*Por Matheus Guimarães, CFA, Analista do Setor Financeiro da XP Inc.

  • De primeiro a 24 de julho acontece o maior evento de ciclismo do planeta: O Tour de France.
  • Entre escolhas de circuitos, preparo e definição de equipes, a competição tem tudo a ver com as suas finanças e investimentos.
  • Duvida? Chamamos um aficionado por ciclismo e especialista em investimentos para provar.

De primeiro a 24 de julho acontece o maior evento de ciclismo do planeta: O Tour de France (TDF)! A edição de 2022 é a 109ª e terá início em Copenhague, na Dinamarca. No dia 24/07/2022 os ciclistas são esperados na Avenida Champs Élysées em Paris.

Ao longo dos 21 dias de competição os ciclistas percorrerão 3.349,8 quilômetros e terão apenas dois dias de descanso. Eu me arrisco a dizer que, em termos físicos, o TDF possa ser uma das competições mais exigentes do calendário esportivo mundial.

Nos últimos dois anos o mundo viu surgir um garoto prodígio no circuito mundial: o esloveno Tadej Pogačar. O ciclista nascido em 21/09/1998 foi bicampeão do tour, além de vitórias em diversas outras provas e um bronze olímpico em Tóquio. Em 2022 ele vai em busca do tricampeonato e, certamente, será o ciclista a ser batido.

Neste momento você deve estar se perguntando: “Mas o que um texto sobre ciclismo está fazendo em um portal sobre investimentos?”. Você já vai entender.

Tipos de voltas e prazos de investimentos

A primeira coisa que é importante entender é que no mundo do ciclismo existem alguns tipos de provas. Que, de forma geral, podem ser divididas entre provas de um dia (aqui são incluídas as Monumentos), as voltas/tours de até uma semana, e Grandes Voltas.

As grandes voltas, que costumam durar três semanas, são três: O Giro de Itália (Itália), La Vuelta (Espanha) e Tour de France (França). O último, e mais famoso, historicamente acontece no verão europeu. As grandes voltas são as provas mais difíceis e exigem a maior preparação.

É como no mundo dos investimentos: os investidores podem estar focados em retornos de curto prazo, como em um trade tático específico, investindo com um objetivo logo à frente, como a troca de um veículo, ou pensando em objetivos de mais longo prazo, como a aposentadoria.

Equipes e diversificação

Neste ano, o Tour será disputado por 22 equipes. Dessas, 18 são UCI WorldTeam, 2 são UCI ProTeam e 2  são equipes francesas convidadas. Cada uma delas tem um objetivo ao disputar a prova. E com base nos objetivos elas escolhem os ciclistas que as representarão durante as etapas.

Embora o ciclismo pareça um esporte individual, o trabalho em equipe é o que, muitas vezes, garante o êxito. E é neste ponto que traçamos um paralelo com a composição de um portfólio de investimentos! Afinal, como é comum de se ouvir: a diversificação do portfólio tende a ser o único “almoço grátis”.

O papel das escolhas

O tour é dividido em etapas e os ciclistas, além de lutar pelas vitórias das etapas, lutam também: (i) pela camisa amarela (classificação geral); (ii) pela camisa verde (classificação de pontos); (iii) pela camisa branca de bolinhas vermelhas (classificação de montanhas); (iv) pela camisa branca (classificação do mais jovem); e (v) capacete amarelo (classificação por equipes).

Ou seja, antes de largar é possível escolher quais prêmios serão buscados. Na jornada de investimentos é a mesma coisa. Podemos escolher se queremos pouca ou muita volatilidade, foco maior ou menor em dividendos, papéis em setores com mais ou menos crescimento e por aí vai.

Portanto, os dirigentes das equipes selecionam os seus 8 ativos (ciclistas) de forma a atingir o objetivo traçado para aquela prova. Qualquer semelhança com um investidor não é mera coincidência. Afinal, quando se trata de investimentos cada um tem seus objetivos (aposentadoria, compra de um bem e etc) e para isso nós temos de selecionar quais ativos se adequam às nossas metas.

