Não seja pego de calças curtas!
“Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.
Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor, porque ajudam a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores para os investimentos.
Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. Mas quer dizer que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.
Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. Abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.
Onde estamos? Juros altos, até quando?
No mundo, a pergunta que segue dominando os mercados é: “quando os juros vão começar a cair?”. Assim como no primeiro trimestre desse ano, a tônica dos mercados segue o momento de virada na política monetária em grande parte do mundo – ou seja, quando Bancos Centrais passarão a cortar os juros?
Embora a queda de juros no mundo desenvolvido seja bastante provável no futuro próximo, esse movimento deve ser gradual e diferente entre países. Isso porque, apesar de a inflação ter enfraquecido substancialmente desde os picos observados na pandemia e mesmo em comparação ao ano passado, o ritmo da alta de preços continua “teimosa” nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos.
Vale lembrar que juros altos têm o objetivo de controlar a alta de preços, encarecendo o crédito e desincentivando o consumo, desaquecendo a economia e a demanda por bens e serviços.
Para ilustrar, o resultado de março do indicador de inflação ao consumidor americano (CPI, em sua sigla em inglês), registrou alta acima do esperado na variação mensal, com destaque para preços no setor de serviços – que reacelerou sua elevação para o ritmo de 4,80% no comparativo anual, considerando a métrica excetuando preços mais voláteis, como habitação.
Em bom português: a inflação de serviços segue alta, apesar de os preços de bens (como carros, roupas e eletrodomésticos) já estarem bem mais comportados, e isso impede que o Banco Central comece a reduzir os juros tão cedo – ou tão rápido.
Vale destacar que os preços de serviços são essenciais para entender comportamento da inflação como um todo, sinalizando tendências adiante. Isso porque os preços no setor são menos impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); e mais pelo comportamento dos salários, além de, claro, o nível de demanda na economia.
Por isso que o comportamento do mercado de trabalho também tem grande importância nessa dinâmica. Afinal, com mais vagas disponíveis do que trabalhadores em busca de posições, a tendência é que os salários sigam crescendo em ritmo acelerado – aumentando a demanda por bens e serviços na economia.
Assim, dados recentes reforçando que o mercado de trabalho segue aquecido nos EUA reforçam a expectativa de uma queda de juros bastante cautelosa.
Além da inflação de serviços preocupante, incertezas sobre os preços de commodities aumentam a cautela, com destaque para o petróleo. Como podemos ver no gráfico abaixo, os preços de petróleo subiram substancialmente desde o início do ano, refletindo crescentes incertezas geopolíticas no Oriente Médio.
Nesse cenário, esperamos que o Fed (Banco Central americano) comece a reduzir os juros na maior economia do mundo apenas em dezembro.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, a China deve seguir lutando contra um crescimento mais fraco em 2024. O país ainda enfrenta desafios para retomar um ritmo de crescimento robusto, diante de uma crise no setor imobiliário e baixa confiança entre investidores, produtores e consumidores. Assim, mesmo com esforços do governo em impulsionar a economia, o crescimento nesse ano (e nos próximos) deve ser mais fraco do que os fortes saltos vistos nos últimos 20 anos.
Vemos o impacto dessa desaceleração, entretanto, como limitado para a economia brasileira. Nossas exportações devem seguir fortes para o país asiático, contribuindo para a manutenção das nossas contas externas sólidas (ou seja, com vendas para o mundo sólidas, em comparação com nossas importações), e contribuindo para que nossa moeda siga relativamente estável no ano. Falaremos mais sobre nossa visão para o real abaixo.
Enquanto isso, no Brasil
Mercado de trabalho, consumo das famílias e juros em baixa sustentam atividade econômica
Por aqui, a economia surpreendeu crescendo acima do esperado em 2023. Conforme divulgado no início de março, o PIB brasileiro cresceu 2,9% no ano passado, impulsionado principalmente pela produção agropecuária na primeira metade do ano, além do consumo das famílias e da extração mineral.
O mercado de trabalho aquecido, programas de benefício fiscal (que viram forte elevação desde meados de 2022) e a queda da inflação também são parte importante da explicação da boa performance da economia depois do fim dos impactos da supersafra agrícola da primeira metade de 2023. Para se ter uma ideia, o desemprego encerrou 2023 no patamar mais baixo desde o início de 2015, em 7,5%.
