Não seja pego de calças curtas!
“Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”, Warren Buffett.
Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor, porque ajudam a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores para os investimentos.
Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. Mas quer dizer que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos.
Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. Abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.
Onde estamos? Juros altos, até quando?
No mundo, a pergunta de 2024 deixa de ser “até onde subirão os juros?”, para “até quando eles ficarão altos?”.
Embora ainda siga no radar de riscos, a inflação entra em 2024 com menos força. Nos Estados Unidos, a inflação ao consumidor (medida por seu núcleo, excetuando preços mais voláteis) cedeu para 3,2% no acumulado em doze meses até novembro – patamar ainda acima da meta do Banco Central (de 2,0%), mas bem abaixo dos aproximadamente 6,0% registrados no fim do ano passado.
Já na Zona do Euro, a inflação se aproxima da meta, com o principal indicador de preços ao consumidor acumulando alta de 2,9% em doze meses até dezembro.
A recente queda nos preços das commodities favorece o cenário de enfraquecimento da inflação no mundo. Depois de ficarem praticamente estáveis ao longo de 2023, os preços de alimentos e outros insumos básicos entraram em clara tendência de queda. Para ilustrar, o Índice Geral de Commodities CRB recuou 8% (em dólares) desde o final de setembro, puxado por preços de gasolina, açúcar, leite, entre outros.
Em bom português: matérias primas estão mais baratas, e isso ajuda no controle da inflação.
Nesse cenário, ganham força expectativas de que os juros comecem a cair em breve. Afinal, com inflação cedendo e perspectivas de que os preços sigam comportados, Bancos Centrais não precisariam segurar os juros tão altos por muito mais tempo. Esse movimento, entretanto, deve acontecer em momentos diferentes entre países.
Vale lembrar que juros altos têm o objetivo de controlar a alta de preços, encarecendo o crédito e desincentivando o consumo, desaquecendo a economia e a demanda por bens e serviços.
Dito isso, não vemos os Bancos Centrais reduzindo os juros em ritmo acelerado ao longo do ano, especialmente nos Estados Unidos. A economia ainda resiliente, o mercado de trabalho aquecido e os salários crescendo acima da média histórica contribuem para uma visão cautelosa sobre o ritmo de alta de preços adiante – e, portanto, sobre os próximos passos do Banco Central na maior economia do mundo.
Ainda, vale lembrar que o fim de 2023 trouxe um fator adicional para o palco dos juros, que deve seguir como fonte de instabilidade em 2024: a forte volatilidade dos juros de longo prazo americanos. As famosas Treasuries (títulos da dívida do governo dos EUA) com vencimento entre 10 e 30 anos passaram por um período de forte elevação no fim do ano passado, atingindo patamares historicamente altos, e devem seguir bastante voláteis nos próximos meses.
Isso significa que, embora os juros de curto prazo (determinados pelo Banco Central) devam começar a cair em meados de 2024, a sensação de aperto monetário – ou seja, dinheiro mais escasso – seguirá presente no ano que se inicia.
Por que as Treasuries devem seguir voláteis em 2024?
Além da inflação persistente e da economia ainda forte, o aumento do gasto público nos ganhou destaque como razão por trás da recente alta das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, o déficit fiscal em 2023 deve ser o mais elevado da história (tirando momentos extraordinários, como a crise financeira de 2008 e a pandemia). E a situação não deve se reverter tão cedo, principalmente por conta das eleições presidenciais em 2024 e novos conflitos geopolíticos (que elevam o gasto militar).
E movimentos nos juros de longo prazo americanos balançam mercados no mundo todo. Isso ocorre porque as Treasuries servem de base como “a taxa livre de risco” para a análise dos preços de praticamente todos os ativos financeiros globais – desde ações até títulos de renda fixa. Por isso, esse movimento dos juros americanos deve seguir como fonte de cautela entre investidores. Falamos mais sobre isso no Onde Investir em 2024.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, a China deve seguir lutando contra um crescimento mais fraco em 2024. O país ainda enfrenta desafios para retomar um ritmo de crescimento robusto, marcado pela transição entre um modelo baseado na exportação para um baseado no consumo. Nesse cenário, mesmo com esforços do governo para impulsionar setores como de educação e tecnologia e estímulos diretos ao mercado, o crescimento em 2024 (e nos próximos anos) deve ser mais fraco do que os saltos vistos nos últimos 20 anos.
