Recapitulando… 

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 acabaram e agora podemos fazer diversos balanços sobre a competição. Incorporando o espírito olímpico, podemos dizer que o Brasil terminou as Olímpiadas com muitos motivos para se orgulhar.  

Apesar do número de medalhas de ouro não ter superado o recorde que ainda ficou com os anos de 2021 e 2016 (foram 7 ouros em cada um desses anos), em determinados esportes o Brasil obteve os melhores resultados da história. Além disso, conquistamos ao todo 20 medalhas nessa edição, sendo três de ouro, sete de prata e 10 de bronze. É a segunda melhor campanha da história. Tivemos também a conquista de medalhas inéditas em algumas provas. 

E os bons resultados do Brasil nos Jogos Olímpicos Paris 2024 se refletiram além dos esportes em si. Nas redes sociais, por exemplo, houve adesão de mais de 2,5 milhões de novos seguidores ao longo dos Jogos. Assim, as redes sociais do Comitê Olímpico do Brasil (@timebrasil) terminam Paris 2024 com uma medalha de ouro entre todos os 205 Comitês Olímpicos Nacionais. 

Outra marca a ser comemorada pela entidade no ciclo olímpico é o crescimento de patrocinadores privados: foram 21 patrocinadores do Time Brasil. Dentre as 21 empresas que patrocinaram o Time Brasil nas Olímpiadas, 9 delas são negociadas na bolsa brasileira, a B3.  

Nesse cenário, olhando para o mundo dos investimentos, uma questão que fica agora é: será que a exposição que essas empresas tiveram durante o período das Olímpiadas impactou a performance das suas ações? Vamos entender. 

As Olimpíadas e a bolsa: tem relação? 

De acordo com informações divulgadas pela Globo – principal emissora do Brasil a transmitir os Jogos Olímpicos – seus canais (TV Globo, Sportv, Globoplay e GE) alcançaram 140,4 milhões de pessoas com conteúdo sobre os Jogos Olímpicos de Paris.  

Ou seja, considerando apenas a população brasileira, milhões de pessoas foram impactadas com conteúdo dos jogos. Com base no último censo divulgado pelo IBGE, podemos dizer que quase 70% da população brasileira foi impactada por conteúdo sobre as Olimpíadas, apenas considerando os canais Globo.  

Assim, podemos dizer que o conteúdo sobre as Olímpiadas viralizou entre a população brasileira, não é mesmo? Quem acompanha redes sociais sabe que, além de muita emoção, os jogos foram a temática de diversas discussões e “memes”.  

Durante esse período, outro destaque ficou para as marcas de patrocinadores, principalmente para quem acompanhou os jogos pela TV. Listamos abaixo as principais empresas privadas que patrocinaram o Time Brasil: 

Águia Branca Hemmer Peak 
Ajinomoto Max Recovery Riachuelo 
Aliança Francesa Medley Smartfit 
Azul Mormaii Subway 
Estácio Neoenergia Vivo 
Grupo Águia Newon Voke 
Havaianas Nsports XP Investimentos 

Falando especificamente sobre as empresas patrocinadoras, algumas exerceram o patrocínio a partir de uma marca própria, como é o caso da XP Investimentos – empresa que possui ações listadas na Nasdaq e BDRs negociadas aqui no Brasil (XPBR31) – da Neoenergia, que possui as ações listadas diretamente na B3 (NEOE3), da Azul (AZUL4), entre outras. 

Já outras apoiaram o esporte brasileiro por meio de marcas associadas a uma holding, como é o caso da Havaianas, que pertence à Alpargatas (APLA4) e da Mormaii, que pertence ao grupo Technos (TECN3). 

A pergunta que fica agora é: será que a exposição que essas marcas tiveram durante os Jogos Olímpicos se refletiu nos preços de suas ações negociadas na B3? 

As Olímpiadas de Paris 2024 tiveram início no dia 26 de julho de 2024 e foram encerradas em 11 de agosto de 2024.  

Assim, analisamos o movimento de preços das ações dos patrocinadores desde o fechamento dos negócios em 25 de julho, até a abertura das negociações do dia 12 de agosto. A tabela abaixo ilustra os resultados.  

Empresa Ticker Variação (%) 
Riachuelo GUAR3 +18,56% 
Smartfit SMFT3 +7,30% 
Vivo VIVT3 +5,68% 
Mormaii TECN3 +7,49% 
Neoenergia NEOE3 +4,59% 
XP Investimentos XPBR31 +1,14% 
Havaianas ALPA4 -1,52% 
Estácio YDUQ3 -1,52% 
Azul AZUL4 -2,98% 

Ou seja, 6 das 9 empresas que patrocinaram o time Brasil tiveram oscilação positiva nas ações durante o período das Olímpiadas, o que corresponde a 66% das empresas.

