• Inflação acima de 10% ao ano, e taxa de juros subindo para controlar os preços: uma realidade que não podemos fugir atualmente.
  • Sabemos que juros mais altos trazem boas oportunidades de investimentos, mas não podemos esquecer do outro lado da moeda: o crédito ficando mais caro, e com ele, as dívidas.
  • Entenda o cenário atual e confira 5 dicas para lidar com suas dívidas, rumo ao equilíbrio financeiro e aos investimentos.

Em um cenário de taxa Selic e inflação rodando acima de 10% ao ano, não há por onde fugir: o assunto da taxa dos juros em alta está em todo o canto, muitas vezes acompanhando informações sobre o cenário de inflação também alta.  

Isso ocorre porque o controle da taxa básica de juros (a Selic) é a principal ferramenta do Banco Central (BC) para administrar os preços de uma economia. Assim, o BC eleva os juros quando a inflação está mais alta do que o desejado (de acordo com a meta de inflação), e reduz os juros quando a inflação está mais baixa do que o desejado.  

Contamos tudo sobre essa dinâmica entre juros e inflação: em texto, em vídeo, ou em podcast.  

O cenário de juros altos 

Mas o que significam juros altos, no dia a dia? Como a taxa Selic serve de base para todas as outras taxas de juros da economia, o principal impacto de sua elevação é o crédito mais caro.  

Sabemos que o crédito mais caro se aplica tanto ao governo e às empresas, o que traz boas oportunidades de investimento em renda fixa (como falamos aqui em mais detalhes). Mas também sabemos que juros altos significam crédito mais caro para os consumidores – como eu, você e todo mundo.    

Os gráficos abaixo nos ajudam a ilustrar esse contexto. Após um período de forte queda (lembre-se que a Selic estava em 2,00% há pouco mais de um ano!), as taxas de juros média cobradas em empréstimos para pessoa física (ou seja, nós, reles mortais) mudaram de direção, e passaram a subir nos últimos meses. Com juros subindo e inflação alta, os atrasos nos pagamentos de dívidas também passaram a subir.  

Conforme a preocupação sobre ter o “nome sujo na praça” aumenta, passamos a ver um triste quadro tomar forma: o da procura por soluções – muitas vezes bastante arriscadas ou até ilegais – para “sair do vermelho”. 

Me endividei, e agora? 

Diante do cenário descrito acima, sabemos que muitos estão passando por momentos desafiadores com suas finanças. Por isso, preparamos uma lista de boas práticas para te ajudar a lidar com as dívidas, mirando sempre o equilíbrio financeiro. Para que você possa, assim, seguir na trilha dos investimentos.  

1. Para onde vai meu dinheiro? 

Antes de tudo, entenda para onde está indo seu dinheiro. Pode parecer besteira, mas entender melhor o seu orçamento mensal/anual (incluindo o quanto entra e o quanto sai) é um importante primeiro passo para tirar sua vida do vermelho. Pois é a partir daí que você poderá procurar reduzir alguns gastos, priorizando outros, e otimizando suas finanças. Ou seja, gastar bem para gastar menos.  

Por exemplo, identificando que se gasta muito com compras para a casa no mercado, um hábito a ser criado pode ser o de contar sempre com uma lista de compras detalhada. Atentar-se à lista irá te ajudar a reduzir compras impulsivas e sem necessidade.  

Um outro exemplo pode ser o parcelamento de compras, quando há a possibilidade de desconto à vista. Como sabemos, o famoso “10 vezes sem juros” já embute no preço inicial o valor dos juros vigentes, considerando que a loja estará, de fato, ofertando um crédito ao cliente. Caso já tenha o dinheiro disponível, sempre busque descontos para pagamentos à vista, e evite parcelamentos excessivos, que podem sair de seu controle.   

2. Primeiro, dívidas. Depois, investimentos  

Por mais que você tenha uma certa ansiedade em ver seu dinheiro crescer, não podemos pular etapas. Organizar a casa vai ser importante para manter suas metas financeiras bem estabelecidas.  

A máxima de quitar dívidas antes de investir se torna particularmente importante porque, com raríssimas exceções, sua dívida terá juros muito mais altos do que um investimento pode te oferecer no mesmo período. Ou seja, na grande maioria das vezes, o retorno que você ganhar em um investimento dificilmente compensará o crescimento da sua dívida.  

Por isso, faça um raio-x sincero do total de dívidas que você tem no momento, o quanto elas estão impactando mensalmente em suas contas e comece a trabalhar para quitá-las. E isso inclui, sim, sair de eventuais investimentos – desde que não haja penalidades ou perdas que superem o valor da sua dívida.  

A dica aqui é transformar a quitação das dívidas em sua primeira meta financeira, estabelecendo quanto você pode pagar mês a mês e em quanto tempo você conseguirá pagar tudo. Se for parcelar, procure alternativas com a menor taxa de juros, pois isso pode aumentar mais ainda o tempo que você vai pagar pagando essas dívidas. 

