Recentemente, o preço do petróleo voltou aos holofotes de investidores e analistas, diante da forte alta registrada no ano, que já soma 14%, negociando perto de US$88 o barril (considerando o preço Brent – medida utilizada no mercado global).
Esse movimento é uma combinação de:
(i) tensões geopolíticas crescentes no mundo envolvendo regiões onde o petróleo é produzido;
(ii) redução de produção pelo cartel global de produtores da commodity, a OPEP+;
(iii) necessidade de recomposição de estoques estratégicos nos Estados Unidos; e
(iv) melhores perspectivas para o crescimento global, o que poderia aumentar a demanda.
Caso os preços do “ouro negro” sigam em elevação, os principais impactos na economia no Brasil e no mundo incluem a alta da inflação e a manutenção dos juros altos por mais tempo – impactando investimentos de diferentes tipos ao redor do mundo, da renda fixa às ações.
Mas a alta do petróleo também pode significar oportunidades de investimento, de olho em diferentes empresas que atuam no setor, da exploração à produção e distribuição no Brasil e no mundo.
Detalhamos tudo isso nas seções abaixo.
O que está acontecendo com o petróleo?
Volatilidade: a realidade nos preços de petróleo
Volatilidade parece ser a pedra filosofal quando se trata de preços do petróleo, desde que esse combustível fóssil começou a ser usado como fonte de energia, ainda no século XIX, até se tornar responsável por praticamente 30% da matriz energética global – ou seja, a principal fonte de energia utilizada no mundo.
E os últimos anos não foram exceção ao olharmos para o “sobe e desce” dos preços dessa commodity. Para ilustrar, o preço do barril de petróleo (Brent) foi de aproximadamente US$70,00 em abril de 2019, passando por extraordinários US$ 17,00 um ano depois (em abril de 2020), antes de subir para recordes US$ 134,00 em março de 2022, para chegar aos US$ 88,0 registrados na manhã de 24 de abril de 2024.
O vai e vem dos preços do chamado “ouro negro” é explicado pelo fato de que a commodity tem forte relação com o estado da economia global, além de eventos políticos e geopolíticos relacionados a sua exploração, produção e distribuição.
Assim, o que vemos no gráfico acima é reflexo de uma série de movimentos observados nos últimos anos que impactaram a economia e o cenário global, como por exemplo a eclosão da pandemia da Covid-19 – quando o medo generalizado de uma recessão global derrubou os preços de petróleo a ponto de o contrato futuro WTI (referência de preço no mercado americano) ser cotado a preços negativos, um evento sem precedentes na história.
Já o salto observado em março de 2022 reflete a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, dado o envolvimento direto no conflito de um dos maiores produtores da commodity do mundo – e as esperadas sanções impostas à comercialização de petróleo russo, que reduziram a oferta e elevaram o preço de energia ao redor do mundo.
Mais recentemente, a piora dos conflitos geopolíticos no Oriente Médio e na região do Mar Vermelho, caracterizada pela grande exploração de petróleo, tem adicionado pressão e volatilidade aos preços de petróleo nos mercados globais.
Falamos mais sobre a situação no Oriente Médio aqui.
O que (e quem) determina os preços de petróleo no mundo?
Assim como outras commodities, como soja e minério de ferro, o preço do petróleo nos mercados globais é determinado com base na relação entre oferta e demanda por tal insumo.
De maneira simplificada, quanto maior a oferta de petróleo no mundo, menor o preço do petróleo (e vice-versa), desde que a demanda siga a mesma. E quanto maior a demanda, maior o preço (e vice-versa), desde que a oferta siga a mesma.
E o que vemos em termos de oferta e demanda atualmente?
Do lado da demanda, a economia global vem se provando mais resiliente do que o esperado para o pós-pandemia, especialmente nos Estados Unidos enquanto muitos países apontam para uma forte retomada no crescimento, como Índia, China e mesmo o Brasil. Esse crescimento tende a elevar a demanda por insumos energéticos, como o petróleo.
Já do lado da oferta, a queda do investimento no setor de petróleo e gás (diante do esforço de muitos governos em reduzir a dependência em combustíveis fósseis, incentivando fontes alternativas de energia) contribuiu para reduzir a oferta da commodity no mundo nos últimos anos.
Nesse cenário, vimos uma forte queda nos estoques estratégicos de petróleo nos Estados Unidos, que chegaram perto das mínimas desde a década de 1980 – após uso elevado para atenuar os impactos da alta nos preços observada nos últimos anos.
Por outro lado, estoques na China seguem abastecidos, enquanto a produção de petróleo originário do gás de xisto nos Estados Unidos registra fortes elevações.
Ainda do lado da oferta, vale destacar a atuação da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). A organização fundada na década de 1960 pelos então principais produtores de petróleo do mundo, em sua maioria na região do Oriente Médio, atua até hoje de maneira a coordenar a produção e a oferta de petróleo entre seus membros – impactando, assim, os preços da commodity praticados em mercados ao redor do mundo.
Nos últimos anos, sob a liderança da Arábia Saudita, a OPEP tem defendido cortes na produção de petróleo, evitando a queda nos preços diante da maior produção global. Embora essa atuação tenha sido limitada diante da oposição de alguns países membro (que tem optado por manter ou mesmo aumentar a produção de petróleo), entendemos que a organização seguirá defendendo reduções na oferta até que os preços atinjam um patamar mais elevado.
