferta e demanda (quanto mais dólares aqui dentro, menos reais precisaremos para comprar um dólar), o resultado das nossas contas externas (ou seja, nossas transações comerciais e financeiras com o mundo) é um dos principais fatores que explicam para qual direção se move o câmbio.

Quando vendemos mais (e/ou mais caro) ao mundo, o fluxo de moeda estrangeira que entra no país ajuda o nosso câmbio a valorizar. Assim, o preço do que vendemos comparado ao preço do que compramos também é uma variável bastante usada para projetar o valor do câmbio – são os termos de troca. Quanto melhor os termos de troca, mais apreciada a moeda.

Outro fator relevante para determinar o câmbio é a diferença entre os juros praticados no Brasil e aqueles observados no restante do mundo, especialmente nos EUA. O chamado “diferencial de juros” é importante, pois é uma comparação de quanto um investidor ganharia com juros por aqui e quanto ganharia em um país considerado menos arriscado, como os EUA ou outros desenvolvidos. Quanto maior a diferença (entre as taxas de juros), mais dinheiro atraído ao Brasil, e mais apreciado o câmbio.

Assim, colocando esses e alguns outros elementos, como a medida de risco país por meio do CDS (espécie de seguro contra a variação da moeda), em um modelo matemático, tentamos projetar para onde vai caminhar o real. Ou, olhando do outro lado, o dólar.

Brasília, de novo

Mas nem sempre tudo corre conforme a teoria. Com mais frequência do que desejamos, aqueles indicadores que são normalmente incluídos nos complexos modelos matemáticos indicam um valor diferente daquele observado na realidade. No caso atual, essa realidade é um valor bastante abaixo do que sinalizam as principais variáveis macroeconômicas. Em outras palavras, o dólar poderia (ou deveria, para alguns) estar mais baixo.

Assim, fica fácil concluir que há outras explicações para o real (ou o dólar, se preferir) estar onde está hoje. E, surpresa!, essas começam e terminam por aqui mesmo; mais especificamente, nos movimentos, ruídos e incertezas que partem de Brasília.  

Por quê? Porque, apesar de o câmbio ser uma variável macroeconômica, que em teoria se move de acordo com todos os fatores que descrevi logo acima, ele também é um instrumento financeiro. Portanto, ele é precificado assim como os outros ativos financeiros: de acordo com a percepção de risco (em ter aquele ativo) investidores. No caso, o risco de se comprar reais, ou mesmo outros ativos (como ações e títulos) que são precificados em reais.

E é aí que entram Brasília, os ruídos políticos e, em especial, o risco fiscal. Como contei pra vocês essa semana, o risco fiscal engloba todo o risco que agentes de mercado precificam para emprestar dinheiro ao Brasil. Seja por meio de títulos públicos, títulos privados, ações, ou voilá, nossa moeda.

E como também já contamos para vocês, por exemplo aqui, a percepção do risco fiscal em relação ao Brasil aumentou muito nos últimos meses. Por conta de uma série de fatores que sambam em torno de uma simples questão: gastar mais, com um orçamento apertado. Nisso, entram discussões sobre o parcelamento de dívidas judiciais (os famosos precatórios), potenciais flexibilizações na regra do teto de gastos, e a criação de um novo e maior programa de transferência de renda.

Assim, temos a tempestade formada: a elevada percepção de risco por parte de investidores procura onde se alocar, e encontra ninho confortável no câmbio. O valor do Real, então, sobe como consequência do aumento da percepção de risco sobre o Brasil e da efetiva compra de dólares e venda de reais no mercado.

Quanto maior a percepção de risco, mais baixo falam as questões estruturais, e mais longe ficamos do valor “modelado” de onde deveríamos ver o dólar.

E agora, o que esperar?

Diante de tudo isso, o que esperar para o dólar olhando pra frente? Bora quebrar o cofrinho e preparar as malas pra Disney pós pandemia, ou segurar as pontas e aguentar um real mais fraquinho por um tempo?

Infelizmente, como você deve ter percebido nessa longa história que contei aqui, projetar para onde vai o dólar é um trabalho bastante ingrato para nós, pobres economistas. Mas o que posso te contar é que esperamos que essa elevação de percepção de risco mais aguda perca força nos próximos meses, caso o desfecho das discussões em Brasília caminhe para a manutenção das nossas regras fiscais atuais. Ou seja, caso não seja decidido que haverá mais gastos para o ano eleitoral de qualquer maneira por meio de soluções mirabolantes, que levariam o teto de gastos “para o beleléu”.  

Deste modo, o real poderia seguir seu caminho de apreciação, levado pelos benditos fatores estruturais, chegando em R$ 4,90 até o final do ano.

Porém, um cenário de risco contrário também é possível, o que poderia elevar ainda mais a percepção de risco, carregando junto nossa moeda e a mantendo em patamares elevados como o atual.  

E essa seria a hora de jogar tudo pro alto, especialmente investimentos em real, ou esquecer ativos internacionais, com o dólar assim tão alto? Não, e também não. Porque, como sempre, o seu dinheiro pode sim encontrar oportunidades e proteção em momentos de estresse como esse, inclusive em ativos internacionais – uma parcela essencial para diversificar sua carteira diante de movimentos inesperados no câmbio, por exemplo. A gente conta tudo por aqui!

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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