Mercado secundário: é bem capaz que você já tenha ouvido falar dele no contexto de investimentos, seja no mundo das ações ou de renda fixa. Mas talvez você não tenha total compreensão de como funciona esse mercado, e principalmente, qual a diferença entre os mercados primário e secundário.
Abaixo, trazemos tudo o que você precisa saber sobre esse tema!
Tão simples quanto o mercado de carros
O conceito do mercado secundário pode ser tão simples quanto um velho conhecido de muitos brasileiros: o mercado de carros. Imaginemos então, duas situações distintas, conforme abaixo.
Situação 1: você compra um carro diretamente em uma concessionária da marca Fictícia, zero km, “novinho em folha”. O preço, nesse caso, é determinado pela marca Fictícia para ser vendido em concessionários naquela região. Ao fim da compra, o valor pago por você pelo carro vai para a marca Fictícia.
Situação 2: você opta por comprar um carro usado de um amigo, negocia com ele o mesmo veículo da marca Fictícia, 10mil km, quase “novinho em folha”. De maneira simplificada, o preço nesse caso é determinado pelo seu amigo, com base no mercado de compra e venda de carros usados. Ao fim da compra, o valor pago por você pelo carro vai para o bolso do seu amigo.
Observado as situações descritas, fica simples identificar a principal diferença: na Situação 1, a compra é feita entre consumidor e a marca Fictícia fabricante do carro (e o valor recebido fica com a Fictícia); já na Situação 2, a compra é feita entre dois consumidores – aquele que já havia comprado da marca Fictícia, e um segundo comprador (e o valor recebido fica com o vendedor).
Traçando um paralelo com o mercado de investimentos, podemos dizer que a Situação 1 equivale ao mercado primário, enquanto a Situação 2 equivale ao mercado secundário.
Ou seja, enquanto o mercado primário se refere à primeira transação de determinado ativo, o mercado secundário compõe todas as outras transações desse mesmo ativo que se seguem.
Mercado secundário nos investimentos
Como falamos, o mercado secundário se refere ao que podemos chamar de “segunda derivada” da venda de um ativo, sendo a primeira a emissão original da dívida ou da ação. Ou seja, é o ambiente onde investidores negociam entre si — não mais com a empresa emissora do ativo.
E essas transações entre investidores podem ocorrer tanto no mercado de ações, quanto no mercado de renda fixa (com títulos públicos e privados).
Mercado secundário na Bolsa
Quando uma empresa decide abrir seu capital pela primeira vez na bolsa de valores, em um processo chamado “Oferta Pública de Ações” (IPO, em sua sigla em inglês), o investidor que optar pela compra dessas ações estará investindo no mercado primário.
O mesmo ocorre quando uma empresa decide realizar uma oferta subsequente (conhecida por seu termo em inglês, follow on): novas ações são listadas na bolsa, e o investidor que as adquirir, estará realizando uma transação no mercado primário de ações.
Em resumo: o investidor que compra novas ações emitidas diretamente pela empresa está operando no mercado primário.
Em contrapartida, o investidor que compra ações de outros investidores, também em uma transação na bolsa, está realizando essa operação no mercado secundário.
Vale destacar, portanto, que a empresa emissora de papéis transacionados no mercado secundário não se apropria dos recursos obtidos com a negociação.
Ou seja, enquanto os recursos obtidos por meio de ofertas no mercado primário são destinados à própria empresa emissora, aqueles obtidos no mercado secundário são direcionados apenas aos investidores que estão negociando os ativos em questão.
Mercado secundário na Renda Fixa
Apesar das ações serem o tipo de investimento mais conhecido popularmente no mercado secundário, também é possível negociar produtos de renda fixa nesse ambiente – como títulos do Tesouro e crédito privado.
A principal diferença, nesse caso, é que a transação não ocorrerá diretamente entre investidores, e sim entre um investidor e uma instituição financeira.
Ou seja, o mercado primário se refere a emissão do título por parte da empresa ou do governo (no caso, os títulos do Tesouro), e o mercado secundário se refere ao mercado de títulos que foram comprados por uma instituição financeira, e são oferecidos a investidores.
Por exemplo: você pode comprar um título público oferecido diretamente no Tesouro Direto (só precisa ter uma conta em uma corretora, como a Rico), ou pode comprar um título público que já foi adquirido pela Rico, e ao qual você tem acesso também pela sua conta.
Outro exemplo seria você precisar vender um título de crédito privado antes do vencimento. Você vende seu título na data desejado, e obtém o retorno de acordo com o momento de mercado. Nesse caso, a venda seria feita no mercado secundário, vendendo o título comprado por meio da sua corretora, como a Rico.
Oferta primário de títulos públicos – leilões
Quando falamos de emissões de títulos públicos (por parte do Tesouro Nacional – chamados leilões), essas são exclusivas para instituições financeiras regularmente habilitadas no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), gerenciada pelo Banco Central.
São exemplos de instituições financeiras participantes os bancos e as corretoras, como a Rico.
Tesouro Direto ou Mercado Secundário?
Como muitos sabem, os títulos do Tesouro Direto são adquiridos pelo próprio programa do governo (o que requer conta em uma corretora) ou diretamente na plataforma da corretora.
Enquanto isso, os Títulos Públicos (TPs) são negociados no mercado de balcão, por meio da figura do assessor de investimentos. Desde fevereiro de 2022, os TPs também podem ser negociados nos aplicativos das corretoras do grupo XP.
O investidor que optar pela compra dos títulos por meio de um assessor ou aplicativo da Rico, por exemplo, estará assim realizando a transação no mercado secundário. Isso significa que os recursos levantados com a venda dos títulos públicos serão direcionados para as instituições vendedoras, e não mais para o Tesouro Nacional.
Nomenclatura
Desde meados de 2015, os títulos negociados no Tesouro Direto passaram a ter novas nomenclaturas na plataforma, visando facilitar o entendimento por novos investidores. Mas o nome no mercado secundário permanece aquele do ofertado em leilões do Tesouro Nacional.
Vale pontuar que o título indexado à inflação sem cupom (Tesouro IPCA+) é negociado apenas no Tesouro Direto. No mercado secundário, o único título atrelado à inflação disponível é a NTN-B (que corresponde ao Tesouro IPCA+ com juros semestrais).
Em qual investir?
Dada a diferente estrutura de taxas de títulos públicos no secundário e negociados no Tesouro Direto, não há uma regra de bolo para definir qual modalidade é mais vantajosa: convém analisar a vantagem dos ativos em cada caso, além da própria estratégia do investidor.
Por exemplo, como não há taxa de custódia para os ativos no mercado secundário (como ocorre com o Tesouro Direto), o rendimento pago neste ambiente de negociação pode ser superior.
Por outro lado, vale lembrar que há a aplicação de spreads nas taxas por parte da instituição financeira, o que faz com que a taxa de compra no secundário possa ser inferior à vigente no TD.
Além disso, a possibilidade de fracionamento dos títulos e a isenção de taxas de custódia para menores aportes no Tesouro Selic faz com que o Tesouro Direto seja uma excelente porta de entrada para investidores no geral.
Dito isso, o programa é exclusivo para Pessoas Físicas e possui teto de aporte de R$ 1 milhão por mês por CPF, o que limita seu acesso a determinados grupos de investidores, sendo a modalidade incompatível com Pessoas Jurídicas (PJs) e grandes investidores.