Lembro-me como se fosse hoje o dia da gravação do episódio 32 do Stock Pickers, era uma mistura de emoção com nervosismo, estávamos prestes a viver o “ponto alto” do programa até ali…
Quando finalmente tive a oportunidade de encontrar Luis Stuhlberger nos bastidores do evento, que, para mim, era a mesma sensação de uma criança que entra no campo de futebol de mãos dadas com um ídolo do esporte, fui tomado pelo momento e acabei me calando (logo eu que falo até pelos cotovelos).
Caros 13 leitores, se vocês não sabem quem é o tal do Luis ou mesmo como alguém conseguiu me calar, vou explicar melhor: Stuhlberger (ou Struhlba, para os íntimos) é CEO e CIO da Verde Asset, uma das principais gestoras do país, que fez sua fama com um fundo que leva o nome da casa – desde seu nascimento em janeiro de 1997, são mais de 17.500% de retorno aos investidores que confiram ao menos R$ 300 mil (aplicação inicial do fundo na época) às mãos de Luis.
Ontem, no segundo dia do evento Melhores Empresas da Bolsa (InfoMoney), tivemos a oportunidade de mais uma vez escuta-lo junto ao seu principal sócio na gestora, Luiz Parreiras, responsável pelas estratégias de previdência da casa.
Quem assistiu ao painel pôde ouvir da boca de Stuhlberger que ele está mais confortável investido na bolsa brasileira do que em títulos de dívida brasileira com vencimentos mais longos. Nós já tínhamos ‘cantado a bola’ que a Verde estava menos pessimista em relação ao Brasil nesse Rico Matinal, mas uma reafirmação ao melhor estilo ‘quem sabe faz ao vivo’ é sempre impactante.
Tem alguns motivos pelos quais essa sua fala ‘anima’ investidores brasileiros:
- Liberdade cognitiva de um gestor multimercado: o mandato do fundo Verde é multimercado. Isso significa que ele pode investir em diversas classes de ativos diferentes, e, além da posição comprada tradicional, também pode explorar posições vendidas, que ganham com a queda dos mercados. Ou seja, ele não apenas é livre para decidir se está otimista ou pessimista como também pode ganhar com as duas visões (assim como fizeram em 2014). Se o Verde está comprado na bolsa brasileira é porque realmente acredita que esse mercado segue sendo um bom investimento.
- O dilema fiscal não ‘bate’ na bolsa: Stuhlberger está preocupado com a situação da dívida pública – ele inclusive citou o fato de o Brasil ser o país emergente que mais gastou com assistência social: 8,4% do PIB nacional, em comparação com apenas 1% no México, para efeito de comparação.
Não foi um julgamento se isso é correto ou não, mas o fato é que houve um nível de gasto elevado e a preocupação fica em como o país pagará essa “conta” – seguiremos o caminho reformista e respeitando o teto de gastos? Ou romperemos este teto e elevaremos os juros para nos financiarmos? Ele ressaltou que não descarta um desfecho não muito romântico para o cenário fiscal, mas na bolsa temos empresas, criando empregos e pagando impostos, enquanto no mercado de dívida (Tesouro Direto) isso não se aplica. Justamente por isso, recentemente a Verde terminou seu investimento em LTN (Título prefixado do Tesouro Nacional). - Uma declaração não tão catastrófica assim: a última carta publicada pela gestora foi quase um “dossiê” da situação fiscal. Ali ficou explicito o quão profunda é a situação brasileira, e quando essa avaliação sai das mãos de uma das principais gestoras do país, que investe fortemente em pesquisa econômica, no mínimo acende uma luz vermelha na cabeça. Porém, percebemos que o desfecho disso não é tão catastrófico assim – pelo menos não o suficiente para justificar “sair da bolsa para voltar para o CDI [taxa de juros usada como remuneração, principalmente em títulos de renda fixa mais conservadores]”, nas palavras dele.
