Insight Rico: Você foca no que realmente importa?

(por Dahlia Capital, convidada especial deste Rico Matinal) 

 – Vai dar Biden ou Trump?
– Quanto o Brasil vai crescer?
– Pra onde vai o dólar?

Todo mundo que investe em ações, NTNB, fundo imobiliário ou dólar já deve se ter feito alguma dessas perguntas nas últimas semanas. Ou até mesmo todas as três, só hoje pela manhã. Mas será que alguém realmente sabe a resposta? Ou, talvez mais importante ainda, será que elas realmente importam?

Uma das coisas do nosso jeito de investir é olhar grandes tendências de longo prazo. Por quê? Porque os preços das ações e das moedas dos países perseguem ciclos econômicos. Países que crescem mais têm bolsas que se valorizam mais e moedas mais fortes.

Estudando essas tendências, veio a pergunta: quais são os fatores que historicamente fazem os países e impérios crescerem ou morrerem? Achamos quatro coisas importantes: força das instituições, tecnologia, geografia e demografia.

A gente aprendeu na escola que a América do Norte e a América Latina foram colonizadas de formas diferentes. Por aqui, os portugueses e espanhóis praticavam uma colonização exploratória. Por lá, os protestantes calvinistas queriam fazer um novo lar. E pregavam a propriedade privada, a livre iniciativa e o empreendedorismo. Regras claras levaram à formulação da constituição mais antiga que tem no mundo!

A tecnologia promove crescimento. Aprendemos isso com os portugueses. Quando eles desenvolveram a caravela (uma espécie de foguete espacial dos nossos tempos), eles puderam descobrir uma nova rota pra a Índia, quebrando o monopólio do Império Turco Otomano. O segredo pra o pequeno reino de Portugal ter se tornado a maior potência mundial da época foi a tecnologia.

O Brasil tem uma bela geografia. Uma das maiores bacias hidrográficas do mundo, com um grande potencial de produção de energia elétrica (nossa energia é uma das mais limpas e baratas!). Terras agricultáveis, que podemos produzir grãos e celulose. Os Estados Unidos também têm uma geografia favorável: rios navegáveis, terras férteis, acesso a dois oceanos e apenas dois vizinhos amigos. E o mais legal disso tudo é que a geografia de um país ninguém consegue copiar. É uma vantagem perpétua dos povos que moram ali!

Pouca gente dá valor pra demografia. Porque ela demora um bocado pra acontecer. Mas é uma coisa muito importante pra deixarmos de lado. Alguns países na Europa e na Ásia têm tido muita dificuldade pra crescer economicamente. Qual a coisa em comum entre eles? São populações mais velhas. Consomem menos, não importa o nível da taxa de juros, gerando menos crescimento.

Entre as grandes economias do mundo, os Estados Unidos têm a melhor demografia. Em alguns anos, eles serão até mais jovens que o Brasil. A população americana também cresce por conta da imigração. E tem uma outra coisa bacana. Uma parte dessa imigração é de uma mão-de-obra super qualificada, o que chamam de atração de cérebros. Esse pessoal ao mudar de país leva também sua energia e dinamismo pra economia americana, promovendo mais crescimento. E o que mais importa são as pessoas.

Instituições, tecnologia, geografia e demografia. São elas que explicam porque uns países crescem mais que outros. E nos ajudam a responder as três perguntas iniciais.

Começando pelo Brasil

Temos uma geografia favorável. Nossas instituições são melhores que de outros emergentes, mas talvez mais frágeis que países desenvolvidos. Já chegamos no pico da nossa população economicamente ativa, ou seja, nosso bônus demográfico já acabou. E não estamos na vanguarda da tecnologia. É bem possível então que nosso crescimento não seja muito alto nos próximos vários anos, levando a taxas de juros baixas.

Biden ou Trump? 

Não acreditamos que o novo presidente, num Congresso equilibrado, consiga promover tantas mudanças que possam impactar as fortes tendências de longo prazo dos Estados Unidos. Instituições fortes, líderes de tecnologia, geografia favorável e demografia positiva. Não é à toa que as bolsas americanas subiram quase 5% nos últimos dois dias, mesmo sem a definição do presidente.