Como montar sua equipe (e seu portfólio)

Cada equipe tem seu capitão, normalmente é aquele que vai batalhar pela classificação geral, e os demais são chamados de gregários. Ou seja, aqueles que trabalham para ajudar o capitão de sua equipe.

Entre os ciclistas é comum dividi-los entre escaladores, sprinters e “ciclistas de classificação geral”. Os primeiros se destacam nas etapas com mais subidas. Os sprinters tendem a se destacar nas etapas com chegadas em terrenos planos. Por fim, temos os ciclistas de classificação geral, que tendem a ir bem em todos os terrenos. Ou seja, normalmente não são os melhores em um terreno específico, mas são combativos em todos.

Há ainda as etapas de contrarrelógio, como a etapa de abertura do Tour de France de 2022. Nestas etapas não há jogo de equipe nem nada. É o ciclista sozinho batalhando para ser o mais rápido. Nestes dias costumamos ver os ciclistas de classificação geral se destacando, pois eles são capazes de manter uma velocidade alta em todo o trajeto, mesmo sem ajuda dos seus gregários. Vale lembrar que o contrarrelógio já decidiu muitas provas, como o próprio TDF em 2020.

Quando vamos montar o nosso portfólio nos deparamos com escolhas semelhantes. Alguns ativos são mais indicados em períodos de mais incerteza (defensivos), outros vão melhor quando e economia vai de vento em popa e aqueles que são “pau pra toda obra”. Neste sentido, podemos montar uma carteira com destaque para um ativo – o capitão que vai em busca da camisa amarela – ou dividir de forma mais equânime e focar no prêmio por equipes.

Logo, nossa recomendação é que ao selecionar os ativos que vão compor o portfólio, o investidor se faça as mesmas perguntas que um dirigente de uma equipe de ciclismo deve se fazer:

  • Minha carteira tem um capitão? Ou seja, tem alguma ação que eu tenho mais convicção e que tende a ser a melhor no longo prazo.
  • Quem serão os gregários para as montanhas (resilientes para enfrentar os dias difíceis)? Aqui, podem entrar ações que paguem bons dividendos.
  • Quem serão os sprinters (as ações que vão se destacar quando a economia bombar)? Aqui podemos ter, por exemplo, ações de setores mais cíclicos e com alta correlação com a atividade econômica.
  • Vale a pena ter um ciclista para vencer alguma etapa específica? Dentro da estratégia de longo prazo pode fazer sentido ter alocações táticas em alguns papéis ou até mesmo em derivativos.
  • Vale ter um ciclista mais novo para batalhar pela camisa branca? Aqui poderiam entrar IPOs ou Small Caps.

Por fim, entra um aspecto que também é muito valorizado no ciclismo: os pesos! No ciclismo, existem os loucos por reduzir os gramas da bicicleta, eles têm até um apelido: “Weight weenies” (a tradução seria algo como loucos por peso). No mercado, é possível que algumas estratégias demandem a escolha da participação de determinado ativo na carteira com uma precisão que envolva até casas decimais. No entanto, embora não acreditemos que haja a necessidade deste nível de precisão, é certo que o peso de cada ativo seja sim uma variável importante.

Bom, tentei aqui trazer uma reflexão justa sobre a importância de elaborarmos uma estratégia consistente para que o investidor em geral seja capaz de alcançar seus objetivos financeiros. Este texto não tem a pretensão de exaurir o tema, mas sim abordar um tema importante de forma leve.

Para quem já curte ciclismo, não tenho dúvidas que vão acompanhar. Para quem ainda não conhece, vale assistir e entender um pouco mais da dinâmica da prova e dos jogos de equipe. Ah, e por fim, cuidado com as quedas! Vive le tour!