As idiossincrasias tupiniquins não param por aí…
Para a Verde, “a bolsa brasileira mostra a Suíça e os juros [expectativa futura da taxa básica de juros Selic] mostram a Venezuela”, e isso justifica pelo menos um ‘não pessimismo’ com a bolsa brasileira. Mas o mesmo sentimento não se replica à onda de aberturas de capital no Brasil.
Fizemos um ótimo insight falando sobre o tema, mas, para Luiz Parreiras, os banqueiros de investimento juntamente aos empresários não têm tratado os investidores como sócios no momento da abertura de capital da empresa.
Para defender sua crítica, Parreiras trouxe alguns números interessantes: em 2020, tivemos 27 IPOs no Brasil, o retorno médio dessas ofertas até o momento foi de 8%. Porém, esse número fica distorcido por conta do IPO de Locaweb, que entregou 300% de performance, e, se olharmos então para a mediana das ofertas, o retorno cai para 3%.
Enquanto isso, no mercado norte-americano, onde o número de ofertas é extremamente superior, tivemos um retorno de 30% com a mediana muito próxima disso. Dito isso, a conclusão é uma só: “os IPOs no Brasil são mal precificados”.
Sua critica não foi direcionada às empresas que abriram capital em si. A Verde inclusive fez investimentos em ofertas públicas como: Enjoei, Grupo Mateus e Petz. A critica segue a lei do ‘tudo tem seu preço’, e, na opinião de Parreiras, esse preço tem sido distorcido para cima.
Aos 13 leitores, minha humilde conclusão
Já disse por aqui que mais importante que a mensagem é o mensageiro. O fundo Verde historicamente tem uma posição em bolsa que beira um quarto do patrimônio do fundo. Hoje, está menor do que isso e se divide entre a brasileira e a norte-americana (S&P 500).
Não somente mais enxuta se comparada ao histórico, como também ao que chegou a ter durante a retomada dos mercados esse ano. Sem dizer que eles seguem com um portfólio de investimento diversificado, então eu entenderia a mensagem como ‘menos pessimista’, e não como otimista, por assim dizer.
E a crítica de Stuhlberger sobre os títulos longos do Tesouro Direto, como o IPCA+ e os prefixados não é do ponto de vista do investidor pessoa física, mas sim do institucional. Qual a diferença? Que ele tem que justificar seu retorno todo santo dia para seus cotistas, e, como consequência, mostrar a oscilação de preço de tudo que está em carteira. Diferente de nós, que temos o privilégio de focar apenas nos nossos recursos e, nos títulos de renda fixa e podemos manter até o vencimento dos títulos para receber os juros acordados.
Com as minhas considerações de ‘irmão mais velho’ feitas, sim, podemos achar interessante a fala do conforto maior no investimento em bolsa dado o cenário brasileiro. Principalmente a mensagem da situação fiscal não incomodar tanto a bolsa no longo prazo, ainda mais vinda de alguém que entende profundamente do assunto.
Isso só realça o que já falamos muitas vezes por aqui: tanto no fundo de Stuhlberger quanto no de Parreiras, o conforto está em investir na bolsa, porém numa posição menor do que a histórica. O segredo é adequar ao seu perfil de estratégia como investidor. A pergunta que deve ser respondida, muitas vezes, não é “se devemos ter”, mas sim “quanto devemos ter”.
Em nossas recomendações, bem como dentro dos nossos fundos DNA, entendemos que, por ora, o melhor é manter o tamanho das nossas recomendações/posições em bolsa brasileira. Ah, e seguimos diversificados, tanto aqui no Brasil quanto fora, em renda fixa e renda variável.
E como Stuhlberger disse no painel: “o Market Timing [ato de investir tentando acertar os momentos do mercado] é uma arte”, mas não a única forma de ganhar dinheiro nos mercados.
Passarinho que pula demais leva chumbo.