A recente deflagração de um conflito militar entre Israel e o grupo Hamas se tornou um dos temas de maior destaque e impacto nos mercados globais, elevando a percepção de risco entre investidores e levantando dúvidas sobre seus potenciais impactos econômico-financeiros ao redor do mundo.

Vale destacar que não entraremos nos méritos do conflito em questão e focaremos apenas em traçar possíveis cenários e seus impactos nos preços de ativos. Deixamos aqui nossa solidariedade às famílias e amigos das vítimas e esperamos que a paz na região possa ser alcançada em breve.

Abaixo, elencamos os principais potenciais impactos do desdobramento do atual conflito no Oriente Médio na economia e mercado globais.

Principal termômetro: preço do petróleo

O conflito que se desenrola entre o grupo Palestino Hamas e Israel tem raízes territoriais, políticas e religiosas e tem como epicentro a região chamada Faixa de Gaza – estreita faixa de terra localizada na costa oriental do Mar Mediterrâneo, no Oriente Médio, que faz fronteira com o Egito no Sudoeste, e com Israel no Leste e no Norte.

Assim, um conflito restrito à região provavelmente teria um impacto limitado nos principais mercados globais.

Porém, uma possível escalada do conflito, passando a envolver mais países da região (e fora dela), aumentaria substancialmente esse efeito – especialmente por seus impactos nos preços de petróleo.

Isso porque, embora nem Israel nem a Palestina sejam produtores relevantes da commodity energética, o potencial envolvimento de países como Irã, Arábia Saudita, Líbano e Estados Unidos pode não somente escalar a magnitude do conflito para outras proporções, como também desequilibrar o mercado de petróleo no mundo. Afinal, esses sim figuram entre os principais produtores e exportadores da commodity globalmente.

O cenário do petróleo

O Irã tem se aproximado dos EUA recentemente e conseguido diminuir as restrições à exportação de petróleo do país. Caso haja confirmação de envolvimento do país, essa aproximação pode ser revertida e resultar em mais sanções – que, por sua vez, poderiam ser respondidas por parte do Irã com o fechamento do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do mercado global de petróleo.

Já a Arábia Saudita, que atualmente está negociando um acordo de paz com Israel nos mesmos moldes que os Emirados Árabes Unidos fizeram em 2020, é o maior exportador de petróleo do mundo. Ao lado da Rússia, o país tem liderado os esforços para reduzir a oferta de barris pelos membros da OPEP+ (cartel global de produção de petróleo).

O reinado saudita já emitiu uma nota condenando os ataques, mas também não se posicionou a favor de Israel. Um eventual envolvimento no conflito poderia resultar em sanções contra o petróleo saudita, reduzindo a oferta global e pressionando os preços da commodity.

Assim, embora vejamos por ora um impacto pequeno na interrupção do fornecimento de petróleo como consequência do conflito, o principal termômetro a ser monitorado nas próximas semanas/meses será o preço da commodity energética. Especialmente se/à medida que investidores vejam chances de algum dos cenários possíveis de disrupção se concretizar.

Para ilustrar, após um período de recuo recente diante de dados de estoque e demanda por gasolina nos EUA, o barril de petróleo (Brent) voltou a ficar mais caro, subindo pouco menos de 10% desde o início do conflito, ultrapassando novamente a barreira dos US$ 90.

O petróleo, a inflação e os juros

Mas o que o preço do barril do petróleo tem de tão relevante para os mercados e a economia global?

Pode parecer exagero, mas a alta nos preços do petróleo gera uma série de impactos na economia, muitos operando em efeito cascata. Isso porque derivados de petróleo ainda são a maioria esmagadora de combustíveis utilizados para geração de energia no mundo – no caso, gasolina e diesel.

Assim, uma forte elevação nos preços de petróleo tende a impactar não somente o preço de combustíveis, como também de diversos produtos indiretamente – como alimentos e bens industriais, que incluem o custo do frete em seu preço ao consumidor. Além disso, maiores custos de energia impactam a margem de muitas empresas, prejudicando sua operação e resultados financeiros.