E a bolsa por aqui?

A gente ainda está num momento especial, apesar do fraco crescimento econômico. A bolsa não é um reflexo perfeito da economia brasileira, mas sim um retrato das maiores e melhores empresas de seus respectivos setores. Essas grandes empresas foram bem menos impactadas pela pandemia. Seus lucros têm surpreendido pra cima nos dois últimos trimestres e devem continuar fortes.

E aí, você foca no que realmente importa? A bolsa é um conjunto das melhores empresas do Brasil, que estão passando por um momento muito favorável, e os juros continuarão baixos por mais tempo. E o dólar? Apostar na queda do dólar não é fácil, porque também é uma aposta contra os Estados Unidos e significa abrir mão de um seguro contra os problemas que podem aparecer por aqui.

Resumo do dia: O mercado prefere o Biden?

(por Betina Roxo)

 Mercados realizam parte dos ganhos da semana nessa sexta-feira, com EuroStoxx caindo 1,2%, futuro do S&P negativo em 1,1% e Nasdaq em -1,4%. No fechamento de ontem, a alta acumulada era de 3,7%, 4,2% e 6,5%, respectivamente.

E essa alta da semana significa que o mercado prefere Biden (que continua na frente na contagem de votos) a Trump? Não necessariamente. Foram 3 principais fatores que explicam essa alta nos últimos dias:

1) O mercado já havia reduzido exposição ao risco antes das eleições, aumentado o caixa e comprando ativos mais seguros para proteger a carteira de um evento adverso. Por isso, como dizemos, a posição técnica estava mais “leve”, e ao voltarem às compras durante a eleição, impulsionaram o mercado;

2) A eleição do Senado é quase ou até mais relevante que a Presidência. Como muito provavelmente os Democratas não terão a completa maioria nas 2 Casas e na Presidência (“Blue Wave“, ou no bom e velho português, onda azul, cor dos democratas), a chance de conseguirem aprovar medidas impopulares – como aumento de impostos – é praticamente eliminada, o que ajuda o mercado; e

3) Rali de tecnologia e saúde – um Congresso dividido com o Senado de maioria Republicana dificilmente aumentará as regulações de forma expressiva para esses setores, o que causou uma grande “alta de alívio” (relief-rally) nesses setores, dado que essas medidas têm menor chance de serem aprovadas.

Apesar desse ânimo todo, não podemos esquecer que o CURTO PRAZO pode ser bem intenso, com o risco de judicialização. Trump segue com reclamações na justiça, estratégia que, ao menos por enquanto, tem sido pouco frutífera. E para deixar no radar, seus apoiadores fizeram protestos ontem e prometem novas demonstrações para hoje.

E a eleição ainda está bem apertada. Biden lidera Nevada com 11.4k votos (0.9 pp), Arizona com 47k (1.6 pp) e acabou de tomar a dianteira na Georgia, com 917 votos, o que acelerou a realização dos mercados. O presidente segue na frente na Pensilvânia, mas com vantagem cada vez menor. Agora está em 18.2k (0.3 pp). O anúncio do vencedor pode acontecer ainda hoje.

Só para não esquecer: apesar de parecer que só está rolando eleição americana na vida, hoje também é dia de dados importantes, com payroll nos EUA e IPCA no Brasil. Mais cedo, foi divulgado o IGP-DI com alta de 3,68% em outubro, maior que a estimativa de 3,25%.

Por fim, aproveite o Insight de hoje (sobre o tema do momento), com uma convidada especial: Dahlia Capital, gestora que dispensa apresentações.

Agenda da Semana
Sexta-feira, 06
04h00: Alemanha – Produção industrial saz set. (exp: 3,9%; ant: -0,2%)
09h00: Brasil – IPCA inflação IBGE a.m. out (exp XP: 0,88%; ant: 0,6%)
09h00: Brasil – IPCA inflação IBGE a.a. out (exp XP: 3,94%; ant: 3,1%)
10h30: EUA – taxa de desemprego out (exp: 7,7%; ant: 7,9%)