Vemos o impacto dessa desaceleração, entretanto, como limitado para a economia brasileira. Entendemos que nossas exportações devem seguir fortes para o país asiático em 2024. Essa dinâmica deve seguir contribuindo para a manutenção das nossas contas externas sólidas (ou seja, com vendas para o mundo fortes, em comparação com nossas importações) e do real relativamente valorizado no ano.
Enquanto isso, no Brasil
2024: um ano de crescimento moderado
Por aqui, a economia surpreendeu crescendo acima do esperado em boa parte de 2023. Depois de um resultado forte na primeira metade do ano, o PIB do terceiro trimestre cresceu mais do que o projetado pela maior parte dos analistas, impulsionado por um setor de serviços ainda resiliente e um consumo das famílias mais sólido do que o esperado.
O mercado de trabalho aquecido, programas de benefício fiscal (que viram forte elevação desde meados de 2022) e a queda da inflação ajudam a explicar a boa performance da economia depois do fim dos impactos da supersafra agrícola da primeira metade de 2023. Especialmente com a produção e consumo de bens não relacionados ao crédito (como alimentos) e de serviços.
Revisões metodológicas na contabilização do PIB também contribuíram para o que deve se concretizar como uma elevação de 3,0% em 2023 (o número fechado do ano será divulgado apenas em março de 2024).
O ano de 2024, entretanto, não deve seguir no mesmo ritmo. O enfraquecimento da economia já está se tornando mais claro, como resultado tanto de taxas de juros ainda altas (que mantém altos os níveis de endividamento das famílias e o crédito caro), quanto da estabilização da inflação e de benefícios fiscais.
Vale lembrar também do efeito do fim do boom agrícola, que puxou o PIB substancialmente na primeira metade desse ano, mas não deve manter o crescimento tão forte em 2024.
Ou seja, os motores que vimos impulsionando a economia em 2023 não devem se manter em 2024.
Para ilustrar, a produção industrial segue praticamente estagnada desde 2021, enquanto as vendas no comércio varejista recuaram nos últimos meses de 2023, principalmente nos segmentos de produtos que exigem maior financiamento, como carros, eletrodomésticos e móveis.
Até o setor de serviços, que se mostrava resiliente no início do ano, já demonstra sinais de fraqueza, tendo contraído 0,6% em outubro (em relação a setembro).
Finalmente, vale destacar o crescimento mais fraco esperado para a economia global nesse ano – com juros ainda altos. Esse movimento também nos impacta por aqui, sinalizando cautela sobre uma visão mais positiva da economia nos próximos anos.
Nesse cenário, projetamos que o PIB do Brasil desacelere o crescimento para 1,5% em 2024. Impulsionando esse crescimento, devemos observar os efeitos da continuidade da queda da taxa Selic (barateando o crédito e reduzindo o “freio” sobre a economia) e de um mercado de trabalho que deve seguir sólido no ano.
Já para 2025, vemos a economia brasileira retomando um pouco de ímpeto, e crescendo 2,0% no ano – impulsionada por uma esperada melhora no cenário global e pelos efeitos do ciclo de queda de juros que seguirá ao longo desse ano.
Inflação deve seguir comportada em 2024, sustentando queda nos juros
Como contamos em detalhes aqui, o IPCA (nosso principal índice de inflação ao consumidor) fechou o ano de 2023 com alta de 4,6%. O resultado seguiu ainda acima da meta do Banco Central, mas dentro do intervalo de tolerância – estabelecido para sustentar choques adversos (como uma pandemia ou uma seca).
O resultado do ano consolida o processo de desinflação observado em 2023. A queda da inflação no ano foi resultado tanto de movimentos globais (como a normalização das cadeias de fornecimento e produção pós-pandemia) quanto da política monetária restritiva implementada pelo Banco Central – ou seja, de juros altos para conter o ritmo de elevação dos preços.
Vale destacar que um processo de desinflação é diferente de um período deflacionário – em que os preços efetivamente caem. Dito isso, o ano passado foi de fato marcado pela queda de alguns preços, em especial de alimentos, em um movimento explicado por fatores climáticos, técnicos e pela forte produção agrícola no país.
Para 2024, o cenário de inflação comportada deve se manter. A queda nos preços de commodities no mercado global, como falamos acima, além de uma moeda relativamente valorizada devem ajudar nessa frente. Vale lembrar que o valor da nossa moeda impacta os preços por aqui, uma vez que boa parte do que consumimos é importado ou tem partes importadas (como o próprio “pãozinho”, que inclui como insumo a farinha importada em dólares).
