Na próxima segunda-feira, será a estreia oficial do famoso PIX, novo sistema de pagamentos instantâneos que deve mudar a forma de fazer transferências e pagamentos no Brasil.
Antes de entrarmos na grande questão – qual o impacto disso – de onde vem esse nome?
Descobri só hoje fazendo esse texto. Até então, toda vez que chamo minha gata (cujo nome Pipa virou Pips e de vez em quando, Pix), me lembro do tal do PIX e me faço essa pergunta…
Bom, o nome escolhido pelo Banco Central, na verdade, não é nenhuma sigla, mas um termo que remete a conceitos como tecnologia, transação e pixel.
Na prática, entre suas várias funcionalidades, ele permite fazer transferências e pagamentos em até dez segundos (ao contrário de TED ou um DOC que podem levar horas ou até dias para acontecer), sendo que essas transações podem acontecer 24 horas por dia, em todos os dias do ano, inclusive nos finais de semana e feriados.
Com o PIX, também poderemos fazer transferências digitando apenas o celular ou CPF da pessoa que vai receber o valor, eliminando a necessidade de digitar todos os dados da conta.
Ou seja, acabou pros caloteiros de plantão…
E não só isso, também será possível fazer pagamentos em tempo real a lojas, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais, além de quitar contas de água e luz, e até recolher impostos.
Portanto, a dinâmica dos fluxos de pagamentos mudará de forma geral, sem necessidade de intermediários: o dinheiro vai da conta de origem direto para a conta destino.
Lembrando que hoje, para um pagamento eletrônico acontecer, é necessária uma conta origem e uma conta destino, mas também um emissor de cartão (banco), uma adquirente (dona da maquininha), uma bandeira de cartão e um processador (que conecta todos os intermediários).
Segundo o Banco Central, o PIX, além de aumentar a velocidade dos pagamentos e das transferências, tem o potencial de alavancar a competitividade e a eficiência do mercado, baixando o custo das transações e promovendo a inclusão financeira de pessoas desbancarizadas – já que não é preciso ter uma conta em banco para usar o sistema.
Como ficam os bancos e adquirentes nessa história?
O Banco Central do Brasil iniciou no dia 5 de outubro o cadastramento dos usuários pelas instituições no PIX, através de até três chaves (CPF para PF, CNPJ para PJ, número de telefone celular ou endereço de e-mail) em uma ou mais instituições de sua escolha. No momento, o PIX é o tópico mais monitorado no setor bancário, já que os participantes do mercado o veem como uma proxy de onde os clientes estabelecerão sua conta principal, farão transações e manterão relacionamento.
Segundo o analista de instituições financeiras da XP, Marcel Campos, a visibilidade do impacto aos bancos e adquirentes ainda é baixa justamente porque precisamos monitorar a aderência ao PIX. Portanto, a velocidade e o volume disso ainda são difíceis de quantificar, mas algumas linhas serão afetadas: receita de serviços de varejo, como TED, DOC, valor agregado de conta corrente, cartão de débito, boleto, cheque. Apesar da compensação pelo aumento da penetração do setor financeiro, ainda haverá receita caindo.
Olhando para frente, apesar da maior competição no setor bancário e dos impactos macroeconômicos, como potencial aumento da inadimplência devido à pandemia, as ações dos bancos estão significativamente descontadas. Na visão de Marcel, os preços das ações pioraram mais que os fundamentos das empresas. A potencial valorização, combinada aos dividendos atrativos pode trazer uma oportunidade aos investidores. Dentre seus nomes preferidos, estão Banco do Brasil e Bradesco. Veja abaixo as teses de Marcel Campos.
Bradesco e Banco do Brasil também fazem parte da nossa seleção de “queridinhas” da Bolsa de outubro.
Banco do Brasil (BBAS3)
Barato, defendido e digitalmente competitivo
Banco do Brasil é a ação preferida de Marcel do setor bancário, com recomendação de Compra e preço-alvo de R$ 43,00. Ele acredita que o preço atual implica uma destruição de valor não coerente com a atual posição defensiva do banco, criando assim uma oportunidade de valor. Além disso, por ser digitalmente competitivo, possui uma vantagem relevante à medida que os novos participantes digitais se tornam concorrentes ferozes.
Operacionalmente defendido. Com empréstimos consignados e rurais representando 40% da carteira, Marcel acredita que os ativos do BBAS estão bem defendidos. Por outro lado, seu passivo se beneficiou do movimento de depósitos de clientes que buscaram liquidez, com poupanças, depósitos à vista e a prazo crescendo consideravelmente no início do ano, enquanto seu índice de capital nível I e de cobertura permanecem altos (que mostram solidez patrimonial e financeira). O banco ainda é menos dependente da receita de serviços, sua tesouraria é basicamente passiva (menos arriscada) e está menos exposto ao câmbio devido ao menor patrimônio líquido no exterior.
Digitalmente competitivo. O Banco do Brasil foi o primeiro a entrar no mundo digital. De 2012 a 2019, o Banco do Brasil investiu R$ 24 bilhões em tecnologia, o que resultou em um banco digitalmente competitivo. Para exemplificar, o banco possui a maior penetração em celulares Android, bem como o maior número de usuários ativos entrando no app. Por fim, o BB ainda possui boas avaliações de usuários e uma estratégia omnichannel coerente.
Bradesco (BBDC4)
Bancassurance
Marcel possui recomendação de Compra para o Bradesco e um preço-alvo de R$ 27. Na sua visão, o balanço do Bradesco é sólido e o banco está menos exposto a créditos mais arriscados do que em outras crises. Além disso, o negócio de seguros oferece ao banco uma defesa extra de curto prazo e melhores perspectivas de longo prazo. Por fim, os múltiplos atuais são atrativos com o banco negociando a 8,6x P/L e 1,3x P/PL, ambos em 2021.
Fonte diversificada de receitas. Como um dos maiores bancos múltiplos locais, o Bradesco alcançou uma fonte diversificada de receita; no 1T20, 31% da receita do banco vieram de seguros, enquanto os outros 69% vieram de operações de crédito, subsidiárias e receita de serviços. De fato, o banco possui: i) a maior seguradora do Brasil com 24% de participação de mercado; ii) a 3ª maior carteira de crédito, com R$ 480 bilhões; iii) a maior operação de varejo com 4,4 mil agências; iv) um dos maiores bancos de investimento, bem rankeado em fusões e aquisições, ECM, DCM, project finance etc. e; v) diversas subsidiárias, tais como Cielo, IRB, OdontoPrev, Fleury, Digio, Next, Elopar e outras.
Sinergia entre os negócios. A sinergia criada pelo banco entre seus negócios cria vantagens comparativas de longo prazo. Como exemplos, temos: i) o financiamento de varejo é usado para impulsionar o banco de atacado; ii) os produtos de seguros e empresas associadas são distribuídos através da capilaridade de varejo do banco; e iii) banco corporativo distribui os produtos bancários a grandes clientes corporativos.