Você compra guarda-chuva em dia de sol ou deixa para o momento de desespero? Investir bem é como se precaver de mudanças bruscas no tempo, sempre de olho na previsão antes de sair de casa ou fazer planos ao ar livre.
Nesse conteúdo, trazemos a “meteorologia” para as principais classes de investimento disponíveis no mercado e a nossa dose recomendada para todas elas de acordo com o cenário atual. Assim, evitamos que uma “frente fria” pegue o seu dinheiro desprevenido.
Para começar, a tabela abaixo traz nossa sugestão atualizada de alocação para cada classe de ativos como proporção do total de uma carteira de investimentos, de acordo com cada perfil de investidor. Ou seja, é nossa sugestão de como cada investidor deve diversificar seus investimentos – lembrando que a diversificação é a melhor amiga dos bons retornos no longo prazo.
Ao final, trazemos uma indicação de produtos sugeridos para cada uma dessas classes de ativos, para que você possa investir agora mesmo da sua conta da Rico.
Lembre-se: conhecer seu perfil de investidor, seus objetivos e seu horizonte de investimento são atitudes essenciais na hora de escolher onde e como investir.
Entenda nossas políticas de investimento aqui. E baixe o PDF da carteira: Precavida, Cautelosa, Estrategista, Energética, Destemida.
Cenário Global
Sol entre nuvens
Em março, os juros movimentaram as “nuvens” sobre os investimentos ao redor do mundo.
Nos Estados Unidos, o Banco Central manteve as taxas de juros em 5,50% ao ano, indicando que segue aguardando dados econômicos (como de inflação e mercado de trabalho) que sustentem um início seguro da retirada gradual do “pé do freio” da maior economia do mundo.
Ou seja, ainda não chegou o momento de reduzir os juros por lá – embora ele se aproxime. Acreditamos que isso se dará em julho desse ano.
Decisões de juros também marcaram o mês na Europa, China e Japão, com o destaque para o último, que elevou os juros para acima do território negativo depois de oito anos – na contramão do restante do mundo, que luta contra a inflação persistente.
Já no Brasil, nosso Banco Central deu continuidade ao ciclo de cortes da taxa Selic, levando nossa taxa básica de juros ao patamar de 10,75% ao ano. Apesar do movimento esperado, o corte veio acompanhado de uma nova mensagem, indicando que o ritmo de reduções da Selic pode desacelerar adiante.
Seriam essas “águas de março fechando o verão” dos investimentos em renda fixa e dando espaço para a primavera no hemisfério da renda variável? Confira nossa visão para cada classe de ativo a seguir.
Renda fixa global
Ensolarado
O sol ainda brilha na renda fixa global, com as taxas de juros seguindo em níveis historicamente altos nas principais economias do mundo, incluindo nos Estados Unidos.
Com a economia aquecida e níveis de inflação ainda preocupantes na maior economia do mundo, especialmente no setor de serviços (mais intensivo em mão de obra e, portanto, sensível a pressões de salários), o Banco Central americano (Fed) segue caminhando com bastante cautela. Dito isso, a mensagem do presidente da instituição também trouxe firmeza de que o início da flexibilização monetária está próximo.
Em outras palavras: “mais dia, menos dia”, os juros começarão a cair no hemisfério norte. Mas isso não significa que a renda fixa global deixa de ser atrativa nesse momento.
E o que isso significa investimentos em renda fixa global?
Mesmo diante da provável queda de juros nos EUA e em outros países desenvolvidos nos próximos meses, seguimos vendo o “tempo aberto” para o investimento em renda fixa global.
Primeiro, porque os juros seguem altos para patamares históricos, permitindo ao investidor aplicar seu patrimônio em um investimento de retorno elevado, com risco relativamente baixo. Afinal, títulos do governo americano são considerados os investimentos de menor risco no mundo.
Além disso, vale lembrar que a maior parte dos ativos de renda fixa global são prefixados (ou seja, já tem a taxa definida para o vencimento na hora da compra), tornando essa uma janela interessante para o investidor, com destaque para prazos mais curtos.
Por fim, o investimento em renda fixa global fornece a possibilidade de dolarização de parte do seu patrimônio em um momento mais estável de nossa moeda.
Uma das alternativas mais simples e seguras para investir em renda fixa global é por meio de fundos de investimento, que oferecem diversificação para um mercado que também possui seus riscos.