Em suma: um choque aos preços de petróleo é um dos principais inimigos da inflação.

Embora o choque atual por enquanto não se assemelhe ao grande choque de petróleo observado nos anos 1970, ele acontece em um momento complexo em que o mundo luta contra a inflação alta. Mais precisamente, em um momento em que bancos centrais ao redor do mundo se preparam para encerrar o ciclo de alta de juros, na esperança de que a inflação siga uma trajetória de queda em direção às metas.

Ou seja, os desdobramentos do atual conflito no Oriente Médio podem significar juros ainda mais altos no mundo.

O gasto público americano: mais lenha para os juros

Um outro importante aspecto do conflito atual são os impactos indiretos nas contas públicas dos Estados Unidos – e, por sua vez, no patamar de juros da maior economia do mundo.

Como falamos aqui em mais detalhes, a forte alta dos títulos da dívida de longo prazo americanos (as famosas Treasuries) foi um dos principais fatores de instabilidade nos mercados globais nos últimos meses.

Isso porque as Treasuries servem de base como “a taxa livre de risco” para a análise dos preços de praticamente todos os ativos financeiros globais – desde ações até títulos de renda fixa -, além de influenciarem o nível de juros de longo prazo em outros países (afinal, se os EUA estão pagando mais para se financiar, o custo dos mais arriscados fica mais alto).

Além da inflação persistente, o aumento do gasto público americano ganhou destaque como razão por trás desse movimento nos juros. Para se ter uma ideia, o déficit fiscal este ano deve ser o mais elevado da história – tirando momentos extraordinários, como a crise financeira de 2008 e a pandemia.

Assim, maiores gastos com apoio militar a aliados tendem a elevar ainda mais o déficit fiscal americano – impulsionando o movimento recente de alta de juros.

O aumento da aversão ao risco e a “fuga para portos seguros”

Finalmente, vale destacar o impacto do aumento da instabilidade global na aversão ao risco entre investidores – especialmente caso o conflito escale, passando a envolver diretamente atores centrais como o Irã, o Líbano, o grupo Hezbollah e os Estados Unidos.

Sabemos que momentos de elevada incerteza geopolítica, especialmente quando culminam em guerras efetivas, elevam a incerteza na economia global, e incerteza gera busca por proteção – e a concomitante fuga de ativos considerados mais arriscados, como aqueles de países emergentes.

Assim, movimentos que podem se concretizar e/ou intensificar conforme os desdobramentos do conflito incluem:

  • O fortalecimento do dólar – a moeda americana é vista como um porto seguro de investidores ao redor do mundo em momentos de elevada incerteza e eventos inesperados, como um conflito entre potências;
  • A valorização de ativos reais, como ouro e outras commodities;
  • A desvalorização de ativos considerados mais arriscados, como moedas e ações de países emergentes – especialmente aqueles com maior exposição a instabilidade geopolítica (um ponto positivo, nesse quesito, para o Brasil).

Proteja-se da alta de preços

Como falamos, a atual crise geopolítica tem o potencial de recolocar gasolina na fogueira inflacionária do mundo.

Assim, vale destacar alternativas para proteger seus investimentos da alta de preços.

Títulos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA + 2032, debêntures de empresas sólidas e com boa classificação de risco, e fundos de inflação (fundos de investimento que investem em ativos indexados à inflação) são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui. 

Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação, e com menor exposição a questões globais, são os Fundos Imobiliários. Por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação, os FIIs podem ser excelentes aliados do investidor em um cenário ainda cauteloso com a alta de preços.

Diversificação é essencial

Além da proteção contra a inflação, vale destacar a importância da diversificação internacional em momentos como o atual.

Assim, a máxima “investir em dólar” também se prova uma excelente aliada nesse momento. Detalhamos no “Onde Investir ” alternativas para compor sua carteira com investimentos internacionais – especialmente por meio de fundos de renda fixa globais.

Finalmente, manter uma carteira diversificada, respeitando o seu perfil de risco, segue sendo essencial. São justamente momentos de instabilidade e imprevisibilidade como o atual que atestam para sua importância.

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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