Para a sorte dos americanos nesse primeiro verão após algumas doses de vacina contra a covid-19, o dólar e o euro atingiram a paridade. Na vida real, isso quer dizer que um Euro pode ser comprado com um dólar.
Isso não acontecia há 20 anos! A última vez sendo lá em 2002, quando o Euro tinha praticamente acabado de nascer. Desde então, a moeda do bloco de países europeus foi se fortalecendo, se mantendo acima do dólar americano – em uma média de 1,25 dólares por euro.
O que aconteceu?
Para simplificar, podemos dizer que esse movimento tem sido reflexo tanto do dólar ganhando força no mundo, quanto do Euro perdendo força. Pode parecer meio redundante, mas é isso mesmo.
Do lado do dólar, a moeda americana vem ganhando força contra quase todas as moedas no mundo, tanto de países desenvolvidos, como Reino Unido e Japão, quanto frente a moedas de países emergentes, como nós aqui no Brasil e vizinhos latino-americanos.
Aqui no Brasil, temos também nossos fatores domésticos que impulsionaram ainda mais essa dinâmica de desvalorização cambial, principalmente o aumento recente do risco fiscal – como contamos nesse texto.
Mas a verdade é que o dólar está ganhando força em todo canto, e a Europa não é exceção.
Isso acontece principalmente por conta da alta de juros nos EUA, com o Banco Central americano tentando controlar a maior inflação dos últimos 40 anos, desaquecendo a economia. E quanto maiores os juros básicos por lá, mais capital é atraído para o país, especialmente por estarmos falando dos EUA – considerado o país com o menor risco soberano.
Te contamos tudo sobre a alta de juros nos EUA nesse texto.
Além disso, a crescente preocupação de que a economia global vai desacelerar, e até atravessar uma recessão em breve, leva investidores a procurarem ativos que considerem “portos seguros”. E muitas vezes, esses ativos são o próprio dólar ou títulos do governo americano (mesmo que a crise seja nos próprios EUA), reforçando o movimento de alta do dólar.
Agora…tem o lado da Europa!
Primeiro de tudo, o Banco Central Europeu ficou para trás na luta contra a inflação e só começou a elevar os juros básicos agora – atrás de quase todo o mundo, especialmente os EUA. Isso significa que o movimento de atração de capital por meio da alta de juros favorece os americanos, em detrimento dos europeus.
Mas, para além da questão dos juros e da inflação recorde, a região enfrenta outros desafios. A começar pela proximidade geográfica com o conflito Rússia X Ucrânia, que alimenta maior incerteza para investidores, produtores e consumidores. E, mais importante, pela crescente perspectiva de uma grave crise energética.
A probabilidade da eclosão de uma crise energética é fruto de diversos fatores e escolhas políticas da região ao longo dos últimos anos. Porém, seu ápice remonta a enorme dependência da Europa do gás natural importado da Rússia.
Até o início da guerra, 40% de tudo o que os europeus consumiam de gás tinha origem na Rússia. Após a implementação de sanções contra o país, houve forte redução desse fluxo, refletindo também crescente pressão política do líder russo, Vladmir Putin.
Assim, além de ver o preço da energia ir “para a lua”, a Europa também se prepara para um racionamento de combustível no país antes do inverno – já que o gás é usado em grande medida para a calefação de casas – de modo a evitar um colapso na produção do país.
No meio disso tudo, a região ainda passa por uma onda de calor extraordinária, que vem causando redução do nível de rios usados para o transporte de carga na região. Isso significa maiores preços de frete e ainda mais problemas com transporte de insumos e gargalos na produção industrial europeia.
Por fim, toda essa incerteza também piora o clima político da região, trazendo mais volatilidade. E o movimento se soma aos receios do impacto da alta de juros em países mais endividados da região, como Itália. Afinal, juros mais altos significam dívida mais cara, e maior risco fiscal.
Ou seja: a Europa não anda lá muito bem, obrigada. E o enfraquecimento do euro também reflete isso.
Quais os impactos e o que esperar do Euro mais fraco?
Os principais impactos de um euro mais fraco serão sentidos pelos europeus, que verão inflação ainda mais pressionada. Afinal, eles também consomem produtos cotados em dólares, como commodities, além de importar bens e serviços dos EUA e outros países usando o dólar.
Por outro lado, a região acaba ficando mais competitiva em relação a suas exportações, e pode até ver um lado positivo dessa história toda.
Para o restante do mundo, uma moeda europeia mais fraca consolida ainda mais a posição do dólar como principal divisa global – usada amplamente como meio de pagamento, reserva de valor e unidade de medida (as três funções de uma moeda).
Já para o Brasil, o impacto é mais limitado. Mas pode significar produtos relativamente mais baratos vindos de lá, como máquinas e equipamentos que importamos dos europeus. Vale lembrar que países da Zona do Euro estão entre nossos principais parceiros comerciais, especialmente a Alemanha.
Até quando essa paridade vai durar? Difícil precisar exatamente. Afinal, como falamos em detalhes nesse podcast, os movimentos da taxa de câmbio variam de acordo com diversas variáveis macroeconômicas (como o crescimento do país, o comércio e a taxa de juros) e financeiras.
Dito isso, entendemos que o dólar deve perder força nos próximos meses, especialmente diante da forte valorização recente, e se uma recessão econômica realmente se concretizar no país – o que pode fazer com que o FED “tire o pé do freio”, ou seja, não precise subir tanto os juros.
Assim, o euro deve recuperar um pouco do valor perdido contra a] moeda americana, mesmo que siga relativamente barato comparado com padrões históricos.
De qualquer modo, nada disso deve acontecer muito cedo ou de maneira abrupta. Sendo assim, é seguro deixar nossos colegas americanos com uma mensagem nessa verão: enjoy the Eurotrip!
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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