No contexto atual, dado as taxas menos atrativas no mercado de crédito privado em relação ao seu risco, damos preferência à investimentos de menor risco, os chamados “High Grade”.
Hedgeados X Não Hedgeados
Quando investimentos em renda fixa global são realizados via fundos, podem ser feitos na modalidade com ou sem hedge (proteção) da moeda. Isso significa que, caso você escolha investir em renda fixa internacional sem hedge, estará exposto tanto às oscilações dos preços dos ativos de renda fixa internacional quanto à oscilação do dólar em relação ao real.
Bolsa Global
Chuvoso
Apesar do efeito negativo dos juros altos nos ativos de maior risco (como ações), março foi outro mês marcado pela alta nas bolsas americanas, desafiando o “tempo fechado” para esse tipo de investimento.
Nem mesmo os múltiplos elevados têm sido o suficiente para derrubar as bolsas americanas. Ou seja, apesar de estarem “caras”, quando comparado ao histórico, as bolsas americanas seguem em alta.
Uma série de fatores tem contribuído para o otimismo nos mercados globais, incluindo a redução da probabilidade de uma recessão nos EUA, a expectativa de lucros das empresas com a eficiência fruto da inteligência artificial e a iminência do ciclo de corte de juros no mundo desenvolvido.
E o que isso significa para investimentos em bolsa americana?
Apesar do otimismo atual de investidores, investir no mercado de ações americano continua apresentando riscos elevados, especialmente para quem não tem horizonte de longo prazo ou perfil para esse tipo de investimento.
Com as recentes altas e empresas negociando com indicadores de valor acima das médias históricas (ou seja, caras), entendemos que fatores como frustações com dados de inflação e o rumo – ainda incerto – das taxas de juros podem trazer volatilidade a esse tipo de investimento no curto prazo.
Assim, mantemos nossa recomendação de bastante cautela para investimentos em renda variável internacional. Sugerimos alocações leves, inclusive nos perfis mais agressivos, além de buscarmos outros mercados além dos EUA.
Renda fixa Brasil
Ensolarado
A gradual redução da taxa básica de juros no Brasil vem diminuindo a intensidade dos “raios solares” na renda fixa brasileira. Entretanto, assim como vemos na renda fixa global, isso não significa que a classe de ativos perdeu sua atratividade.
Em março, a Selic foi reduzida para 10,75% ao ano pelo Banco Central, conforme amplamente esperado pelos investidores. Porém, com incertezas sobre quando os juros começarão a cair no mundo desenvolvido e dados mostrando uma inflação ainda teimosa, especialmente no setor de serviços (diante de um mercado de trabalho também aquecido por aqui), as sinalizações do Banco Central foram de cautela em relação ao futuro da queda dos juros.
Isso significa que os juros vão parar de cair por aqui? Não. Mas sinaliza que essa queda pode se tornar mais gradual ao longo dos próximos meses – com reduções de menor magnitude na taxa Selic – e que o ciclo de cortes pode terminar com os juros básicos um pouco acima do esperado atualmente.
Dito isso, mantemos nossa projeção de que a Selic alcance 9,00% ao ano ao final do ciclo de cortes – aguardando, assim como o Banco Central, mais dados para eventualmente alterar nossas expectativas.
O que isso significa para investimentos em renda fixa?
Mesmo diante da queda da Selic, títulos pós-fixados atrelados ao CDI ou a Selic devem continuar apresentando retornos elevados, acima dos níveis de inflação. Exemplo disso é o retorno registrado em março, de 0,8%, que ficou acima dos retornos observados nas outras classes de renda fixa.
Dito isso, para investidores que desejam maiores retornos na renda fixa, pode ser necessário assumir um pouco mais de riscos, por meio da alocação em títulos privados (dívidas de empresas ou via fundos de crédito privado).
Lembrando que para sua reserva de emergência — independente do patamar da taxa Selic — recomendamos investimentos pós-fixados de baixo risco e resgate rápido.
Além disso, títulos de renda fixa atrelados a índices de preço (IPCA) seguem uma excelente proteção para seus investimentos contra a inflação – permitindo vencimentos mais longos, acima de 2030. Vale destacar que, com piora recente do cenário, as taxas aumentaram, trazendo melhores oportunidades nessa classe de investimento.