Em resumo: o equilíbrio entre oferta e demanda de petróleo no mundo segue incerto, porém, com viés de uma oferta reduzida diante de demanda em crescimento – cenário que tende a pressionar os preços da comodity.
Os eventos geopolíticos em vigência no mundo, como falamos, tendem a contribuir para esse cenário de preços pressionados.
Impactos do petróleo em alta na economia
Preços de petróleo em alta colocam em risco dois movimentos que temos visto (e esperado) na economia global: a queda da inflação e a consequente redução nas taxas de juros.
Isso porque petróleo mais caro significa elevação de diversos outros preços na economia: dos combustíveis de carros e caminhões que transportam alimentos, ao plástico dos eletroeletrônicos e ao poliéster de roupas. Afinal, como falamos, o petróleo representa a principal fonte de energia utilizada no mundo, além de ser matéria prima para diversos bens industriais.
A disparada dos preços do petróleo do início desse ano já provoca efeitos que chegam à ponta final do consumo. Para se ter uma ideia, os preços da gasolina no mercado americano (que seguem os preços internacionais) já sobem cerca de 33% desde o início do ano, impactando a renda disponível dos consumidores.
Petróleo alto, preço da gasolina alto?
No Brasil, os preços de gasolina (na “bomba” ao consumidor final) são dependentes da política de preços praticada pela Petrobras, que determina o preço dos combustíveis nas refinarias.
Essa política considera uma série de fatores, incluindo os preços internacionais de petróleo, mas também fatores como a dinâmica de produção da Petrobras e do mercado de substitutos existentes no país.
Explicamos a política de preços da Petrobras em detalhes aqui.
Atualmente, projetamos que os preços de gasolina praticados no Brasil estão defasados em quase 30% em relação aos preços internacionais. Ou seja, estão mais baixos. Olhando para frente, entendemos que a Petrobras deve reajustar os preços parcialmente (e potencialmente em um momento de maior estabilidade dos preços), com reajuste de 7% na gasolina e 5% no diesel em junho.
Dito isso, se os preços de petróleo seguirem em alta no mercado global, podemos ver mais reajustes, e maior impacto na inflação por aqui.
Petróleo, inflação e juros
Nesse contexto de maior risco para a inflação vindo dos preços de petróleo, a esperada queda nos juros no mundo desenvolvido é colocada em xeque. Em outras palavras: cresce a probabilidade de seguirmos vendo juros altos por mais tempo no mundo, especialmente nos Estados Unidos, mas por aqui também.
Juros altos, por sua vez, tendem a prejudicar investimentos de maior risco, como ativos brasileiros em relação a outros no mundo, e aqui dentro investimentos como ações (em relação principalmente à renda fixa).
Te contamos tudo sobre o tema de “juros altos por mais tempo” aqui.
Como investir?
Apesar dos riscos na economia e nos mercados associados com o movimento de alta nos preços de petróleo, esse cenário também pode significar oportunidades de investimento.
Para investir nessa temática, é possível comprar ações de empresas envolvidas nas diversas etapas da cadeia produtiva da commodity, tanto do Brasil quanto de fora – por meio de BDRs, que são recibos de ações estrangeiras negociados na bolsa brasileira.
Abaixo, elencamos algumas alternativas para investir no setor.
Ações brasileiras
Prio:
A PRIO é a nossa principal escolha do setor, principalmente dado as nossas projeções de crescimento de produção e geração de fluxo de caixa da empresa.
Como principal risco vale destacar que as ações da empresa têm sofrido diante de preocupações quanto ao atraso de licenças ambientais, que podem resultar no adiamento do desenvolvimento de um novo campo de produção. Porém, vemos esse problema como temporário.
Para a PRIO3 possuímos recomendação de compra, com preço alvo de R$67,20.
Petrobras:
As ações da gigante do petróleo brasileira passaram por uma forte alta no ano passado, explicada principalmente pela revisão de lucros projetados para o futuro e pela forte produção acima do esperado. E qual nossa visão adiante?
Por um lado, esse desempenho positivo aproximou o preço justo avaliado da Petrobras de grandes pares europeus e chineses; ao mesmo tempo, potenciais fusões e aquisições na empresa também se destacam como potenciais riscos. Por outro lado, entendemos que a empresa segue “barata” do ponto de vista do preço de sua ação, e o crescimento esperado para a produção nos próximos anos segue bastante forte (perto de 30%).
Nesse cenário, possuímos recomendação de compra para PETR4/PETR3, com preço alvo de R$45,10.
PetroReconcavo:
A PetroReconcavo passou diversos desafios no ano de 2023, principalmente devido a restrições associadas à infraestrutura de terceiros.
Embora ainda vejamos a empresa gerando retornos mais baixos ao investidor (em comparação com a Petrobras ou a PRIO) em 2024, entendemos que a situação deve melhorar em 2025, possibilitando o crescimento de investimentos no negócio.
Assim, possuímos recomendação de compra para RECV3, com preço alvo de R$27,70.
BDRs (recibos de ações estrangeiras negociadas na bolsa brasileira)
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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