A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,39% em novembro de 2024. O resultado mensal levou a métrica acumulada em dozes meses para 4,87% em novembro, acima dos 4,76% registrados em outubro.
O patamar atingido se distancia ainda mais do limite superior de 1,5 p.p. da meta de inflação do Banco Central (de 3,0%), rompido em outubro – reforçando preocupações sobre o ritmo de alta de preços e seus impactos na economia adiante.
Meta de inflação: o que é?
O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.
Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,0%. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços de maneira contínua, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,00%.
O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50 pontos percentuais para cima e para baixo. Essa “banda” serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.
Caso o IPCA se mantenha acima do limite de 4,5% por seis meses consecutivos, o presidente do Banco Central deve enviar carta ao Presidente da República indicando: i) os motivos do não atingimento da meta; ii) medidas planejadas para que a inflação retome à meta; e iii) o tempo projetado para que isso se concretize.
Queda nos preços de energia não compensa alta em alimentos e serviços
O resultado de novembro veio em linha com o esperado por analistas, apresentando poucas surpresas em relação ao projetado. Deste modo, a reação imediata observada nos mercados foi limitada, apesar da manutenção do patamar acima da meta.
Mas isso não significa que foi um dado benigno, tampouco que as perspectivas adiante não preocupam – muito pelo contrário, como detalhamos abaixo.
O destaque do mês ficou mais uma vez para o comportamento dos preços de energia elétrica e alimentos.
Na ponta de pressões inflacionárias, alimentos seguiram a tendência de alta observada nos últimos meses. Puxada por proteínas (em particular, carne bovina – que subiu 8% no mês), a categoria “alimentação no domicílio” registrou alta de 1,81% na variação mensal.
Os principais motivos por trás da alta no preço das carnes incluem o momento do ciclo pecuário (específico ao abate bovino), a demanda aquecida diante da elevação da renda real disponível da população, e o real despreciado – que tende a impulsionar exportações, reduzindo a oferta doméstica de proteínas.
Além das carnes, produtos como café e óleo de soja contribuíram para a alta dos alimentos, que impactou também a inflação de serviços – uma vez que preços de alimentos consumidos fora de casa (ex: em restaurantes) são categorizados como “serviços” no IPCA. De fato, a categoria “alimentação fora do domicílio” registrou alta de 0,88% no mês.
Em bom português: os preços dos alimentos estão subindo por uma série de razões, e não devemos observar um alívio tão cedo. Para ilustrar, projetamos que a inflação de alimentos próximo a 9% tanto no número acumulado desse ano, quanto em 2025.
Na outra ponta, os preços da “conta de luz” trouxeram boas notícias no mês, sendo a principal contribuição baixista para o resultado de novembro – ou seja, que trouxe o número para baixo. A ativação da bandeira amarela na tarifa de eletricidade (partindo da “bandeira vermelha 2”) explica a queda de 6,3% registrada para a categoria energia elétrica residencial no mês, refletindo a redução do uso de termelétricas no fornecimento de energia no país, diante da normalização das condições climáticas em diversas regiões.
Vale destacar: mais de 60% da energia no Brasil é gerada por usinas hidroelétricas. Assim, períodos de seca prolongada acabam levando à necessidade de que a geração de energia termelétrica seja impulsionada, para garantir a geração de energia no país.
Uma vez que o custo de geração de energia por termelétricas é mais alto, o sistema de “bandeiras tarifárias” (verde quando em situação normal, evoluindo até o vermelho 2) tem o objetivo de cobrir tal diferença de custo, incorrendo em “contas de luz mais caras” para famílias e empresas.
Mas a queda não foi o suficiente para compensar as altas observada não somente nos preços de alimentos, mas também de serviços, como passagens aéreas, serviços de saúde e serviços pessoais – como manicures, cabelereiros e cartórios. Para ilustrar, a inflação da categoria “serviços intensivos em mão de obra” atingiu o nível mais alta desde maio, aos 5,5% em sua métrica ajustada dos últimos três meses. Na mesma linha, os preços de bens industriais deixaram de representar alívio para o quadro inflacionário, apesar de queda em algumas categorias por conta de promoções de Black Friday. Reflexo tanto de uma moeda desvalorizada – que encarece bens finais e intermediários para produção industrial – quanto de uma economia aquecida, os preços industriais acumulam alta de 4,2% (também quando considerado seu comportamento nos últimos três meses).