Essas forças ganharam tração esse ano, e devem seguir impulsionando a economia. Como já é possível observar nos dados do primeiro trimestre desse ano, os principais motores de crescimento econômico nesse ano incluem:
i) mercado de trabalho sólido: especialmente no setor de serviços, impulsionando salários (acima da inflação). Para ilustrar, a criação de vagas no setor privado no primeiro bimestre desse ano foi ainda mais forte do que o observado no mesmo período do ano passado – que já se mostrava forte em relação ao histórico;
ii) continuidade da queda de juros: embora o Banco Central tenha começado a reduzir a taxa Selic em 2023, os efeitos demoram a ser sentidos na economia e passaram a ganhar força nesse ano. Dados recentes apontam para uma melhora em fatores como inadimplência de famílias e empresas, além de maiores concessões de crédito;
iii) inflação bem-comportada: como detalhado abaixo, esperamos que a inflação siga relativamente estável ao longo do ano, encerrando 2024 em 3,5% – contribuindo para o crescimento esperado de 5% da renda real disponível das famílias.
iv) manutenção forte impulso fiscal: depois de uma forte expansão de gastos do governo em 2023, o aumento do salário-mínimo e a antecipação para esse ano do pagamento de R$ 100 bilhões vindos de precatórios (dívidas judiciais do governo para empresas e indivíduos) devem seguir “injetando dinheiro” na economia esse ano; e
v) exportações fortes: apesar da queda no preço de parte de nossos principais bens exportados (como soja), a quantidade exportada segue em níveis historicamente altos, especialmente comparado ao nível de importações.
Dito isso, como nem tudo são rosas, esse cenário benigno também possui riscos.
Primeiro, o baixo nível de investimento produtivo observado nos últimos anos, como em máquinas e equipamentos, é uma fonte de preocupação – embora os primeiros sinais desse ano sejam positivos. Além disso, o menor crescimento esperado para o setor agrícola diante de safras menos benignas pode prejudicar atividades relacionadas ao agro, especialmente no interior do país, como transporte de cargas e logística.
Finalmente, o mercado de trabalho bastante aquecido pode colocar em risco a inflação comportada. Falaremos disso na seção adiante.
Nesse cenário, vemos o PIB brasileiro crescendo 2,2% esse ano. Já para 2025, os efeitos dos juros em queda ainda sendo sentidos por aqui, adicionados aos impactos do ciclo de redução dos juros no mundo desenvolvido, devem impulsionar uma alta de 1,7% do PIB.
Inflação segue comportada, apesar de riscos no radar
Como contamos em detalhes aqui, o IPCA (nosso principal índice de inflação ao consumidor) registrou alta de 0,16% em março. O indicador seguiu sua trajetória de queda no acumulado em doze meses, caindo para 3,93% de 4,50% no mês anterior, ficando mais próximo da meta do Banco Central de 3,0%.
Quer saber mais sobre a política de metas de inflação? Te contamos aqui!
O resultado de março trouxe boas notícias para a inflação, especialmente no setor de serviços – que registrou relativa estabilidade no mês, após meses de alta. Vimos também a dissipação de efeitos sazonais de fevereiro (como mensalidades escolares e reajustes de assinatures), além de menores impactos do fenômeno climático El Niño nos preços de alimentos.
Olhando para frente, a inflação deve seguir bem-comportada nesse ano. A estabilidadeda inflação de custos no Brasil e no mundo (com preços de insumos como borracha, cobre e algodão), além da normalização dos preços dos alimentos devem contribuir para essa dinâmica benigna.
Além disso, claro, vale lembrar dos efeitos de uma taxa de juros ainda restritiva. Como detalhamos abaixo, entendemos que o Banco Central seguirá reduzindo nossa taxa básica de juros ao longo do ano; porém, o processo deve seguir gradual, reforçando os efeitos aos poucos da retirada do freio na economia – e, consequentemente, dos preços.
É claro, entretanto, que ainda existem riscos para esse cenário. No ambiente global, a incerteza geopolítica global – como falamos acima – já tem pressionado os preços de petróleo. Para ilustrar, a defasagem do preço da gasolina praticado no Brasil, em relação aos preços no mercado internacional, alcançou aproximadamente 20% em março.
Já por aqui, a inflação de serviços é uma das maiores preocupações. Vale destacar que os preços de serviços são essenciais para entender comportamento da inflação como um todo, sinalizando tendências adiante. Isso porque os preços no setor não são impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); e sim, pelo comportamento dos salários, além de, claro, o nível de demanda na economia.
Assim, com um mercado de trabalho aquecido e políticas de aumento de gastos por parte do governo (o que impulsiona a demanda), a luz amarela para esses preços segue acesa.
Nesse cenário, projetamos que o IPCA encerre 2024 em 3,7% e em 4,0% em 2025 – ambos acima da meta do Banco Central, mas dentro do seu limite superior.
E o dólar, vai para onde?
Após um começo de ano de relativa estabilidade, o segundo trimestre de 2024 começou marcado pela volatilidade da nossa taxa de câmbio – que atingiu o patamar de R$/US$ 5,20 em meados de abril, após fechar 2023 abaixo de R$/US$ 4,90.
