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A indicação do general Joaquim Silva e Luna — atualmente diretor-geral da Usina Hidrelétrica de Itaipu, e Ministro da Defesa no governo Michel Temer — para a presidência da Petrobras, em substituição a Roberto Castello Branco, agitou os mercados (negativamente) na última sexta-feira (19).
A proposta de mudança de comando ocorre logo após um anúncio de um aumento significativo dos preços dos combustíveis, que foi criticado pelo presidente Bolsonaro, considerando-o “excessivo”.
As ações da estatal (PETR4, sem direito a voto), que já haviam caído quase -7% no pregão de sexta-feira apenas com a fala de Bolsonaro de que algo iria acontecer nos próximos dias, sem especificar o que seria, chegaram a cair -10% no after-market em Nova Iorque, dado que o mercado brasileiro já havia fechado quando o anúncio foi feito.
Junto à queda de 7,92% dos papéis ordinários (PETR3, com direito a voto), o valor de mercado da estatal passou de R$ 383 bilhões na quinta-feira (18) para R$ 354,8 bilhões na sexta, um valor R$ 28,2 bilhões menor.
Esse movimento deve impactar outras ações e o índice como um todo dado que a Petrobras sozinha tem uma participação de 9,8% no Ibovespa, ficando atrás apenas da Vale, com 12,7%.
De fato, já vimos esse impacto no ETF das ações brasileiras negociadas em NY – o EWZ – que também caiu mais de 4% no after-market na sexta-feira.
Pois é, hoje não será um dia fácil para o Ibovespa.
A expectativa é de queda do índice ao redor de 4%, segundo sondagem da XP Investimentos ontem com 200 investidores institucionais, com movimento mais acentuado em Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil.
Para a curva de juros futuros, espera-se alta na abertura: Jan22 +15 bps, Jan23 +21 bps, Jan25 +26 bps e Jan27 +27 bps. Para o câmbio é esperada depreciação de 2% do real frente ao dólar, cerca de 10 centavos, alcançando R$5,48.
É relevante ressaltar que 76% dos investidores institucionais sondados esperam a continuidade da condução da atual política fiscal, apesar de 80% acreditarem em mais intervenção do governo nas estatais daqui para frente.
Os respondentes foram questionados ainda sobre expectativas em relação à manutenção do teto de gastos: 41% esperam que o teto seja respeitado neste ano, percentual mais baixo desde agosto de 2020. Entre os 60%, que esperam que o teto seja desrespeitado ou extinto, esperam-se gastos adicionais em torno de R$ 40 bilhões.
Voltando para Petrobras especificamente, os analistas da XP Investimentos, Gabriel Fonseca e Maíra Maldonado, rebaixaram a recomendação para as ações da estatal de neutro para venda. Segundo eles, o anúncio passa uma sinalização negativa, tanto (i) de uma perspectiva de governança, dados os riscos para a independência de gestão da Petrobras, como também (ii) por implicar riscos de que a companhia continue a praticar uma política de preços de combustíveis em linha com referências internacionais de preços, ou seja, que reflitam as variações dos preços de petróleo e câmbio.
Na opinião deles, existem muitas incertezas para justificar uma tese de investimento na Petrobras, e as ações deverão daqui em diante negociar com um desconto mais alto em relação ao histórico e a outras petroleiras globais.
Vale lembrar que, desde o começo do ano, vários acontecimentos passaram a indicar um aumento dos riscos de interferência política nas empresas brasileiras, principalmente nas estatais: a quase demissão pelo governo do CEO do Banco do Brasil, André Brandão, a renúncia do CEO da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, e suas declarações em seguida indicando que a privatização da estatal não estava nos planos, e o aumento de ruído na Petrobras em relação a sua política de preços.
Tais acontecimentos, seguidos do evento de sexta-feira, elevam o prêmio de risco do Brasil, e podem impactar a percepção do país por parte dos investidores estrangeiros, justamente quando o país havia voltado ao radar dos investidores globais, com R$28 bilhões de investimentos líquidos (compras menos vendas) na B3 desde o começo do ano e R$81 bilhões desde novembro de 2020, após as eleições americanas e as notícias positivas das vacinas terem impulsionado commodities e mercados emergentes.
Do lado econômico, segundo o Economista-chefe da XP Inc, parece cedo para cravar se os eventos ligados à Petrobras são pontuais, com efeitos restritos ao setor, ou uma indicação de tendência de mudança na gestão de política econômica.
O tema de reajustes de combustíveis é sensível, e provocou ruído semelhante nos mais diferentes governos do passado. Além disso, diferente de 2013, a equipe do Ministério da Economia é hoje muito mais alinhada com a pauta de disciplina fiscal.
Ainda que o cenário negativo (veja mais detalhes aqui) tenha ganho probabilidade, ainda não parece o mais provável. Ao nosso ver, a tramitação da PEC do auxílio emergencial é chave para identificar se os impactos dos acontecimentos deste fim de semana vão se restringir ao setor de energia – com consequências limitadas sobre o risco Brasil – ou representam uma mudança mais permanente na condução da política econômica e na percepção do risco-país.
Como a Rachel também disse no último Insight, se a PEC do Auxílio vier acompanhada de medidas para fortalecer o arcabouço fiscal, será positivo: em troca de uma despesa adicional limitada, um avanço estrutural na área mais frágil da economia. Mas se for mal implementada, com espaço para novos gastos além do teto, a prorrogação do auxílio pode ser o ovo da serpente para uma deterioração fiscal mais estrutural.
Mas e agora?
A percepção de risco mais elevada, em meio a já existente preocupação com a situação fiscal do Brasil e também potencial pressão adicional caso os investidores estrangeiros voltem a sair do país podem levar à queda do Ibovespa.
Por outro lado, a bolsa brasileira já está barata quando comparada aos mercados desenvolvidos (46% de desconto em relação ao S&P500) e aos emergentes (25% de desconto), o que limitaria esse movimento. Além disso, as estatais representam apenas 14,6% do índice Ibovespa, e caso as empresas privadas também sofram com esse movimento, isso pode abrir oportunidades de investimento a preços mais atrativos.
De qualquer maneira, como temos mencionado, a diversificação internacional é imprescindível nesses momentos — ter parcela dos seus investimentos vivendo a realidade de outras geografias é perfeito para reduzir impactos como o deste episódio. Nas nossas sugestões, temos um percentual cada vez mais relevante lá fora, e dependendo do perfil de investidor(a), fica até maior proporcionalmente comparado a renda variável brasileira — para entender melhor e ter a visão detalhada de quais são nossas sugestões, clique aqui.
Elaborado por:
Betina Roxo, CNPI 1493
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