3. Saia do rotativo, do parcelado e do cheque especial  

Toda dívida tem juros. Isso, todos sabemos. Afinal, ninguém imagina que um banco ou outra instituição financeira emprestaria dinheiro sem nenhum retorno. O que muita gente não sabe é que os juros cobrados do devedor variam muito, a depender da modalidade de crédito.  

Isso significa que, muitas vezes, você pode optar por uma dívida com juros menores. 

A tabela abaixo compara uma mesma dívida de R$ 1.000,00, evoluindo de acordo com quatro modalidades de crédito muito comuns no Brasil: cheque especial, crédito rotativo e crédito parcelado (ambos sobre dívidas de cartão de crédito), e empréstimo pessoal sem consignado.  

Vale destacar que o exercício não considera cobranças de encargos e multas, considerando apenas os juros cobrados no período. De qualquer forma, vale observar os contratos de empréstimos para que esses valores não sejam abusivos. 

Como podemos ver acima, as modalidades de crédito mais caras, comparativamente, são aquelas relacionadas ao cartão de crédito.  

No crédito rotativo, estamos falando do famoso “pagamento mínimo” da fatura mensal do cartão de crédito – que só pode ser cobrado por no máximo 30 dias. Em seguida, vemos o parcelamento (da fatura do cartão de crédito), que por determinação do Banco Central, precisa oferecer melhores condições de pagamento ao cliente (do que o rotativo). 

Assim, caso você entre em uma dívida de cartão de crédito, é melhor parcelar desde o início, e já saber de antemão o quanto será cobrado mês a mês. 

Porém, como também vemos na tabela acima, uma melhor opção seria negociar um empréstimo pessoal (mesmo que você não tenha a opção de fazer consignado, o que exige certos requisitos como emprego fixo formal), que apresenta os menores juros médios relativos.  

Isso acontece, pois ao negociar um empréstimo, a instituição financeira passa a ter mais informações sobre você, suas condições financeiras e profissionais, e não precisa “considerar que esse dinheiro não será pago nunca”. Em economia, chamamos isso de “assimetria de informações”. Quanto menos informações a instituição tiver de você, mais ela irá cobrar para te emprestar – afinal, melhor prevenir do que remediar (no caso, levar um calote), não é mesmo? 

Assim, podemos tirar a mesma conclusão para o caso do cheque especial: o famoso “fiquei no vermelho na conta corrente”. Por ser uma modalidade com menos informações ou negociação com o cliente, ela possui juros mais altos. Uma alternativa ao cheque especial é, novamente, a negociação de um empréstimo pessoal com menores juros. 

4. Negocie suas dívidas   

Negociar as dívidas é uma fase muito importante do caminho rumo ao equilíbrio financeiro. Comece fazendo um levantamento junto as instituições nas quais você possui dívidas: quais os juros que você está pagando, qual o tamanho da dívida? Se necessário, volte à etapa 3, e verifique se as taxas que você está pagando em cada produto são proporcionais ao valor que você utilizou.  

Além disso, você pode utilizar algumas ferramentas que instituições financeiras disponibilizam, como os feirões de (re)negociação dívidas do Serasa e as campanhas de quitação de empréstimos dos bancos.  

Mas, não se engane! Diferente do que muitos acreditam, as dívidas não deixam de existir com o tempo no Brasil, ou “caducam” como pontos na carteira de habilitação após um ano. Não caia nessa! Não existe uma “zona de perdão” para dívidas, seu nome vai ficar registrado no sistema como mal pagador, te prejudicando na hora que você precisar de recursos para realizar seus sonhos. 

Por isso, não deixe para depois ou espere para procurar a negociação, pois você corre o risco de fazer essa dívida virar uma verdadeira bola de neve. 

5. Converse a respeito!  

Essa é uma etapa bônus, mas muito relevante. As pessoas que convivem com você precisam estar alinhadas sobre suas limitações financeiras no momento em que você estiver quitando suas dívidas. Caso contrário, você pode acabar passando por situações desagradáveis, como não saber dizer não para certas compras e aumentar sua dívida, ou recusar convites sem deixar claro o motivo.   

Dessa forma, comunicar-se abertamente com seu parceiro (a), mãe, pai, irmãos pode te ajudar tanto a evitar tais constrangimentos, quanto a talvez ouvir diferentes alternativas para resolver o problema.  

Vale destacar que isso não é a mesma coisa de falar para você pedir dinheiro aos seus familiares, o que dependerá da situação pessoal de cada um. Mas sim, que é muito importante que quem conviva com você saiba do que está acontecendo.  

E por último, mas não menos importante: você não deve ter vergonha de estar utilizando empréstimos bancários e outras modalidades de crédito. Nem quando tratar com o banco, afinal ele está ganhando e muito com isso, tampouco com seus amigos e familiares, pois todos podem passar por fases mais difíceis ou precisar de um “empurrãozinho” para ajudar na conquista de um sonho/objetivo.  

O mais importante é garantir que sua saúde financeira e mental não seja afetada por esse compromisso de pagamento. Bola pra frente e bora quitar essa dívida! 

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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