Mas atenção: o cenário fica um pouco mais incerto quando falamos de títulos pré-fixados. Primeiro, porque não esperamos grandes movimentos de queda sobre as expectativas de juros no futuro para os próximos meses (dinâmica que valoriza esses títulos, vista em parte de 2023). Segundo, porque a incerteza sobre os rumos da inflação no mundo e do cenário fiscal doméstico seguem impactando as expectativas sobre os juros, desvalorizando títulos existentes e adicionando risco adiante.
Por isso, mantemos nossa recomendação para pré-fixados reduzida e cautelosa, priorizando títulos com vencimento médio de curto prazo (até 4 anos) e oportunidades pontuais em títulos privados.
O que é duration?
Duration, ou vencimento médio, é o cálculo de tempo médio ponderado para o pagamento de um investimento.
Desta forma, investimentos que têm o pagamento apenas em seu vencimento (data final) terão duration igual ao seu prazo até o vencimento. Já investimentos com amortizações terão a duration calculada pela média ponderada de cada um de seus pagamentos.
Quanto maior a duration, maior a sensibilidade do título às mudanças nas taxas de juros.
Bolsa Brasil
Nublado
Enquanto o primeiro trimestre de 2024 foi o melhor para ações globais em 5 anos (com o MSCI ACWI, índice de ações internacionais, subindo 7,7%), o Ibovespa acumulou perdas de -4,4%.
Por aqui, estrangeiros continuam tirando dinheiro da bolsa diante do cenário incerto sobre os juros nos EUA, pressionando para baixo os preços. Para se ter uma ideia, os gringos já retiraram quase R$ 24 bilhões da Bolsa brasileira nesse ano.
Ao mesmo tempo, a temporada de resultados não trouxe grandes destaques positivos, enquanto o Banco Central terminou de “jogar água no chopp”, elevando o tom contra a inflação.
Tudo isso contribuiu para que o clima positivo lá de fora não brilhasse no mercado doméstico.
O que isso significa para investimentos em bolsa brasileira?
Porém, apesar da incerteza e volatilidade de curto prazo, continuamos vendo a bolsa brasileira de maneira construtiva no longo prazo. Principalmente porque:
i) O do ciclo iminente de queda de juros no mundo desenvolvido deve impulsionar o apetite ao risco entre investidores globais, que devem voltar a olhar para ativos com mais volatilidade — como as ações de mercados emergentes;
ii) O fluxo de saída gringo observado até então deve ser parcialmente compensado com a volta mais forte dos investidores locais (tanto os institucionais quanto pessoas físicas) para as ações;
iii) O fim do “1% ao mês no CDI”, diante da queda da Selic, tende a reduzir a atratividade relativa de ativos de renda fixa;
iv) O ciclo de cortes da Selic segue “a todo vapor” — o que, historicamente, tende a ser positivo para a Bolsa brasileira.
Nesse cenário, vale o destaque para ações de empresas de setores mais cíclicos, ou seja, que tem maior relação com o ritmo da atividade econômica – e, portanto, com o ritmo de queda da taxa Selic. Esses incluem o setor Imobiliário, Varejo e Transportes.
Dito isso, seguimos recomendando um posicionamento mais defensivo como estratégia para o momento, diante de riscos ainda presentes no cenário doméstico e internacional.
“Leva o casaco”: sugestões de ativos em cada classe
Agora que você já sabe nossa alocação recomendada (o peso de cada classe de ativos ideal para cada perfil investidor nesse momento) e nossa previsão do tempo, separamos algumas sugestões de investimentos recomendados em cada um desses tipos de ativos.
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2027 | Selection RF Light FIC Renda Fixa Crédito Privado LP | R$ 100,00 |
Inflação | NTN-B ago/28 IPCA+5,30% | CRA Atacadão jan/2029 IPCA+6,10% | R$ 50,00 |
Renda Fixa Prefixada | CRI Oncoclínicas out/30 13,17% | NTN-F jan/29 | R$ 100,00 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | Kinea Atlas II | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$ 100,00 |
Renda variável internacional | Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 | M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | Trend Bolsas Globais | Trend Bolsas Emergentes | R$ 100,00 |
Alternativos | LVBI11 | PVBI11 | R$ 100,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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