O principal tema que tem dominado os mercados em 2025 é o anúncio de tarifas comerciais por parte de Donald Trump. No dia 2 de abril, o governo americano declarou o que chamou de “Dia da Libertação”, estabelecendo tarifas recíprocas sobre produtos importados de países que impõem barreiras consideradas “desproporcionais”.

De acordo com o anunciado até agora, as tarifas anunciadas variam de acordo com o país, chegando a até 49% para Camboja e 46% para o Vietnã, enquanto o Brasil enfrentará uma sobretaxa de 10% – ou seja, todos os bens e serviços exportados do Brasil aos Estados Unidos passarão a ser taxados em, no mínimo, 10% (considerando que alguns itens já enfrentavam tarifas, como é o caso do aço).

De um modo geral, o anúncio do dia 02 de abril surpreendeu os investidores pela magnitude e abrangência das tarifas impostas. Por exemplo, as novas tarifas de 34% sobre produtos da China se somaram às tarifas de 20% já aplicadas anteriormente, resultando em um total de 54%. Além disso, aliados dos EUA, como a União Europeia e o Japão, também enfrentaram tarifas de 20% e 24%, respectivamente, superando as expectativas iniciais do mercado.

Além disso, se essas tarifas não forem revistas, é provável que vários países adotem tarifas de retaliação contra os EUA, como a China anunciou no dia 04 de abril.

Independentemente do desfecho da alíquota, entretanto, é possível afirmar que esse assunto deve seguir fonte de incerteza e volatilidade nos próximos meses – como vem sendo até então no ano. Diante desse cenário, surge a pergunta: vale a pena investir no mercado de ações, mesmo com tantas oscilações e dúvidas? Neste texto traremos um panorama sobre as tarifas anunciadas e a resposta para essa pergunta, em nossa visão.

As tarifas anunciadas

Desde o início de seu governo, Trump já anunciou tarifas direcionadas a produtos específicos, como veículos, peças, aço, alumínio, medicamentos e semicondutores, além de tarifas aplicadas a países como China, Canadá e México. Cada uma dessas medidas possui objetivos distintos, evidenciando que as tarifas servem a diferentes propósitos dentro da política econômica deste governo. O time de Research da XP separou essas tarifas em três principais categorias:

  1. Tarifas para Negociação: Estas tarifas são utilizadas como uma condição para forçar negociações e influenciar a tomada de decisão do país-alvo em temas de interesse dos EUA, como questões relacionadas às fronteiras com o México e o Canadá.

  2. Tarifas em Setores Estratégicos: Essas tarifas funcionam como mecanismos para implementar políticas econômicas internas, visando impulsionar a reindustrialização e fomentar o emprego nos EUA.

  3. Tarifa Universal: Este tipo de tarifa tem como objetivo aumentar a arrecadação e contribuir para o ajuste fiscal.

Segundo avaliação do nosso time, as tarifas anunciadas no “Dia da Libertação” representam uma combinação dos tipos 1 e 3. Além da tarifa base de 10% aplicada a todos os países (tarifa universal), parceiros comerciais que impuserem tarifas mais elevadas sobre os EUA enfrentarão alíquotas aumentadas (tarifa para negociação), conforme a lista divulgada pela Casa Branca.

Um breve panorama sobre as tensões em torno das tarifas

O mês de março já foi bastante turbulento no cenário internacional: as incertezas sobre tarifas comerciais e a política norte-americana se mantiveram em destaque. Assim, observou-se um movimento de rotação de investimentos no cenário global, com parte dos investidores retirando recursos dos Estados Unidos. 

Após a imposição das novas tarifas no chamado “Dia da Libertação”, a visão do time de Research da XP é de que, embora as medidas possam ser vistas como negativas em termos absolutos, elas podem beneficiar o Brasil em relação a outros países. Isso se deve ao fato de que as tarifas impostas ao Brasil foram mais brandas (10%) e, além disso, o país pode conquistar novos mercados para suas exportações. Também há a possibilidade de atrair mais investimentos de outros países, tanto de longo quanto de curto prazo. Ou seja, a rotação de investimentos para fora dos Estados Unidos, que ganhou força este ano, pode continuar.

No entanto, em um cenário de recessão para a economia americana e, por extensão, para a economia global, os ativos de risco, incluindo os do Brasil, serão afetados. Assim, embora tenhamos uma vantagem relativa, os impactos na economia global podem prejudicar também os ativos de risco aqui no país.

O time de Research da XP listou os principais pontos positivos e negativos dessa nova política.

Pontos Positivos:

  • Benefícios para o Agro: Setores exportadores de commodities, como o agronegócio, podem se beneficiar de uma guerra comercial, já que países costumam retaliar as medidas dos EUA. Durante a guerra comercial entre EUA e China (2018-2020), a demanda chinesa por commodities migrou dos EUA para o Brasil, favorecendo produtos como soja e milho. Recentemente, o presidente Lula visitou o Japão e, em parceria com o primeiro-ministro Ishiba, firmou medidas para abrir o mercado japonês à carne bovina brasileira. Em 2024, o Japão importou cerca de 40% de sua carne bovina dos EUA, o que pode mudar com as novas tarifas sobre importações globais de automóveis.
  • Investimentos Chineses em Infraestrutura: A China tem aumentado seus investimentos estratégicos em infraestrutura na América Latina, com um crescimento médio anual de 16,3% desde 2000. Entre 2007 e 2023, o Brasil recebeu US$ 73,3 bilhões em investimentos em 264 projetos, incluindo o porto de águas profundas no Peru e terminais no porto de Santos. O acordo entre China e Brasil para integrar a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) com os planos de desenvolvimento brasileiros é um destaque.
  • Menor Exposição Tarifária: As tarifas impostas ao Brasil foram menos severas em comparação com outros países, o que pode posicionar o Brasil como menos exposto ao risco tarifário e favorecer a continuidade dos fluxos de capital para fora dos EUA.