Esse movimento foi causado tanto por fatores domésticos quanto por movimentos no cenário internacional. Dentre eles, destacamos:
- Juros altos por mais tempo nos Estados Unidos: como detalhamos acima, o Banco Central americano (o Fed) não deve começar a reduzir os juros tão cedo por lá, e o movimento será bem gradual. Os juros altos, por sua vez, seguem atraindo investidores em busca de retorno, mantendo o dólar forte frente a outras moedas.
- Maior aversão ao risco causada por piora no cenário geopolítico global: o último mês contou com a piora do cenário geopolítico global, com destaque para o conflito no Oriente Médio. Além de pressionar o preço do petróleo (e potencialmente outros custos, como fretes), essa piora também aumenta a aversão ao risco entre investidores, que tendem a “fugir” para ativos considerados mais seguros, como o dólar e títulos do tesouro americano – fortalecendo a moeda.
- Incertezas políticas no Brasil: a crescente incerteza sobre os rumos das contas públicas, incluindo discussões orçamentárias e arrecadação abaixo do esperado, além de episódios envolvendo o governo e empresas estatais aumentaram a percepção de risco em relação ao Brasil – com investidores “precificando” esse risco na nossa moeda, contribuindo para a alta do dólar por aqui.
- Piora dos nossos termos de troca: apesar do aumento recente nos preços de minério de ferro, grande parte daquilo que vendemos ao mundo viu uma queda no preço em mercados globais, principalmente commodities agrícolas, como grãos. Esse movimento tende a enfraquecer nossa moeda, uma vez que passamos a “atrair menos dólares” pela via comercial.
Dito isso, acreditamos que o real ainda vai se valorizar um pouco até o final de 2024. Isso porque vemos a nossa moeda (no patamar de aproximadamente R$ 5,20) desvalorizado tanto em relação ao seu histórico, quanto aos fundamentos econômicos.
Esses fundamentos incluem: i) o nível de preços de commodities que vendemos e quantidade que vendemos ao mundo (mesmo após a queda de preços recente); ii) o nível dos nossos juros em relação aos juros nos EUA; iii) a nossa medida de risco país; e iv) o valor do dólar em relação a outras moedas.
Nesse cenário, estimamos a taxa de câmbio em R$/US$ 5,00 para o final desse ano e de R$/US$ 5,15 para o final de 2025.
Vale destacar, no entanto, que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.
Selic deve encerrar ciclo de queda em 10,00% ao ano
Como contamos aqui,o Copom (nosso comitê de política monetária) optou por reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto em sua reunião de 20 de março. A decisão deu continuidade ao processo de queda de juros iniciado em agosto do ano passado, levando a taxa para 10,75% ao ano.
Em um recado que não trouxe muitas mudanças de tom, o Copom reforçou que o cenário segue consistente com a continuação dos cortes da taxa Selic, apesar de haver mais riscos no horizonte. Em bom português: eles seguirão cortando os juros no curto prazo, mas mantém a cautela sobre até onde poderão avançar nos cortes.
Isso porque, como falamos na seção acima, há riscos para a inflação tanto no cenário doméstico quanto global, com destaque para os preços de serviços e o mercado de trabalho aquecido.
Além disso, a própria expectativa de que os juros seguirão altos por mais tempo nos EUA também pressiona nossos juros por aqui. Isso porque os juros americanos são considerados o “nível de partida” de todos os outros juros no mundo, sendo considerados os ativos de menor risco, além de atraírem capital para lá e pressionarem a nossa moeda.
Assim, quanto maiores os juros nos EUA (e outros países desenvolvidos), maior a pressão sobre os nossos juros aqui.
Nesse cenário, vemos a Selic continuando a cair nas próximas reuniões, mas de maneira limitada – até atingir 10,00% ao ano.
Como investir nesse cenário?
Com tantos eventos e mudanças no cenário econômico no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio é essencial.
Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de onde investir em cada classe de ativo (como ações, renda fixa e fundos de investimento).
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2027 | Selection RF Light FIC Renda Fixa Crédito Privado LP | R$ 100,00 |
Inflação | NTN-B ago/28 IPCA+5,30% | CRA Atacadão jan/2029 IPCA+6,10% | R$ 50,00 |
Renda Fixa Prefixada | CRI Oncoclínicas out/30 13,17% | NTN-F jan/29 | R$ 100,00 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | Kinea Atlas II | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$ 100,00 |
Renda variável internacional | Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 | M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | Trend Bolsas Globais | Trend Bolsas Emergentes | R$ 100,00 |
Alternativos | LVBI11 | PVBI11 | R$ 100,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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