Dito isso, ainda há riscos a serem monitorados. Primeiro, vale o destaque para o fenômeno climático El Niño, que pode impactar principalmente os preços de alimentos. O comportamento da inflação no setor de serviços também suscita cautela. Isso porque preços de serviços tendem a refletir o comportamento dos salários na economia, além de, claro, o nível de demanda na economia; por isso, tendem a ser mais difíceis de controlar uma vez disseminados.
Assim, projetamos que o IPCA encerre 2024 em 3,7%. Adiante, projetamos uma inflação relativamente estável, mas ainda acima da meta do Banco Central (de 3,00%) – encerrando 2025 em 4,0%.
Selic deve continuar caindo em 2024, e encerrar o ano em 9,0%
Como contamos aqui,o Copom (nosso comitê de política monetária) optou por reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual em sua última reunião de 2023 – levando nossa taxa básica de juros para 11,75% ao ano.
Diante do cenário de inflação comportada que descrevemos acima, entendemos que o Banco Central terá espaço para continuar reduzindo a Selic. Afinal, o objetivo principal da manutenção de juros elevados é o controle do ritmo de preços.
Riscos nos cenários internacional e doméstico, entretanto, limitam uma queda nos juros para além de 9,0%.
No âmbito internacional, a forte alta das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos (como falamos acima) impõe um desafio para a redução dos juros no Brasil.De maneira simplificada, com retornos mais altos no investimento considerado de menor risco do mundo, investidores tendem a “exigir” maiores retornos em países considerados de maior risco – ou seja, maiores juros.
Já aqui no Brasil, o principal risco continua sendo a deterioração das contas públicas. Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante – influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro.
Nos últimos meses de 2023, vimos uma melhora relativa da percepção de risco fiscal. Porém, sinalizações sobre o orçamento de 2024 e outras políticas que pressionam os gastos e reduzem o efeito dos juros determinados pelo Banco Central (como o uso elevado de bancos públicos) mantêm o tema no radar de riscos para 2024.
Assim, vemos a Selic caindo para 9,00% até o final deste ano, onde entendemos que ela deve ficar ao longo de 2025. Isso significa que os juros devem cair até atingirem o patamar considerado neutro – que não estimula nem desestimula a economia.
E o dólar, vai para onde?
Os últimos meses de 2023 foram marcados pelo enfraquecimento do dólar em boa parte do mundo, e o Brasil não foi exceção. Depois de atingir R$/US$ 5,15 em meados de outubro, a nossa taxa de câmbio fechou o ano pouco acima de R$/US 4,80.
No mundo, a perda de força do dólar refletiu expectativas de que os juros comecem a cair em breve nos Estados Unidos. Lembrando que juros relativamente mais baixos tendem a atrair menos capital por oferecerem menores retornos relativos, enfraquecendo a moeda – é o que chamamos de “diferencial de juros”, em economia.
Já no cenário local, a performance positiva das nossas contas externas favoreceu o movimento de valorização do real. Ou seja, seguimos atraindo forte fluxo de capital estrangeiro, especialmente pela via comercial, impulsionado principalmente pela supersafra agrícola e pelo aumento na extração de petróleo. E quanto mais dinheiro estrangeiro por aqui, mais valorizada nossa moeda.
A queda no preço médio das nossas importações também contribuiu para essa dinâmica favorável da chamada balança comercial – mantendo o que compramos relativamente mais barato do que o que vendemos ao mundo.
Diante desse cenário de contas externas fortes e mensagem mais leve do Banco Central americano, acreditamos que o real seguirá relativamente valorizado ao longo deste ano. Projetamos R$/US$ 4,70 para o final de 2024 e R$/US$ 4,90 para o final de 2025.
Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o “sobe e desce do dólar” siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.
Como investir nesse cenário?
Com tantos eventos e mudanças no cenário econômico no Brasil e no mundo, entender como melhor investir o seu dinheiro e proteger o seu patrimônio é essencial.
Por isso, destacamos abaixo nossas recomendações de alocação atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor, além de sugestões de onde investir em cada classe de ativo (como ações, renda fixa e fundos de investimento).
Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.
Confira tudo isso em detalhes no nosso relatório “Onde Investir” – acesse aqui!
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2029 | XP TOP FI Renda Fixa Crédito Privado LP | R$ 100,00 |
Inflação | Tesouro IPCA+ 5,18% mai/2029 | CRA Marfrig IPCA+6,35% Jan/32 | R$ 50,00 |
Renda Fixa Prefixada | Tesouro Prefixado 2026 | CRA Vamos nov/30 11,00% | R$ 100,00 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | XP Macro FIM | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$ 100,00 |
Renda variável internacional | Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 | M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I | R$ 500,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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