Pontos Negativos:

  • Impacto das Tarifas: A proposta de tarifa base de 10% sobre todas as importações pode afetar produtos brasileiros exportados para os EUA, como petróleo bruto, aço semiacabado e café. Embora o Brasil tenha conseguido isenções no passado, não está claro se novas negociações serão possíveis.
  • Barreiras Comerciais: O fortalecimento das relações entre Brasil e China pode gerar barreiras comerciais, uma vez que os EUA têm um histórico de adoção de medidas comerciais contra o Brasil. Embora não haja sinais imediatos de mudanças na política comercial dos EUA, o cenário geopolítico exige uma abordagem cautelosa.
  • Riscos de uma Guerra Comercial Prolongada: Uma guerra comercial prolongada pode desacelerar as economias dos EUA e global, representando uma ameaça para ativos de risco, incluindo o Brasil. Isso pode resultar em maior volatilidade, menor apetite por risco dos investidores e preços mais baixos das commodities, especialmente se a economia dos EUA entrar em recessão.

Além disso, no dia 9 de abril de 2025, Trump anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas, exceto para a China. Essa decisão gerou alívio nos mercados, com a percepção de que o tom mais duro do “Dia da Libertação” ainda poderia ser negociado. Esse evento demonstra que os ativos de risco permanecem muito sensíveis a esse tema, e a volatilidade deve continuar alta.

Respondendo à pergunta: vale a pena investir no mercado de ações, mesmo com tantas oscilações e dúvidas?

O debate sobre tarifas tem sido o principal motor da volatilidade nos mercados desde a posse de Donald Trump em 20 de janeiro. Na ocasião, o presidente prometeu utilizar essa ferramenta para aumentar a arrecadação e controlar a trajetória fiscal. No entanto, a comunicação errática do governo americano, marcada por anúncios seguidos de correções e adiamentos, gerou uma ampla incerteza entre os investidores e volatilidade nos mercados.

Diante desse cenário, recomendamos que os investidores mantenham uma carteira balanceada, capaz de navegar por diferentes condições de mercado. É prudente adotar uma postura ainda mais cautelosa, evitando movimentações bruscas no portfólio motivadas pelo medo das incertezas e da volatilidade que este momento traz.

Além disso, quedas mais acentuadas podem criar oportunidades de compra para investidores com perfil de longo prazo. Nesse sentido, recomendamos ajustar e balancear o portfólio gradualmente, a fim de aproveitar essas oportunidades.

Apesar do ambiente turbulento, dados mostram que aqueles que demonstram resiliência podem ser recompensados com retornos significativos a longo prazo.

Conforme ilustrado abaixo, os dados revelam que investidores que se mantiveram fora do mercado brasileiro durante os 10, 20 ou 30 dias de maior alta foram penalizados – perdendo boa parte dos ganhos, ou mesmo amargando perdas no período.

E o mais curioso: a maioria desses dias de maiores altas ocorreu justamente durante períodos de crise e incertezas, como a crise do subprime em 2008 e a pandemia de COVID-19 em 2020. Portanto, aqueles que conseguiram equilibrar suas carteiras nesses momentos críticos puderam aproveitar os retornos a longo prazo.

Além disso, não precisamos voltar muito no tempo para constatar a importância de manter uma carteira equilibrada. Em março de 2025, observamos um movimento de descompressão de riscos e a entrada de capital estrangeiro na bolsa brasileira, que resultou em um avanço superior a 6% do Ibovespa ao longo do mês. E esse movimento ocorreu logo após um período de grande turbulência e pessimismo ao final de 2024, marcado por preocupações com a alta de juros no Brasil e riscos fiscais.

Ou seja, quem estava de fora da bolsa por medo dos riscos, acabou perdendo oportunidades.

Além disso, a recuperação recente está intimamente ligada ao rebalanceamento das carteiras globais, especialmente em meio às incertezas provenientes dos Estados Unidos, incluindo aquelas relacionadas às tarifas.

Em resumo, embora ainda estejamos em um ambiente repleto de desafios e incertezas, acreditamos que a alocação em ações continua sendo um componente essencial para investidores com perfil de risco adequado e objetivos de longo prazo, desde que feita com estratégia e seletividade.

O movimento de março e o período histórico deixam uma mensagem clara: não espere a bolsa se valorizar ou que as incertezas desapareçam para construir seu portfólio.

Quer saber quais ações estamos recomendando neste momento? Fique por das nossas indicações de alocação diante do cenário atual, acesse nosso relatório completo sobre onde investir em 2025.

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