No começo de agosto, avisamos aqui no Rico Matinal que o indicador favorito de Warren Buffett para acompanhar os mercados atingiu novos recordes – e que isso não é uma boa notícia. De lá para cá, o cenário continua preocupante sob o ponto de vista dessa métrica.

Por isso, e também em homenagem ao aniversário de 90 (!) anos do megainvestidor, que foi no último domingo, resolvemos explicar melhor como funciona o “Buffett Indicator” e por que prestar atenção nele.

Como sabemos, o estilo de investir do nonagenário não é o de agir conforme movimentos pontuais de mercado (embora seu sucessor esteja experimentando essa linha), mas sim observar empresas de qualidade para apostar em ganhos de longuíssimo prazo. Mas existe um indicador pontual que levanta suas sobrancelhas.

Em 2001, o “oráculo de Omaha” e CEO da Berkshire Hathaway escreveu na Fortune Magazine que a divisão entre PIB (o quanto o mundo está produzindo) e a soma do valor de mercado de todas as companhias listadas em bolsa é “provavelmente a melhor medida para o nível dos valuations a qualquer momento”. Uma leitura acima de 100% significa que as ações estão supervalorizadas em relação à economia.

Segundo ele, o fato de essa relação ter superado em muito os 100% pouco antes do estouro da bolha pontocom deveria ter sido observado como um forte sinal de que o mercado passaria por problemas.

“Para mim, a mensagem é a seguinte: se a relação percentual cai para uma zona entre 70% e 80%, comprar ações provavelmente funcionará muito bem. Se a relação se aproxima de 200% – como aconteceu em 1999 e uma parte de 2000 – você está brincando com fogo”, diz o texto.

Como está o indicador?

Agora, mais uma vez, esse indicador supera a marca crítica, conforme defende Buffett.

Como podemos ver no gráfico abaixo, dois momentos em que o Indicador Buffett atingiu pontos críticos foram em 2000, na já mencionada bola das pontocom, e em 2007, logo antes do estouro da bolha das hipotecas subprime. Agora, ele está mais apreciado do que nunca, em 178%:

Globalmente, agosto de 2020 foi a primeira vez em que o indicador superou os 100% desde 2018.

Existem controvérsias a esse indicador, porque sabemos que os mercados precificam expectativas para o futuro, e não necessariamente resultados relativos ao momento atual das empresas. Mas é difícil ignorar números como esses.

As ações se beneficiam de intervenções agressivas nas economias mundiais, com bancos centrais e governos injetando dinheiro para conter os efeitos da pandemia de covid-19. E a pandemia também é o grande motivo pelo qual o PIB mundial deve ser fortemente afetado para baixo.

Dessa vez é diferente?

O mundo dá voltas, mas não chega necessariamente no mesmo lugar. Ainda que os momentos em que essa métrica foi atingido no passado tenham antecedido crises, existem motivos para acreditar que o mercado ainda tem espaço para crescer.

Um deles é o fato de que, com juros baixos, há hoje US$ 15 trilhões investidos em títulos de dívida com rendimento negativo ao redor do mundo. Sem ganhos na renda fixa, o investido pode precisar apostar cada vez mais no mercado de ações em busca de mais rentabilidade – e com isso sustentar a alta da bolsa pela demanda. 

Outro é a leitura de que talvez não saibamos, ainda, compreender totalmente o cálculo do valuation de empresas totalmente disruptivas, como Apple e Tesla. Mas esse é o tema do Insight de amanhã – fique de olho!