Relação causal ou correlação espúria? 

Como podemos observar, a maioria das empresas patrocinadoras do Time Brasil e que são listadas na B3 registraram alta nos preços das suas ações durante o período dos Jogo Olímpicos de Paris 2024. Mais precisamente, 66% delas subiu durante o período dos Jogos Olímpicos.    

Mas será que apenas a exposição que essas empresas tiveram nesse período justifica esse fato, ou ocorreu o que chamamos de correlação espúria?  

Afinal, alguns dados até podem estar numericamente relacionados, mas são capazes de levar a conclusões precipitadas e equivocadas se não forem analisados com precisão, por não haver de fato uma relação de causa e efeito entre eles. 

O que é uma correlação espúria?  

Ocorre uma correlação espúria quando há relação estatística entre duas variáveis, porém não existe nenhuma relação de causa e efeito entre elas.  

Há um site na internet que mostra diversos casos de correlações espúrias, como exemplo, entre artigos de quarta-feira de Matt Levine na Bloomberg e a geração de energia nuclear na França. Ou ainda, entre o número de pessoas afogadas por cair em uma piscina com o número de filmes estrelados por Nicolas Cage.  

Ou seja, uma correlação espúria ocorre quando há relação numérica entre duas variáveis, mas sem haver uma relação de causa e efeito entre elas. 

Para entendermos se há uma relação de causa e efeito ou é apenas uma correlação espúria nesse caso, é importante considerar que o movimento dos preços de ações na bolsa, em sua essência, pela relação entre oferta e demanda.    

De maneira simplificada, se há muito investidores interessados em comprar um ativo, o preço sobe. Por outro lado, se a maioria dos investidores desejar vender essas ações, o preço cai. 

Essa dinâmica entre compra e venda de ações, por sua vez, reflete uma série de fatores. Esses incluem fatores macroeconômicos, como juros, taxa de câmbio e inflação, além de questões microeconômicas – como o desempenho específico de uma empresa (incluindo lucro, alavancagem, etc) – e ainda os objetivos e perfil de cada investidor.  

Ou seja, uma série de fatores influenciam a decisão de investidores, impactando diretamente os preços de ações.  

Voltando para o exemplo Olímpico, portanto, podemos dizer que a exposição que os patrocinadores tiveram durante o período dos Jogos Olímpicos pode ter influenciado a decisão de investidores e, consequentemente, impactado o preço das respectivas ações. Porém, afirmar que há uma relação direta (e de causalidade) entre os dois fatores exigiria estudo estatístico detalhado.   

Além disso, não podemos esquecer que: o mundo não parou para os Jogos Olímpicos. Isso significa que outros fatores também impactaram os preços dos ativos ao longo dos dias.  

Por exemplo, a maioria das companhias patrocinadoras do Time Brasil com ações negociadas na bolsa brasileira divulgaram seus resultados corporativos referentes ao segundo trimestre do ano durante a vigência dos Jogos. A temporada de resultados (como é conhecido esse período) costuma adicionar volatilidade para as ações, visto que os investidores tendem a ajustar suas posições com base nos números recém conhecidos.  

Tivemos ainda outros eventos que movimentaram bastante os preços de ativos durante essas duas semanas, incluindo o que ficou conhecido como a Black Monday – dia em que receios de recessão nos Estados Unidos e a alta de juros no Japão contribuíram para a queda de ativos ao redor do mundo (explicamos aqui).     

Por fim, vale destacar que o Índice Ibovespa (principal índice acionário brasileiro) registrou alta de 3,70% no período analisado.  

Sendo composto por mais de 80 empresas – grande parte das quais não teve relação direta com os Jogos Olímpicos – o comportamento do índice Ibovespa é mais uma sinalização de que estamos diante de uma provável correlação espúria.  

Ou seja, apesar da aparente correlação entre a alta das empresas patrocinadoras do Time Brasil e a exposição das marcas durante o período dos Jogos Olímpicos, não há relação de “causa e efeito” entre os dois fatores.  

Em resumo, o que levar de tudo isso? Embora os Jogos Olímpicos de 2024 tenham deixado muitos legados, a relação causal entre patrocínio e desempenho na bolsa segue não sendo um deles.  

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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