O que esperar? Cenário adiante preocupa
Apesar de dentro do esperado pela maior parte dos analistas, o resultado de outubro reforça preocupações sobre o cenário de preços adiante.
Isso porque os últimos meses foram marcados pelo aumento de fatores de pressão inflacionária tanto no cenário doméstico quanto global – com maior protagonismo para o primeiro.
No cenário global, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos adicionou riscos ao ambiente de inflação global, na esteira de promessas eleitorais incluindo políticas mais restritivas contra imigração, maiores tarifas e corte de impostos – todas que podem pressionar os preços na maior economia do mundo.
Enquanto isso, por aqui, a economia aquecida, com destaque para o mercado de trabalho e a alta da renda das famílias, adicionam pressão sobre os preços. Esse efeito é visto especialmente no setor de serviços, mas também em bens industriais, alimentos e bens de consumo de uma maneira geral. Afinal, com maior renda disponível, famílias tendem a elevar o consumo para além de bens essenciais.
O mercado de crédito também aquecido reforça esse cenário, ainda sem refletir a alta recente da taxa Selic. Vale lembrar que alterações na taxa básica de juros demoram um tempo para serem sentidas na economia – dinâmica que chamamos de “defasagem da política monetária”.
Em resumo: o ambiente de economia aquecida, com desemprego baixo, salários em alta e crédito abundante impulsiona a demanda das famílias por bens e serviços, pressionando os preços de maneira generalizada.
O fiscal como risco inflacionário
Por fim, mas não menos importante, vale destacar a piora da percepção de risco fiscal como um dos principais riscos ao controle dos preços olhando para frente. Isso porque o aumento dos gastos públicos não somente contribui para elevar a demanda por bens e serviços na economia, como também impacta as expectativas de inflação e a precificação dos ativos por aqui – incluindo a nossa moeda.
Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante, influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro (lembrando que as expectativas sobre os preços no futuro importam).
Na mesma linha, com receios de que a inflação possa corroer os ganhos a frente, investidores “colocam no preço” dos ativos brasileiros esse risco maior – e nossa moeda perde valor.
Nesse contexto, definições relacionadas a sustentabilidade e manutenção das regras fiscais vigentes (em especial o arcabouço fiscal), incluindo potenciais cortes de despesas para flexibilizar o orçamento público, seguirão centrais – e um fator de risco – para o rumo dos preços adiante.
Selic deve atingir 14,25% para trazer inflação de volta à meta
Diante do cenário descrito acima, projetamos que o IPCA encerre esse ano e o próximo acima da meta do Banco Central: em 5,0% em 2024 e 5,2% em 2025.
Observando seu objetivo de manter a inflação na meta, o Banco Central deve seguir atuando para reverter o cenário de alta de preços. Isso significa elevar ainda mais a nossa taxa básica de juros, a Selic.
Vale lembrar: gestão da taxa Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a variação de preços na economia – aquecendo ou desaquecendo a atividade econômica, e impactando fatores como a taxa de câmbio (com capital sendo atraído por maiores retornos, valorizando nossa moeda) e as expectativas de inflação para o futuro.
Projetamos que a Selic atinja 14,25% em maio de 2025 – ao final do ano, poderá haver espaço para o início de um novo ciclo de quedas, até o patamar de 11,25% no meio de 2026. Porém, como destacamos, riscos seguem no radar tanto no Brasil quanto no mundo.
Como se proteger da alta de preços?
Embora não vejamos um cenário de forte reaceleração dos preços no curto prazo, a inflação segue motivo de cautela e atenção – como falamos.
Assim, proteger os investimentos contra a alta de preços segue essencial.
Títulos indexados à inflação (como o título público NTN-B 2030), emissões bancárias de instituições sólidas e com boa classificação de risco e debêntures incentivadas (sem cobrança de Imposto de Renda ao investidor) são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.
Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários. Por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação, os FIIs podem ser excelentes aliados do investidor em um cenário ainda cauteloso com a alta de preços. Aqui te indicamos nossa carteira recomendada de Fundos Imobiliários.
Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, confira o detalhe das nossas recomendações de investimento atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor no “Onde Investir”.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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